domingo, 31 de dezembro de 2006
quinta-feira, 28 de dezembro de 2006
Liberdade de imprensa no capitalismo?
Rodrigo Vianna, repórter da TV Globo, foi demitido recentemente porque as posições que assumiu foram consideradas incómodas pelos patrões. Indignado, o jornalista decidiu escrever aos colegas uma carta de despedida, documento que publicamos por constituir uma denúncia frontal da censura a que a comunicação social está submetida no capitalismo. A carta do jornalista permite-nos desvendar os mecanismos da deturpação a que a informação é sujeita também em Portugal e a natureza abjecta da comunicação social que comanda o mundo por estes dias.
"LEALDADE
Quando cheguei à TV Globo, em 1995, eu tinha mais cabelo, mais esperança, e também mais ilusões. Perdi boa parte do primeiro e das últimas. A esperança diminuiu, mas sobrevive. Esperança de fazer jornalismo que sirva pra transformar - ainda que de forma modesta e pontual. Infelizmente, está difícil continuar cumprindo esse compromisso aqui na Globo. Por isso, estou indo embora. Quando entrei na TV Globo, os amigos, os antigos colegas de Faculdade, diziam: "você não vai agüentar nem um ano naquela TV que manipula eleições, fatos, cérebros". Agüentei doze anos. E vou dizer: costumava contar a meus amigos que na Globo fazíamos - sim – bom jornalismo. Havia, ao menos, um esforço nessa direção. Na última década, em debates nas universidades, ou nas mesas de bar, a cada vez que me perguntavam sobre manipulação e controle político na Globo, eu costumava dizer: "olha, isso é coisa do passado; esse tempo ficou pra trás". Isso não era só um discurso. Acompanhei de perto a chegada de Evandro Carlos de Andrade ao comando da TV, e a tentativa dele de profissionalizar nosso trabalho. Jornalismo comunitário, cobertura política - da qual participei de 98 a 2006. Matérias didáticas sobre o voto, sobre a democracia. Cobertura factual das eleições, debates. Pode parecer bobagem, mas tive orgulho de participar desse momento de virada no Jornalismo da Globo. Parecia uma virada. Infelizmente, a cobertura das eleições de 2006 mostrou que eu havia me iludido.
O que vivemos aqui entre setembro e outubro de 2006 não foi ficção. Aconteceu. Pode ser que algum chefe queira fazer abaixo-assinado para provar que não aconteceu. Mas, é ruim, hem! Intervenção minuciosa em nossos textos, trocas de palavras a mando de chefes, entrevistas de candidatos (gravadas na rua) escolhidas a dedo, à distância, por um personagem quase mítico que paira sobre a Redação: "o fulano (e vocês sabem de quem estou falando) quer esse trecho; o fulano quer que mude essa palavra no texto". Tudo isso aconteceu. E nem foi o pior. Na reta final do primeiro turno, os "aloprados do PT" aprontaram; e aloprados na chefia do jornalismo global botaram por terra anos de esforço para construir um novo tipo de trabalho aqui. Ao lado de um grupo de colegas, entrei na sala de nosso chefe em São Paulo, no dia 18 de setembro, para reclamar da cobertura e pedir equilíbrio nas matérias: "por que não vamos repercutir a matéria da "Istoé", mostrando que a gênese dos sanguessugas ocorreu sob os tucanos? Por que não vamos a Piracicaba, contar quem é Abel Pereira?" Por que isso, por que aquilo... Nenhuma resposta convincente. E uma cobertura desastrosa. Será que acharam que ninguém ia perceber?
Quando cheguei à TV Globo, em 1995, eu tinha mais cabelo, mais esperança, e também mais ilusões. Perdi boa parte do primeiro e das últimas. A esperança diminuiu, mas sobrevive. Esperança de fazer jornalismo que sirva pra transformar - ainda que de forma modesta e pontual. Infelizmente, está difícil continuar cumprindo esse compromisso aqui na Globo. Por isso, estou indo embora. Quando entrei na TV Globo, os amigos, os antigos colegas de Faculdade, diziam: "você não vai agüentar nem um ano naquela TV que manipula eleições, fatos, cérebros". Agüentei doze anos. E vou dizer: costumava contar a meus amigos que na Globo fazíamos - sim – bom jornalismo. Havia, ao menos, um esforço nessa direção. Na última década, em debates nas universidades, ou nas mesas de bar, a cada vez que me perguntavam sobre manipulação e controle político na Globo, eu costumava dizer: "olha, isso é coisa do passado; esse tempo ficou pra trás". Isso não era só um discurso. Acompanhei de perto a chegada de Evandro Carlos de Andrade ao comando da TV, e a tentativa dele de profissionalizar nosso trabalho. Jornalismo comunitário, cobertura política - da qual participei de 98 a 2006. Matérias didáticas sobre o voto, sobre a democracia. Cobertura factual das eleições, debates. Pode parecer bobagem, mas tive orgulho de participar desse momento de virada no Jornalismo da Globo. Parecia uma virada. Infelizmente, a cobertura das eleições de 2006 mostrou que eu havia me iludido.
O que vivemos aqui entre setembro e outubro de 2006 não foi ficção. Aconteceu. Pode ser que algum chefe queira fazer abaixo-assinado para provar que não aconteceu. Mas, é ruim, hem! Intervenção minuciosa em nossos textos, trocas de palavras a mando de chefes, entrevistas de candidatos (gravadas na rua) escolhidas a dedo, à distância, por um personagem quase mítico que paira sobre a Redação: "o fulano (e vocês sabem de quem estou falando) quer esse trecho; o fulano quer que mude essa palavra no texto". Tudo isso aconteceu. E nem foi o pior. Na reta final do primeiro turno, os "aloprados do PT" aprontaram; e aloprados na chefia do jornalismo global botaram por terra anos de esforço para construir um novo tipo de trabalho aqui. Ao lado de um grupo de colegas, entrei na sala de nosso chefe em São Paulo, no dia 18 de setembro, para reclamar da cobertura e pedir equilíbrio nas matérias: "por que não vamos repercutir a matéria da "Istoé", mostrando que a gênese dos sanguessugas ocorreu sob os tucanos? Por que não vamos a Piracicaba, contar quem é Abel Pereira?" Por que isso, por que aquilo... Nenhuma resposta convincente. E uma cobertura desastrosa. Será que acharam que ninguém ia perceber?
Quando, no JN, chamavam Gedimar e Valdebran de "petistas" e, ao mesmo tempo, falavam de Abel Pereira como empresário ligado a um ex-ministro do "governo anterior", acharam que ninguém ia achar estranho? Faltando seis dias para o primeiro turno, o "petista" Humberto Costa foi indiciado pela PF. No caso dos vampiros. O fato foi parar em manchete no JN, e isso era normal. O anormal é que, no mesmo dia, esconderam o nome de Platão, ex-assessor do ministério na época de Serra/Barjas Negri. Os chefes sabiam da existência de Platão, pediram a produtores pra checar tudo sobre ele, mas preferiram não dar. Que jornalismo é esse, que poupa e defende Platão, mas detesta Freud! Deve haver uma explicação psicanalítica para jornalismo tão seletivo!
Ah, sim, Freud. Elio Gaspari chegou a pedir desculpas em nome dos jornalistas ao tal Freud Godoy. O cara pode ter muitos pecados. Mas, o que fizemos na véspera da eleição foi incrível: matéria mostrando as "suspeitas", e apontando o dedo para a sala onde ele trabalhava, bem próximo à sala do presidente... A mensagem era clara. Mas, quando a PF concluiu que não havia nada contra ele, o principal telejornal da Globo silenciou antes da eleição. Não vi matérias mostrando as conexões de Platão com Serra, com os tucanos. Também não vi (antes do primeiro turno) reportagens mostrando quem era Abel Pereira, quem era Barjas Negri, e quais eram as conexões deles com PSDB. Mas vi várias matérias ressaltando os personagens petistas do escândalo. E, vejam: ninguém na Redação queria poupar os petistas (eu cobri durante meses o caso Santo André; eram matérias desfavoráveis a Lula e ao PT, nunca achei que não devêssemos fazer; seria o fim da picada...). O que pedíamos era isonomia.
Durante duas semanas, às vésperas do primeiro turno, a Globo de São Paulo designou dois repórteres para acompanhar o caso dossiê: um em São Paulo, outro em Cuiabá. Mas, nada de Piracicaba, nada de Barjas.! Um colega nosso chegou a produzir, de forma precária, por telefone (vejam, bem, por telefone! Uma TV como a Globo fazer reportagem por telefone), reportagem com perfil do Abel. Foi editada, gerada para o Rio. Nunca foi ao ar!
Os telespectadores da Globo nunca viram Serra e os tucanos entregando ambulâncias cercados pelos deputados sanguessugas. Era o que estava na tal fita do "dossiê". Outras TVs mostraram o vídeo, a internet mostrou. A Globo, não. Provava alguma coisa contra Serra? Não. Ele não era obrigado a saber das falcatruas de deputados do baixo clero. Mas, por que demos o gabinete de Freud pertinho de Lula, e não demos Serra com sanguessugas? E o caso gravíssimo das perguntas para o Serra? Ouvi, de pelo menos 3 pessoas diretamente envolvidas com o SP-TV Segunda Edição, que as perguntas para o Serra, na entrevista ao vivo no jornal, às vésperas do primeiro turno, foram rigorosamente selecionadas.
Ah, sim, Freud. Elio Gaspari chegou a pedir desculpas em nome dos jornalistas ao tal Freud Godoy. O cara pode ter muitos pecados. Mas, o que fizemos na véspera da eleição foi incrível: matéria mostrando as "suspeitas", e apontando o dedo para a sala onde ele trabalhava, bem próximo à sala do presidente... A mensagem era clara. Mas, quando a PF concluiu que não havia nada contra ele, o principal telejornal da Globo silenciou antes da eleição. Não vi matérias mostrando as conexões de Platão com Serra, com os tucanos. Também não vi (antes do primeiro turno) reportagens mostrando quem era Abel Pereira, quem era Barjas Negri, e quais eram as conexões deles com PSDB. Mas vi várias matérias ressaltando os personagens petistas do escândalo. E, vejam: ninguém na Redação queria poupar os petistas (eu cobri durante meses o caso Santo André; eram matérias desfavoráveis a Lula e ao PT, nunca achei que não devêssemos fazer; seria o fim da picada...). O que pedíamos era isonomia.
Durante duas semanas, às vésperas do primeiro turno, a Globo de São Paulo designou dois repórteres para acompanhar o caso dossiê: um em São Paulo, outro em Cuiabá. Mas, nada de Piracicaba, nada de Barjas.! Um colega nosso chegou a produzir, de forma precária, por telefone (vejam, bem, por telefone! Uma TV como a Globo fazer reportagem por telefone), reportagem com perfil do Abel. Foi editada, gerada para o Rio. Nunca foi ao ar!
Os telespectadores da Globo nunca viram Serra e os tucanos entregando ambulâncias cercados pelos deputados sanguessugas. Era o que estava na tal fita do "dossiê". Outras TVs mostraram o vídeo, a internet mostrou. A Globo, não. Provava alguma coisa contra Serra? Não. Ele não era obrigado a saber das falcatruas de deputados do baixo clero. Mas, por que demos o gabinete de Freud pertinho de Lula, e não demos Serra com sanguessugas? E o caso gravíssimo das perguntas para o Serra? Ouvi, de pelo menos 3 pessoas diretamente envolvidas com o SP-TV Segunda Edição, que as perguntas para o Serra, na entrevista ao vivo no jornal, às vésperas do primeiro turno, foram rigorosamente selecionadas.
Aquele diretor (aquele, vocês sabem quem) teria mandado cortar todas as perguntas "desagradáveis". A equipe do jornal ficou atônita. Entrevistas com os outros candidatos tinham sido duras, feitas com liberdade. Com o Serra, teria havido, deliberadamente, a intenção de amaciar. E isso era um segredo de polichinelo. Muita gente ouviu essa história pelos corredores... E as fotos da grana dos aloprados? Tínhamos que publicar? Claro. Mas, porque não demos a história completa? Os colegas que estavam na PF naquele dia (15 de setembro), tinham a gravação, mostrando as circunstâncias em que o delegado vazara as fotos. Justiça seja feita: sei que eles (repórter e produtor) queriam dar a matéria completa – as fotos, e as circunstâncias do vazamento. Podiam até proteger a fonte, mas escancarando o que são os bastidores de uma campanha no Brasil. Isso seria fazer jornalismo, expor as entranhas do poder. Mais uma vez, fomos seletivos: as fotos mostradas com estardalhaço. A fita do delegado, essa sumiu! Aquele diretor, aquele que controla cada palavra dos textos de política, disse que só tomou conhecimento do conteúdo da fita no dia seguinte. Quer que a gente acredite? Por que nunca mostraram o conteúdo da fita do delegado no JN? O JN levou um furo, foi isso?
Um colega nosso, aqui da Globo ouviu a fita e botou no site pessoal dele... Mas, a Globo não pôs no ar... O portal "G-1" botou na íntegra a fita do delegado, dias depois de a "Carta Capital" ter dado o caso. Era noticia? Para o portal das Organizações Globo, era. Por que o JN não deu no dia 29 de setembro? Levou um furo? Não. Furada foi a cobertura da eleição. Infelizmente. E, pra terminar, aquele episódio lamentável do abaixo-assinado, depois das matérias da "CartaCapital". Respeito os colegas que assinaram. Alguns assinaram por medo, outros por convicção. Mas, o fato é que foi um abaixo-assinado em defesa da Globo, apresentado por chefes! Pensem bem. Imaginem a seguinte hipótese: a revista "Quatro Rodas" dá matéria falando mal da suspensão de um carro da Volkswagen, acusando a empresa de deliberadamente não tomar conhecimento dos problemas. Aí, como resposta, os diretores da Volks têm a brilhante idéia de pedir aos metalúrgicos pra assinar um manifesto em defesa da empresa! O que vocês acham? Os metalúrgicos mandariam a direção da fábrica catar coquinho em Berlim! Aqui, na Globo, muitos preferiram assinar. Por isso, talvez, tenhamos um metalúrgico na Presidência da República, enquanto os jornalistas ficaram falando sozinhos nessa eleição...
De resto, está difícil continuar fazendo jornalismo numa emissora que obriga repórteres a chamarem negros de "pretos e pardos". Vocês já viram isso no ar? Sinto vergonha... A justificativa: IBGE (e, portanto, o Estado brasileiro) usa essa nomenclatura. Problema do IBGE. Eu me recuso a entrar nessa. Delegados de policia (representantes do Estado) costumavam (até bem pouco tempo) tratar companheiras (mesmo em relações estáveis) como "concubinas" ou "amásias". Nunca usamos esses termos! Árabes que chegaram ao Brasil no início do século passado eram chamados de "turcos" pelas autoridades (o passaporte era do Império Turco Otomano, por isso a nomenclatura). Por causa disso, jornalistas deviam chamar libaneses de turcos? Daqui a pouco, a Globo vai pedir para que chamemos a Parada Gay de "Parada dos Pederastas". Francamente, não tenho mais estômago. Mas, também, o que esperar de uma Redação que é dirigida por alguém que defende a cobertura feita pela Globo na época das Diretas? Respeito a imensa maioria dos colegas que ficam aqui. Tenho certeza que vão continuar se esforçando pra fazer bom Jornalismo. Não será fácil a tarefa de vocês.
Olhem no ar. Ouçam os comentaristas. As poucas vozes dissonantes sumiram. Franklin Martins foi afastado. Do Bom dia Brasil ao JG, temos um desfile de gente que está do mesmo lado. Mas sabem o que me deixou preocupado mesmo? O texto do João Roberto Marinho depois das eleições. Ele comemorou a reação (dando a entender que foi absolutamente espontânea; será que disseram isso pra ele? Será que não contaram a ele do mal-estar na Redação de São Paulo?) de jornalistas em defesa da cobertura da Globo: "(...)diante de calúnias e infâmias, reagem, não com dúvidas ou incertezas, mas com repúdio e indignação. Chamo isso de lealdade e confiança". Entendi. Ele comemora que não haja dúvidas e incertezas... Faz sentido. Incerteza atrapalha fechamento de jornal. Incerteza e dúvida são palavras terríveis. Devem ser banidas. Como qualquer um que diga que há racismo - sim - no Brasil. E vejam o vocabulário: "lealdade e confiança". Organizações ainda hoje bem populares na Itália costumam usar esse jargão da "lealdade".
Caro João, você talvez nem saiba direito quem eu sou. Mas, gostaria de dizer a você que lealdade devemos ter com princípios, e com a sociedade. A Globo, infelizmente, não foi "leal" com o público. Nem com os jornalistas.Vai pagar o preço por isso. É saudável que pague. Em nome da democracia! João, da família Marinho, disse mais no brilhante comunicado interno: "Pude ter certeza absoluta de que os colaboradores da Rede Globo sabem que podem e devem discordar das decisões editoriais no trabalho cotidiano que levam à feitura de nossos telejornais, porque o bom jornalismo é sempre resultado de muitas cabeças pensando". Caro João, em que planeta você vive? Várias cabeças? Nunca, nem na ditadura (dizem-me os companheiros mais antigos) tivemos na Globo um jornalismo tão centralizado, a tal ponto que os repórteres trabalham mais como bonecos de ventríloquos, especialmente na cobertura política!
Cumpro agora um dever de lealdade: informo-lhe que, passadas as eleições, quem discordou da linha editorial da casa foi posto na "geladeira". Foi lamentável, caro João. Você devia saber como anda o ânimo da Redação - especialmente em São Paulo. >Boa parte dos seus "colaboradores" (você, João, aprendeu direitinho o vocabulário ideológico dos consultores e tecnocratas - "colaboradores", essa é boa... Eu não sou colaborador, coisa nenhuma! Sou jornalista!) está triste e ressabiada com o que se passou. Mas, isso tudo tem pouca importância. Grave mesmo é a tela da Globo - no Jornalismo, especialmente - não refletir a diversidade social e política brasileira. Nos anos 90, houve um ensaio, um movimento em direção à pluralidade. Já abortado. Será que a opção é consciente? Isso me lembra a Igreja Católica, que sob Ratzinger preferiu expurgar o braço progressista. Fez uma opção deliberada: preferiram ficar menores, porém mais coesos ideologicamente. Foi essa a opção de Ratzinger. Será essa a opção dos Marinho? Depois, não sabem porque os protestantes crescem... Eu, que não sou católico nem protestante, fico apenas preocupado por ver uma concessão pública ser usada dessa maneira! Mas, essa é também uma carta de despedida, sentimental. Por isso, peço licença pra falar de lembranças pessoais.
Um colega nosso, aqui da Globo ouviu a fita e botou no site pessoal dele... Mas, a Globo não pôs no ar... O portal "G-1" botou na íntegra a fita do delegado, dias depois de a "Carta Capital" ter dado o caso. Era noticia? Para o portal das Organizações Globo, era. Por que o JN não deu no dia 29 de setembro? Levou um furo? Não. Furada foi a cobertura da eleição. Infelizmente. E, pra terminar, aquele episódio lamentável do abaixo-assinado, depois das matérias da "CartaCapital". Respeito os colegas que assinaram. Alguns assinaram por medo, outros por convicção. Mas, o fato é que foi um abaixo-assinado em defesa da Globo, apresentado por chefes! Pensem bem. Imaginem a seguinte hipótese: a revista "Quatro Rodas" dá matéria falando mal da suspensão de um carro da Volkswagen, acusando a empresa de deliberadamente não tomar conhecimento dos problemas. Aí, como resposta, os diretores da Volks têm a brilhante idéia de pedir aos metalúrgicos pra assinar um manifesto em defesa da empresa! O que vocês acham? Os metalúrgicos mandariam a direção da fábrica catar coquinho em Berlim! Aqui, na Globo, muitos preferiram assinar. Por isso, talvez, tenhamos um metalúrgico na Presidência da República, enquanto os jornalistas ficaram falando sozinhos nessa eleição...
De resto, está difícil continuar fazendo jornalismo numa emissora que obriga repórteres a chamarem negros de "pretos e pardos". Vocês já viram isso no ar? Sinto vergonha... A justificativa: IBGE (e, portanto, o Estado brasileiro) usa essa nomenclatura. Problema do IBGE. Eu me recuso a entrar nessa. Delegados de policia (representantes do Estado) costumavam (até bem pouco tempo) tratar companheiras (mesmo em relações estáveis) como "concubinas" ou "amásias". Nunca usamos esses termos! Árabes que chegaram ao Brasil no início do século passado eram chamados de "turcos" pelas autoridades (o passaporte era do Império Turco Otomano, por isso a nomenclatura). Por causa disso, jornalistas deviam chamar libaneses de turcos? Daqui a pouco, a Globo vai pedir para que chamemos a Parada Gay de "Parada dos Pederastas". Francamente, não tenho mais estômago. Mas, também, o que esperar de uma Redação que é dirigida por alguém que defende a cobertura feita pela Globo na época das Diretas? Respeito a imensa maioria dos colegas que ficam aqui. Tenho certeza que vão continuar se esforçando pra fazer bom Jornalismo. Não será fácil a tarefa de vocês.
Olhem no ar. Ouçam os comentaristas. As poucas vozes dissonantes sumiram. Franklin Martins foi afastado. Do Bom dia Brasil ao JG, temos um desfile de gente que está do mesmo lado. Mas sabem o que me deixou preocupado mesmo? O texto do João Roberto Marinho depois das eleições. Ele comemorou a reação (dando a entender que foi absolutamente espontânea; será que disseram isso pra ele? Será que não contaram a ele do mal-estar na Redação de São Paulo?) de jornalistas em defesa da cobertura da Globo: "(...)diante de calúnias e infâmias, reagem, não com dúvidas ou incertezas, mas com repúdio e indignação. Chamo isso de lealdade e confiança". Entendi. Ele comemora que não haja dúvidas e incertezas... Faz sentido. Incerteza atrapalha fechamento de jornal. Incerteza e dúvida são palavras terríveis. Devem ser banidas. Como qualquer um que diga que há racismo - sim - no Brasil. E vejam o vocabulário: "lealdade e confiança". Organizações ainda hoje bem populares na Itália costumam usar esse jargão da "lealdade".
Caro João, você talvez nem saiba direito quem eu sou. Mas, gostaria de dizer a você que lealdade devemos ter com princípios, e com a sociedade. A Globo, infelizmente, não foi "leal" com o público. Nem com os jornalistas.Vai pagar o preço por isso. É saudável que pague. Em nome da democracia! João, da família Marinho, disse mais no brilhante comunicado interno: "Pude ter certeza absoluta de que os colaboradores da Rede Globo sabem que podem e devem discordar das decisões editoriais no trabalho cotidiano que levam à feitura de nossos telejornais, porque o bom jornalismo é sempre resultado de muitas cabeças pensando". Caro João, em que planeta você vive? Várias cabeças? Nunca, nem na ditadura (dizem-me os companheiros mais antigos) tivemos na Globo um jornalismo tão centralizado, a tal ponto que os repórteres trabalham mais como bonecos de ventríloquos, especialmente na cobertura política!
Cumpro agora um dever de lealdade: informo-lhe que, passadas as eleições, quem discordou da linha editorial da casa foi posto na "geladeira". Foi lamentável, caro João. Você devia saber como anda o ânimo da Redação - especialmente em São Paulo. >Boa parte dos seus "colaboradores" (você, João, aprendeu direitinho o vocabulário ideológico dos consultores e tecnocratas - "colaboradores", essa é boa... Eu não sou colaborador, coisa nenhuma! Sou jornalista!) está triste e ressabiada com o que se passou. Mas, isso tudo tem pouca importância. Grave mesmo é a tela da Globo - no Jornalismo, especialmente - não refletir a diversidade social e política brasileira. Nos anos 90, houve um ensaio, um movimento em direção à pluralidade. Já abortado. Será que a opção é consciente? Isso me lembra a Igreja Católica, que sob Ratzinger preferiu expurgar o braço progressista. Fez uma opção deliberada: preferiram ficar menores, porém mais coesos ideologicamente. Foi essa a opção de Ratzinger. Será essa a opção dos Marinho? Depois, não sabem porque os protestantes crescem... Eu, que não sou católico nem protestante, fico apenas preocupado por ver uma concessão pública ser usada dessa maneira! Mas, essa é também uma carta de despedida, sentimental. Por isso, peço licença pra falar de lembranças pessoais.
Foram quase doze anos de Globo. Quando entrei na TV, em 95, lá na antiga sede da praça Marechal, havia a Toninha - nossa mendiga de estimação, debaixo do viaduto. Os berros que ela dava em frente à entrada da TV traziam uma dimensão humana ao ambiente, lembravam-nos da fragilidade de todos nós, de como nossa razão pode ser frágil. Havia o João Paulada - o faz-tudo da Redação. Havia a moça do cafezinho (feito no coador, e entregue em garrafas térmicas), a tia dos doces...
Era um ambiente mais caseiro, menos pomposo. Hoje, na hora de dizer tchau, sinto saudade de tudo aquilo. Havia bares sujos, pessoas simples circulando em volta de todos nós – nas ruas, no Metrô, na padaria. Todos, do apresentador ao contínuo, tinham que entrar a pé na Redação. Estacionamentos eram externos (não havia "vallet park", nem catraca eletrônica). A caminhada pelas calçadas do centro da cidade obrigava-nos a um salutar contato com a desigualdade brasileira. Hoje, quando olho pra nossa Redação aqui na Berrini, tenho a impressão que estou numa agência de publicidade. Ambiente asséptico, higienizado. Confortável, é verdade. Mas triste, quase desumano. Mas, há as pessoas. Essas valem a pena. Pra quem conseguiu chegar até o fim dessa longa carta, preciso dizer duas coisas...
1) Sinto-me aliviado por ficar longe de determinados personagens, pretensiosos e arrogantes, que exigem "lealdade"; parecem "poderosos chefões" falando com seus seguidores... Se depender de mim, como aconteceu na eleição, vão ficar falando sozinhos.
2) Mas, de meus colegas, da imensa maioria, vou sentir saudades. Saudades das equipes na rua - UPJs que foram professores; cinegrafistas que foram companheiros; esses sim (todos) leais ao Jornalismo. Saudades dos editores - que tiveram paciência com esse repórter aflito e procuraram ser leais às minúcias factuais. Saudades dos produtores e dos chefes de reportagem - acho que fui leal com as pautas de vocês e (bem menos) com os horários! Saudades de cada companheiro do apoio e da técnica - sempre leais. Saudades especialmente, das grandes matérias no Globo Repórter - com aquela equipe de mestres (no Rio e em São Paulo) que aos poucos vai se desmontando, sem lealdade nem respeito com quem fez história (mas há bravos resistentes ainda). Bem, pelo tom um tanto ácido dessa carta pode não parecer. Mas levo muita coisa boa daqui. Perdi cabelos e ilusões. Mas, não a esperança. Um beijo a todos. "
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
Ferreira Gullar
Traduzir-se
Uma parte de mim é todo mundo,
outra parte é ninguém, fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão,
outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa e pondera,
outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta,
outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente,
outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem,
outra parte linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte
- que é uma questão de vida e morte -
Será arte?
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
Sem comentários
No Brasil, o salário mínimo são 375 Reais, cerca de 150 euros. Inúmeras empresas conseguem ainda arranjar estratagemas para que os trabalhadores nem essa miséria recebam. Entretanto, os deputados conseguiram agora actualizar - para o dobro! - os respectivos salários: cerca de 24 500 Reais por mês. A esta quantia faraónica, acrescem mais uns largos milhares para despesas diversas.
A generalidade da população vive, como me dizia hoje um taxista, numa espécie de escravatura remunerada. Enquanto a minoria que desfruta na terra do paraíso celestial com que a Igreja fomenta o conformismo entre os excluídos, vive alheada do drama crescente.
Apesar desta realidade, os deputados não coraram de vergonha quando foram interpelados para justificarem o injustificável. Quando será que isto rebenta? Percebe-se que ao capitalismo sirva na perfeição o consulado de Lula: nada do que é essencial na natureza predatória do capitalismo foi por ele questionado. Com a vantagem óbvia de, estando ele conotado com a esquerda, se anular, quem sabe se por décadas, a vontade popular de tentar novas experiência.
quinta-feira, 7 de dezembro de 2006
A luta continua!
O capitalismo é um sistema monstruoso. Segundo um estudo agora divulgado, 2% da população mundial possui metade das riquezas existentes no planeta. Entretanto, milhões de seres humanos morrem diariamente por não terem o que comer. Por não possuírem acesso a cuidados básicos de saúde. Por não terem água potável.
O capitalismo é um sistema repugnante: diariamente são queimadas toneladas e toneladas de alimentos para que o mercado dite preços mais altos. Para que os capitalistas engordem as respectivas contas bancárias. Nos países pobres, o flagelo da SIDA é agravado pela inexistência de medicamentos. Milhões de pessoas condenadas têm como único recurso esperar a morte, sem acesso a qualquer substância que lhes possa minorar o sofrimento. E as multinacionais do sector recusam os genéricos e impedem que os países produzam esses medicamentos. Milhares de crianças morrem por dia por não poderem pagar cinquenta cêntimos de dólar por uma vacina elementar.
O capitalismo é um sistema desprezível. Milhões de seres humanos são escravizados diariamente, explorados e sujeitos a condições de trabalho inimagináveis que os destroçam física e psiquicamente. Para que os que comem, sonham e roubam dinheiro possam engordar as respectivas contas bancárias.
Apesar da barbárie, os seus fautores dedicam-se à arte de fingir que tudo é diferente. E discursam, escrevem, glosam o tema dos princípios grandiloquentes, como vendedores adestrados na burla. Quando falam em democracia tratam apenas de edificar e reforçar o conjunto de petas que lhes permite viver como nababos numa fortaleza inexpugnável.
Perante isto o quê? A luta! A resistência!
O capitalismo é um sistema repugnante: diariamente são queimadas toneladas e toneladas de alimentos para que o mercado dite preços mais altos. Para que os capitalistas engordem as respectivas contas bancárias. Nos países pobres, o flagelo da SIDA é agravado pela inexistência de medicamentos. Milhões de pessoas condenadas têm como único recurso esperar a morte, sem acesso a qualquer substância que lhes possa minorar o sofrimento. E as multinacionais do sector recusam os genéricos e impedem que os países produzam esses medicamentos. Milhares de crianças morrem por dia por não poderem pagar cinquenta cêntimos de dólar por uma vacina elementar.
O capitalismo é um sistema desprezível. Milhões de seres humanos são escravizados diariamente, explorados e sujeitos a condições de trabalho inimagináveis que os destroçam física e psiquicamente. Para que os que comem, sonham e roubam dinheiro possam engordar as respectivas contas bancárias.
Apesar da barbárie, os seus fautores dedicam-se à arte de fingir que tudo é diferente. E discursam, escrevem, glosam o tema dos princípios grandiloquentes, como vendedores adestrados na burla. Quando falam em democracia tratam apenas de edificar e reforçar o conjunto de petas que lhes permite viver como nababos numa fortaleza inexpugnável.
Perante isto o quê? A luta! A resistência!
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
Os dois "democratas"
Mário Ramires escreve no "SOL". Maria João Avillez tem um programa na "SIC Notícias". Em comum, alimenta-os um anticomunismo cavernícola. Ramires, sem saber uma linha de Direito Constitucional decreta , na edição deste fim-de-semana do jornal que se diferencia do "Expresso" pelo saco, que os estatutos do PCP são inconstitucionais. Fá-lo numa linguagem acintosa, preparando o terreno para o que congéneres seus fizeram na República Checa: a ilegalização dos comunistas.
Maria João Avillez convidou três fascistas ressabiados para o seu programa. E foi vê-la, diligente e zelosa, completamente entusiasmada com o discurso gabarola dos três apaniguados de hitler, Mussolini e Salazar, que peroraram senis sobre a ameaça comunista após a Revolução de Abril.
Não sei se os dois se concertaram, mas acabaram por confluir na ignomínia. Podiam, contudo ser originais: antes deles, centenas de escroques similares obraram o mesmíssimo guião e o resultado está à vista: apesar de todas as dificuldades, os comunistas portugueses resistem e continuam a luta por uma sociedade diferente.
Maria João Avillez convidou três fascistas ressabiados para o seu programa. E foi vê-la, diligente e zelosa, completamente entusiasmada com o discurso gabarola dos três apaniguados de hitler, Mussolini e Salazar, que peroraram senis sobre a ameaça comunista após a Revolução de Abril.
Não sei se os dois se concertaram, mas acabaram por confluir na ignomínia. Podiam, contudo ser originais: antes deles, centenas de escroques similares obraram o mesmíssimo guião e o resultado está à vista: apesar de todas as dificuldades, os comunistas portugueses resistem e continuam a luta por uma sociedade diferente.
sexta-feira, 17 de novembro de 2006
Ao Simão e à Teresa
Dor
Tardam na tela as nossas mãos
Onde a cor diz amante
És tu que vens, singular
Resgatar a existência do sol
Nos teus cabelos livres.
Agita-se já o hábito da dor
E as nossas mãos tardam
No instante em que o futuro se exime
E a imensidão vazia da memória
Traça percursos a sangue, delimita
A parede caiada dos teus gritos.
Finados tecem cardápios de silêncios
Meticulosos desferem chicotadas e conselhos:
De beber os teus lábios, não se fala
Em partilhar merendas ninguém pense.
Eu sei, a dor persiste, meu amor
Já não há mãos içadas para nós.
E no entanto,
A tua boca persiste na minha sem rodeios
Os teus olhos choram o mar onde me escondem
E ainda encontro resguardado do degredo
O desejo ancestral de sonhar.
Tardam na tela as nossas mãos
Onde a cor diz amante
És tu que vens, singular
Resgatar a existência do sol
Nos teus cabelos livres.
Agita-se já o hábito da dor
E as nossas mãos tardam
No instante em que o futuro se exime
E a imensidão vazia da memória
Traça percursos a sangue, delimita
A parede caiada dos teus gritos.
Finados tecem cardápios de silêncios
Meticulosos desferem chicotadas e conselhos:
De beber os teus lábios, não se fala
Em partilhar merendas ninguém pense.
Eu sei, a dor persiste, meu amor
Já não há mãos içadas para nós.
E no entanto,
A tua boca persiste na minha sem rodeios
Os teus olhos choram o mar onde me escondem
E ainda encontro resguardado do degredo
O desejo ancestral de sonhar.
domingo, 12 de novembro de 2006
A DEMOCRACIA DELES
"No domingo passado, sensivelmente à mesma hora em que o presidente dos Estados Unidos da América, Georges Bush, declarava, em Washington, falando a sério, que a condenação à morte de Saddam Hussein era a comprovação de que a democracia tinha chegado ao Iraque, o primeiro-ministro português, José Sócrates, afirmava, em Montevideu, presume-se que também falando a sério, que «em matéria de visão humanista e respeito pelos direitos humanos, não encontro melhor exemplo do que os Estados Unidos» - e sublinhava que, para confirmação do que dizia, bastava olhar para a «política externa norte-americana».
Trata-se de declarações complementares no seu sombrio significado, gémeas siamesas, pode dizer-se, ligadas pelo cordão umbilical de um arrogante e cínico desprezo pela democracia e pelos valores democráticos – ao fim e ao cabo a democracia deles. Na declaração do presidente dos EUA transparece o conceito de democracia adoptado pelo mais poderoso país do mundo. Dar como exemplo da chegada da democracia a um país a condenação a morte de uma pessoa – seja ela quem for – diz tudo sobre o entendimento de democracia de quem recorre a tal exemplo.
Na declaração de José Sócrates – presume-se que feita de livre vontade – o que sobressai é a precisão cirúrgica do primeiro-ministro português na escolha das qualidades que, em seu entender, são atributos louváveis dos Estados Unidos da América. Considerar a prática terrorista do imperialismo norte-americano como uma «política externa» caracterizada por uma «visão humanista» e pelo «respeito dos direitos humanos», constitui, não apenas um insulto à democracia, mas igualmente uma brutal ofensa à memória de centenas de milhares de homens, mulheres, jovens, crianças vítimas dessa «visão humanista» e desse «respeito pelos direitos humanos».
Esta exibição de pró-americanismo primário de José Sócrates – expressa na valorização absoluta daquilo que aos EUA mais interessa que seja valorizado – significa que o primeiro-ministro português apoia e aplaude com fervor democrático as invasões e ocupações de países, os massacres, as prisões arbitrárias de milhares de cidadãos de dezenas de países, o encarceramento desses cidadãos em situação de total isolamento e sem possibilidades de acesso a qualquer tipo de defesa, a sujeição desses cidadãos às mais bárbaras torturas, etc., etc.
O conceito de democracia de Georges Bush, tão apreciado por Sócrates, rege-se pelos interesses dos EUA e é simples e primário, como não podia deixar de ser, numa pessoa com a sua mediocridade humana, mental e intelectual. Para ele, as coisas são simples: a democracia é o regime que, em qualquer país do mundo e em cada momento, melhor sirva os interesses do imperialismo norte-americano; se esse regime for alcançado através de «eleições», óptimo; no caso de as eleições não serem manipuladas e de os candidatos do império saírem derrotados, então as eleições são declaradas sem efeito e passa-se ao plano B: a democracia é imposta pela força das armas, com a brutalidade, o terror, a barbárie consideradas necessárias para que o objectivo seja alcançado. Como aconteceu no Iraque. Como aconteceu centenas de vezes, ao longo da história, em múltiplos países.
Daí a sem surpresa da alegria esfuziante de Georges Bush face à condenação à morte de Saddam Hussein. Daí a conclusão tirada e difundida para todo o planeta que aquilo é que era democracia.
Saddam Hussein foi um tirano, um facínora, responsável directo por muitos horrorosos crimes. Lembremos, no entanto, o que não pode ficar esquecido: nos períodos mais sanguinários do seu regime de terror, Saddam foi um homem de mão da CIA e dos respectivos governos norte-americanos. Pelo que, o seu julgamento e condenação pelos crimes então cometidos só seria justo e só faria sentido se, a seu lado, no banco dos réus, estivessem sentados os responsáveis norte-americanos, no mínimo tão culpados como ele por todos esses crimes.
É conhecida a posição do PCP contrária à pena de morte seja qual for o país que a autorize e aplique; é conhecida a nossa posição em relação ao regime ditatorial de Saddam Hussein, cujos crimes fomos o único partido nacional a condenar – todos os crimes, registe-se, desde o assassinato de mais de seis mil militantes comunistas, cometido sob a orientação da CIA (que forneceu a Saddam Hussein os nomes e moradas desses militantes), até aos assassinatos (sempre com o apoio dos Estados Unidos da América) de milhares de outros cidadãos, homens mulheres e jovens progressistas, curdos, etc; é conhecida a nossa posição de condenação e denúncia dos objectivos e da selvajaria da invasão do Iraque pelos EUA em 1991 - a tal da carnificina da estrada de Bassorá, a tal em que as forças do bem (o exército norte-americano) enterraram vivos centenas de soldados das forças do mal (o exército iraquiano) que se haviam rendido; é conhecida a nossa posição outra vez de condenação e denúncia dos objectivos e da selvajaria da segunda invasão, destruição e ocupação do Iraque – e que, somada com a primeira, fez daquele país um imenso cemitério com centenas de milhares de vítimas inocentes; é conhecida, ainda, a nossa posição solidária com a heróica resistência do povo iraquiano à ocupação do seu país – solidariedade que aqui se reafirma inequivocamente.
Estamos, pois, à vontade – e com uma autoridade moral singular - para nos pronunciarmos contra a condenação à morte de Saddam Hussein e para sublinhar a farsa que foi o seu julgamento e a sua condenação, executados pelos títeres dos EUA no Iraque."
Na declaração de José Sócrates – presume-se que feita de livre vontade – o que sobressai é a precisão cirúrgica do primeiro-ministro português na escolha das qualidades que, em seu entender, são atributos louváveis dos Estados Unidos da América. Considerar a prática terrorista do imperialismo norte-americano como uma «política externa» caracterizada por uma «visão humanista» e pelo «respeito dos direitos humanos», constitui, não apenas um insulto à democracia, mas igualmente uma brutal ofensa à memória de centenas de milhares de homens, mulheres, jovens, crianças vítimas dessa «visão humanista» e desse «respeito pelos direitos humanos».
Esta exibição de pró-americanismo primário de José Sócrates – expressa na valorização absoluta daquilo que aos EUA mais interessa que seja valorizado – significa que o primeiro-ministro português apoia e aplaude com fervor democrático as invasões e ocupações de países, os massacres, as prisões arbitrárias de milhares de cidadãos de dezenas de países, o encarceramento desses cidadãos em situação de total isolamento e sem possibilidades de acesso a qualquer tipo de defesa, a sujeição desses cidadãos às mais bárbaras torturas, etc., etc.
O conceito de democracia de Georges Bush, tão apreciado por Sócrates, rege-se pelos interesses dos EUA e é simples e primário, como não podia deixar de ser, numa pessoa com a sua mediocridade humana, mental e intelectual. Para ele, as coisas são simples: a democracia é o regime que, em qualquer país do mundo e em cada momento, melhor sirva os interesses do imperialismo norte-americano; se esse regime for alcançado através de «eleições», óptimo; no caso de as eleições não serem manipuladas e de os candidatos do império saírem derrotados, então as eleições são declaradas sem efeito e passa-se ao plano B: a democracia é imposta pela força das armas, com a brutalidade, o terror, a barbárie consideradas necessárias para que o objectivo seja alcançado. Como aconteceu no Iraque. Como aconteceu centenas de vezes, ao longo da história, em múltiplos países.
Daí a sem surpresa da alegria esfuziante de Georges Bush face à condenação à morte de Saddam Hussein. Daí a conclusão tirada e difundida para todo o planeta que aquilo é que era democracia.
Saddam Hussein foi um tirano, um facínora, responsável directo por muitos horrorosos crimes. Lembremos, no entanto, o que não pode ficar esquecido: nos períodos mais sanguinários do seu regime de terror, Saddam foi um homem de mão da CIA e dos respectivos governos norte-americanos. Pelo que, o seu julgamento e condenação pelos crimes então cometidos só seria justo e só faria sentido se, a seu lado, no banco dos réus, estivessem sentados os responsáveis norte-americanos, no mínimo tão culpados como ele por todos esses crimes.
É conhecida a posição do PCP contrária à pena de morte seja qual for o país que a autorize e aplique; é conhecida a nossa posição em relação ao regime ditatorial de Saddam Hussein, cujos crimes fomos o único partido nacional a condenar – todos os crimes, registe-se, desde o assassinato de mais de seis mil militantes comunistas, cometido sob a orientação da CIA (que forneceu a Saddam Hussein os nomes e moradas desses militantes), até aos assassinatos (sempre com o apoio dos Estados Unidos da América) de milhares de outros cidadãos, homens mulheres e jovens progressistas, curdos, etc; é conhecida a nossa posição de condenação e denúncia dos objectivos e da selvajaria da invasão do Iraque pelos EUA em 1991 - a tal da carnificina da estrada de Bassorá, a tal em que as forças do bem (o exército norte-americano) enterraram vivos centenas de soldados das forças do mal (o exército iraquiano) que se haviam rendido; é conhecida a nossa posição outra vez de condenação e denúncia dos objectivos e da selvajaria da segunda invasão, destruição e ocupação do Iraque – e que, somada com a primeira, fez daquele país um imenso cemitério com centenas de milhares de vítimas inocentes; é conhecida, ainda, a nossa posição solidária com a heróica resistência do povo iraquiano à ocupação do seu país – solidariedade que aqui se reafirma inequivocamente.
Estamos, pois, à vontade – e com uma autoridade moral singular - para nos pronunciarmos contra a condenação à morte de Saddam Hussein e para sublinhar a farsa que foi o seu julgamento e a sua condenação, executados pelos títeres dos EUA no Iraque."
José Casanova, in Jornal «Avante!»
terça-feira, 7 de novembro de 2006
À nossa gente!
ESTA GENTE/ESSA GENTE
O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente
Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente
Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente
Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente
O que é preciso é gente
O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente
Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente
Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente
Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente
O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente
Ana Hatherly, poema colhido no blogue Sine Die, onde foi plantado por Eduardo Maia Costa
Ana Hatherly, poema colhido no blogue Sine Die, onde foi plantado por Eduardo Maia Costa
segunda-feira, 6 de novembro de 2006
Arestas de Vento Bom
Ao Ricardo Cardoso,
À Céu Campos, com um imenso obrigado, pela partilha, pela amizade.
A todos e a cada um dos meus amigos
Por um por todos por nenhum
faço o meu canto canto a minha mágoa
num desencanto aberto pelo gume
deste pranto tão limpo como a água.
Por nenhum por todos ou por um
eu dou o meu poema o meu tecido
de palavras gravadas com o lume
do medo que na voz trago vencido.
Por nenhum por um mesmo por todos
sou a bala e o vinho sou o mesmo
que pisa as uvas os versos e o lodo
num chão onde a coragem nasce a esmo.
À Céu Campos, com um imenso obrigado, pela partilha, pela amizade.
A todos e a cada um dos meus amigos
Por um por todos por nenhum
faço o meu canto canto a minha mágoa
num desencanto aberto pelo gume
deste pranto tão limpo como a água.
Por nenhum por todos ou por um
eu dou o meu poema o meu tecido
de palavras gravadas com o lume
do medo que na voz trago vencido.
Por nenhum por um mesmo por todos
sou a bala e o vinho sou o mesmo
que pisa as uvas os versos e o lodo
num chão onde a coragem nasce a esmo.
Joaquim Pessoa
quinta-feira, 2 de novembro de 2006
A LUTA CONTINUA!
“Es que, cuando los hombres llevan en la mente un mismo ideal, nada puede incomunicarlos, ni las paredes de una cárcel, ni la tierra de los cementerios, porque un mismo recuerdo, una misma alma, una misma idea, una misma conciencia y dignidad los alienta a todos.”
Fidel Castro, “A História me Absolverá”
quarta-feira, 1 de novembro de 2006
Pela democracia cultural
“Não temos nada a ensinar; não há certezas a ter, apenas uma maneira de viver que consiste em desembaraçarmo-nos das certezas e do consenso que trazem. A partir do momento em que se acredita saber alguma coisa, começa-se a petrificar a vida, a vê-la através de clichés”
Bernard Sobel, encenador e membro do PCF
Se partirmos da noção de Cultura como o conjunto ou sistema de actividades e práticas, meios e instrumentos, artefactos, obras ou produtos, entenderemos melhor que a actividade cultural abarca, igualmente, os processos de produção, intermediação e consumo que implicam infra-estruturas materiais e sociais, bem como, meios e instrumentos, tecnologias, instituições, aparelhos e mecanismos de comunicação e determinam ou modelam determinadas formas de vida.
Na cultura encontramos uma reflexão ou um fazer que se pensa a si próprio, ao mesmo tempo que pensa o mundo e a vida. Daqui decorre que o combate pela democracia cultural é um combate pela participação, pelo acesso aos bens produzidos, mas também e de forma indissociável, pelo acesso aos meios e instrumentos de produção cultural e à própria criação cultural.
A cultura é memória e renovação. Como militante do PCP não posso deixar de assinalar que sempre apostámos na intervenção cultural como factor de transformação do mundo e da vida, sem esquecer a necessidade de preservação da memória ou tradição, factores de que dependem a identidade comunitária e individual. Para nós, comunistas portugueses, são campos fundamentais de intervenção, por um lado, o Património, e por outro, a criação contemporânea, e, interagindo entre eles de forma central, a educação, o ensino e a investigação.
A distinção entre os três planos sociais da cultura (erudita, de massas e popular) implica, em termos políticos, uma intervenção cultural exigente e diversificada. Por isso é fundamental democratizar a cultura como elemento essencial de progresso social e emancipação individual
Contra o fascismo, O Tempo das Giestas
No passado dia 29, assinalou-se o septuagésimo aniversário da abertura do designado Campo da Morte Lenta, vulgarmente conhecido por Tarrafal. Tudo quanto se possa dizer sobre esse antro de tortura e assassinato político é pouco e não ilustra suficientemente a imensidão da dor por que passaram, é preciso dizê-lo, sobretudo, sucessivas gerações de jovens e respectivas famílias.
Para estudar o que foi o sinistro campo de concentração, marca indelével do regime fascista que durante 48 longos anos aprisionou este país, pode ler-se muita coisa, nomeadamente, os testemunhos dos que lá sofreram o horror inenarrável. A mim, que já li muito sobre o assunto, nada me impressionou mais do que o último romance de José Casanova, “O Tempo das Giestas”, precisamente sobre esta temática.
Espero, por isso, ansioso, que o livro chegue às livrarias. Além de estar magistralmente escrito, o que é habitual nos romances de Casanova, o livro é um MANIFESTO BELÍSSIMO contra o fascismo. E um hino comovente ao Amor e à Amizade.
Para estudar o que foi o sinistro campo de concentração, marca indelével do regime fascista que durante 48 longos anos aprisionou este país, pode ler-se muita coisa, nomeadamente, os testemunhos dos que lá sofreram o horror inenarrável. A mim, que já li muito sobre o assunto, nada me impressionou mais do que o último romance de José Casanova, “O Tempo das Giestas”, precisamente sobre esta temática.
Espero, por isso, ansioso, que o livro chegue às livrarias. Além de estar magistralmente escrito, o que é habitual nos romances de Casanova, o livro é um MANIFESTO BELÍSSIMO contra o fascismo. E um hino comovente ao Amor e à Amizade.
sexta-feira, 27 de outubro de 2006
CUIDADO: MAIS UM PEDÓFILO À SOLTA!
“O principal arguido do processo de pedofilia do Parque Eduardo VII, Pedro Inverno, condenado a 19 anos de cadeia, por 54 crimes de natureza sexual com menores, dois deles da Casa Pia, foi libertado por excesso de prisão preventiva.”
Do Correio da Manhã
Tenho 3 filhos e
apesar de toda a doutrina,
De tudo quanto em nome
do Humanismo me ensinaram
Contra as penas cruéis e degradantes,
Apesar do esforço que fiz
para ser contra a pena de morte,
Não obstante ter pensado muito
e já ter mesmo ensinado
que a vingança deve ser monopólio do Estado,
Apesar de saber que existe o erro judiciário,
E que ninguém tem o direito
de tirar a vida a outro ser humano,
Apesar disso tudo,
a verdade é que tenho três filhos.
Que são tudo quanto tenho na vida,
O que mais amo,
O que mais temo perder.
Ora, lendo hoje as notícias,
Esmurrado pela iniquidade da libertação
De mais um pedófilo,
Condenado a 19 anos de prisão,
Bandalho que, como predador voraz,
Vai atacar de novo,
no momento oportuno -pobres crianças!
Relendo as notícias olhei,
Um por um, os meus três tesouros,
O maior motivo da minha existência,
E enquanto soletrei os seus nomes,
a convicção instalou-se serenamente:
Tivesse o porco tocado, um cabelo que fosse,
Num dos meus três filhos, e não haveria
No mundo e arredores,
Tribunal da Relação que lhe valesse.
Esgotada a prisão preventiva,
Oferecia-lhe a viagem definitiva.
Quanto aos códigos, engulam-nos
Os filhos da puta que os moldaram,
Porque se não servem para proteger crianças,
Não servem rigorosamente para nada.
apesar de toda a doutrina,
De tudo quanto em nome
do Humanismo me ensinaram
Contra as penas cruéis e degradantes,
Apesar do esforço que fiz
para ser contra a pena de morte,
Não obstante ter pensado muito
e já ter mesmo ensinado
que a vingança deve ser monopólio do Estado,
Apesar de saber que existe o erro judiciário,
E que ninguém tem o direito
de tirar a vida a outro ser humano,
Apesar disso tudo,
a verdade é que tenho três filhos.
Que são tudo quanto tenho na vida,
O que mais amo,
O que mais temo perder.
Ora, lendo hoje as notícias,
Esmurrado pela iniquidade da libertação
De mais um pedófilo,
Condenado a 19 anos de prisão,
Bandalho que, como predador voraz,
Vai atacar de novo,
no momento oportuno -pobres crianças!
Relendo as notícias olhei,
Um por um, os meus três tesouros,
O maior motivo da minha existência,
E enquanto soletrei os seus nomes,
a convicção instalou-se serenamente:
Tivesse o porco tocado, um cabelo que fosse,
Num dos meus três filhos, e não haveria
No mundo e arredores,
Tribunal da Relação que lhe valesse.
Esgotada a prisão preventiva,
Oferecia-lhe a viagem definitiva.
Quanto aos códigos, engulam-nos
Os filhos da puta que os moldaram,
Porque se não servem para proteger crianças,
Não servem rigorosamente para nada.
segunda-feira, 23 de outubro de 2006
O sofista Flores
Moita Flores, que na passada semana prestou declarações em tribunal, foi desmascarado: afinal o que reiteradamente escreveu sobre as vítimas, difamando-as, era mentira. Interrogado corajosamente por José Maria Martins, foi obrigado a reconhecer, nome após nome, que não conhecia nenhuma das muitas crianças abusadas sexualmente. E no entanto permitiu-se afirmar que os miúdos eram bandidos da pior espécie…
Confirma-se, assim, o que, em resposta a um ataque que me dirigiu, escrevi há um ano no Correio da Manhã, sob o título "O sofista Flores": "(...) É uma pena que o personagem se encontre em tão avançado estado de decomposição. Começou, em Novembro de 2002, por se colocar incondicionalmente ao lado das vítimas da barbárie. Então, o único arguido de que se falava era o Bibi, e Moita escreveu um artigo clamando por justiça e elogiando o autor destas linhas, Catalina Pestana e os que dirigiam a investigação.
Tempos depois, porém, mudava de azimute e entregou-se à tarefa de atacar a investigação. Um dos ataques mais violentos às crianças vitimadas partiu da sua prestativa caneta e Flores pôde ficar-se a rir, grosseiro, porque os miúdos não têm quem lhe exija responsabilidades. Lamento que o professor que tanto admirava tenha soçobrado ante a necessidade de se mostrar útil aos poderosos. Quem quiser estudar a sabujice e adulação tem que ler o tratado que Moita escreveu sob a forma de carta a Ferro Rodrigues. Nesse documento, junto aos autos, Flores desnuda-se e o que se vê indigna até as pedras da calçada(...)".
Agora, o Dr. josé Maria Martins escreveu no seu blogue um texto que não resisto a transcrever:
Domingo, Outubro 22, 2006
Parece que o dinheiro compra tudo: cavalos , parelhas e montes. Arisóofanes, um escritor grego , produziu uma das mais belas obras sobre a riqueza, o poder do dinheiro, obra denominada "Pluto", que em grego quer dizer dinheiro e riqueza. Escreveu ele, num dado momento dessa obra, pondo em diálogo dois escravos e ele próprio:
"Pluto - Que dizes tu? É por minha causa que lhe fazem sacrifícios?
Crémilo - É o que te digo. E por Zeus, se há alguma coisa de brilhante, belo e agradável aos homens, é graças a ti que acontece. Tudo está submetido à riqueza.
Carião - Eu, por exemplo sou escravo por causa de meia dúzia de patacos, eu que antes era livre.
Crémilo - E dizem que as prostitutas de Corinto quando um pobre , por acaso, as tenta, nem sequer lhe prestam atenção. Mas se é um rico , logo lhe oferecem o cu."
Ora, caros amigos, isto está hoje, quase 2.500 anos depois, igual. O Dr. Moita Flores é co-autor de um livro sobre o escândalo sexual do Estado Novo, o aproveitamento de grandes senhores do regime da miséria de prostitutas e das filhas menores, que eram vendidas para o prazer dos valentões, ministros, banqueiros, padres e quejandos. Escreve Moita Flores ( e Felicia Cabrita) num dado passo da obra "Ballet Rose", pondo em diálogo o agente da PJ , o Afonso , a quem foi distribuido o processo e que estava aflito, com o inspector da PJ , o doutor Josue , que lho mandou investigar:
" - Vossa Excelência leu nos nomes que constam da informação?
- Li - Respondeu , imperturbável.
- Desculpe , eu sei que não é da minha conta, mas Vossa Excelência não acha que estamos a ir longe de mais? Há aqui nomes que são referências do regime, gente importante , poderosa. Não sei, senhor inspector!
O inspector Josué decidiu olhá-lo de frente.
-Está com medo?
-É muito perigoso, senhor doutor, e eu só tenho este emprego. Não sei fazer mais nada! - balbuciou, nervoso.
Fechou a caneta e olhou distraído para a janela. A pergunta colheu Afonso de surpresa.
- Tem filhos, Afonso?
-Desculpe, não percebi...
-Perguntei-lhe se tem filhos!
-Não , por acaso não - gaguejou.
- É pena . Talvez compreendesse melhor porque é que não podemos ficar de braços cruzados! - De repente as palavras tornaram-se metálicas - Quero descobrir tudo. Homens, mulheres, crianças. Quero aí preto no branco, quem dorme com mulheres, quem se deita com as miúdas, quanto pagam, onde o fazem e, sobretudo, perceber!...
Afonso estava desorientado.
-Perceber?!...
-Perceber o prazer que alguém pode ter em prostituir crianças. Crianças, agente Afonso. Não lhe causa repugnância?
-Sim, claro.
-Então cumpra o seu dever ."
Bom, a verdade é que tudo isto é hoje igual. Mudam-se os tempos mudam-se as vontades. A choldra é a mesma. Os "senhores de qualquer regime" só clamam por justiça quando não são eles a estar na corda bamba. Os escribas são sempre a voz do dono: de Pluto. Antes e hoje."
sexta-feira, 20 de outubro de 2006
Ao Ricardo Cardoso, com um abraço!
Ao meu amigo Ricardo Cardoso, autor do melhor programa de rádio em Portugal
"Uma maior atenção à cultura poderia contribuir decididamente para a ascensão do povo português a um patamar mais alto de convívio com as ideias, as formas e a sua própria formação e descoberta dos outros, dos sentimentos, da vida social, dos sonhos e dos saberes através dessa arte da palavra e da reinvenção da vida que é a literatura."
Urbano Tavares Rodrigues
"Uma maior atenção à cultura poderia contribuir decididamente para a ascensão do povo português a um patamar mais alto de convívio com as ideias, as formas e a sua própria formação e descoberta dos outros, dos sentimentos, da vida social, dos sonhos e dos saberes através dessa arte da palavra e da reinvenção da vida que é a literatura."
quinta-feira, 19 de outubro de 2006
Carta aberta a José Sócrates
DA NET:
"Esta é a terceira carta que lhe dirijo. As duas primeiras motivadas por um convite que formulou mas não honrou, ficaram descortesmente sem resposta. A forma escolhida para a presente é obviamente retórica e assenta NUM DIREITO QUE O SENHOR AINDA NÃO ELIMINOU: o de manifestar publicamente indignação perante a mentira e as opções injustas e erradas da governação. Por acção e omissão, o Senhor deu uma boa achega à ideia, que ultimamente ganhou forma na sociedade portuguesa, segundo a qual os funcionários públicos seriam os responsáveis primeiros pelo descalabro das contas do Estado e pelos malefícios da nossa economia. Sendo a administração pública a própria imagem do Estado junto do cidadão comum, é quase masoquista o seu comportamento. Desminta, se puder, o que passo a afirmar:
1.º - Do Statics in Focus n.º 41/2004, produzido pelo departamento oficial de estatísticas da União Europeia, retira-se que a despesa portuguesa com os salários e benefícios sociais dos funcionários públicos é inferior à mesma despesa média dos restantes países da Zona Euro;
2.º - Outra publicação da Comissão Europeia, L´Emploi en Europe 2003, permite comparar a percentagem dos empregados do Estado em relação à totalidade dos empregados de cada país da Europa dos 12. E o que vemos? Que em média nessa Europa 25,6 por cento dos empregados são empregados do Estado, enquanto em Portugal essa percentagem é de apenas 18 por cento. Ou seja, a mais baixa dos 12 países, com excepção da Espanha. As ricas Dinamarca e Suécia têm quase o dobro, respectivamente 32 e 32,6 por cento. Se fosse directa a relação entre o peso da administração pública e o défice, como estaria o défice destes dois países?
Sendo a administração pública a própria imagem do Estado junto do cidadão comum, é quase masoquista o seu comportamento.
3º - Um dos slogans mais usados é do peso das despesas da saúde. A insuspeita OCDE diz que na Europa dos 15 o gasto médio por habitante é de 1458. Em Portugal esse gasto é 758. Todos os restantes países, com excepção da Grécia, gastam mais que nós. A França 2730, a Austria 2139, a Irlanda 1688, a Finlândia 1539, a Dinamarca 1799, etc.
Com o anterior não pretendo dizer que a administração pública é um poço de virtudes. Não é. Presta serviços que não justificam o dinheiro que consome. Particularmente na saúde, na educação e na justiça. É um santuário de burocracia, de ineficiência e de ineficácia. Mas infelizmente os mesmos paradigmas são transferíveis para o sector privado. Donde a questão não reside no maniqueísmo em que o Senhor e o seu ministro das Finanças caíram, lançando um perigoso anátema sobre o funcionalismo público. A questão reside em corrigir o que está mal, seja público, seja privado. A questão reside em fazer escolhas acertadas.
O Senhor optou pelas piores. De entre muitas razões que o espaço não permite, deixe-me que lhe aponte duas: Sobre o sistema de reformas dos funcionários públicos têm-se dito barbaridades. Como é sabido, a taxa social sobre os salários cifra-se em 34,75 por cento (11 por cento pagos pelo trabalhador, 23,75 por cento pagos pelo patrão
OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS PAGAM OS SEUS 11 POR CENTO. Mas O SEU PATRÃO ESTADO NÃO ENTREGA MENSALMENTE À CAIXA GERAL DE APOSENTAÇÕES, COMO LHE COMPETIA E EXIGE AOS DEMAIS EMPREGADORES, os seus 23,75 por cento. E é assim que as "transferências" orçamentais assumem perante a opinião pública não esclarecida o odioso de serem formas de sugar os dinheiros públicos.
Por outro lado, todos os funcionários públicos que entraram ao serviço em Setembro de 1993 já verão a sua reforma ser calculada segundo os critérios aplicados aos restantes portugueses. Estamos a falar de quase metade dos activos. E o sistema estabilizará nessa base em pouco mais de uma década.
Mas o seu pior erro, Senhor Engenheiro, foi ter escolhido para artífice das iniquidades que subjazem à sua política o ministro Campos e Cunha, que não teve pruridos políticos, morais ou éticos", por acumular aos seus 7.000 Euros de salário, os 8.000 de uma reforma conseguida aos 49 anos de idade e com 6 anos de serviço. E com a agravante de a obscena decisão legal que a suporta ter origem numa proposta de um colégio de que o próprio fazia parte.
Quando escolheu aumentar os impostos, viu o défice e ignorou a economia. Foi ao arrepio do que se passa na Europa. A Finlândia dos seus encantos, baixou-os em 4 pontos percentuais, a Suécia em 3,3 e a Alemanha em 3,2. Por outro lado, fala em austeridade de cátedra, e é apologista juntamente com o presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, da implosão de uma torre ( Prédio Coutinho ) onde vivem mais de 300 pessoas. Quanto vão custar essas indemnizações, mais a indemnização milionária que pede o arquitecto que a construiu, além do derrube em si?
Por que não defende V. Exa a mesma implosão de uma outra torre, na Covilhã ( ver Correio da Manhã de 17/10/2005 ), em tempos defendida pela Câmara, e que agora já não vai abaixo? Será porque o autor do projecto é o Arquitecto Fernando Pinto de Sousa, por acaso pai do Senhor Engenheiro, Primeiro Ministro deste país?
Por que não optou por cobrar os 3,2 mil milhões de Euros que as empresas privadas devem à Segurança Social ? Por que não pôs em prática um plano para fazer a execução das dívidas fiscais pendentes nos tribunais Tributários e que somam 20 mil milhões de Euros ? Por que não actuou do lado dos benefícios fiscais que em 2004 significaram 1.000 milhões de Euros ? Por que não modificou o quadro legal que permite aos bancos, que duplicaram lucros em época recessiva, pagar apenas 13 por cento de impostos ? Por que não renovou a famigerada Reserva Fiscal de Investimento que permitiu à PT não pagar impostos pelos prejuízos que teve no Brasil, o que, por junto, representará cerca de 6.500 milhões de Euros de receita perdida ?
A Verdade e a Coragem foram atributos que Vossa Excelência invocou para se diferenciar dos seus opositores. QUANDO SUBIU OS IMPOSTOS, QUE PERANTE MILHÕES DE PORTUGUESES GARANTIU QUE NÃO SUBIRIA, FICÁMOS TODOS ESCLARECIDOS SOBRE A SUA VERDADE. QUANDO ELEGEU OS DESEMPREGADOS , OS REFORMADOS E OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS COMO PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE COMBATE AO DÉFICE, PERCEBEMOS DE QUE TEOR É A SUA CORAGEM."
Santana Castilho (Professor Ensino Superior)
quarta-feira, 18 de outubro de 2006
Fernando Tordo
Fernando Tordo é um poeta-cantor fabuloso. Durante os anos da adolescência coleccionei os seus discos, e as letras que escreveu ajudaram-me a crescer. Admirei o seu posicionamento corajoso, coerente, frontal e solidário. Na noite em que morreu Francisco Miguel, o heróico resistente antifascista, a determinado momento ficámos apenas três pessoas a velá-lo no centro do PCP de Alcantâra: eu, o António Alves (já falecido) e o Fernando Tordo.
Um dia soube que o Tordo decidira partir para outras paragens. E a desilusão doeu. Com o tempo, porém, descobri que o intelectual que admirava, por mais viagens que fizesse, permaneceria inalterável nas pérolas que nos legou e de que aqui deixo um exemplo de que gosto muito (com muita pena por não poder oferecer-vos, igualmente, a belíssima música que compôs para este poema) .
Um dia soube que o Tordo decidira partir para outras paragens. E a desilusão doeu. Com o tempo, porém, descobri que o intelectual que admirava, por mais viagens que fizesse, permaneceria inalterável nas pérolas que nos legou e de que aqui deixo um exemplo de que gosto muito (com muita pena por não poder oferecer-vos, igualmente, a belíssima música que compôs para este poema) .
Sou de outras coisas
pertenço ao tempo que há-de vir sem ser futuro
e sou amante da profunda liberdade
sou parte inteira de uma vida vagabunda
sou evadido da tristeza e da ansiedade
Sou doutras coisas
fiz o meu barco com guitarras e com folhas
e com o vento fiz a vela que me leva
sou pescador de coisas belas, de emoções
sou a maré que sempre sobe e não sossega
Sou das pessoas que me querem e que eu amo
vivo com elas por saber quanto lhes quero
a minha casa é uma ilha é uma pedra
que me entregaram num abraço tão sincero
Sou doutras coisas
sou de pensar que a grandeza está no homem
porque é o homem o mais lindo continente
tanto me faz que a terra seja longa ou curta
tranco-me aqui por ser humano e por ser gente
Sou doutras coisas
sou de entender a dor alheia que é a minha
sou de quem parte com a mágoa de quem fica
mas também sou de querer sonhar o novo dia
- Sou dos lugares onde se baila a chamarrita.
Letra e música: Fernando Tordo
In: "Anticiclone", 1984
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
Mais uma vitória!
Tinha eu acabado de agradecer o apoio recebido pelo post anterior, quando, ao consultar o blogue do Dr. José Maria Martins, soube da boa nova, que transcrevo feliz:
"Segunda-feira, Outubro 16, 2006
Do Portugal Profundo
Fez-se Justiça ao nosso amigo Prof. António Balbino Caldeira
Este post é só para amigos nossos e para nossos amigos.
Por um mero acaso tive a honra de ser solicitado pelo nosso amigo Prof. António Caldeira para o defender no Tribunal de Alcobaça.
Eu até era testemunha, abonatória, mas acabei por ser advogado dele.
Foi absolvido.
O Mº Pº recorreu para o Tribunal da Relação de Coimbra.
Agora o Tribunal da Relação de Coimbra negou provimento ao recurso do Mº Pº e absolveu, definitivamente, o nosso amigo Prof. António Caldeira.
A Mª Juiz que absolveu o Prof. António Caldeira, apesar de jovem esteve muito bem. Mesmo quando houve algum conflito comigo esteve bem. Foi uma senhora magistrada. Quis e fez justiça.
Agora o Tribunal da Relação de Coimbra deu-lhe e deu-nos razão. Não havia qualquer crime.
É com decisões destas - aliás muito bem fundamentadas - serenas, calmas, cheias de razão e prudência , que nós temos razão para lutar pela democracia e pelas liberdades e direitos humanos.
Triunfou a Justiça."
"Segunda-feira, Outubro 16, 2006
Do Portugal Profundo
Fez-se Justiça ao nosso amigo Prof. António Balbino Caldeira
Este post é só para amigos nossos e para nossos amigos.
Por um mero acaso tive a honra de ser solicitado pelo nosso amigo Prof. António Caldeira para o defender no Tribunal de Alcobaça.
Eu até era testemunha, abonatória, mas acabei por ser advogado dele.
Foi absolvido.
O Mº Pº recorreu para o Tribunal da Relação de Coimbra.
Agora o Tribunal da Relação de Coimbra negou provimento ao recurso do Mº Pº e absolveu, definitivamente, o nosso amigo Prof. António Caldeira.
A Mª Juiz que absolveu o Prof. António Caldeira, apesar de jovem esteve muito bem. Mesmo quando houve algum conflito comigo esteve bem. Foi uma senhora magistrada. Quis e fez justiça.
Agora o Tribunal da Relação de Coimbra deu-lhe e deu-nos razão. Não havia qualquer crime.
É com decisões destas - aliás muito bem fundamentadas - serenas, calmas, cheias de razão e prudência , que nós temos razão para lutar pela democracia e pelas liberdades e direitos humanos.
Triunfou a Justiça."
Contra a mentira!
Na sala do tribunal, os funcionários conluiados convertem-se em diligentes trabalhadores e esmerados pais de família. Tudo pelas crianças, garantem à juíza. No banco de trás, o arguido agita-se indignado. Revê os rostos familiares dos amigos desaparecidos. Evoca os relatos das atrocidades que sofreram. Tantas crianças destruídas, tanta dor e os canalhas persistem na desvergonha de negar a incúria, o abandono, a negligência.
Por um momento, recorda o exemplo de Francisco, personagem central de “O Caminho das Aves”, e apetece-lhe gritar, mesmo prejudicando a defesa, contra aqueles bandidos. Perante o seu olhar revoltado e triste, o filme passa célere: os bandidos protegem-se, como há vinte anos, uns aos outros. E souberam de tudo desde o início…
Apetece-lhe gritar. Mas o olhar terno da magistrada mitiga-lhe a raiva.
- Quer falar? – pergunta-lhe compreensiva. Que sim, responde aliviado. E fala, fala muito. Depois, olhando sempre nos olhos a juíza, senta-se, reconfortado.
Por um momento, recorda o exemplo de Francisco, personagem central de “O Caminho das Aves”, e apetece-lhe gritar, mesmo prejudicando a defesa, contra aqueles bandidos. Perante o seu olhar revoltado e triste, o filme passa célere: os bandidos protegem-se, como há vinte anos, uns aos outros. E souberam de tudo desde o início…
Apetece-lhe gritar. Mas o olhar terno da magistrada mitiga-lhe a raiva.
- Quer falar? – pergunta-lhe compreensiva. Que sim, responde aliviado. E fala, fala muito. Depois, olhando sempre nos olhos a juíza, senta-se, reconfortado.
domingo, 15 de outubro de 2006
Pelo sonho é que vamos
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
Pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama
sexta-feira, 13 de outubro de 2006
Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão
terça-feira, 10 de outubro de 2006
Homenagem ao General Vasco Gonçalves
Sábado 21 de Outubro às 15.30h
Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa
Prezado(a) Amigo(a)
A cerimónia constará de um momento cultural com a actuação do pianista Fausto Neves, do Coro dos Mineiros de Aljustrel, do cantor e compositor Manuel Freire, do Coro Lopes Graça da Academia de Amadores de Música, da actriz Maria do Céu Guerra e do Coro Feminino Terra de Catarina, de Baleizão.
Seguem-se intervenções dos senhores general Pezarat Correia, Prof. Doutor José Barata-Moura, coronel Luís Vicente da Silva e do neto do homenageado dr. Vasco Gonçalves Laranjeira.
Passado um ano sobre a morte do general Vasco Gonçalves, este é o momento oportuno para reflectirmos sobre a sua figura ímpar, a sua dimensão ética, moral e política e o seu exemplo de dedicação ao País e à causa de uma sociedade mais justa e fraterna. Naturalmente contamos com a sua presença amiga e esperamos a sua boa vontade no sentido de divulgar esta iniciativa e de sensibilizar outros amigos e admiradores de tão prestigiada personalidade para participarem na referida cerimónia.
Recordemos o homem e militar íntegro, bem como o político totalmente dedicado à causa dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos.
Pela Comissão Promotora
Martins Guerreiro, João Corregedor da Fonseca, Pezarat Correia, José Casanova, Pinto Soares, Herberto Goulard, Rui Fernandes.
Contactos: 916177169, 965278686, 962397280, 917204655
Associação 25 Abril – R Misericórdia 95 1200-271 Lisboa Tel: 213241420
segunda-feira, 9 de outubro de 2006
Obrigado Sr. Procurador-geral Souto Moura
No dia em que Souto Moura cessa funções, vilipendiado e perseguido pelos biltres do costume, cumpre assinalar que não poderíamos encontrar melhor legenda para o seu desempenho corajoso, digno e competente do que a não recondução no cargo. A partir do momento em que resistiu e defendeu intrepidamente a Justiça, Souto Moura teve o destino traçado. Por si o caso não teria nada de novo a assinalar: afinal, diariamente inúmeros portugueses são perseguidos por lutarem contra a iniquidade. Só que o afastamento do corajoso magistrado inunda de luz o pântano em que os que gerem o sistema têm atolado Portugal. Não há reputação, obra, conquista, que resista ao seu apetite voraz e pendor revanchista. Quem se meter com eles, leva!
Foi assim na destruição da Revolução de Abril, onde beberam inspiração para a propagação da tese da cabala. Foi assim com as facadas raivosas que desferiram em Rui Teixeira. E com as torpes investidas contra Catalina Pestana. Foi assim no despedimento de Felícia Cabrita e Joaquim Vieira. Há-de ser assim para o futuro. Será também similar a nossa resistência e determinação para persistir no combate. A luta continua!
Foi assim na destruição da Revolução de Abril, onde beberam inspiração para a propagação da tese da cabala. Foi assim com as facadas raivosas que desferiram em Rui Teixeira. E com as torpes investidas contra Catalina Pestana. Foi assim no despedimento de Felícia Cabrita e Joaquim Vieira. Há-de ser assim para o futuro. Será também similar a nossa resistência e determinação para persistir no combate. A luta continua!
domingo, 8 de outubro de 2006
Recordando ROSA LUXEMBURGO
“Se aceitássemos com igual benevolência toda "crítica", tanto a que nos faz avançar para o nosso objetivo, como a que dele nos afasta, não seríamos um partido de combate, mas uma associação de tagarelas que, após haverem embarcado com muito estrondo para uma marcha grandiosa, descobririam que ela não possui itinerário preciso e que, no fundo, poderia atracar em qualquer lugar e mesmo ceder ao sábio "conselho" de renunciar à aventura. (…) Não coagimos ninguém a marchar em nossas fileiras, mas se alguém o faz voluntariamente, somos forçados a supor que aceitou nossos princípios. "
sábado, 7 de outubro de 2006
sexta-feira, 6 de outubro de 2006
Sem vergonha!
A Vitalino Canas, fugida a boca para a verdade, coube revelar o que já sabíamos há muito tempo: Souto Moura foi castigado pelo PS por causa do “envelope 9”, quer dizer, por ter persistido em manter-se dignamente do lado da Justiça no desempenho das suas funções.
Tivesse o Procurador-geral da República cedido às pressões que as escutas revelaram; tivesse permitido as manobras berlusconianas em que pretenderam envolvê-lo e o Vitalino estaria agora, boca cheia de palavrosas intenções e vergonha nenhuma, a perorar sobre os benefícios da recondução de tão ilustre magistrado.
Hão-de estar felizes estes meninos, na companhia dos igualmente satisfeitos Francisco Louça e Fernando Rosas, que depois de fingirem apoio às vítimas correram a abraçar a tese da cabala, moderna forma de “querer estar com todos, até se ver quem ganha”, como acertadamente qualificou o Manuel que escreve na grande Loja do Queijo Limiano.
Hão-de estar felizes estes meninos, na companhia dos igualmente satisfeitos Francisco Louça e Fernando Rosas, que depois de fingirem apoio às vítimas correram a abraçar a tese da cabala, moderna forma de “querer estar com todos, até se ver quem ganha”, como acertadamente qualificou o Manuel que escreve na grande Loja do Queijo Limiano.
quinta-feira, 5 de outubro de 2006
Obrigado, José!
Artigo escrito por José e retirado do blogue Grande Loja do Queijo Limiano
"Despacho final
Domingo, Outubro 01, 2006
Nestas duas imagens, retiradas da entrevista que Souto de Moura deu ao suplemento Tabu, do semanário SOL (e que se podem ampliar para quem quiser ler), fica a explicação de Souto de Moura sobre o que se passou com o caso do “envelope 9”. Pelos vistos, mesmo juntando esta entrevista com o comunicado explicativo da PGR, ainda não chega, para alguns. Parafraseando Souto de Moura “ não há pior cego do que aquele que não quer ver.”
Entre os cegos, conta-se agora, Jorge Sampaio, que num arroubo de indignação estudada, mostrou-se espantado com “o tempo que a Procuradoria- Geral da República demorou a esclarecer o caso do "Envelope 9". Agora que passou à condição de ex e já não terá assessores, haja alguém que lhe explique, se ainda não entendeu, o modo como funciona o processo penal em Portugal e como este se articula com a Constituição da República.
Haja alguém que caridosamente lhe explique, tim tim por tim tim, como é que um caso que envolve à partida matéria criminal se investiga em Portugal, respeitando o princípio da legalidade de que ele seria o primeiro garante! Alguém lhe explique ( e também ao estudado Brederode) que um caso apresentado logo como indiciário de crimes gravíssimos, tem que ser investigado num Inquérito criminal e não num simples processo administrativo, para fazer jus, mais uma vez, ao porreirismo nacional, como ele eventualmente pretendia e alguns defendem.
Alguém lhe diga, como agora disse S.M. que uma notícia de um crime, seja ele qual for, dá sempre origem a um Inquérito, obrigatoriamente. Não há lugar a pré-Inquéritos, nestes casos. Nem processos administrativos como alguns pretendem para confundir e se justificarem no que sabem ser injustificável. Alguém tenha a paciência de lhe explicar que é assim, desde 1988, com o Código de Processo Penal que ele mesmo reviu e promulgou em 1998!
Ainda por cima, um caso que ele próprio elevou à condição de escândalo nacional e de gravidade inaudita, convocando um PGR à tarde ou à noite, para lhe dar explicações no dia seguinte, sobre matérias em que se vira envolvido directamente, através de uma notícia tão objectiva como esta: “Até os telefonemas de Sampaio foram investigados no processo Casa Pia”, publicada em 13.1.2006, no diário 24 Horas e subintitulada “ Ministério Público controlou 80 mil chamadas de todos os titulares dos órgãos de soberania feitas de números privados”!!!
E para que não haja dúvidas quanto à torpeza da notícia, na mesma primeira página do referido diário, ainda se escreve: “ Os telefonemas de casa do Presidente da República, do primeiro ministro, do presidente da AR, do presidente do Tribunal Constitucional, do presidente do Tribunal de Contas e todas as chamadas que fizeram durante um ano e meio FORAM ANALISADOS pelo Ministério Público. E há muito mais!”
Pois havia e continua a haver. Por exemplo, como é possível que um ex-presidente da República tenha realizado nesse período 3391 chamadas privadas, pagas pelo erário público!
E ainda mais: como é possível que um jornal publique uma mentira desse tamanho na primeira página e tenha a distinta lata de no dia seguinte, publicar que quem estava a mentir era o PGR! Sabe-se agora que o 24 Horas publicou uma grande falsidade. Desmentidos? Qual quê! Optaram por uma saída mais airosa: chamar pateta e ridículo ao procurador, pela acusação deduzida!
Contudo, no próprio jornal desse dia, o afamado constitucionalista Gomes Canotilho, sem mais nada saber, dizia já que tal ocorrência, no caso de “inexistir fundamentação, isso viola as normas de direito constitucional no que se refere à protecção de dados e à inviolabilidade das comunicações. Além disso, se não há legitimação a montante, quem a pediu e para que finalidades , isso viola também a lei de protecção de dados.”
Foi isso que se apurou no Inquérito: a eventual infracção praticada pelos responsáveis da PT estava já prescrita à altura dos factos ( o que torna patético e hilariante o artigo de Marinho e Pinto, ontem no Público que adiantava a hipótese de ocorrência de um crime de violação de segredo de Estado”!!! ) Desde logo, um crime deste jaez, nunca por nunca se deveria investigar num processo administrativo, por maioria de razão. E muito menos num qualquer pré-inquérito.
Assim, terminado o inquérito,que foi instaurado nestas circunstâncias que o PR conhecia muito bem desde o início ( como foi dito pelo PGR Souto de Moura) , ficam dadas todas as respostas que foram colocadas ao longo dos meses pelos inquisidores públicos que procuravam acima de tudo um efeito nunca confessado: afastar o PGR Souto Moura, da PGR.
A razão profunda e escondida para tal desiderato manifesto, será simples de entender para quem se detenha um pouco na análise dos factos ocorridos. Por isso, é inteiramente legítimo que se acrescente esta que parece óbvia: revindicta pura e simples pelo que o PGR (não) fez em relação ao processo Casa Pia. É o que parece. E em política, o que parece…
A pergunta fatal retomada pelos papagaios de jornal, era, conforme todos se recordam: se o PR exigiu pressa na conclusão do inquérito, para quê tanta demora sem explicações? Sabendo agora, como se sabe, que o Inquérito esteve no Tribunal da Relação de Lisboa, durante quase seis meses, que resposta precisam os inquisidores, tipo José Pacheco Pereira( que fez a pergunta, muito indignado) e outros?
Que se lhes explique como funciona o esquema de recursos em processo penal em Portugal? Que se lhes diga que as regras são para se cumprirem, nesses casos e que os casos urgentes estão devidamente explicitados na lei e que a recomendação de um Presidente da República não aparece na lei como um desses casos? Como aliás nunca poderia aparecer, devido ao artº 13º da própria Constituição?
Outras dúvidas agora colocadas, já não se pegam com o Inquérito, mas com o processo com ele relacionado ( e que aliás, sempre foi o leit motiv principal, como toda a gente percebe). O mesmíssimo José Pacheco Pereira, ( acompanhado pelo estudado Jorge Coelho) no mesmíssimo Quadratura do Círculo, colocou na semana passada, a questão insidiosa sobre o modo como se fizeram as investigações desse processo.
Adianta até as suspeições mais graves sobre a honorabilidade de quem investigou, colocando abertamente as suspeitas sobre a má condução desse processo, adiantando ilegalidades notórias que só agora foram reconhecidas como tal, como é o caso de escutas, de buscas etc etc. como se disso percebesse a potes e pudesse debitar penicos de sabedoria. Nem sequer lhes ocorre, aos comentadores de circunstância que por causa dessas pretensas ilegalidades, alguns políticos tentaram alterar a lei existente, assim demonstrando a patente legalidade existente e de que não gostam…
No entanto, é a esses líderes de opinião que se dá crédito para continuarem a destilar veneno de lacrau em tudo quanto é media, sem contraditório visível.
A lei, para esses comentadores genéricos, é um pormenor que se dispensam de conhecer. Conhecem o que se vai dizendo, geralmente pelos entalados e apaniguados e como são amigalhaços ou correligionários, não lhes restam quaisquer dúvidas: estão inocentes e têm toda a razão.
É a chamada razão que a razão desconhece… "
terça-feira, 3 de outubro de 2006
PERITO ATESTA CREDIBILIDADE DAS VÍTIMAS
DO "Correio da Manhã":
"António Mendes Pedro, perito do Instituto Nacional de Medicina Legal que realizou as perícias às vítimas de abusos sexuais menores de 16 anos, atestou ontem em Tribunal a credibilidade dos jovens e defendeu também a sua capacidade para testemunharem em julgamento. “É mais fácil omitir [abusos] do que inventar. Um jovem abusado não fala da mesma maneira que outro que está a inventar, porque um está a falar de uma experiência vivida e o outro está a falar de coisas mais ou menos racionais”, disse o perito à saída do Tribunal.
Questionado sobre a repetição dos testes psicológicos, Mendes Pedro afirmou: “As perícias que fizemos reúnem as condições suficientes.” O professor do ISPA, convidado para participar nos exames das vítimas de abusos na Casa Pia, explicou ainda que a avaliação da coerência do testemunho dos jovens é feita “a partir do próprio testemunho, das atitudes que acompanham o depoimento, das manifestações corporais e também de outros sintomas”, incluindo as “perturbações psicológicas”.
segunda-feira, 2 de outubro de 2006
A Francisco Louçã e amigos, que tanto maltrataram Souto Moura
Diz o ainda Procurador-Geral da República, em entrevista à "tabu", de 30/09/06:
"Mas devo dizer que quando o caso eclodiu, vi o país levantar-se de norte a sul vociferando que era preciso fazer justiça, doesse a quem doesse, como se se tivesse aberto a porta do inferno. Curiosamente, quando apareceram nomes de pessoas conhecidas no processo, ninguém mais quis saber dos rapazes.As vitimas foram esquecidas e ficou tudo concentrado noutro lado."
e acrescentou:
"Por exemplo as intervenções do então bastonário dos advogados (José Miguel Júdice) surpreenderam-me. Não me lembro de nenhuma a falar das vitimas; era sempre os atropelos, as violações de direitos do arguido e coisas desses género.".
Li a entrevista de Souto Moura com reforçado orgulho. Afinal, eu assinalei o mesmo no meu livro "A Dor das Crianças não Mente":
"Quando deflagrou o pesadelo e Carlos Silvino foi detido, o País reagiu em uníssono, exigindo a punição exemplar, não apenas do arguido, mas de todos os envolvidos, por se tratar de “uma vergonha, um escândalo sem precedentes”. Nos diversos meios de comunicação social, os comentadores denunciavam a cumplicidade com a pedofilia, “através do silêncio” e da “vista grossa dos poderes diversos”, e garantiam que as respectivas consciências não consentiriam, “num caso onde as vítimas são crianças indefesas”, que os culpados deixassem de ser punidos. Nesta fase inicial, mesmo os especialistas garantiam que o processo iria até ao fim, não apenas por ter sido noticiado, mas porque, o tempo entretanto decorrido desde a ocorrência dos factos criminosos, tinha permitido a sedimentação de “determinados pormenores”, que em consequência estariam “perfeitamente seguros”, no sentido de que por certo constituiriam prova irrefutável.
Protestava-se contra a prescrição do procedimento criminal neste tipo de crimes, porque, como escrevia uma das pessoas que mais rápida e convenientemente mudaria de opinião, “Afinal, o sofrimento, ódio, vergonha, todo o tipo de danos nas vítimas não prescreveram nem irão prescrever. São marcas que ficam para a vida por mais que o tempo passe ou os tempos mudem”. A socialista Edite Estrela destacava-se entre os que reclamavam justiça: “(...) é preciso que este caso seja tratado de forma exemplar. Que tudo seja esclarecido. Que os factos sejam investigados. Que os responsáveis pelos actos ignóbeis sejam castigados. Que os cúmplices sejam identificados. Que os encobridores sejam conhecidos. Os portugueses têm direito à verdade. A toda a verdade. As nossas crianças, as de ontem e as de hoje, as casapianas e as outras, exigem que os culpados sejam exemplarmente punidos”.
Protestava-se contra a prescrição do procedimento criminal neste tipo de crimes, porque, como escrevia uma das pessoas que mais rápida e convenientemente mudaria de opinião, “Afinal, o sofrimento, ódio, vergonha, todo o tipo de danos nas vítimas não prescreveram nem irão prescrever. São marcas que ficam para a vida por mais que o tempo passe ou os tempos mudem”. A socialista Edite Estrela destacava-se entre os que reclamavam justiça: “(...) é preciso que este caso seja tratado de forma exemplar. Que tudo seja esclarecido. Que os factos sejam investigados. Que os responsáveis pelos actos ignóbeis sejam castigados. Que os cúmplices sejam identificados. Que os encobridores sejam conhecidos. Os portugueses têm direito à verdade. A toda a verdade. As nossas crianças, as de ontem e as de hoje, as casapianas e as outras, exigem que os culpados sejam exemplarmente punidos”.
Depois, com o surgimento dos arguidos mediáticos, foi o nojo que se sabe...
domingo, 1 de outubro de 2006
Também tu, Sampaio?
Vi hoje Jorge Sampaio, na televisão, mostrar estranheza por Cavaco Silva ainda não ter falado com ele a propósito do “Envelope 9”. Que espera Sampaio que lhe digam? Que essa história sórdida, mais uma para desacreditar as vítimas dos pedófilos poderosos, só não foi resolvida mais cedo porque o sistema o não permitiu?
Deseja Sampaio que lhe recordem que também ele mudou de campo depois da prisão de Paulo Pedroso, ao adoptar o discurso, que antes verberara, da necessidade de mais “garantismo”?
Por que não se manifesta Sampaio pelas vítimas, contra a morosidade de um julgamento que há-de estar concluído quando o apuramento da verdade já não interessar a ninguém?
Por que não protesta contra a manchete canalha do “tal&qual” desta semana, cujo único propósito, a exemplo do que sucede com os seus irmãos de grupo, é destruir a credibilidade do depoimento dos que foram abusados sexualmente?
Sampaio optou a seu tempo. Agora que já não é presidente, deixe que o processo decorra em paz e não contribua, com mais pregos, para a crucificação de Souto Moura .
Deseja Sampaio que lhe recordem que também ele mudou de campo depois da prisão de Paulo Pedroso, ao adoptar o discurso, que antes verberara, da necessidade de mais “garantismo”?
Por que não se manifesta Sampaio pelas vítimas, contra a morosidade de um julgamento que há-de estar concluído quando o apuramento da verdade já não interessar a ninguém?
Por que não protesta contra a manchete canalha do “tal&qual” desta semana, cujo único propósito, a exemplo do que sucede com os seus irmãos de grupo, é destruir a credibilidade do depoimento dos que foram abusados sexualmente?
Sampaio optou a seu tempo. Agora que já não é presidente, deixe que o processo decorra em paz e não contribua, com mais pregos, para a crucificação de Souto Moura .
terça-feira, 26 de setembro de 2006
NO SÉ POR QUÉ PIENSAS TÚ
No sé por qué piensas tú,
soldado, que te odio yo,
si somos la misma cosa
yo,
tú.
soldado, que te odio yo,
si somos la misma cosa
yo,
tú.
Tú eres pobre, lo soy yo;
soy de abajo, lo eres tú;
¿de dónde has sacado tú,
soldado, que te odio yo?
Me duele que a veces tú
te olvides de quién soy yo;
caramba, si yo soy tú,
lo mismo que tú eres yo.
Pero no por eso yo
he de malquererte, tú;
si somos la misma cosa,
yo,
tú,
no sé por qué piensas tú,
soldado, que te odio yo.
Ya nos veremos yo y tú,
juntos en la misma calle,
hombro con hombro, tú y yo,
sin odios ni yo ni tú,
pero sabiendo tú y yo,
a dónde vamos yo y tú…
¡no sé por qué piensas tú,
soldado, que te odio yo!
Eugénio de Andrade
sábado, 23 de setembro de 2006
A falácia de Oriana
A propósito do falecimento de Oriana Fallaci, os que pretendem reescrever a História deturpando-a, foram ao baú das falsidades recuperar mais uma mentirola para atacar o PCP e Álvaro Cunhal. A pensar nos que, por desconhecimento, embarcaram no logro, aqui fica a reposição da verdade:
“O PCP defendia, antes do 25 de Abril, e defendeu logo no dia 25, “a constituição de um governo provisório com a representação de todas as forças e sectores políticos democráticos e liberais” tendo como um dos objectivos fundamentais “assegurar a realização de eleições verdadeiramente livres para a Assembleia Constituinte” (discurso de Álvaro cunhal no aeroporto de Lisboa, à chegada de regresso ao país, 30-5-1974, in Discursos Políticos (1), Edições “Avante!”, Lisboa 1975, p. 12”.
In “A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril (A contra-revolução confessa-se)
“O PCP defendia, antes do 25 de Abril, e defendeu logo no dia 25, “a constituição de um governo provisório com a representação de todas as forças e sectores políticos democráticos e liberais” tendo como um dos objectivos fundamentais “assegurar a realização de eleições verdadeiramente livres para a Assembleia Constituinte” (discurso de Álvaro cunhal no aeroporto de Lisboa, à chegada de regresso ao país, 30-5-1974, in Discursos Políticos (1), Edições “Avante!”, Lisboa 1975, p. 12”.
In “A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril (A contra-revolução confessa-se)
quinta-feira, 21 de setembro de 2006
À minha filha Rita, que fez recentemente três anos, o poema de um amigo e camarada
Tu ainda não sabes as cores. Não sabes essa
coisa tão linda que é a profunda descoberta
do arco a que chamam íris. As nossas
viagens solitárias nos combóios do país, levavam
nos teus olhos a dolorosa interrogação das
cores que as coisas têm, o loiro dos teus cabelos
no loiro das searas àquele tempo, a fértil e
sadia comunidade das paisagens. As ruas
são as ruas para ti, porque tu não conheces
ainda esse mistério enorme que é a cor do
asfalto, a cor da casa, do grito, do gesto azul
do homem isolado no meio da cidade,
à procura no cinzento do céu daquela chuva,
as heróicas razões da existência. Porque tu
ainda não sabes as cores, ainda não sabes o
rigoroso vermelho com que pretendemos construir
este país, o vermelho das nossas bandeiras
nas concentrações operárias, a vermelha bóina que
o irmão ostenta à frente das crianças da
escola camarária. Porque as flores que me ofereces
nos fins de semana têm o perfume que sentes,
a linguagem que os livros lhe atribuem e as cores
que tu ainda não sabes. Porque este país que construímos
para ti, não se resolve com a cor do amor que te
dedico, nem com o verde daqueles que fogem ao
tempo da fábrica, da campina e da difícil linguagem
da fome do povo. Chove a branca chuva do inverno
que passamos e os meninos vão à rua brincar nos
grandes rios das goteiras da cidade. Homens e
mulheres dão quotidianamente ao negro que suportam
a cara lavada e firme, a coragem e o peito aberto
da resistência. Somos nós a construir as cores do
país que vamos oferecer-te. Porque vermelho é o que sei,
é vermelho que te dou. Mas porque não sabes ainda as cores,
as cores te ofereço todas, mas só vermelho encontro
para o encontro das tuas mãos com as mãos
que sou hoje, em lágrimas, voz grande deste pai
que sou para ti, voz alta nas varandas, nas
bancadas, nos largos onde o povo ergue os punhos,
mas terno e vermelho também quando hoje te oferece
um beijo na praça branca desta página.
Poema de Sérgio Bento, meu colega de trabalho e camarada, infelizmente já falecido. Escrito em 14/12/76, o poema foi dedicado à Inês - filha do Sérgio - no dia em que fez cinco anos.
coisa tão linda que é a profunda descoberta
do arco a que chamam íris. As nossas
viagens solitárias nos combóios do país, levavam
nos teus olhos a dolorosa interrogação das
cores que as coisas têm, o loiro dos teus cabelos
no loiro das searas àquele tempo, a fértil e
sadia comunidade das paisagens. As ruas
são as ruas para ti, porque tu não conheces
ainda esse mistério enorme que é a cor do
asfalto, a cor da casa, do grito, do gesto azul
do homem isolado no meio da cidade,
à procura no cinzento do céu daquela chuva,
as heróicas razões da existência. Porque tu
ainda não sabes as cores, ainda não sabes o
rigoroso vermelho com que pretendemos construir
este país, o vermelho das nossas bandeiras
nas concentrações operárias, a vermelha bóina que
o irmão ostenta à frente das crianças da
escola camarária. Porque as flores que me ofereces
nos fins de semana têm o perfume que sentes,
a linguagem que os livros lhe atribuem e as cores
que tu ainda não sabes. Porque este país que construímos
para ti, não se resolve com a cor do amor que te
dedico, nem com o verde daqueles que fogem ao
tempo da fábrica, da campina e da difícil linguagem
da fome do povo. Chove a branca chuva do inverno
que passamos e os meninos vão à rua brincar nos
grandes rios das goteiras da cidade. Homens e
mulheres dão quotidianamente ao negro que suportam
a cara lavada e firme, a coragem e o peito aberto
da resistência. Somos nós a construir as cores do
país que vamos oferecer-te. Porque vermelho é o que sei,
é vermelho que te dou. Mas porque não sabes ainda as cores,
as cores te ofereço todas, mas só vermelho encontro
para o encontro das tuas mãos com as mãos
que sou hoje, em lágrimas, voz grande deste pai
que sou para ti, voz alta nas varandas, nas
bancadas, nos largos onde o povo ergue os punhos,
mas terno e vermelho também quando hoje te oferece
um beijo na praça branca desta página.
Poema de Sérgio Bento, meu colega de trabalho e camarada, infelizmente já falecido. Escrito em 14/12/76, o poema foi dedicado à Inês - filha do Sérgio - no dia em que fez cinco anos.
quarta-feira, 20 de setembro de 2006
Previsão
O novo procurador-geral da República será considerado o “melhor do mundo” enquanto não incomodar os poderosos e a máfia que controla o Estado.
Os queques-rosa!
Os meninos plagiam Duverger e peroram sobre democracia como se fossem detentores da verdade toda. Depois glosam expressões em inglês, assumem o ar melado típico dos marotos a fingir e a uma só voz vociferam contra o PCP. Telefonam-se depois, eufóricos: "Viste?", "Dei-lhes bem, não foi?". Os que se dizem de esquerda, dessa esquerda rosa a que Carlucci e a CIA determinaram programa e objectivos, são os mais burlescos: por eles, o PCP não passaria das galerias da Assembleia da República.
Vá lá, já não nos querem confinados ao Aljube.
domingo, 17 de setembro de 2006
Catarina Eufémia
O primeiro tema de reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente
Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método oblíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro
[no instante em que morreste
E a busca da justiça continua
Sophia de Mello Breyner Andresen
sexta-feira, 15 de setembro de 2006
Contra a segregação
O Ricardo iniciou hoje uma etapa diferente no seu percurso escolar: foi à nova escola, onde vai frequentar o 5.º ano, conhecer os colegas e assistir à recepção magnífica que os professores e alunos mais velhos prepararam para os caloiros. Canto e guitarra, flauta e piano, voz e entusiasmo, incentivo e paixão e muita, muita confiança contribuíram para que nos sentíssemos felizes. Os nossos professores são tão bons como os melhores do mundo. E apesar de mal pagos e tão maltratados, constroem futuro como ninguém.
O Francisco é um dos colegas com que o Ricardo vai partilhar a aventura da aprendizagem. Infelizmente, por ser portador de uma deficiência auditiva não pôde fruir o momento musical que referi. Mas, muito pior do que isso, quando as aulas começarem a sério na próxima segunda-feira, o Francisco, apesar de presente na sala, não vai poder receber nada do muito que os professores têm para ofertar. Tudo porque o governo não colocou como devia se respeitasse a lei, um professor para o acompanhar convenientemente.
Este cenário de segregação dos alunos portadores de deficiência está generalizado a todo o país e desmascara a insensata demagogia governamental, que propaga vivermos no melhor dos mundos. Pode um país assim dizer-se livre? Democrático? Respeitador dos mais elementares Direitos Humanos?
quarta-feira, 13 de setembro de 2006
Vivan las FARC-EP!
"Del río que todo arrastra todos dicen violento,
pero no de las márgenes que lo comprimen" Bertolt Brecht
Como es sabido, una avalancha de blogues de derecha, de otros que se identifican con las políticas de derecha de gobiernos que se dicen de izquierda y hasta de viejos conocidos que resolvieron abandonar su lugar en la lucha y pasarse para la social-democracia (y también aquellos que posiblemente hablan presionados por sus amigos), protestan por la presencia de la Revista Resistencia , portavoz de las FARC-EP en la Fiesta de Adelante!, fiesta del órgano Central del Partico Comunista Portugués (PCP). El Diario de Noticias hace eco de la protesta del embajador colombiano en Portugal y anuncia el embarazo diplom tico causado a José Sócrates, Primer Ministro português.
EL PCP a través de un comunicado confirmó que estuvieron dos organizaciones colombianas, el Partido Comunista Colombiano y la Revista Resistência, una publicación que funciona como portavoz de las FARC, en el ámbito de los invitados por PCP y que se basa exclusivamente en su política de relaciones internacionales y en la solidaridad de los comunistas portugueses con aquellos que en todo el mundo desarrollan procesos de resistencia y lucha contra las políticas antisociales, antidemocráticas y belicistas de las principales potencias imperialistas, o de gobiernos claramente maniatados e instrumentalizados por esas potencias, como es el caso del gobierno colombiano.
EL PCP aprovechó la oportunidad para mostrar su solidaridad con la justa lucha de las FARC-EP y denunció las tentativas de criminalización de la resistencia al gran capital y al imperialismo y reitero su frontal oposición a la clasificación EE.UU. y la Unión Europea de las FARC - una organización popular armada que hace más de 40 años se propone entre otros objetivos, la lucha por la real democracia en Colombia y por una justa y equitativa redistribución de la riqueza, de los recursos naturales de Colombia y la posesión y uso de la tierra - como organización terrorista.
Desde aquí demostramos también nuestra más profunda solidaridad para con todos aquellos que luchan por una Colombia independiente, soberana y socialista. Las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colômbia - Ejército del Pueblo, representan lo que de más genuino hay en el movimiento bolivariano. La liberación del hombre por el hombre y el fin de la pobreza deberían representar para todos los que denuncian a las FARC-P lanzando mentiras sobre la organización, un valor inestimable.
No se leyó en ninguno de estos blogues nada sobre la solidaridad para con el pueblo colombiano, ni su vehemente protesta contra las condiciones en que vive, ni se leyeron tampoco palabras de protesta contra el gobierno Bush que envía miliares, material de guerra y dinero para la guerra contra la insurgencia del pueblo colombiano. Quien hace referencia a las personas detenidas por las FARC esconde a todos aquellos que estan encarcelados por el gobierno colombiano y por los paramilitares que ese gobierno apoya, así como por el gobierno norteamericano. Se pretende esconder quin realmente lucha por la solución del problema de los presos. Son las FARC y no el gobierno colombiano las que han demostrado voluntad de realizar el canje de prisioneros lo más rápidamente. Han sido las FARC las que unilateralmente deciden liberar algunos presos. Fue el gobierno colombiano quien tantas veces intentó frustrar esta voluntad porque a Uribe, presidente colombiano y exnarcotraficante, le interesa la guerra y no la paz, no se preocupa efectivamente con el problema de los presos ni con sus familias.
Viva Colombia libre, independiente y soberana.
Vivan las FARC-EP
Desde Marquetalia, hasta la Victoria!"
Viva Colombia libre, independiente y soberana.
Vivan las FARC-EP
Desde Marquetalia, hasta la Victoria!"
(Texto retirado da página das FARC-EP, exército revolucionário cuja luta heróica se saúda.)
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