quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Assim não!

Depois da entrevista que concedeu ontem à RTP, Fernando José Matos Pinto Monteiro, o novo Procurador-Geral da República não necessita de mais apresentações. Convidado para a função por José Sócrates, o magistrado esmerou-se em retribuir o convite e , por ele, não há quem belisque o governo.
Tivesse Souto Moura ousado dizer apenas um décimo do que disse ontem Pinto Monteiro e as vestais cronistas socialistas, com o cata-vento Eduardo Prado Coelho à cabeça, não cessariam de exigir a respectiva demissão.
Assim, ficaram-se pela esperada conclusão: temos homem!
Finda a entrevista fiquei sem saber, contudo, em que qualidade se expressou Pinto Monteiro: como ministro socialista da Justiça? Conselheiro de José Sócrates? Relações Públicas do governo?
Portugal está algemado e sob guarda da maioria
rosa. Quem governa o Banco de Portugal? Quem preside ao Tribunal de Contas? De quem depende a Polícia Judiciária? Quem dirige os serviços secretos? Quem manda no Tribunal Constitucional?
Resta-nos o único consolo: ditadura, sem dúvida! Mas democrática.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Contra o branqueamento!


Quem visitar uma livraria e deambular pelas prateleiras à cata de novidades, descobrirá a moda mais recente na edição de livros. Títulos diversos glosam o mesmo assunto: as aventuras sexuais de prostitutas. Narradas por elas próprias. O engodo é acessível e o objectivo elementar: levar o leitor a pensar que está perante a descrição de aventuras radicais, desenvolvidas livremente por artistas felizes, que teriam incorrido na prática descrita voluntariamente. Evidentemente, não faltam referências às somas fabulosas que assim se auferem e à diversão que lhe está associada.

Curiosamente, quando entrevistadas, todas as autoras defendem a legalização da prostituição, o que – atento o disposto no Código Penal, que não persegue as prostitutas – só pode significar um apelo a que o Estado proteja os proxenetas.

Ora esta apologia faz todo o sentido para os grupos do crime organizado que controlam a exploração sexual. E é mesmo um incentivo à prática da prostituição.

A realidade é contudo bem diferente para pior e não pode ser confundida com a vivenciada pelas putas virtuais: miséria e prostituição são palavras praticamente sinónimas em vastíssimas regiões do planeta. Milhões de seres humanos são escravizados para que criminosos sem escrúpulos possam ostentar riqueza e glória.

Como referiu uma jovem brasileira, na comissão de inquérito onde depôs: “Hoje estou recuperada. Voltei para minha casa, cuido de meus dois filhos pequenos. Vocês que aqui estão não imaginam a que tivemos que nos submeter nesta vida. Tenho um corpo de 18 anos, mas uma alma velha, Minha alma jamais será completa.”

A Propósito da demissão de Jardim



"Na barraca, começar-se-á pela farsa eleitoral. Diante dos eleitores com cabeças de madeira e orelhas de burro, os candidatos burgueses, vestidos como palhaços, dançarão a dança das liberdades políticas, limpando a face e o posfácio com os seus programas eleitorais de múltiplas promessas e falando com lágrimas nos olhos das misérias do povo e com voz de bronze das glórias da França; e as cabeças dos eleitores gritam em coro e solidamente: hi han! Hi han!
Depois começará a grande peça: O Roubo dos Bens da Nação"

In “O Direito à Preguiça”, de Paul Lafargue


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

DO PORTUGAL PROFUNDO

A primeira vez que estive com o António, já lá vão cerca de quatro anos, não podia prever o que seria o seu labor em prol das vítimas. Ser humano extraordinário, nem por um momento faltou quando a dor das crianças abusadas solicitou a sua presença solidária. Muitos vieram, sobretudo quando e durante o estrito tempo em que os holofotes mediáticos estiveram ligados. Mas depressa partiram, seguramente ocupados por afazeres inadiáveis.

Com o António foi bem diferente. Ele é um daqueles homens de que Brecht falou: se necessário lutará toda a vida por imperativo de consciência. E o sistema tem medo de quem luta assim. O António não está à venda e não desiste. Em bom rigor, rapidamente percebi que ele era diferente para melhor. A 13 de Abril de 2005 escrevi neste blogue:

“Obrigado, um destes dias o teu empenho será conhecido pelo povo comum. Por enquanto somos poucos a saber como sofres por teres recusado o silêncio. Por persistires na luta ao lado dos que nada têm, além da dignidade dos que não se vendem. Eles, por mais iniquidades que cometam, nada podem contra a marcha inexorável da verdade. Que te roubem o produto do teu trabalho: continuarás a produzir. Que te invadam a casa a horas impróprias: continuarás a residir ao nosso lado. Obrigado António, pelo exemplo solidário que os gansos jamais esquecerão.”

Actualmente, este agradecimento tem que ser reforçado. O senhor Paulo Pedroso decidiu processar criminalmente o António. Porquê? Por ter um blogue e assinar de forma responsável e coerente as opiniões que possui. Sempre ao lado das crianças maltratadas. Ou seja, por delito de opinião. Paulo Pedroso lida mal com isso. Prefere as entrevistas à medida, como aquela que concedeu à SIC quando foi libertado da prisão. E os cronistas sabujos, bajuladores.

António, a luta continua. Por mais que desagrade aos pedrosos cá do burgo. E nós estaremos contigo. E não permitiremos que reescrevam a história a seu contento.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

O Direito à vida acaba a partir do nascimento?

"O Direito à vida é compatível com o desemprego , com o trabalho sem direitos, com a miséria, com os bairros de lata, com os baixos salários, com a subserviência, com a doença para quem não tiver dinheiro, com a velhice sem dinheiro, com o aumento da pobreza? Será?

Recebi um dia destes pela NET uma carta subscrita por Adriano Moreira, Paulo Portas e Ribeiro e Castro,apelando ao Não. Adriano Moreira, Ministro do Ultramar no tempo de Salazar e da Guerra Colonial, não se preocupou nessa altura com a morte ou traumatismo psicológico de milhares de jovens que durante treze anos foram forçados a chacinar os guerrilheiros dos movimentos de libertação e as populações negras, designadamente na Guiné, Angola e Moçambique? Que autoridade tem Adriano Moreira membro dum Governo de Salazar que nunca denunciou os massacres como os de Wiriamu ou da Baixa do Cassanje e foi conivente com a censura e a PIDE?

De que lado estava a maioria dos Bispos e dos padres que abençoavam as tropas em desfile e lhes «davam» conforto moral no dramático teatro de guerra? Quem são estes senhores que se apresentam como democrata cristãos ou «populistas»? Que Igreja é esta que ficou silenciosa perante o desterro do Bispo do Porto D. António Ferreira Gomes por se opor a Salazar ou «expulsou» padres como o de Vieira da Lixa (Mário de Oliveira) ou Felicidade Alves?

A política destes senhores, travestidos de Sócrates, Melo e Castro, Mendes, Durães e quejandos, obedientes à batuta do grande capital e dos senhores do dinheiro, é a de criar condições de riqueza e boa-vida para um punhado de homens e mulheres baseadas no crescimento da miséria, da ignorância, da repressão, da insegurança, do «medo» face ao futuro e da capacidade de autodeterminação pessoal, para que tudo continue na mesma. Tal como no antigamente, que persiste ou ressuscita nos dias de hoje?

A 11 de Fevereiro, votar é um direito. A 11 de Fevereiro VOTAR SIM é um dever, o dever de votar contra o medo e contra a repressão das consciências, é votar pela capacidade de auto-determinação pessoal dos homens e das mulheres."


Vitor Nogueira