sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Mais PCP!




Em 2010, sei-o bem, de todos os becos, das ruelas de cidades sitiadas, foi teu o eco rubro das bandeiras e as mãos nodosas que persistiram no caminho. Por saberes que a raiva isolada não mata a fome das crianças, nem salva os postos de trabalho, nem evita que desviem o dinheiro para a Suíça, nem incomoda os bandidos que nos querem exangues, preferiste organizar os deserdados, insistir no clamor dos passos firmes, resistir, recusando o ancestral conformismo, a penitência.
Por isso, o meu desejo: em 2011, mais Partido, mais gente descobrindo o inigualável prazer de lutar, menos preconceitos contra a única organização política que sempre cumpriu o que se comprometeu a fazer. Mais honra e dignidade, mais PCP.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Poema Pedagógico: eis como salvar as crianças!

Por Eduardo E. S. Prado, em 12 de Maio de 2008


Recentemente eu li "Poema Pedagógico" de Anton Makarenko (S. Paulo, 2005 _ Editora 34). O livro é resultado do diário pessoal que o autor manteve quando foi diretor de um reformatório ucraniano, a Colônia Gorki, entre 1920 e 1928. Makarenko era um adimirador do celebre escritor russo Máxim Gorki, por isso batizou a colônia com seu nome. Gorki se correspondeu com Makarenko e seus internos por vários anos e chegou a visitar a colônia em 1928.
A história se passa logo após a Revolução Russa e no final da Guerra Civil. Esses dois eventos, somados à Primeira Guerra Mundial , entre 1914 e 1917 e à Guerra contra o Japão, em 1905, deixaram a economia do país praticamente arruinada. Assim que o Governo Revolucionário conseguiu certa estabilidade política tratou de reconstruir o país. Mas não se tratava apenas de reconstruir a economia, a nova ordem econômica e social, baseada no Socialismo, não tinha precedentes na História.


Era preciso construir, também, uma nova sociedade, em que o coletivo prevalecesse sobre o individual; em que a ética burguesa da busca do lucro e da ostentação apoiada nas diferenças de classes, desse lugar a uma nova: Operária, camponesa e igualitária. Em que não houvesse exploração de uns sobre os outros e em que todos tivessem acesso as mesmas oportunidades em igualdade de condições. Enfim, era preciso construir um “novo Homem” e essa construção deveria começar pela educação das crianças e dos adolescentes, pelos filhos dos camponeses _ praticamente todos analfabetos como seus pais; pelos filhos dos operários _ com pouca ou nenhuma instrução e pelos menores abandonados; meninos e meninas de rua, boa parte já comprometida com o mundo do crime. Era por estes últimos que o pedagogo Anton Semionóvitch Makarenko, então com 32 anos, deveria começar a por em prática a educação socialista.

Cartaz soviético -Victor Koretsky
Makarenko não tinha nenhuma experiência na educação de menores infratores, nem mesmo os professores, contratados pelo governo revolucionário, tinham qualquer idéia de como educar esses garotos e garotas. A idéia do Departamento de Educação do novo governo era que o sistema capitalista, que imperou na Rússia até a Revolução, era o responsável pelo estado de miséria humana que arrastou essas crianças e adolescentes à criminalidade, ou seja, os menores infratores não deveriam ser considerados criminosos, mas sim, vítimas do sistema às quais era devida uma reparação.
Makarenko
Não demorou muito para Makarenko perceber que os manuais pedagógicos
simplesmente não funcionavam para a sua realidade, e isto porque não previam cobrança, recompensa, estímulo ou punição. Ele chamava os pedagogos de seres do Olimpo, por viverem nas núvens, distantes da realidade, e considerava as teorias pedagógicas vazias, sem possibilidades de aplicação prática. Sem temerem conseqüências ou esperarem qualquer recompensa os internos não tinham nenhum interesse em respeitar as regras da Colônia, muito menos em aprender alguma coisa. Até mesmo a segurança dos educadores ficava comprometida na maioria dessas colônias onde professores e funcionários tinham medo dos colonistas e estes dominavam as instituições, fazendo nelas o que queriam.


Depois de passar uma noite trancado em seu dormitório por medo dos próprios alunos, Makarenko decide trabalhar de modo intuitivo, disciplinar nos moldes dos destacamentos militares, mas flexivel, e sem ficar preso as convenções dos manuais pedagógicos. Não foi nada fácil. No começo os internos reagiram, mas vendo que o diretor estava irredutível alguns aderiram, outros preferiram fugir e passaram a praticar crimes na região. O Departamento de Educação via com preocupação e ressalvas _ e até mesmo com alguma inveja _ o modo como Makarenko dirigia o reformatório e chegou a lhe impor algumas dificuldades, embora ele contasse com a simpatia de algumas pessoas influentes. Makarenko também se questionava muito sobre os resultados da sua metodologia e por várias vezes pensou em desistir, mas decidiu continuar e aprender com os erros. Acabou chegando a conclusão de que não conseguiria educar delinqüentes juvenis se não houvesse cobrança por desempenho nem punição por indisciplina, mas também não adiantaria cobrar disciplina e estudo se não oferecesse nada em troca.


Disciplina, para ele, não era entendida como coerção ou imposição de normas rígidas de conduta, mas como a priorização do coletivo em detrimento do indivídual. Não de qualquer coletivo, mas de um coletivo harmonioso, pois só dentro de um coletivo harmonioso e feliz seria possível frutificar uma ética socialmente saudável. Ao longo de oito anos Anton Makarenko procurou "construir" um ambiente onde os educandos se sentissem parte dele. Era no coletivo que as demandas eram discutidas e providenciadas e era dentro dele que os problemas deveriam ser enfrentados e resolvidos. Os responsáveis por faltas mais graves, como furtos ou vandalismo, eram julgados pelos próprios companheiros numa espécie de assembléia, chamada por ele de Conselho de Comandantes, que decidia se o infrator era culpado, se deveria ser punido e qual a pena. Decisão que era sempre respeitada por ele. Gradativamente, os internos foram se convencendo de que a disciplina e o respeito mútuo revertiam para o bem estar deles próprios.


Câmera fabricada em pelos internos da colônia Dzerzhinsky,
para menores infratores, também dirigida por Makarenko
.
Em poucos anos a colônia se tornou auto-suficiente. Fabricava-se de tudo, o excedente era vendido e o lucro era reinvestido na colônia. Os jovens trabalhavam metade do período e estudavam na outra metade, sendo que o empenho deveria ser satisfatórios nos dois turnos. Não se tratava apenas de trabalhar por trabalhar, havia toda uma filosofia de progresso e crescimento que não se separava da educação. Makarenko não formou fabricantes de cabos de vassouras, mas médicos e aviadores, ainda que também saíssem de sua colônia exímios marceneiros, eletricistas e torneiros. A primeira câmera fotográfica da União Soviética foi fabricada dentro de uma colônia dirigida por ele.


A dificuldade em trabalhar com aqueles jovens levou o autor a tratar educação e instrução como coisas diferentes. “Instruir é educar, mas educar não é, necessariamente, instruir”. Há uma diferença entre educar um ser humano para tornar viável sua vida em sociedade e instruí-lo para a ciência e o trabalho. Era preciso oferecer muito mais que quartos aquecidos, roupas limpas e boa alimentação, os internos precisavam de garantias de que teriam uma vida rica em possibilidades. Depois de muitas reuniões, discussões e quase dois anos de frustrações, Makarenko conseguiu vagas nos cursos superiores para os internos da Colônia Gorki que se destacassem nos estudos. Aos outros, que não ingressassem no ensino superior, ficava garantido um ensino profissionalizante.


Apesar de suas conquistas Makarenko recebia pesadas críticas de pedagogos e do Departamento de Educação que consideravam suas normas de disciplina rígidas demais e também por ele não seguir as orientações pedagógicas. Percebendo que essa indisposição contra ele já estava prejudicando seus colonistas ele pediu demissão do cargo de diretor da Colônia Gorki, passando a se dedicar a colônia Dzerzhinsky onde teve seu trabalho reconhecido .
"Poema Pedagógico" é uma leitura indispensável para quem trabalha na área de educação. Embora o livro trate do universo dos reformatórios soviéticos do início do século XX, e dentro de um contexto bem particular que foi a implantaçao do Socialismo na União Soviética, a experiência transmitida pelo autor pode ser muito útil para professores e educadores de hoje. As personagens juvenis que povoam o livro são tão humanas e complexas quanto qualquer adolescente do século XXI e o mesmo vale para os educadores, na maioria muito bem intencionados, mas sem preparo para lidar com meninos e meninas com tantos problemas e com interesses tão divergentes e contraditórios.


Como pensava Anton Makarenko, em se tratando de educação, principalmente de adolescentes, não existe fórmula pronta, por isso devemos levar em conta que na época em que o livro foi escrito a sociedade soviética, como um todo, estava empenhada na reconstrução do país, o que só seria possível através da educação, e esta era a prioridade número um do governo, que entendia ser a única maneira de consolidar a Revolução e concretizar seus ideais.
Os educadores de hoje enfrentam desafios semelhantes, mas ao contrário de Makarenko não podem contar com o empenho do Estado. O tema Educação esta presente todos os dias na mídia, que se mostra mais preocupada com a falta de mão de obra qualificada do que interessada numa educação de qualidade voltada para a cidadania. E, apesar dos discursos, a educação pública não é prioridade. Jornalistas, Políticos, empresários e economistas são chamados a apontar soluções enquanto os professores, que realmente vivenciam a realidade do sistema, não são ouvidos e assim como Makarenko são o alvo das críticas.


INFO. para quem sabe russo, o livro está disponível em http://sovietpsyhology.narod.ru/makarenko_ped_poema.htm

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

As crianças de Leningradsky


Esta madrugada, o canal Odisseia passou o documentário que dá título a este artigo. Tarde, como convém ao sossego das nossas consciências e aos propósitos de vigaristas, como José Milhazes, que da Rússia pós-soviética só dizem maravilhas. Dirigido e produzido por Hanna Polak e Andrzej Celinski, o documentário aborda o terrível quotidiano das crianças russas, evidenciando as mais de trinta mil que vivem em estações de metro e ruas de Moscovo.
Crianças, algumas ainda bebés, diariamente agredidas, abusadas sexualmente, sem comida, sem roupa, sem escola, sem família. Crianças órfãs de pais vivos, vítimas do monstruoso sistema capitalista, perseguidas brutalmente pelo regime, obrigadas a viver nas tubagens subterrâneas de água quente para poderem sobreviver ao frio de mais de 30 graus negativos.
 
Crianças viciadas em vodka, em cigarros e em cheirar cola. De contacto. A mesma cola que um polícia cobarde, um nazi de medvedev e putin despeja, a determinado momento do documentário - todo ele com imagens reais - sobre a cabeça e rosto de um menino.
Vivi na URSS. Em nenhum país do mundo as crianças eram tão respeitadas. Não havia uma só criança a viver na rua ou com fome. A rede de creches e jardins-de-infância abrangia todas as famílias, as escolas garantiam a igualdade de oportunidades e o acesso às universidades ou institutos, de acordo com as preferências e motivações de cada estudante.
Mas veio o bando do Gorbatchov, do Yeltsin e dos Roman Abramovitch e do grande país resta este retrato doloroso, este retorno ao tempo dos czares.
 
Dizem que o Natal está aí. Mas para os meninos da imensa Rússia acabou em 1991. 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Que orgulho!


Quando procuro a recordação primeira do PCP, a memória leva-me à Feira da Brandoa, em 1975. Na tribuna de um palco simples, Octávio Pato discursava e apesar do escasso entendimento político que 11 anos de idade permitem, conservo a alegria, inexplicável, que as suas palavras me provocaram. Foi o primeiro dirigente, O primeiro herói comunista que conheci. Depois vieram as palavras agrestes, as acções terroristas contra o Partido, fustigado por assassinos sem escrúpulos como os terroristas da Codeco, o padre de Paimogo, ali nos arredores de Peniche, a execrar  o PCP e a ordenar que o povo votasse nas setinhas do ppd, por “apontarem o céu”.

Em Pina Manique, a secção da Casa Pia onde nessa altura estava, os alunos mais velhos chamavam-me comuna. Recordo-me de procurar argumentos para justificar a superioridade do socialismo. Aos 12 anos entrei no primeiro centro de trabalho do PCP: o glorioso centro de Alcântara, onde aprendi anos mais tarde, já operário, princípios que, espero, me norteiem para o resto da vida.

Desse tempo guardo uma certeza: os melhores professores, os melhores educadores, os melhores funcionários, eram os comunistas. No abandono a que a Casa Pia estava, só eles, poucos é verdade, se importavam connosco. Ainda conservo resquícios da alegria sentida ao fazer, com outros alunos, o jornal de parede. Ou a pintura de armários velhos, para usarmos na sala de aulas, organizada com a notável e progressista professora Adelaide Tereno.

Depois, encontrei, por mero acaso, o jornal “O Diário”, bastião de resistência, onde, se não aprendi a ler descobri a olhar o mundo sob a perspectiva da classe a que pertenço. Obrigado, por todos, ao Miguel Urbano Rodrigues.

Fui operário até aos 30 anos. Durante mais de dez anos, fui sucessivamente eleito pelos trabalhadores meus colegas para os representar. Sabiam que ao votar em mim elegiam um comunista. E eu sabia que ao ser eleito, para ter sucesso me bastava exercer as minhas funções de acordo com os princípios que o Partido nos transmitia: agir sempre em defesa de quem trabalha, dos seus direitos e aspirações. Trabalhar para aumentar a produção e a produtividade e actuar sempre de forma a poder olhar, olhos nos olhos, cada trabalhador com a alegria de quem pode dizer: eu não traio, camarada!

A desastrosa destruição da Revolução de Abril, iniciada e fomentada pela dupla Soares/Carlucci, implicou a necessidade de resistência e combate ideológico. Os comunistas foram sempre perseguidos, atacados, mostrados pelo que deles pensam fascistóides e outros tratantes e não pelo que efectivamente são. E uma das linhas mais desenvolvidas a esse respeito, apontava a nossa alegada falta de conhecimento e impreparação. Como se a inteligência tivesse sido dada a toda a gente menos aos comunistas.

Por isso, para o operário que fui, encontrar um cientista progressista era fabuloso. Verificar que as nossas ideias não só têm aceitação generalizada como são partilhadas por pessoas que estão na vanguarda do conhecimento, é profundamente reconfortante. Ora, já licenciado em Direito desde 1994, senti há dias a mesma alegria ao escutar a Prof. Dra. Catarina Casanova numa entrevista ao Arestas de Vento, cujo endereço aqui deixo à laia de convite (http://arestasdevento.podomatic.com/entry/2010-11-28T10_31_49-08_00) . E ainda há quem julgue que a História acabou.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Desmanchos de pides

O 25 de Abril foi há 36 anos. E no entanto, persiste na sociedade portuguesa uma impressionante manada de cobardes. Não se trata de ter medo, algo de que todos padecemos e tentamos, com maior ou menor êxito e consoante as circunstâncias, ultrapassar. Falo dessa porcada que ataca sob anonimato, que intriga, emporcalha, que difama, que guincha impropérios contra quem não suporta olhar nos olhos.
Estou em casa, leio a entrevista de Francisco Lopes ao canal SAPO e é-me difícil conter o vómito. Tanto invertebrado, analfabeto, néscio, aparvalhado a grunhir disparates, a cuspir as entranhas pútridas e tudo sob anonimato.
De quem é a culpa? Bem sei que 48 anos de fascismo deixaram por aí muito desmancho de pide, muita coisa viscosa, repelente. Mas de que serviu, a quem serviu, a educação, o desenvolvimento, os media, a cultura, ao longo destas quase quatro décadas?
Ou será, como defendo cada vez mais convictamente, que estamos pior hoje do que em 1976, quando dois anos de revolução tinham efectivamente transformado este país num lugar único para viver?
Quem usa um instrumento de debate para de forma anónima vomitar alarvidades é um eunuco, uma excrescência e como tal deveria ser privado dos direitos que se concedem aos cidadãos.

Voto Francisco Lopes

domingo, 31 de outubro de 2010

Cancioneiro da esperança

O cigano Nim é meu amigo. Vive do que consegue arranjar dia após dia. Por vezes, como aconteceu na última terça-feira, traz-me livros que vende barato. Desta vez, ofertou-me um tesouro: Cancioneiro da esperança, antologia organizada por Maria Tereza Horta e José Carlos Ary dos Santos  e publicada pela Seara Nova em 1971.
Dessa antologia, deixo-vos o poema Manhã, de Luis Veiga Leitão.

Manhã

- Bom dia. Diz-me um guarda.
Eu não ouço... apenas olho
das chaves o grande molho
parindo um riso na farda.

Vómito insuportável de ironia
Bom dia, porquê bom dia?

Olhe, senhor guarda
(no fundo a minha boca rugia)
aqui é noite, ninguém mora,
deite esse bom dia lá fora
porque lá fora é que é dia!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O escroque e o lenocínio

O PCP apresentou na Assembleia da República, no passado dia 18 de Outubro, o Projecto de Resolução  N.º 293/XI, nos termos do qual se recomenda ao Governo o reforço de medidas de combate ao tráfico de seres humanos e à exploração na prostituição.

Não obstante a respectiva exposição de motivos ter mais de 5800 caracteres, o escroque João Pereira Coutinho resumiu desta forma porca e mentirosa a iniciativa dos deputados comunistas, no Correio da Manhã de 24 de Outubro:

 

         “O nosso PCP, num ataque de probidade, pretende abolir os anúncios em que                           moreninhas atrevidas, com peito natural e formas generosas, oferecem os seus serviços.

Quando li a medida, julguei por momentos que o PCP estava disposto a combater a publicidade enganosa. Erro meu. A ideia é combater a exploração, porque na cabeça arcaica do nosso PCP a prostituição é sempre uma forma de exploração – e não, digamos, uma opção da mulher, que prefere esfregar todo o tipo de superfícies, excepto escadas.

 

Depois, raivoso e aldrabão, foi ao osso que lhe apontaram e ladrou uns quantos impropérios sobre posições políticas que o PCP assumiu, sem qualquer relevância com o assunto. Porque o escroque Coutinho escondeu, censurando, mostremos do que fala o projecto de resolução: 


Os deputados comunistas consideram que se vivem hoje tempos de grave crise económica e social. E com eles, retornam formas anciãs de exploração, de desrespeito pelas pessoas, de aumento da vulnerabilidade dos mais pobres e mais necessitados, da consideração generalizada de que tudo se compra e tudo se vende, mesmo o amor, mesmo a vida, mesmo a dignidade humana. São antigas e novas formas de escravatura que recrudescem, ao mesmo tempo que o pós-modernismo pretende até elevá-las a condições de profissão e legalização. 

Em momentos como este, de agravamento da pobreza, de criação de novas formas de pobreza, mulheres e crianças são as primeiras a sentir na pele as consequências mais devastadoras da degradação do nível de vida. A exploração na prostituição e o tráfico de seres humanos revestem diversas formas de exploração: sexual, laboral, o tráfico de órgãos, a mendicidade, adopções ilegais, entre tantas outras. Segundo a United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC), mais de 2,4 milhões de pessoas são actualmente vítimas de tráfico para fins comerciais. Segundo o relatório Global Report on Trafficking in Persons – UN.GIFT, de Fevereiro de 2009, a exploração sexual assume-se como a forma mais relatada de tráfico, com 79% dos casos, registando o tráfico para fins de exploração laboral 18% das situações.
 Aliadas ao crime de tráfico estão outras formas de exploração, nomeadamente: lenocínio, violência doméstica, casamento de conveniência, escravidão, sequestro, associação criminosa, violação, falsificação/contrafacção de documentos, uso de documentação de identificação ou viagem alheio, auxílio à imigração ilegal, associação de auxílio à imigração ilegal, angariação de mão-de-obra ilegal, rapto, numa teia intricada e complexa de vários crimes. De acordo com a OIT, a exploração sexual é de 63% nas economias industrializadas, sendo que Portugal hoje, de acordo com os vários dados disponíveis, é um país de destino, origem e passagem de vítimas de tráfico.
Para o PCP, também as pessoas prostituídas, não sendo vítimas de tráfico, estão em situações de especial vulnerabilidade e, independentemente de se considerar a opção livre e consciente, nunca tal situação pode levar à adopção de medidas legislativas que legalizem a escravatura e assumam que o consentimento é “esclarecido” na maioria dos casos. A prostituição não é a mais antiga profissão do mundo. Não é mais do que a exploração de seres humanos. Representantes de Nações e de Organizações não Governamentais reuniram-se em Junho de 1993 em Viena de Áustria sob os auspícios da ONU, visando uma Conferência Mundial das Nações Unidas sobre os direitos humanos. Os representantes presentes asseguraram que os direitos das mulheres fossem reconhecidos como direitos humanos.
«Os direitos humanos das mulheres e das meninas são inalienáveis, integrais e são uma parte indivisível dos direitos humanos universais
«A violência baseada no sexo e todas as formas de perseguição e exploração sexual, incluindo aquelas resultantes de preconceitos culturais e tráfico internacional são incompatíveis com a dignidade e valor da pessoa humana e devem ser eliminados.» (Declaração e Plataforma de Acção de Viena, 1993, p. 33). Assim, o tema da violência está indissociavelmente ligado aos direitos humanos. Por este motivo, o PCP entende ser imperioso o reconhecimento da exploração na prostituição como violação dos direitos humanos pelo Governo português, bem como a tomada de medidas urgentes que sejam um efectivo combate ao tráfico e à exploração sexual.
Consequentemente, os deputados comunistas propuseram o seguinte:
- O reconhecimento da exploração na prostituição como violação dos direitos humanos; A tomada de medidas urgentes de proibição de anúncios nos meios de comunicação social que, directa ou indirectamente, incitem à prostituição ou angariação de clientes para a prostituição; O lançamento de campanhas contra o tráfico e a exploração na prostituição em locais estratégicos, nomeadamente terminais de autocarros, estações de comboios e metros e aeroportos; A isenção de custas judiciais e atribuição de apoio judiciário com base na presunção de insuficiência de rendimentos para as vítimas de tráfico e para pessoas prostituídas; A criação de um apoio financeiro específico e transitório para vítimas de tráfico e pessoas prostituídas; Reforço da rede pública de casas-abrigo para vítimas de tráfico de seres humanos e de prostituição; A criação de uma linha telefónica SOS específica para casos de tráfico de seres humanos e exploração na prostituição; A adopção de medidas legislativas de protecção das vítimas de tráfico e exploração na prostituição, no seguimento da Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Declaração e Plataforma de Acção de Viena.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Contra a ditadura!

Por toda a Europa avoluma-se o rugido fascista. Em Espanha, como refere Manuel Gouveia, no Avante! do passado dia 14, " Um deputado do PP espanhol não teve pejo em afirmar que «seria necessário retirar aos pais comunistas a tutela dos seus filhos... e de seguida enviar estas crianças (e os pais também) sem perda de tempo para um campo de reeducação». Na Inglaterra, do mesmo Governo que em Setembro teve um ministro a afirmar que os jovens desempregados deviam ser enviados para a Índia para aprenderem a trabalhar, tivemos agora um outro ministro a teorizar que os desempregados deviam ser proibidos de ter filhos. Estas declarações são novos exemplos da fascização das classes dominantes, fruto do pânico em que vivem mergulhadas. Presos num sistema que não funciona mas que lhes garante os previlégios, estão dispostos a tudo para o defender."
Por cá, contra os comunistas vale tudo: agora, com o pretexto da declaração que o PCP, de forma soberana, proferiu sobre a injustificada atribuição do Nobel da Paz a um preso político chinês, os queques-rosa reuniram e, em uníssono ensaiado, desataram a atacar um Partido que já fez mais pela Liberdade do que suas excelências alguma vez farão.
Por cá, Fernanda Câncio, esmerou-se no anticomunismo trauliteiro, boçal e mentiroso, o mesmo que a levou durante anos a defender o execrável e putativo engenheiro Sócrates. Mentiu, deturpou, caluniou e tudo para chamar ao PCP partido zombie.
Por mim exigiria que o Ministério Público revelasse a lista dos alegados intelectuais que recebem da CIA a subvenção mensal para este trabalho porco.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Processo Casa Pia: A Dor das Crianças não Mente!

Oito longos anos mediaram entre a denúncia de abusos sexuais na Casa Pia de Lisboa e a condenação em julgamento de seis arguidos. Durante esse período, as vítimas, crianças indefesas e, na generalidade, sem família - e todos quantos ousaram posicionar-se a seu lado - foram perseguidas de forma sistemática e cruel.

As pessoas que durante esse período me abordaram, sempre com palavras de amparo, reiteravam, incrédulas na Justiça, o aviso: “Isto não dá em nada e no final, você e os miúdos é que vão acabar presos”.
 
No dia aprazado para a leitura do acórdão, ao entrar na sala de audiências, não pude deixar de pensar nessas advertências. E se tanto sofrimento, o das vítimas e o das pessoas que nunca as abandonaram, tivesse sido em vão? Sentada a meu lado, Catalina Pestana, a mãe afectuosa de tantos casapianos órfãos de tudo, persistia serena, confiante.

Depois, os rapazes entraram. E com a coragem e resistência dos que falam verdade, ocuparam os seus lugares de assistentes no processo. Quanta dignidade: não obstante saberem que na mesma sala estariam os arguidos que acusam de maus-tratos pavorosos, persistiram tranquilamente no anseio de justiça! E não soçobraram quando, revelando o horror, o colectivo de juízes deu início à descrição dos factos por que vinham pronunciados os arguidos.

Gradualmente, fui percebendo o sentido do acórdão. Afinal, ameaças, agressões, campanhas desenvolvidas por gente sem escrúpulos, forças colossais colocadas ao serviço da descredibilização das vítimas e da investigação, tinham resultado infrutíferas ante o juízo exigente e honrado de três magistrados.

Em consequência, os arguidos foram condenados a penas de prisão efectiva cuja soma ascende a 50 anos e sete meses: Carlos Silvino, 18 anos, Carlos Cruz e Ferreira Diniz, 7 anos cada, Jorge Ritto, 6 anos e 8 meses, Hugo Marçal 6 anos e 2 meses, Manuel Abrantes 5 anos e 9 meses.

Se em Portugal se soubesse que os abusadores sexuais, predadores incansáveis, pensam a cada instante em como vitimar crianças, os condenados deveriam ter recolhido imediatamente à prisão. Infelizmente, aproveitando o laxismo e o excesso de garantias que as nossas leis lhes oferecem, retomaram, em coro síncrono, os mesmos argumentos falaciosos que ao longo de todo o processo tinham arremessado contra as vítimas.

Valeu tudo, até afirmações irresponsáveis de que Portugal estava ainda pior do que no tempo dos tribunais plenários. Ora, a verdade é bem diferente: os arguidos foram indiciados, acusados, pronunciados e condenados por magistrados diferentes. Ao longo do processo puderam exercer todas as garantias de defesa que a constituição e a lei lhes atribuem.

O espectáculo aviltante que condenados por crimes gravíssimos contra crianças proporcionaram ao país, com a anuência cúmplice de parte considerável da nossa imprensa e das já conhecidas consciências de aluguer, ficará para sempre como elucidativa demonstração de que são capazes de tudo. E exige, aos que se opõem à barbárie, o dever de perseverarem na defesa dos ofendidos. É com essa intenção que agora se reedita este livro, correspondendo a um convite de Zita Seabra, cuja activa e constante solidariedade para com as vítimas quero realçar.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Se pudéssemos

Se nos deixassem ser humanos, naturalmente, sem termos que “sair à rua a horas certas”, para responder a necessidades que se vão sucedendo a um ritmo imparável, desde a solidariedade para com doentes aos enleios solidários às vítimas de despedimentos, o mundo seria infinitamente melhor.
A partilha das coisas simples, uma côdea de pão na forma de abraço, o cheiro do mar quando acorda pela manhã e deixa desnudas as rochas inebriadas de iodo, as palavras de Neruda, Ary ou Joaquim Pessoa – por onde andará o poeta? - os ideais a determinarem comportamentos e futuro, os nossos filhos, a sementeira da honra, dignidade e coerência, o respeito pelo legado dos mais velhos, pela diferença, o orgulho em ser-se melhor a cada dia, sem temer os erros inevitáveis.
E os amigos. Ah, os amigos, a sua presença, o calor retemperador da alegria que nos doam, sem nada em troca além do mútuo entendimento, do quinhão planetário do tempo da conversa, do gesto terno, da certeza de que suceda o que suceder poderemos contar com a sua solidariedade.
Toma, ofereço-te Joaquin Sabina ou Silvio Rodriguez, santo-e-senha para a baía da ternura e, ainda comovido pelas Memórias do Cárcere, prometo não me esquecer de te acompanhar aos Subterrâneos da Liberdade, aos Esteiros do imortal Soeiro ou à prosa luminosa, incandescente, de Ferreira de Castro.
Na volta podemos provar aguardente de medronho ou poncha, rir das patifarias que fizemos, percorrer todas as casa de portas abertas à fraternidade, galgar o Padrão dos Descobrimentos com o gps da nossa cumplicidade ou levar o Vasquinho à Caparica na sua cadeira de rodas, dunas e dunas vencidas pelo prazer da prisão debelada no imenso mar, tornado azul pelo seu olhar único, feliz.
Dia após dia, o tempo sobraria para o encontro das mãos. Unidos, fortaleza inquebrantável, porto de abrigo, o nosso olhar - o nosso mesmo, não o do plural majestático da soberba e do individualismo – seria a linha do infinito. Estás cansado? Lê Sepúlveda ou escuta em silêncio Ana Moura. Adormece com os cantares solidários dos camponeses do sul, nos seus trajes lindos, que ainda conservam gravada a ferros a tristeza pela destruição do sonho Reforma Agrária.
Se pudéssemos ir além desta espécie de aldeia gaulesa onde nos abrigamos, os que já hoje partilhamos tantas coisas boas, se pudéssemos ensinar a cada ser humano o Caminho das Aves.
Se pudéssemos…




domingo, 22 de agosto de 2010

Memórias do COUÇO: ao José Casanova

A net tem destas coisas bonitas: escreve-se, publica-se e na volta do correio amigo, chegam oferendas que comovem. Aqui as deixo, feliz, e com o desejo de que o melhor ser humano que conheço, o Zé, claro!, as possa fruir também.


Caro Pedro Namora,
Nas minhas voltas pela net descobri o seu blog e um post em que fala do Couço. Eu sou e estou do Couço e fiquei muito contente em saber que o Couço ainda é conhecido. Tenho pena que a minha vila esteja a caminhar a passos largos para uma vila de passado e com um futuro algo incerto e onde o passado é esquecido e perde valor. Em anexo envio uma foto do Barco do Joaquim Casanova do Beco. Era naquele barco que se transportavam pessoas, animais e mercadorias entre as duas margens do rio sorraia. Este barco trabalhava essencialmente de inverno quando as cheias do sorraia levavam a debil ponte de madeira. Não sei com aquele homem tinha força e conhecimentos para tão dificil tarefa. É certamente um dos grandes homens que pessaram por esta terra.
Um Abraço
 
 



sábado, 21 de agosto de 2010

A cigarra

Posted by Picasa
A cigarra marcava a cadência dos passos com a sua cantoria copiosa. Sentado num dos bancos do jardim, olhos errantes, seguia a cadência dos passos anónimos, atribuindo-lhes histórias que gizava mentalmente. Apesar do alcatrão, as marcas daquelas vidas pesadas cavavam crateras dolorosas, indeléveis.
Sobretudo, gente pobre, tanta, marchando a medo, com toneladas de exames, ligaduras, próteses, tubos, adesivos. O medo colado nos rostos como anátema incontornável. A cigarra, alheia, persistia no trinado. Foi então que soube: olhou a árvore onde decorria o concerto a solo, alargou o olhar ao lado oposto da rua e encontrou a entrada do hospital. A cigarra era o vector fundamental, a aposta ecológica para indicar o norte almejado. Aí fica, na imagem que me permitiu antes de adejar para outras paragens, a cantora ininterrupta. A predizer alegria?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um vómito

Mário Soares não gostou do «reaparecimento público» de Fidel. Porquê?: porque Soares não gosta de Fidel - e muito menos de o ver vivo...
Soares não gostou do discurso de Fidel. Porquê?: porque Fidel «não disse nada de importante» - e Soares só gosta dos discursos que digam coisas importantes, como os do Obama e os dele próprio...
Para além disso, pergunta Soares, do alto das suas bochechas flácidas, «Em que qualidade falou? Como velho líder, há meio século, ou como proprietário de Cuba?» - e responde: «Não o disse. Porque realmente não disse nada».
Posto isto, Soares embala na espiral de provocações em que é exímio praticante, ao mesmo tempo que recorda «Fidel há cinquenta anos»; recorda a viagem que fez a Cuba, em 1964 e que o deixou «pessimamente impressionado» com aquele «comunismo à soviética, puro e duro».
E recorda que «muito mais tarde, bastante depois da normalização democrática portuguesa, que se seguiu ao delírio do PREC» - ou seja, depois de ele, Soares, ao serviço da CIA, ter encabeçado a contra-revolução que liquidou Abril e recolocou Portugal nas garras do imperialismo norte-americano - encontrou-se com Fidel «numa reunião da Comunidade Ibero-Americana», na qual também participou Cavaco Silva, então primeiro-ministro.
Diz Soares que, no decorrer da reunião, «Fidel queixou-se da falta de solidariedade para com Cuba, dos países presentes. E citou Portugal, cuja Revolução ele disse ter ajudado». Ora, perante isto, a «coragem» do Soares não se fez esperar - como é sabido, Soares sempre foi muito «corajoso» no combate aos comunistas e não tão corajoso no combate aos fascistas (talvez por saber que os comunistas não lhe faziam mal e que os fascistas eram capazes de lhe mandar umas taponas ou até mais...).
«Coube-me responder-lhe», declama Soares. E respondeu assim a Fidel: «O Senhor não ajudou a Revolução, ajudou o PCP, o que é diferente, porque quis fazer de Portugal uma Cuba europeia» - e acrescentou mais umas quantas provocações típicas de um agente da CIA em exercício. Ora, perante tanta «coragem», Fidel ficou sem palavras... ainda tentou responder-lhe, «mas o Rei de Espanha resolveu interromper a sessão e convenceu Fidel a não responder...»
E pronto, a «coragem» de Soares venceu a «cobardia» de Fidel...
Criado para todo o serviço do capitalismo explorador e opressor, Soares é assim: uma criatura repelente, nojenta, execrável, abjecta - um vómito.
 
Artigo de Fernando Samuel, in Cravo de Abril

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O COUÇO

Ponte Joaquim Casanova do Beco


Quando quiser falar de dignidade aos meus filhos, mostrar-lhes o lado bom dos seres humanos, a têmpera de ferro e honra na seiva dos corpos, a força do futuro ante a barbárie num tempo negro;
Quando quiser dizer-lhes da cumplicidade e dos amigos, a voz que se cerra à custa da própria vida, vedando o passo feroz dos lacaios pela fortuna de um sorriso solidário, viçoso na rejeição da cilada; arrumo os parcos pertences, talvez colha um cravo, e vou de abalada para a terra valorosa do COUÇO:
Vou mostrar-lhes o sitio exacto de mestre Casanova, capitaneando a sua nau, heróica gesta, as margens do Sorraia vaidosas de gente sã, a simplicidade dos gestos essenciais, a partilha do bornal na recusa da jorna de fome.
Que bela aventura há-de ser…

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

84 anos de vida e quase tantos de luta em defesa da humanidade. Parabéns, comandante!




Muchas razones a defender



Son, lo digo yo
muchas razones a defender
difícil es el camino pero yo sigo con él.
Han sido más de cincuenta
los años que hemos tenido
la suerte de haber vivido
sin ser objetos de venta.
Consecuencia que sustenta
el rumbo que hemos tomado
que fue el camino trazado
desde el Moncada a La Sierra
sin dejar en pie de guerra
de estar sirviendo a tu lado.
Son, lo digo yo
muchas razones a defender
difícil es el camino pero yo sigo con él.
Han sido muchos los sueños
que trataron de quebrarte
pero tú has sabido alzarte
a golpe de fe y empeño.
Y a pesar de que el norteño
ha enfilado sus ballestas,
y hasta ha imaginado fiestas
preparando tu caída
hoy sin temor a la herida
vives con las botas puestas.
Son, lo digo yo
muchas razones a defender
difícil es el camino pero yo sigo con él.

sábado, 7 de agosto de 2010

Até sempre, camarada!

Dias Lourenço, o herói simples do meu povo, morreu hoje. A história da sua vida honrada e resistente, dedicada na íntegra à democracia e à luta pelo Socialismo, é uma epopeia grandiosa, feita de coragem e amor pela entrega aos ideais mais nobres do ser humano.
Sofreu horrores inimagináveis, desde as torturas da sinistra pide à morte do seu querido filho, o Tóino, como carinhosamente o tratava.
Em 2000, fui falar com ele à Soeiro e pedi-lhe que nos acompanhasse, a mim e aos meus alunas, à tenebrosa prisão que o fascismo construiu na Fortaleza de Peniche. Chegado o dia, já na camioneta que nos levaria ao passeio de estudo e reflexão, um ensinamento que jamais esquecerei: o motorista não conseguia partir porque um carro lhe bloqueava a saída. Decidiu então chamar a polícia, o que verbalizou em voz alta e mereceu logo a minha concordância. Lourenço, chamou-me e ao ouvido, discretamente, deu-me uma lição para a vida: “Pedro, a polícia não. Deve ser um operário, um trabalhador com dificuldades e a polícia vai rebocar-lhe o carro e aplicar-lhe uma multa que ainda lhe vai dificultar mais a vida. Vai lá fora e resolve isso.

Saí com energias reforçadas e um misto de vergonha por não ter visto o óbvio. Juntei quatro homens, e afastado o carro, seguimos viagem com evidente alegria no rosto luminoso de Dias Lourenço.
Já em Peniche, um menino de rua, aproximou-se do nosso grupo. Dias Lourenço pediu-nos que lhe déssemos comer. E enquanto o petiz matava a fome, o meu querido camarada desenhou-lhe, na toalha de papel que forrava a mesa, um rosto humano, com duas expressões, em que baseou uma história lindíssima.
Morreu Dias Lourenço. Morreu uma parte imensa de Portugal, da nossa história, do nosso heroísmo. Bem sei que o exemplo persistirá. Mas, dói, caraças. Dói muito.



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ainda O Tempo das Giestas

O TEMPO DAS GIESTAS

Como em tempo de férias a predisposição para a leitura é maior, proponho-vos um livro: O Tempo das Giestas, de José Casanova. É um romance belíssimo, em que a partir de uma história verídica, extraordinária e fascinante se constrói um monumento à resistência e luta contra o fascismo. Teresa, uma mulher à procura do seu amado, cinquenta e dois anos após tê-lo perdido misteriosamente, do qual não conhece rigorosamente nenhum elemento de identificação, além do nome Simão e da suspeita da sua militância comunista, dirige-se à sede central do PCP, onde é atendida por Marcos, um jovem atencioso mas apressado.

No fundo, o que Teresa pretende não é tanto estar novamente com Simão, que pressagia morto, mas antes descobrir o que lhe sucedeu e partilhar com alguém os momentos de felicidade e dor passados com ele. Afinal, como escreveu Neruda,

“Dois amantes felizes não têm fim nem morte,

nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,

são eternos como é a natureza.”

Através do desenrolar sucessivo de similitudes, o autor mostra-nos, de forma profundamente dolorosa o que poderia ter sido, meio século antes, a vida de um casal unido por um amor desmedido, se não fosse a barbárie do fascismo: Teresa conta a Marcos que soube amar e ser amada por Simão no primeiro dia em que o conheceu. Simão, que descobrimos ter sido funcionário clandestino do Partido, preso quando se preparava para viver com a sua amada a dura vida da clandestinidade e posteriormente enviado para o sinistro campo de concentração do Tarrafal, onde viria a ser assassinado. Marcos confessa a Inês que a ama profundamente, apesar de só a ter conhecido na véspera.

Criado pelo Decreto 26539 de 23 de Abril de 1936, o campo de concentração do Tarrafal começou a funcionar no dia 29 de Outubro do mesmo ano com a entrada da primeira leva de 157 prisioneiros. Na segunda parte do livro e através das cartas que Simão dirige à sua amada, constatamos que efectivamente “Não houve em Portugal prisão onde o fascismo mais se manifestasse”. Os presos eram enviados para o Tarrafal para morrer e sofriam a má alimentação as torturas, os espancamentos, a falta de assistência médica, a “frigideira”, os trabalhos forçados.

Contudo e é outro registo que o livro nos transmite de forma impressiva, nem o desterro, nem as torturas abalaram a confiança dos presos no futuro, bem patente, aliás, numa das cartas: “Teresa, meu amor, o nosso amor vencerá. O futuro será de liberdade e de justiça. O mundo novo pelo qual lutam milhões de seres humanos e pelo qual continuo a lutar aqui, cercado de arame farpado e resistindo à morte, é um mundo de liberdade e de justiça, de amor e de harmonia. E com o mundo novo chegará o tempo de Maio dos trabalhadores, o tempo das searas a crescer na terra, o tempo dos silvos das fábricas anunciando a paz, o tempo de milhões de professores ensinando a milhões de alunos a fraternidade e a solidariedade, a amizade e a camaradagem. O nosso tempo, meu amor, o tempo puro e belo do nosso amor, o tempo das giestas.”



terça-feira, 3 de agosto de 2010

O tempo das Giestas

" Simão espera-a junto à Torre, abrigado no seu guarda-chuva grande, acompanhando os movimentos das gaivotas, agora voltando-se, vendo-a, dirigindo-se-lhe em passo acelerado, quase a correr, a correr, no rosto um sorriso feliz. Pega-lhe nas mãos, segurando o guarda-chuva com o pescoço e o ombro: Ainda bem que vieste — murmura. Depois tira-lhe a sombrinha, devolve-lha fechada, ficam os dois sob o guarda-chuva, repete: Ainda bem que vieste."

"O Tempo das Giestas", de José Casanova



Pouca-roupa chega sempre sem se dar por ele. Senta-se à mesa do quiosque, como que a pedir desculpa por existir e sem forçar vai entabulando conversa com os presentes. Nos seus olhos cansados de operário especializado surpreendi, desde o primeiro dia, um oceano imenso de revolta e dor.
O meu amigo é um poço de cultura, que não exibe, mas doa, sem pretensiosismo, aos que com ele convivem. Em resultado, até a mais elementar conversa pode adquirir contornos fantásticos, com relatos de vida vivida e referência a livros e poemas – que resgata da memória – tudo servido com uma naturalidade desconcertante.
Ontem, senti que precisava de falar comigo. Mal nos afastámos, a dor incontida marejou-lhe o rosto vincado. Esteve casado 43 anos, dia após dia reforçando o amor que nutria pela companheira. Um dia combinaram ir almoçar fora: quando desceu as escadas, a esposa não o reconheceu. Palavras ininteligíveis, comportamento estranho e dali a meses – foram segundos, Pedro! - a notícia cruel foi-lhe gritada às sete da manhã por uma enfermeira cruel.
A amada morrera. O cancro, assassino maldito, depois de lhe levar um irmão, voltara, insatisfeito, para lhe negar o futuro. Num acesso de raiva, esmurrou paredes e móveis, indiferente aos filhos que dormiam.
Entretanto, passaram cinco anos. O meu amigo tornou a casar. Vendeu a casa e saiu da terra onde morava. Mas não entende, como me disse ontem a chorar, como pode o amor que nutria pela companheira aumentar a cada dia que passa.
As mãos da amada, o cheiro, o sorriso, a compreensão, a camaradagem, o afecto, os lábios, a partilha, o carinho, tudo continua presente. Fiquei sem palavras. Pode ser que O Tempo das Giestas, que prometi oferecer-lhe, possa, falando por mim, ajudar a minorar a dor que sente.

sábado, 31 de julho de 2010

Nem sempre adiar significa errar

O adiamento da leitura do acórdão no processo Casa Pia tem suscitado os mais díspares comentários e permitido iguais interpretações. A voz geral é de desânimo, descrédito, revolta.
Se alguém pode legitimamente queixar-se, sobretudo por agravada a dor da espera, são as vítimas. Como se sabe, os arguidos tudo fizeram para que o processo decorresse durante séculos, o que é aliás um ponto de contacto com iguais processos em todo o mundo. É bem diferente o sentimento do colectivo de juízes ante uma vítima de 12 ou já adulta. O decurso do prazo favorece os arguidos.
Mas eu entendo perfeitamente a situação da magistrada. Em primeiro lugar, tem em mãos um processo que se der lugar a um acórdão condenatório suscitará a imediata reacção da equipa de advogados de defesa, que inusualmente, se comportaram como se fossem testemunhas de defesa dos arguidos.
É pois necessário proferir uma sentença reforçadamente inatacável.
Milhares de páginas, meses de depoimentos, toneladas de prova produzida, dezenas de requerimentos, de recursos e, acredito, um sofrimento inerente a qualquer ser humano que exercesse funções idênticas, não permitem que as coisas se resolvam apenas para cumprir um prazo anunciado.

Depois, há um pormenor que tem muita relevância: esta juíza tem quatro filhos e por muito que possa o seu sentido profissional e entrega ao trabalho, não pode decretar (felizmente ninguém pode) que desapareçam enquanto trabalha. Acresce que como juiz presidente, a actividade que desenvolve é, por definição, muito solitária. Só quem nunca impugnou ou decisão ou apresentou uma acção pode achar fácil o trabalho da juíza.
Repito: a responsabilidade por todo o atraso é dos arguidos e dos expedientes dilatórios que o Código de Processo Penal confere aos arguidos.
E é preciso não esquecer o meticuloso trabalho, contra a investigação, de Mário Soares e Manuel Alegre, entre outros, que para sempre os manchará como autores de comportamento iníquo e desumano e responsáveis, por acção directa ou intermediação, por tamanho atraso.
Se, como defendo, a prisão preventiva fosse obrigatória para os acusados por este tipo de crimes, o julgamento há muito estaria concluído. O que vale também para os recursos. Se os arguidos forem condenados, defendo que sejam imediatamente detidos e colocados em prisão preventiva.
Desde logo, porque é impensável manter em liberdade predadores compulsivos. E seguramente jamais existirá prescrição de procedimento criminal.
Aos meus irmãos casapianos vítimas de bandalhos sem escrúpulos peço um pouco mais de insuportável paciência. Desta vez, por uma causa justa!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Forma e Conteúdo


O belo não existe sem os olhos que o vislumbram. O belo faz-nos bem, aquece-nos, motiva-nos. Mas quando entre a forma que o belo reveste e o respectivo conteúdo existe uma discrepância, quem o observa pode ser induzido em erro grave.
Assim no caso da poesia, da pintura ou de um simples texto publicado na Net. Os lobos não se escondem apenas sob a pele de cordeiros imprevidentes. Usam variadíssimas vezes as palavras e enganam mais. O cavilador pode mostrar-se afectado pela dor, brincar com expressões que motivam solidariedades alheias e rejubilar com o resultado.

domingo, 18 de julho de 2010

Obrigado, PCP!


Eu sei:

Não há um só espaço sem dor. Por todo o lado abutres patrocinam a derrocada do ser humano, definitiva aquisição do capital. Olhos e vozes convergem no temor, convocam o silêncio e o conformismo, premeiam a desistência, o imobilismo. Os braços já não se querem alavancas e fenecem olvidados das mãos que em outros tempos aliavam aos dedos outros dedos parceiros de sonhos, fonte de beijos que selavam o feliz destino comum.

Agora, o odor da noite perpétua caustica os que prevaricam dizendo não. O nauseabundo conformismo vigia, por todas as pides, os que persistem na crença de que não há limites para a História. Os bufos renasceram e são profusamente premiados por apontarem qualquer laivo de resistência, qualquer aspiração de Liberdade.

O que pretendem é recuar no tempo e fazer de conta: nunca existiu Neruda, Ary ou Catarina! Anseiam pelo ruído das botas de Pinochet cunhando de sangue as estradas da esperança. Julgam-se sábios, omnipotentes.

Mas, na verdade:

Sei que não podem tudo, porque tu existes. A tua força é a soma das vontades que agregadas, recusam render-se. O teu semblante resulta do orgulho de todas as faces que lutaram honrada e corajosamente desde 1921. A rubra cor do teu ideal reproduz o oceano de esperança e determinação que sempre te caracterizaram, mesmo nos tempos mais negros.
Sem ti, meu Partido Comunista Português, a Idade Média seria a próxima paragem e restar-nos-ia a longa espera de séculos para reverter a situação.





domingo, 4 de julho de 2010

Cambada de filhos de puta

Hoje estou profundamente magoado: oito anos após a denúncia da barbárie na Casa Pia de Lisboa, a generalidade das forças políticas está-se cagando para a sorte das crianças pobres deste país. Por isso o Ps de sócrates e paulo pedroso pode conduzir à vontade o processo de destruição da Casa Pia de Lisboa.

Como eu vos entendo: afinal de contas, os meninos e meninas orfãs não votam, não têm familia, não contam. Nem sequer merecem um pouco do vosso tempo, da vossa atenção. Na verdade, como não podeis gritar "que se fodam os miseráveis", ocupais-vos em tarefas outras. Se vos fosse possível saber como dói o abandono, o desprezo, o abuso, os maus-tratos, talvez dedicásseis um pouco do vosso talento a evitar mais um crime de sócrates e companhia. Assim, resta-nos vomitar perante tamanha nojeira.
Recordo o grande pedagogo russo, Makarenko: para eles as instituições não deformam o ser humano, antes o robustecem e lhe garantem futuro. Mas Makarenko, por cá, já foi. agora o que vale é o interesse repugnante de diversas instituições que lucram milhares de euros fingindo remediar o sofrimento dos órfãos e crianças pobres deste país.


Neste campo, são todos a mesmíssima merda: quando foi revelado o escândalo fingiram-se condoídos e prometeram futuros radiosos às crianças desprotegidas. E agora nem piam ante o anunciado roubo do futuro, perpetrado pelo sócrates javardo-mor do reino, às crianças dependentes da Casa Pia de Lisboa.
A maior secção da Casa Pia, Pina Manique, está à venda: Há já mesmo, num moderno atelier de arquitectura, maquetes com o futuro condomínio privado e jardins a construir nas traseiras dos Jerónimos.



Hoje, a senhora que sócrates e Vieira da Silva designaram para destruir a Casa Pia, alegou fazê-lo em nome da Convenção que consagra o direito das crianças. Sempre os princípios tonitruantes a justificar as maiores pulhices. Grandes filhos de puta: pudesse eu e aderia de imediato a uma organização que vos despejasse nos cornos corruptos o conteúdo de uma metralhadora. Ou apenas o escarro tamanho do desprezo que as vossas poses formais me causam.

Vou por Lisboa e as crianças abundam na miséria mais dura. em Santa apolónia, meninos e meninas de dois e três anos , descalços, esfomeados, doentes, transidos de frio, são a marca dolorosa dos merdas que nos desgovernam. Pudesse eu e oferecia-lhes uma Casa PIa de Lisboa renovada. Uma casa-mãe onde a fome e os maus-tratos não entrariam nunca, uma escola de referência que os tornaria seres humanos como os demais.

Assim, resta-me vociferar, enojado, revoltado e farto destes merdas que em nosso nome destroem Portugal.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A ESSE VELHO BORDEL DA IGREJA - O VATICANO

Profundamente enojado com a reacção do Papa à morte de José Saramago, recorro a Guerra Junqueiro:



Quem é o Papa?
Um Deus inventado à socapa,
Um Deus para fazer o qual bastam apenas
Quatro coisas: cardeais, papel, tinteiro e penas.
 Deita-se numa saca uma lista qualquer,
Qualquer nome, Gregório, ou Bórgia ou Lancenaire,
Ou Papavoine – e pronto! Em dois minutos, fica
Manipulado em Deus autêntico, obra rica,
Tonsurado, sagrado, infalível, divino...
Quer dizer, saiu Deus duma bolsa de quino!


É um Deus por concurso, um Deus feito de tretas,
Em cuja divindade ideal há favas pretas!
Apesar disso é Deus. Vai pousar-lhe no seio
O Espírito santo, esse pombo-correio
Da Providência. É ele o redentor e o oráculo.
A humanidade vai adiante do seu báculo
Soluçando, ululando, exausta, ensanguentada,
Pavoroso tropel de sombras pela estrada
Do destino fatal. O pensamento humano
É simplesmente um cão sabujo e ultramontano,
Um cão vadio, um cão faminto, um cão impuro,
Que o papa recolheu de noite num monturo,
E a quem às vezes dá, com parcimónia bíblica
A pitança de um breve e o osso duma encíclica.


Um papa é isto, um juiz sem lei; omnipotente,
Czar das consciências. Pode irremissivelmente
Chamuscá-la em fogo, ou torrá-las em brasas.
Ou fazer-lhes nascer das costas um par de asas,
O globo é para ele a bola de um bilhar.


Domina os reis. O trono é o lacaio do Altar.
Seus templos são prisões e seus dogmas algemas
Cingem-lhe a fronte augusta e nobre três diademas
E, na potente mão, invencível chapéu.
Tem as chaves do inferno... e a gazua do céu.


Masella, o teatro é velho, a receita é pequena
E há mil anos que está a mesma farsa em cena.
Abaixo a farsa! Abaixo o pardieiro divino,
O céu, que já não tem mais sombras de inquilino,
Serafins, querubins, anjos, legião eterna
Dos eleitos, tudo isso andou, pôs-se na perna,
Deixando lá ficar, ó cáfila de ingratos!
O CADÁVER DE DEUS ROÍDO PELOS RATOS.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Os 25 Anos da assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE

Nota do Secretariado do Comité Central do PCP

Os 25 Anos da assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE

Sábado 12 de Junho de 2010



1 - Os objectivos políticos e ideológicos das comemorações dos 25 anos sobre a assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à CEE/UE não apagam, antes confirmam, os alertas que o PCP fez relativamente às consequências desse acto para o povo português e para o País. A dura realidade vivida pelos portugueses, indissociável das consequências da integração capitalista europeia e das políticas que lhe estão associadas, vem, passados 25 anos, confirmar a justeza das posições do PCP relativamente à adesão de Portugal à CEE e das razões por si então evocadas.

Portugal é hoje um país não só mais injusto e desigual no plano social e no desenvolvimento do seu território, como é também um país mais dependente, mais endividado, mais deficitário e mais vulnerável. 25 anos passados, a grave crise que o país enfrenta, sendo fruto das políticas de direita no plano nacional, não é também separável da crise dos fundamentos da União Europeia. Os níveis recorde de desemprego, a estagnação e dependência económicas de Portugal, a destruição do aparelho produtivo nacional, o aprofundamento da exploração, das desigualdades sociais e das injustiças são a consequência da natureza exploradora associada ao presente processo de “integração europeia”.

2 - A pergunta que se deve colocar quando passam 25 anos sobre a assinatura do Tratado de adesão de Portugal à CEE/UE é para que serviu e a quem serviu a adesão de Portugal à CEE. A pergunta que se impõe é para que servem e a quem servem os Tratados – de Maastricht a Lisboa -, o Pacto de Estabilidade, a União Económica e Monetária, o Euro, o BCE e a chamada política externa e de segurança da União Europeia. A realidade demonstra, cada vez de forma mais evidente, que os interesses que a União Europeia neoliberal, militarista e federalista serve são os do grande capital, nomeadamente do grande capital financeiro, das grandes potências como a Alemanha, dos defensores do militarismo e da política agressiva da NATO e não os interesses dos trabalhadores e povos da Europa, da cooperação e da paz.

As medidas tomadas pela União Europeia e pelos governos de vários países, incluindo Portugal, em nome de um suposto “combate à crise” revelam bem o grau de falsidade dos discursos da “solidariedade”, da “coesão” e da “Europa social”, colocando em evidência para que servem de facto os instrumentos contidos nos tratados, nas políticas comuns e nas Estratégias como a “Europa 2020”. Em nome de um suposto “combate à crise” os povos da Europa estão mais uma vez a ser vítimas de uma política de concentração e centralização do poder económico e político que, alimentando-se da dependência e fragilidade económica de alguns países – como Portugal –, desfere novos e gravíssimos ataques contra os direitos laborais e sociais, a soberania e a própria democracia e põe em causa o futuro de milhões de pessoas e o futuro dos seus países.

3 – Mas, 25 anos depois, o PCP afirma com convicção que é possível uma outra Europa dos trabalhadores e dos povos. Com a sua luta será possível construir a ruptura com o rumo neoliberal, militarista e federalista da UE. Uma ruptura assente no respeito pela democracia e pelos direitos laborais e sociais que abra portas a uma real convergência e cooperação fundadas no progresso social, no apoio à produção nacional, no investimento público, no reforço dos serviços públicos, no emprego com direitos, no fim da “livre” circulação de capitais, no combate à financeirização e dependência económicas.


Afirmando o seu inabalável compromisso em defesa da Constituição da República Portuguesa - que consagrou muitos dos avanços, realizações e conquistas democráticas da Revolução de Abril, nomeadamente no que se refere à independência e soberania nacionais – o PCP reitera a sua rejeição a uma integração europeia caracterizada pela submissão e condicionamento do desenvolvimento de Portugal e renova o seu compromisso de lutar por um Portugal independente e soberano, por um projecto de cooperação entre Estados soberanos e iguais que promova a melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo e o progresso do país, a paz e a solidariedade internacional, consentâneo com o projecto de desenvolvimento democrático, patriótico e internacionalista consagrado na Constituição de Abril.


O actual rumo da integração europeia não é uma inevitabilidade, tal como não é inevitável a brutal regressão civilizacional que as classes dominantes tentam impor aos povos da Europa. A resposta dos trabalhadores e dos povos de vários países europeus à violenta ofensiva anti-social em curso na União Europeia – e de que a manifestação do passado dia 29 de Maio em Lisboa é um importante exemplo – assim como as mudanças operadas no quadro internacional, designadamente na América Latina, demonstram que um outro mundo e uma outra Europa são possíveis, na base da solidariedade, do respeito mútuo e da reciprocidade, respeitando-se o direito soberanos dos povos a escolherem a sua opção em termos de organização económica, social e política, na defesa da paz e da cooperação com os povos de todo o mundo.