segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Editorial do Jornal de Angola


Portugal e Jonas Savimbi
24 de Fevereiro, 2013
O pesadelo da guerra terminou com a morte de Jonas Savimbi, o traidor da Pátria angolana até ao fim dos seus dias. Mas ontem como hoje ainda há entre nós uma minoria pouco esclarecida que tem saudades do colonialismo que serviu convictamente. Como serviu o “apartheid” e está pronta a servir tudo desde que esteja contra Angola e o seu povo. O mesmo se passa com a desvairada imprensa portuguesa e as elites corruptas políticas e económicas daquele país em profunda crise moral, acossado pelos credores e ao mesmo tempo a exibir tiques imperiais ridículos.
Uma parte significativa das elites políticas corruptas e intelectuais portuguesas fez tudo para que Angola não fosse um país independente. Se o plano aprovado na ilha do Sal por Spínola, Nixon e Mobutu tivesse resultado, hoje as elites portuguesas e a sua imprensa tratavam os angolanos como trataram durante décadas a UNITA. Já a ONU tinha aprovado pesadas sanções contra a organização de Jonas Savimbi e os seus dirigentes e Portugal era ainda um paraíso para os sancionados. A imprensa portuguesa apresentava Savimbi como um herói. Mário Soares, então presidente da República, tratava-o como um amigo e o seu filho João como compadre. Altos dirigentes políticos seguiram o exemplo e curvaram-se reverenciais diante dos servidores do colonialismo e organizados nas forças repressivas do regime de “apartheid” da África do Sul.
Nunca a imprensa portuguesa referiu que Savimbi foi um dos carcereiros de Nelson Mandela, ao colaborar com o regime racista da África do Sul. Ou que pôs as suas armas ao serviço da sangrenta guerra colonial. Os dirigentes da UNITA andaram décadas por Lisboa a traficar armas e diamantes e a tratar das suas negociatas criminosas. Mas nunca a Procuradoria-Geral da República Portuguesa ou os serviços de combate ao banditismo investigaram os traficantes e criminosos que circulavam livremente em Portugal. Muito menos os raptores e assassinos de cidadãos portugueses que viviam em Angola. Antes pelo contrário, muitos foram premiados com a atribuição da nacionalidade portuguesa e integrados em instituições e sociedades secretas para ficarem melhor protegidos.
Qualquer jornalista português sabe disso, mas todos se calaram. O império mediático português foi sempre um fiel servidor de Jonas Savimbi. Os jornais e canais de televisão do senhor Pinto Balsemão trataram a rede criminosa como se os seus membros fossem os seus heróis. Savimbi escolhia a dedo os jornalistas portugueses necessários às acções de propaganda para a guerra em Angola. Os nomes dos jornalistas a quem Savimbi pagava os seus serviços são conhecidos e continuam activos nas redacções. Mas mantêm um silêncio cúmplice até hoje. Alguns estão agora em lugares-chave das grandes empresas e passaram a ter como nova tarefa prejudicar ao máximo as relações luso-angolanas. Já o escrevi aqui e volto a repetir: a imprensa portuguesa foi responsável pelo prolongamento da guerra em Angola e as elites corruptas portuguesas apenas se servem dos angolanos. Por trás estimulam ataques violentos contra quem lhes dá a mão e oferece amizade desinteressada. Continuamos a lidar com uma chocante falta de carácter.
Um antigo ministro da Defesa português, Castro Caldas, voltou a pôr a mão na ferida. Confirmou o que todos sabíamos: Jonas Savimbi e a UNITA foram agentes das autoridades coloniais portuguesas, que armaram, municiaram e financiaram as suas operações para impedir a libertação de Angola. Pensava eu que face a mais esta confirmação oficial da traição, a actual direcção da UNITA fosse rever a sua posição de continuar a apresentar o fundador do partido como um patriota. Mas nada aconteceu. O defunto chefe da UNITA continua a ser glorificado pela desacreditada imprensa portuguesa e pela liderança do maior partido da oposição.
Os recursos que foram roubados pela UNITA em Angola para pagar os serviços prestados pelos jornalistas portugueses ordena os silêncios e as cumplicidades em Portugal. Mas essa cobardia merece uma profunda indignação em Angola. Por continuar ainda hoje, décadas depois da independência, a perseguição aos interesses de Angola em Portugal, soa mal e gera muita desconfiança quando vem a Luanda um ministro do governo de Lisboa afiançar que a amizade entre Portugal e Angola continua de pé e os investimentos angolanos são “bem vindos” em Portugal. Já começamos a acreditar que isso não é sincero. Mesmo quando o portador da mensagem é Paulo Portas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que é líder de um partido que nunca escondeu a sua simpatia por Jonas Savimbi e que foi director de um jornal, “O Independente”, que tanta desinformação verteu para a opinião pública sobre a nossa realidade.
Hoje Paulo Portas é um grande amigo de Angola e está a ser lançado para liderar a direita portuguesa em caso de as coisas correrem mal à actual coligação, o que mostra que é possível, afinal de contas, um entendimento com Portugal, se calhar igual ao Entendimento do Luena, para que se ponha fim, de uma vez por todas, às guerras e guerrinhas portuguesas contra Angola.
 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Um Povo Resignado e Dois Partidos sem Ideias

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.

Guerra Junqueiro, in 'Pátria (1896)'


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Também por isto, AMO CUBA!




Os alunos cubanos tiram notas muito mais altas em exames internacionais que as crianças de outros países latino-americanos, incluindo o Brasil. "A educação de Cuba oferece à maioria dos alunos uma educação básica que somente crianças de classe média alta recebem em outros países da America Latina", explica o economista Martin Carnoy, da Universidade de Stanford (EUA), que conduziu um estudo comparativo entre os sistemas educacionais do Brasil, Chile e Cuba.

Carnoy foi a campo e colheu evidências que jogam luz sobre os principais problemas brasileiros. O resultado é o livro A vantagem acadêmica de Cuba - Por que seus alunos vão melhor na escola, publicado no Brasil pela Ediouro. Nele, Carnoy mostra que o ótimo desempenho dos estudantes cubanos é resultado de um sistema educacional que dá oportunidades iguais para todos os alunos, que estudam em um ambiente mais seguro e menos desigual que o brasileiro. 

O economista filmou salas de aula em Cuba e no Brasil e cronometrou o tempo dedicado a explicação dos conteúdos pelos professores. Assim, procurou entender como uma sociedade com renda per capita menor que a brasileira consegue promover uma educação de muito melhor qualidade para todos os jovens de sua população. Suas descobertas provam que é possível avançar. "Embora nem tudo em Cuba seja transferível para outras sociedades, acredito que as lições são claras", explica o especialista. Para ele, os principais ensinamentos da experiência cubana são o recrutamento dos melhores alunos do ensino médio para o magistério, as boas escolas de formação de professores, a garantia de que os alunos são saudáveis e estão bem alimentados e o sistema de supervisão dos professores, voltado para a melhoria do ensino.