sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Carlos Paredes


«Geniais são as pessoas que respeitamos muito, Génio era Mozart.»
Carlos Paredes
CARLOS PAREDES

"Tive o privilégio de ter privado por poucas horas que fosse, com o grande Génio! Estávamos no começo da Revolução de Abril! Oferecia-se ao Povo, tudo aquilo que ele nunca sonhara usufruir, sobretudo Cultura!
Carlos Paredes, tinha sido convidado para dar um concerto (gratuitamente), na zona mais pobre da cidade. Zona piscatória. Onde os homens têm a frieza do mar e as mulheres a dureza da fome! A Lota, foi o local escolhido! Grande, muito grande! Impossível falar-se de acústica! Os pescadores gostam de música! Então encheram por completo o grande armazém!

Mais de quinhentas pessoas. Falavam alto, os gritos das crianças correndo, era ensurdecedor! As vareiras (mulher do pescador), não habituadas a saírem à noite, riam de alegria! A algazarra era tanta que nós, os da organização, pensámos duas vezes! Fazemos o concerto e ninguém ouve, ou desculpamo-nos e o Carlos Paredes vai embora! Depois de discutido, falámos com ele. Ficou indignado perante a segunda proposta: “Se não conseguirem ouvir, a culpa é minha!”.

Foi para o palco e começou a tocar, a aparelhagem de som de 3ª categoria, não se portou mal! O público, não habituado a concertos, gritava, ria, aplaudia, tudo o que fizesse barulho, era audível naquele grande armazém! Carlos Paredes, parou! Observou o público com o seu ar sereno, humilde, sorriu timidamente!

Fez-se silêncio na Lota! Ouviu-se os primeiros acordes dos Verdes Anos! O emudecimento inesperado, arrepiou-nos! O irreverente público, tinha-se rendido ao som harmonioso da guitarra! Tocou, tocou muito! Quando terminou, as palmas, os gritos de alegria, entoaram na grande Lota! Deram-lhe cravos! Cravos vermelhos!

Enquanto guardava a guitarra, com o seu ar humilde e tímido, disse:”Espero que tenham gostado, alguém se queixou da acústica?” Ele era um Génio!

GUIDA RODRIGUES

Obrigado Guida Rodrigues por este texto belíssimo, escrito na azáfama da luta eleitoral. E se puderes, transmite aos camaradas e amigos afectados pela prepotência do fascistóide Ludgero, a minha solidariedade. A luta continua!

quarta-feira, 28 de setembro de 2005

3000 crianças morrem por dia


3 mil crianças africanas morrem por dia de Malária, afirma a OMS

Segundo o último relatório em conjunto, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Unicef (Fundo da ONU para as Crianças), divulgado nesta sexta-feira no Dia Mundial da Malária, mais de 3 mil crianças africanas morrem por dia em decorrência da doença. O estudo afirma que 90% das mortes são registradas na África subsaariana e que a maioria delas é de crianças com menos de cinco anos. A droga atualmente utilizada no combate à malária, a cloroquina, não é eficaz, mas é usada por ser a mais barata.
O tratamento actual foi criticado pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), que citaram o exemplo da Tanzânia, onde o número de mortalidade das crianças caiu em 20% quando elas passaram a dormir sob redes tratadas com inseticidas. As acções governamentais denotam claramente uma preocupação maior das autoridades com economia de recursos do que com o compromisso de salvar vidas. Quase 2 milhões de pessoas morrem em função da malária por ano no continente africano, gerando um prejuízo de US$ 12 bilhões.
A melhor solução seria o tratamento à base de artesimina, recomendado pela OMS e muito mais potente e eficiente, ela é derivada da planta chinesa Artemisia annua e vem sendo usada contra a malária há mais de dez anos. A combinação da droga com a amodiaquina pode eliminar os sintomas da malária em três dias. Em KwaZulu Natal, na África do Sul, as mortes por malária em hospitais caíram 80% em função deste tratamento. No entanto, o tratamento à base de artesimina custa US$ 1,50 por dose, em comparação com os US$ 0,50 de custo da cloroquina. O custo da mudança em toda África, ainda assim, giraria em torno de US$ 100 a 200 milhões.

Este texto de Cassiano Sampaio foi colocado como comentário a um post de Sérgio Ribeiro, por Pedro Gonçalves, no blogue anónimo séc xxi. Referindo-se à foto, escreveu Pedro Gonçalves:
" Sou fotógrafo. Pelo menos faço por isso. A fotografia que mais me marcou até hoje é a de uma criança. Retrata uma menina que se arrasta para um campo de nutrição e em segundo plano vemos um abutre no chão que aguarda pelo inevitável. Kevin Carter é o nome do fotógrafo. Sul Africano. Fotojornalista habituado a cenários de guerra e a cenas de horror. No entanto esta fotografia toca-me de uma maneira muito especial. Não a consigo (nem quero) esquecer. Apetece-me dizer muita coisa mas fico por aqui. "

terça-feira, 27 de setembro de 2005

A não perder!


Aquela Noite de Natal é o mais recente livro de José Casanova. Depois de ter sido publicamente apresentado na recente edição da Festa do Avante, coube a Urbano Tavares Rodrigues falar hoje do livro na Casa do Alentejo, em Lisboa. A sala foi pequena para acolher tantos leitores, amigos e admiradores do Zé. Que escutaram, orgulhosos, Urbano Tavares rodrigues afirmar que o autor de O Caminho das Aves é já um grande escritor.
Pessoalmente, adorei o livro. E só lamento que a mesquinhez e o carácter persecutório dos que fazem crítica literária em Portugal, melhor dizendo, dos que dominam e mandam na crítica literária cá no burgo, tenham já decretado que do livro não se pode falar. Porque o que está a dar, dizem eles, é a escrita não ideológica, assim propagando o "quando oiço falar de cultura, saco logo da pistola", que caracteriza os regimes fascitas.
Cabe-nos lutar contra a censura: porque se trata de um livro belíssimo, que fala de Amor e de luta, de resistência e paixão; de confiança no futuro e camaradagem. Mas sobretudo, porque o livro e o autor merecem que se fale deles.
No próximo dia 1 de Outubro, a partir das 17H00, os que puderem e quiserem conhecer o livro e o autor, podem fazê-lo deslocando-se à livraria Som da Tinta, em Ourém.

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

A vossa vontade será feita



A vossa vontade será feita

Eu vou tentar, prometo, que destes versos
Não saia uma canção mal comportada
Eu vou tentar não falar do que acontece
Eu vou tentar falar sem dizer nada.

Não vou, por isso, falar da exploração
Nem sequer do amor à Liberdade;
Da luta pela terra e pelo pão
E do apego à Paz da humanidade.

Vou tentar não falar do que acontece
Vou tentar falar sem dizer nada

Vocês preferem que eu vos fale
De grilos a cantar e gambuzinos?
A vossa vontade será feita
Eu calarei a fome dos meninos.

Vocês preferem que eu vos cante
Sem vos lembrar os tiros e as facas?
A vossa vontade será feita
Eu calarei o frio das barracas.

Vou tentar não falar do que acontece
Vou tentar falar sem dizer nada

Vocês preferem que eu vos fale
Com um sorriso a iluminar-me as trombas?
A vossa vontade será feita
Eu calarei o estilhaçar das bombas.

Vocês vão gostar que eu não cante
A luta de nós todos todo o ano
A vossa vontade será feita
Não falarei do povo alentejano

Vou tentar não falar do que acontece
Vou tentar falar sem dizer nada

Não falarei do luxo e da miséria
Não falarei do luxo e da canseira
Não falarei das damas, das mulheres
De tudo o que se passa à nossa beira

Não falarei do Amor, nem da Verdade
Nem do suor deixado no trigal;
Eu não ofenderei vossas excelências
Nem a civilização ocidental!

(Alfredo Vieira de Sousa, 1976)

sábado, 24 de setembro de 2005

URGENTE!

"A Constança Castelo Branco Mota da Silva Marques, de 7 anos, é neta de uns amigos da minha família, tem uma doença do foro oncológico e está em estado muito grave. Está internada no IPO, precisando de fazer um transplante de medula.Como não se tem encontrado, até agora, medula compatível (não existe também nos bancos de medula nacionais nem estrangeiros), venho por este meio pedir que: Quem tiver idade entre os 18 - 45 anos; Mais de 50 Kg; Não tiver recebido nenhuma transfusão de sangue; Faça o teste de compatibilidade, de 2.ª a 6.ª feira, das 8h - 16h, no: Centro de Histocompatibilidade do SulHospital Pulido ValenteAlameda das Linhas de TorresTelefone: 217 504 100
Obrigada Luísa Biscaya
POR FAVOR, ENVIEM ESTE PEDIDO A OUTRAS PESSOAS PARA QUE SE SALVE ESTA CRIANÇA.
23/9/05 19:46 "

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

Antes que seja tarde!


Manuel da Fonseca

Antes que seja tarde

Amigo
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.

Manuel Fonseca, "Poemas completos", Cancioneiro da Esperança

Almeida Garrett

“E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?”
Almeida Garrett, in 'Viagens na minha Terra'

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Comportamento abjecto!


Fazer o quê? Um santuário de foragidos à justiça? Um monumento de exaltação aos padrinhos que em Portugal conseguiram que permaneça livre, mesmo sem estar já no Leblon? Um imenso saco azul para distribuir pelos sicários? Um novo Código que premeie a esperteza saloia e o populismo manhoso? Um cofre forte para guardar o ruidoso silêncio de Jorge Sampaio? A legenda de um País destroçado? A marca de um povo desrespeitado por estes políticos de caca?
Que nojo!

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

A luta continua!


Queridos irmãos,
Se, como espero, persistirem na infâmia de não escutarem a dor que vos inferniza a existência, todos os segundos de todos os dias;
Se recusarem o que aceitaram para outros, só porque estes podem mais e têm dos cordéis que tudo determinam melhor conhecimento;
Se como espero, vierem apressados clamar que agora tudo acabou e no andor colocarem os bandalhos;
Se as trombetas ecoarem triunfantes calcinando-vos com a desonra da mentira;
Se os que tudo vendem ou alugam, fingirem agora ter consciência;
Quero dizer-vos, queridos irmãos de condição, que nem por um segundo duvidei dos vossos testemunhos. Sei dos que cometeram o massacre. E acima de tudo vi os vossos olhos pejados de sofrimento, de revolta, de abandono.
Nós sabemos que a verdade é outra: eles são compadres de outros como eles. E de outros ainda piores. Têm muito poder, tesouros e mundos para ofertar.
Nós somos apenas os filhos da desdita mil vezes humilhados.
Mas, se como espero, decidirem fingir que afinal não foi como sabem ter sido, nem por isso vamos desistir. A desonra é deles! Será deles a vergonha!
Nós continuaremos convictos de que valeu e vale a pena lutar!
Podem encomendar decisões, mas a vossa dignidade não compraram.
Eles são os carrascos. Vocês os heróis que o povo admira e respeita profundamente.

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Queixa e imprecações dum condenado à morte



Por existir me cegam,
Me estrangulam,
Me julgam,
Me condenam,
Me esfacelam.
Por me sonhar em vez de ser me insultam,
Por não dormir me culpam
E me dão o silêncio por carrasco
E a solidão por cela.
Por lhes falar, proíbem-me as palavras,
Por lhes doer, censuram-me o desejo
E marcam-me o destino a vergastadas
Pois não ousam morder o meu corpo de beijos.
Passo a passo os encontro no caminho
Que os deuses e o sangue me traçaram.
E negando-me, bebem do meu vinho
E roubam um lugar na minha cama
E comem deste pão que as minhas mãos infames amassaram.
Com angústia e com lama.
Passo a passo os encontro no caminho.
Mas eu sigo sozinho!

Dono dos ventos que me arremessaram,
Senhor dos tempos que me destruíram,
Herói dos homens que me derrubaram,
Macho das coisas que me possuíram.

Andando entre eles invento as passadas
Que hão-de em triunfo conduzir-me à morte
E as horas que sei que me estão contadas,
Deslumbram-me e correm, sem que isso me importe.

Sou eu que me chamo nas vozes que oiço,
Sou eu quem se ri nos dentes que ranjo,
Sou eu quem me corto a mim mesmo o pescoço,
Sou eu que sou doido, sou eu que sou anjo.

Sou eu que passeio as correntes e as asas
Por sobre as cidades que vou destruindo,
Sou eu o incêndio que lhes devora as casas,
O ladrão que entra quando estão dormindo.

Sou eu quem de noite lhes perturba o sono,
Lhes frustra o amor, lhes aperta a garganta.
Sou eu que os enforco numa corda de sonho
Que apodrece e cai mal o sol se levanta.

Sou eu quem de dia lhes cicia o tédio,
O tédio que pensam, que bebem e comem,
O tédio de serem sem nenhum remédio
A perfeita imagem do que for um homem.

Sou eu que partindo aos poucos lhes deixo
Uma herança de pragas e animais nocivos.
Sou eu que morrendo lhes segredo o horror
de serem inúteis e ficarem vivos.

Ary dos Santos

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Fascismo nunca mais!




















GRITO de Raiva, de Revolta e Dor!

Em nome dos que morreram, em nome de todos que desapareceram, em nome dos que sofreram,em nome de todos os que ainda hoje sofrem, GRITO!
GRITO de Raiva, de Revolta e Dor! Hoje, 15 de Set. o Supremo Tribunal de Santiago do Chile, ILIBOU definitivamente o general Augusto Pinochet, pelos crimes da “Operação Condor”. O recurso interposto pelos familiares das vítimas, foi considerado “improcedente”! Ou seja, infundado! O Tribunal de Recurso, considerou Pinochet, velho e doente!
Como podem respeitar um assassino!
Guida Rodrigues
16/9/05 02:55

quinta-feira, 15 de setembro de 2005

“SAUDADES... NÃO TÊM CONTO!”

Dias Lourenço

«Relembrar o passado, em toda a sua amplitude
de ignominiosa sujeição, para acautelar o presente
e ajudar a construir um futuro»
( Orlando Gonçalves)
São testemunhos vivos, que não nos deixam esquecer uma das mais duras ditaduras de um passado ainda recente. Portugal viveu durante quase meio século a Ditadura Fascista. Respirava-se medo, censura, privações e humilhações constantes. O tormento das prisões e da tortura!
Dezenas de milhares de homens e mulheres, muitos deles jovens, perfilaram heroicamente, a luta contra a ditadura. Muitos foram presos, violentamente torturados, alguns barbaramente assassinados.
Em 1962, no Forte de Peniche (uma das prisões de alta segurança da PIDE), encontrava-se detido para além de centenas de outros lutadores pela Liberdade, um homem que tinha três filhos, António o mais novo.
Porque os pais estavam presos, o menino vivia com os padrinhos. Um casal de camaradas, que amavam o António, como se de um filho se tratasse! António, era carinhosamente tratado pelo pai verdadeiro, por Tonoc ou Tóinito. As visitas ao Forte Prisão de Peniche, não eram permitidas às crianças. A saudade era imensa, então o pai começou a escrever cartas ao filho. Como a censura, não permitia muitas palavras e o menino tinha apenas 5 anos, o pai enviava-lhe histórias desenhadas, em postais, (antigos Bilhetes Postais).

«Meu querido Toinito,
Desejo que estejas bonzinho de saúde. Tenho cá estado a pensar que já muito tempo não recebo uma carta escrita por ti......... Afectuosos abraços para os Padrinhos e mil e três beijinhos para ti do, Pai.».

Durante longos anos, este pai brutalmente torturado pela PIDE, escrevia histórias, ilustrando-as com um desenho. A ternura, o amor, a saudade, ajudavam a colorir a ilustração dos postais. António, fica doente, muito doente! Apesar de ter assistência médica e o auxílio solidário de todos os camaradas, a doença dita-lhe os dias. Tudo fazem para que o menino vá fazer uma visita ao pai e conseguem. É-lhe concedido uma visita de cinco minutos, dentro da cela! Cinco minutos, cinco curtos minutos, para abraçar, beijar, falar, recordar uma vida, tão breve e sofrida, pela doença e pelas garras do fascismo!
É chegado o dia! O pai com o coração destroçado, recebe-o alegremente! O menino timidamente, conta-lhe o que tem feito. O pai beija-o, abraça-o! Não tinha terminado o tempo, um pide avisa com toda a agressividade que a visita expirou! “Ainda não passou o tempo”, diz o pai amargurado! E logo o pide o cala com um desumano estalo! O menino aflige-se, está débil, assustado! O pai acalma-o, dizendo que ele (pide), é um brincalhão! A serenidade volta, o pai olha para o filho Toinito, beija-o, abraça-o, despede-se.... António/Toinito o Tonoc, viria a falecer poucas semanas depois, vitima de leucemia!
Esse pai chama-se, António Dias Lourenço. Tem hoje 91 anos de idade, continua a lutar com toda a sua força. Esteve preso por duas vezes, num total de 17 anos. Em memória do seu filho tão amado, presta-lhe uma homenagem, partilhando-a com todos nós! Junta todos os postais (graças à dedicação do casal, que tomou conta do Toinito), e faz um livro!
“SAUDADES... NÃO TÊM CONTO!”
É um belo livro! É um livro de afectos, de amor e muita cor! Mas é também um livro de dor!
Guida Rodrigues

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Poema de Che



Vieja Maria

Vieja Maria, vas a morir,
Quiero hablarte en serio.
Tu vida fue un rosario completo de agonías,
No hubo hombre amado, ni salud, ni dinero,
apenas el hambre para ser compartida;
quiero hablar de tu esperanza,
de las tres distintas esperanzas
que tu hija fabricó sin saber cómo.
Toma esta mano de hombre que parece de niño
en las tuyas pulidas por el jabón amarillo.
Restriega tus callos duros y los nudillos puros
en la suave verguenza de mis manos de médico.
Escucha, abuela proletaria;
cree en el hombre que llega,
cree en el futuro que nunca verás...

Poema de Che Guevara, escrito em 1955, no México, depois de observar, no hospital, uma idosa. O João Almeida, médico, enviou-mo, com um abraço solidário que agradeço.

Outro Sérgio, o mesmo grito!


Evandro Monteiro
Menino de rua desafia polícia em São Paulo. A luta continua!

Independente?



O dr. Guilherme Waldemar Pereira d'Oliveira Martins, foi escolhido pelo Partido Socialista para presidir ao Tribunal de Contas. O lema socialista é claro: maioria, governo, presidente e já agora, tribunais. A começar pelo de Contas. Os outros virão a seguir. Nas autarquias pretendem implantar os executivos de um só partido. Tutelam a televisão pública e controlam, nos media privados, as consciências de aluguer sempre dispostas a reproduzir diligentemente a voz dos donos.
Para isto servem as maiorias absolutas.
Esta manhã, o dr. Guilherme garantia que passou a ser independente. Acreditamos. Nele e no Capuchinho Vermelho. E registamos, para que conste, parte do seu trajecto dependente: deputado à Assembleia da República. Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS. Membro do Conselho de Administração da Fundação Mário Soares. Membro da Convenção para o futuro da Europa. Foi Ministro da Presidência em 2000-2002, Ministro das Finanças em 2001-2002, Ministro da Educação em1999-2000, Secretário de Estado da Administração Educativa em 1995-1999, Deputado à Assembleia da República (II, III, VI, VII, IX e X legislaturas), Vice-Presidente da Comissão Nacional da UNESCO (1988-1994), Chefe de Gabinete do Ministro das Finanças em1979, Assistente da Faculdade de Direito de Lisboa em1977-1985, Consultor do Ministério das Finanças, Presidente da SEDES entre 1985-1995 e Secretário Geral da Comissão Portuguesa da Fundação Europeia da Cultura.É Grande Oficial Ordem do Infante D. Henrique, Comendador da Ordem de Isabel a Católica e Grã Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul.
Esta gente perdeu definitivamente a vergonha.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

11 de Setembro



"...para que o mundo não esqueça"

Cumpriram-se, no passado dia 11, 30 anos. Chove em Santiago. Com o apoio declarado dos Estados Unidos da América, Pinochet e seus sequazes, transformam estádios de football em campos de concentração. A caravana da morte está em marcha, levando centenas de homens, mulheres e crianças, para longe, para sítio de onde não há regresso. No escuro da noite, corpos de inocentes são atirados ao mar, aos rios, aos lagos, desaparecendo, para sempre,vítimas do terror sanguinário desse facínora e... seus amigos americanos.
Cumpriram-se,no passado dia 11, 30 anos. Victor Jara, em pleno Estádio de Santiago, agoniza vítima das torturas que lhe são infligidas. Já lhe amputaram as mãos. Será abandonado numa morgue, esquartejado. Cumpriram-se, no passado dia 11, 30 anos. Pablo Neruda sente, em si, todo o sofrimento de um Povo, cujo único desejo é construir uma Pátria mais humana e mais digna. Em breve, morrerá. Cumpriram-se, no passado dia 11, 30 anos.

Há silêncios ensurdecedores nestes dias de Setembro. Onde estais vós, oh ditas democracias ocidentais?; provavelmente bebendo Coca-Cola; prostituindo os valores, que em tempos dissestes defender, de certeza. E tu, Igreja Católica, por onde andas? Porque te calas enquanto o martirizado Povo chileno sobe o seu calvário? Que ajudaste a erguer, não esqueças. Guardarás o protesto...para 28 anos mais tarde? Sim...talvez...como sempre. Dois mil anos depois, o galo continua a cantar três vezes.

Cumpriram-se, no passado dia 11, 30 anos.Por muitos 11 de Setembro que haja, nunca esqueceremos o dia em que "chovia em Santiago". Neste dia, todos nós, Homens solidários, democratas, amantes da liberdade, morremos um pouco. E...só porque queríamos ter, como Jara, "O Direito de viver em paz".
Foi há 30 anos!!! Para que o Mundo não esqueça!!!

Ílhavo - Setembro de 2003
João de Almeida
Obrigado, João Almeida

domingo, 11 de setembro de 2005

O DESPREZO



"Kathleen Blanco, governadora do estado da Luisiana, nos EUA - e por isso com jurisdição directa sobre a cidade de Nova Orleães, devastada pelo furacão «Katrina» e submersa em água -, declarou às televisões e ao mundo que «a actual situação é intolerável! Estou furiosa!».
Estava «furiosa» com os actos de pilhagem que galopavam pela cidade, pelo que decretou que «a polícia e o exército têm ordens para atirar a matar e fá-lo-ão!». Cinco dias depois da tragédia, ao quinto dia consecutivo de nada fazer para resgatar as dezenas de milhares de pessoas encurraladas na mais desesperada miséria, cinco dias depois de ter deixado um furacão com data anunciada e violência prevista transformar-se num desastre humanitário de proporções bíblicas, cinco dias depois de uma tragédia que, nesse curto espaço de tempo, matara não se sabe quantos milhares de pessoas e encurralara centenas de milhares de outras no limiar mais extremo da sobrevivência, a governadora Kathleen Blanco não se angustiou, preocupou ou combateu a tragédia.
Ao quinto dia, decidiu ficar «furiosa» e ordenar que fossem abatidos a tiro todos os interceptados a mexer na sacrossanta «propriedade privada», mesmo que, como se viu nas televisões, a maioria dos roubos e pilhagens ocorresse na desesperada luta pela sobrevivência, por seu lado desencadeada pela total ausência de apoio das autoridades.É um retrato a corpo inteiro não apenas da senhora Blanco, mas sobretudo da política imperialista dos EUA, onde por trás da retórica não há um pingo de humanismo, de justiça social, de respeito pelos povos próprios ou alheios.
Não é por acaso que foi, também, apenas ao quinto dia que o presidente George W. Bush decidiu «sobrevoar» Nova Orleães e despejar mais um chorrilho de vacuidades, deslocação que, mesmo assim, foi pressionada pelo fragoroso clamor que alastrava pelo país, por inteiro chocado com a total inépcia de todas as autoridades - locais, estatais e federais – a prevenir a catástrofe e a evacuar as populações.
Foi, aliás, o que aconteceu no fim-de-semana passado na RP da China, país olhado tão sobranceiramente pela «grande democracia americana» e onde, em escassas horas, foram evacuadas 600 mil pessoas nas províncias Fujian e Zhejiang para as afastar do furacão «Talim», como aconteceu também este fim-de-semana no Japão, onde se evacuaram multidões para as abrigar do furacão «Nabi», tal como acontece quase todos os anos ali bem perto, em Cuba, onde os furacões levam regularmente o governo cubano a evacuar às vezes cidades inteiras e onde nunca, mas nunca se registou uma catástrofe em perdas de vidas humanas, apesar de se estar numa ilha na rota dos furacões e das tempestades tropicais.
Todavia, não é apenas a inacreditável incompetência das autoridades dos EUA que explica a tragédia de Nova Orleães: apesar dela, houve uma evacuação atempada de parte da população – exactamente a que tinha automóveis e meios financeiros para sair da cidade. A que ficou ao completo abandono foi a população pobre e sem meios que, na cidade de Nova Orleães, é notoriamente negra e, é claro, toda das classes trabalhadoras.Foi essa gente que o governo de Bush e C.ª desprezou sobranceiramente e depois decidiu «disciplinar» a tiro.Essa gente conta-se aos muitos milhões nos EUA e constitui um imenso e crescente «terceiro mundo» contido, pela força, às portas da imensa riqueza e sofisticação norte-americanas.O que o furacão «Katrina» fez foi expor, brutalmente, aos olhos dos EUA e do mundo, tanto esse «terceiro mundo» escondido e ignorado, como o desprezo que tem, por ele, quem manda no país.
Henrique Custódio, (Avante!)

sexta-feira, 9 de setembro de 2005

Sejamos solidários


Recebi uma mensagem impressionante na minha caixa de correio:
"Este fim de semana ajudei a combater um incêndio perto da casa da minha namorada em Gaia, e para nosso espanto, no meio do lume, e após o rescaldo, achámos 6 cãezinhos, numa toca, com certeza feita pela mãe. A parte triste da sua salvação é que descobrimo-los após encontrarmos a mãe morta sobre a toca. Ela tinha-se colocado sobre a entrada para que nada lhes acontecesse e morreu assim.
Esta história merece um final feliz e nós estamos a tentar arranjar donos para os cãezinhos. Posso dizer que são raçados de chow-chow, porque a cadela "andou" com um cão dessa espécie recentemente e eles têm o seu pêlo; a cadela que faleceu, sinceramente não sei a sua raça, porque estava irreconhecível. Por favor, ajudem-nos, contactando para o e-mail vascokosta@gmail.com ou para o número 933230543.
Temos ambos 2 cães cada um e não podemos manter estes, com muita pena nossa, mas estamos desesperados a tentar arranjar alguém que os queira adoptar. Ajudem-nos por favor. Um deles já foi adoptado por um casal jóvem. Os restantes são 2 machos e 3 fêmeas. Neste momento continuam na toca que a mãe escavou e vão sendo alimentados pelo casal que pôs este caso na Internet. Acho que estes canitos merecem um cuidado especial - para que o sacrifício da mãe não tenha sido em vão..."
Há muitos anos, na Casa Pia de Lisboa, um bárbaro ateou fogo à prateleira de um roupeiro onde um aluno interno tinha deixado uma fêmea hamster com as suas crias recém-nascidas. Desesperada, a mãe atravessou o corpo na frente dos filhotes. Quando os descobrimos, estavam todos mortos, mas só a mãe estava queimada. O seu acto corajoso extinguiu o fogo, deu-nos uma dolorosa lição de vida e respeito pelos animais, mas nada pudera contra o monóxido. Tenho a certeza de que saberemos honrar o sacrifício desta mãe. Por mim tudo farei para lhe criar um filhote. Sejamos solidários

quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Ao Sérgio e à Zé


Boa Noite!

Efeito borracha

A comunicação social possui um terrível efeito supressor: na voragem dos acontecimentos, não reserva espaço para a reflexão, para o debate, para a memória.
Ardeu-nos o país, alguém se lembra?
Dói ver as imagens que nos chegam dos EUA, potência com mais capacidade para destruir países longínquos do que acorrer ao seu povo. Mas não podemos continuar a seguir o sofrimento dos que há dias perderam tudo aqui mesmo ao lado? Será incompatível narrar as desgraças que nos chegam do exterior e falar do que pode ser feito para apagar os fogos que queimam as almas das nossas gentes? E do tanto que há a fazer para evitar o inferno do Verão de 2006?

terça-feira, 6 de setembro de 2005

Obrigado Gaivota!

No final de um dia de trabalho intenso, descobri, no blogue Gaivota que não sabe voar... , um tesouro que quero partilhar.


"O cheiro das cores

Disseram-lhe um dia que as nuvens eram as almofadas dos anjos.
E ela dormia sobre as nuvens…
Dizem que sou menos capaz que os outros. Não sou. A prova disso é que estou aqui.
Tenho 19 anos. Tenho os sonhos todos presos nas pontas dos dedos.
Sim sou mortal. Sou limitada e um pouco diferente do conceito “normal”.
Bem sei que tenho menos hipóteses na vida, mas não é por falta de capacidade é por falta de meios e de apoio.
Nasci cega. Não é segredo. Vou morrer cega. Não é vergonha.
Tenho 19 anos e tenho consciência de um mundo que não conheço.
Falaram-me de um planeta azul e de uma estrela muito brilhante.
Falaram-me de cores…
Eu falei-lhes de cheiros, de sons, de texturas. Ninguém me percebeu muito bem.
Falaram-me de imagens… de cores…
Perguntei-lhes o cheiro das cores, disseram-me que as flores é que têm cheiro não as cores.
Perguntei-lhes o cheiro do dia, da noite, da lua, da terra…
Só me sabiam dizer cores.
Um dia sentei-me num banco de jardim, atenta a ver o mundo. A ver as suas cores, aquelas que conseguia cheirar.
Percebi o cheiro da terra aquecida pelo Sol, percebi o cheiro frio da lua e da chuva, percebi o cheiro a sal do mar e o cheiro de cada pessoa.
E percebi…
Recomeça
Disseram-lhe um dia que as nuvens eram as almofadas dos anjos.Cheiravam a sonho…E ela pintou as nuvens com as cores que aprendeu…
"

Será?

Idade Média