segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Contra a mentira!

Na sala do tribunal, os funcionários conluiados convertem-se em diligentes trabalhadores e esmerados pais de família. Tudo pelas crianças, garantem à juíza. No banco de trás, o arguido agita-se indignado. Revê os rostos familiares dos amigos desaparecidos. Evoca os relatos das atrocidades que sofreram. Tantas crianças destruídas, tanta dor e os canalhas persistem na desvergonha de negar a incúria, o abandono, a negligência.
Por um momento, recorda o exemplo de Francisco, personagem central de “O Caminho das Aves”, e apetece-lhe gritar, mesmo prejudicando a defesa, contra aqueles bandidos. Perante o seu olhar revoltado e triste, o filme passa célere: os bandidos protegem-se, como há vinte anos, uns aos outros. E souberam de tudo desde o início…
Apetece-lhe gritar. Mas o olhar terno da magistrada mitiga-lhe a raiva.
- Quer falar? – pergunta-lhe compreensiva. Que sim, responde aliviado. E fala, fala muito. Depois, olhando sempre nos olhos a juíza, senta-se, reconfortado.

2 comentários:

Maria disse...

Pedro,
Obrigada por este texto. Agora vou limpar a lágrima que teima em rolar-me na cara...

Unknown disse...

Obrigado queridos amigos, por todo o apoio. A fase actual, por que passo eu e outros que assumiram a defesa das vítimas, é a da presença sistemática nos tribunais. Os escroques finjem-se ofendidos por alegadas difamações e como têm muito dinheiro, atacam desta forma.
Mas talvez a estratégia que adoptaram lhes saia furada. Como noutros tempos, também nos defendemos acusando. Com a verdade.
A luta continua!