quinta-feira, 10 de março de 2011

As consciências de aluguer

Com raríssimas excepções, os media estão pejados de consciências de aluguer que reproduzem, em coro síncrono, a voz dos donos. Omniscientes, peroram sobre tudo e convergem na defesa do pensamento único. A proliferação de jornais, rádios e televisões, ao contrário do que apregoaram os cultores de princípios grandiloquentes, significou uma redução do pluralismo informativo e por essa via, uma diminuição brutal da democracia.

O papel dessas prostituídas consciências na derrocada que nos atingiu ainda está para ser devidamente estudado. Viu-se agora, a propósito do discurso de Cavaco Silva na tomada de posse, como se esforçaram. Cavaco diagnosticou a situação, mas escondeu as causas e o papel determinante que teve na destruição, nomeadamente, da nossa capacidade produtiva. Apelou aos jovens com frases lindas que esconderam ter sido autor, depois de Mário Soares, dos maiores ataques à estabilidade no emprego e ao papel social do Estado. Basta ver, por exemplo, quem legalizou, em 1989, a moderna escravatura laboral pomposamente designada de subcontratação.

O paradigma de sucesso de Cavaco Silva chama-se Dias Loureiro e afins. Mas os loroteiros de serviço esconderam tudo e apregoam a requentada receita de Cavaco como o melhor dos elixires. Pelo caminho silenciaram o óbvio: Cavaco é cúmplice do actual governo e não tem legitimidade para criticar.

Razão teve ontem Agostinho Lopes ao contrariar o loroteiro de serviço na SIC: Não é verdade que ninguém tenha alertado contra as políticas que nos trouxeram o descalabro. Só que, quando o PCP as denunciou, foi apelidado de catastrofista.
Se existisse jornalismo político sério nos media do sistema, a pergunta formulada ontem por Agostinho Lopes seria inevitável: para onde foi o dinheiro das privatizações? Estou certo de que a resposta implicaria centenas de participações ao Ministério Público para procedimento criminal contra a corja de vigaristas. E, já agora: quem ficou com os milhões de fundos comunitários?







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sexta-feira, 4 de março de 2011

Mais depressa se apanha um mentiroso...

Já aqui havíamos referido a desvergonha e desonestidade intelectual de certos historiadores. Nem a propósito: a deambulação pela net mostrou-nos com limpidez a estatura de um desses artistas. Fernando Rosas, agastado com a oposição da FER de Gil Garcia ao apoio que o prestativo bloco que se diz de esquerda concedeu ao spinolista Manuel Alegre, e com a eventualidade que essa facção preconizou de apoiar Francisco Lopes, sacou da pistola e, no seu modo de ser historiador, mentiu.

Nem vale a pena comentar a adjectivação do candidato comunista como o “inefável Francisco Lopes”. Apaixonado pela candidatura de Alegre, é natural que Rosas, no seu modo histórico de ser, caustique com adjectivação prolixa os que fazem da vida um exercício coerente. Mas Rosas quis mais e mentiu deliberadamente.

De arma empunhada, decretou verificar a proximidade da FER em relação ao PCP em questões de fundo programáticas, como a defesa de um regime socialista de partido único e de censura politica.

Rosas sabe bem que o PCP sempre defendeu o pluripartidarismo. Rosas sabe bem que o PCP jamais defendeu o que a sua raiva anticomunista afirma. A História do PCP tem sido uma constante de luta pela Liberdade e pela Democracia. Rosas, sabe bem, mas prefere a mentira reiterada, que o PCP no seu VI Congresso, realizado em 1965, definiu, os oito objectivos da revolução democrática e nacional que foram consagrados no novo Programa aprovado : 1º - Destruir o Estado fascista e instaurar um regime democrático; 2º- Liquidar o poder dos monopólios e promover o desenvolvimento económico geral; 3º - Realizar a reforma agrária entregando a terra a quem a trabalha; 4º - Elevar o nível de vida das classe trabalhadoras e do povo em geral; 5º - Democratizar a instrução e a cultura; 6º - Libertar Portugal do imperialismo ; 7º- Reconhecer aos povos das colónias o direito à imediata independência; 8º - Seguir uma política de paz e amizade com todos os povos.

Entre isto e o que Rosas afirma vai a imensa distância que separa a verdade da mentira mais soez. Afinal de contas, o alimento preferido dos Rosas deste mundo. Ora sendo este o rosto desta esquerda, convenhamos que a fealdade abunda.





UM PARTIDO DIFERENTE


Comemoramos o 90.º aniversário do PCP. Em luta, como é próprio de um partido que fez das suas nove décadas de existência um tempo de luta constante, travada em todas as circunstâncias e enfrentando todos os obstáculos – assim se afirmando como um caso ímpar no quadro partidário nacional.

Na verdade, com a fundação, em 6 de Março de 1921, do Partido Comunista Português – correspondendo a uma necessidade histórica da sociedade portuguesa – nascia um partido de novo tipo, com características específicas, diferente de todos os existentes à altura.

Diferente, desde logo, pelo seu objectivo supremo – a construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados, a sociedade socialista e comunista – e, por isso mesmo, diferente no assumir das exigências que tão ambicioso objectivo comporta.

Diferente, sempre, na prática e na postura em todos os momentos e situações – e de forma inequívoca quando, face à ordem salazarista de dissolução de todos os partidos políticos, foi o único a dizer «não» e a optar pela resistência ao fascismo, vindo a sagrar-se como o grande partido da resistência e da unidade antifascistas.

Diferente quando, no tempo novo de Abril, foi força motriz do processo revolucionário que, com as suas grandes conquistas, viria a transformar profunda e positivamente a realidade nacional.
Diferente – nestes 35 anos de contra-revolução – na sua postura face à política de direita: no seu empenho na mobilização para a luta pela ruptura e por um novo rumo para Portugal; na apresentação de propostas visando combater as consequências dessa política de desastre nacional nas condições de trabalho e de vida da imensa maioria dos portugueses; na sua intervenção em defesa da soberania e da independência nacionais; na luta por uma democracia avançada inspirada nos valores e nos ideais de Abril.

E se sublinhar esta diferença é sempre importante – mais ainda o é quando, como acontece actualmente, se desenvolve uma intensa operação visando a aceitação da ideia de que «os partidos são todos iguais», com isso se pretendendo ocultar a singularidade do PCP, o facto por demais evidente de ele ser, como os seus 90 anos de vida e de luta mostram, um partido diferente dos que são todos iguais.
Comemoramos o 90.º aniversário do PCP num tempo em que aos militantes comunistas se coloca um conjunto de importantes e incontornáveis tarefas, respeitantes quer à necessidade de dar resposta firme à política de direita e aos danos que provoca aos trabalhadores, ao povo e ao País; quer no que respeita à necessidade de reforço do Partido da classe operária e de todos os trabalhadores.

Num tempo, também, em que, como a experiência tem vindo a demonstrar, a luta organizada dos trabalhadores se apresenta como o único caminho para dar a volta a isto e para construir a mudança.
Às importantes e poderosas lutas dos últimos meses – das quais emerge como momento maior a histórica Greve Geral de 24 de Novembro, erguida por mais de três milhões de trabalhadores – há que dar a continuidade necessária, prosseguindo-as, intensificando-as e atraindo a elas novos segmentos das massas trabalhadoras, de modo a torná-las mais eficazes com vista à concretização dos objectivos desejados.

Nesse sentido, é fundamental fazer da jornada de luta de 19 de Março uma muito grande manifestação, fazendo desse dia o dia da indignação e do protesto, da convergência de todos os descontentamentos e insatisfações, da exigência de mudança e de um novo rumo para Portugal – uma muito grande manifestação que será possível com um intenso e amplo trabalho preparatório, esclarecendo e mobilizando os trabalhadores e as populações, demonstrando-lhes que, ao contrário do que dizem os propagandistas do grande capital, a luta não só vale a pena como é indispensável para travar o declínio e o afundamento do País.

E hoje, como ao longo dos últimos noventa anos, os militantes comunistas ocupam a primeira fila da luta – com isso marcando a diferença em relação a todos os outros partidos.

Comemoramos o 90.º aniversário do PCP no momento em que o nosso grande colectivo partidário leva por diante a importante acção «Avante! Por um PCP mais forte!», visando o reforço orgânico, interventivo e ideológico do Partido. Com a consciência de que quanto mais forte for o Partido, mais forte será a luta – da mesma forma que o reforço da luta conduz ao reforço do Partido.

E o Partido reforça-se juntando mais e mais militantes ao nosso grande colectivo partidário – designadamente jovens militantes; ampliando e tornando mais estreita a sua ligação às massas – reforçando as células já existentes nas empresas e locais de trabalho e criando-as ali onde elas não existem; assegurando a actividade dos organismos partidários, no quadro do seu funcionamento democrático e do trabalho colectivo; elevando a consciência política e ideológica dos militantes e dos quadros; dando continuidade à luta levada a cabo por sucessivas gerações de comunistas ao longo das últimas nove décadas e que, no momento actual, tem como objectivo primeiro pôr fim à política de direita e construir a alternativa, sempre tendo no horizonte o socialismo e o comunismo – enfim, afirmando e defendendo a identidade comunista do Partido, sua fonte de força essencial e sua marca distintiva.

Muitas são as razões para nos sentirmos orgulhosos por estes noventa anos de vida e de luta que agora comemoramos – e para assumirmos o compromisso de, honrando o exemplo das gerações de comunistas que nos antecederam, sermos seus dignos continuadores.

José Casanova, in Avante! de 3 de Março de 2011



quarta-feira, 2 de março de 2011

Historiadores?

Estado Novo foi o rótulo que o fascismo escolheu para esconder as suas actividades criminosas. Que, em democracia, tal expressão mentirosa e laudatória da ditadura fascista seja empregue pela generalidade dos historiadores, diz bem do estado a que chegou a bicharada que tanto gosta de se declarar imparcial.

Há-de ser essa imparcialidade que leva os historiadores que escrevem sobre o fascismo – que piamente perdoarão a minha incapacidade de chamar novo ao Estado velho do terror Salazarista – a constantemente escamotear e deturpar o papel do PCP durante esses anos.

Tarrafal? Chamem aí a Irene Pimentel que tratará do assunto e de forma versátil: fidedigno só o Edmundo Pedro e os arquivos da Fundação Soares, pois então. Mais o Fernando Rosas. E se alguma dúvida for levantada sobre algo, a Pimentel não hesitará em recorrer a um qualquer enfermeiro informador da pide para garantir que não, o PCP não tem razão.

Militão Ribeiro, assassinado no EPL? A Pimentel convocada não deixará de assegurar que no PCP isso foi polémico, porque se falou em suicídio. Mesmo que o Avante! da época a desminta, Irene persistirá na sua. Porque a anima um ódio visceral ao PCP, familiar de ódio similar de Pacheco Pereira e Fernando Rosas e tantos outros.