segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

A esquerda caviar

O executivo de Lula da Silva gastou, em 2005, 32 milhões de € em fotocópias. Durante o mesmo período destinou, ao plano contra a fome e a pobreza, menos 1 milhão de €. Acabei de ouvir esta revelação na alegada TSF e dei por mim a pensar que não há-de ter sido por acaso que o ex-sindicalista ascendeu à presidência do Brasil.
É assim a esquerda caviar: muito verbalismo, muito linguajar, mas do que tratam é de não incomodar os donos da miséria. O que fazem é retocar o capitalismo. E da divergência entre o que prometem na ânsia do poder e aquilo que efectivamente concretizam para não desagradar aos amos, nasce para a esquerda consequente o descrédito que não merece.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

António Caldeira desnuda a intentona

"Terça-feira, Janeiro 17, 2006 PS, PT & C.ia

O caso da publicação da facturação detalhada dos clientes do Estado justifica esclarecimento. Deixemos as interpretações meta-falaciosas da presunção-quase-certeza de que os magistrados do Ministério Público viram os registos ocultos de outros números que se escondiam debaixo do filtro do Excel. Vamos aos factos:
1. O Ministério Público pediu à Portugal Telecom (PT) a facturação detalhada do telefone de casa de Paulo Pedroso, atento os vários testemunhos de adolescentes e jovens que o acusavam de abuso sexual de crianças.

2. A PT segue o procedimento padrão em vigor na empresa e selecciona a facturação detalhada do cliente. O cliente era... o Estado!

3. O funcionário da PT que respondeu à ordem judicial, em vez de copiar e colar (copy-paste) apenas a facturação de Paulo Pedroso noutro ficheiro do Excel e enviar apenas a informação pedida, mandou a facturação de todos os telefones-borlistas do cliente-Estado (entre os quais, descobriu o País, estão os telefones das três casas de Mário Soares!...).

4. Como, devido à sensibilidade da informação, a procuradora do Ministério Público pediu que o registo fosse fornecido em suporte digital, o funcionário, habituado a imprimir a facturação detalhada solicitada, que o Excel permite isolar, colocou um filtro para a facturação detalhada de Pedroso, que a expunha, ocultando as outras dos telefones-borlistas do Estado, mas não as apagou, como devia e tinha, por obrigação estrita, de fazer.

5. Os magistrados do Ministério Público que abriram o ficheiro viram, com certeza, a única informação que estava exposta - a facturação detalhada de Paulo Pedroso. Não é legítimo pressupor ou concluir que vasculharam todo o ficheiro e viram a informação que estava escondida. De outro modo, certamente devolveriam de imediato as disquetes à PT e pediriam que fosse junta apenas a informação específica pedida, pois sabiam do interesse da rede pedófila em aproveitar qualquer lapso para castigar a investigação.

6. Para além do Ministério Público, que teve acesso às disquetes que tinham a informação referida (a facturação detalhada de Pedroso exposta e a facturação detalhada escondida dos demais telefones-borlistas do Estado), no registo de consulta desse Apenso V constam dois advogados: Maria João Costa (advogada de Ferreira Diniz) e Ricardo Sá Fernandes (advogado de Carlos Cruz).

7. A Dra. Maria João Costa é tida no processo como uma advogada combativa que defende com vigor o seu cliente, acusado de abuso sexual de crianças, mas não costuma falar com jornalistas. Não disse ter visto os registos ocultos.

8. O Dr. Ricardo Sá Fernandes, advogado do mesmo arguido de abuso sexual de crianças que tem no jornaleiro Jorge van Krieken Mota o defensor profissional, reconheceu ter visto a facturação detalhada desses telefones-borlistas do Estado e que pediu a ajuda de um perito informático para as analisar.

9. Como quem abrisse o ficheiro do Excel via imediatamente a facturação detalhada de Paulo Pedroso, não era precisa a ajuda de um técnico de informática (da PortugalMail de van Krieken, colega de defesa de Cruz, ou de outra firma) para nada. A não ser que fosse vasculhar os registos ocultos.

10. A obrigação indeclinável e imediata do advogado Ricardo Sá Fernandes era prevenir o MP e a juíz do processo desse facto para que essa informação deixasse de estar disponível para consulta de quem quer que fosse. Não consta que o tenha feito.

11. Jorge van Krieken Mota e o seu colega Joaquim Eduardo Oliveira obtém da própria Portugal Telecom a informação da identidade dos telefones confidenciais do Estado e... publicam-na, na malévola sexta-feira 13 de Janeiro, no 24Horas (jornal da Lusomundo Serviços da hidra Controliveste/Olivedesportos) quatro dias antes do procurador-geral da República comparecer, conforme previsto, na Assembleia da República por decisão... da maioria PS para prestar esclarecimentos sobre... um processo judicial determinado onde foi arguido... o ex-número dois do partido e publicamente referidos vários outros políticos socialistas (entre os quais, o actual presidente da Assembleia da República Jaime Gama e o ex-líder Ferro Rodrigues) que acabaram por não ser, até ao momento, acusados pelo Ministério Público.

12. O 24Horas, jornal que se tem destacado na defesa ostensiva dos arguidos da Casa Pia, nomeadamente de Carlos Cruz, denuncia o erro da associada PT. Este ataque evidencia o emprego pela rede de todos os meios possíveis de ataque ao adversário, independentemente dos prejuízos económicos consequentes para o próprio grupo PT! Algures na central de informação da rede que o Estado permite e financia, teve de haver autorização ao mais alto nível - que estas coisas não são decididas pelo Zé dos Anzóis!... - para avançar com este ataque sórdido. A campanha, nesta época de migração de clientes para o Skype e outros operadores VOIP, com a notoriedade negativa que teve, acarreta para a PT: eventuais processos dos lesados; eventuais processos dos accionistas contra a administração por esta estar duplamente envolvida na quebra de confidencialidade dos registos de tráfego e no fornecimento da identidade de telefones confidenciais que o ficheiro não continha (no ficheiro estavam apenas números sem identidade da pessoa) ; o prejuízo directo de rescisão de contratos de assinantes que verificaram que a sua facturação detalhada pode ir parar às mãos de um Krieken qualquer; e o custo da necessária campanha de comunicação que terá de ser feita para reconvencer os clientes da probidade do tratamento dos seus dados confidenciais... Se a PT, além do erro de fornecimento ao tribunal da facturação detalhada de números de telefone não pedidos, ainda - o que é muito mais grave! -, revela propositadamente a identidade dos telefones confidenciais de altas figuras do Estado, o que não fará com o assinante comum?

13. O Governo, cumprindo o seu papel encapotado na orquestração delineada previamente, manifesta a sua preocupação e dá sinal de que, se o Presidente da República aceitar, propõe a demissão do procurador-geral.

14. O Presidente da República Jorge Sampaio, que tem recebido de José Adriano Machado de Souto de Moura (paradoxalmente, o autor do processo de que fui vítima...), reiteradas vezes, a garantia da isenção no processo, é informado pelo procurador-geral sobre a actuação do Ministério Público (MP) no problema do "envelope 9", mas, mesmo assim, faz um ultimato público humilhante, através de declaração solene e dramática ao País, ao procurador-geral para que num prazo curto lhe explique o erro... da PT!...

15. Van Krieken, no seu site (link desprezível), queixa-se dos "figurões" da República, dando a entender que o amigo Cruz não está satisfeito com o tratamento recebido do Estado.

16. Na próxima sexta-feira, 20 de Janeiro, o procurador-geral será fustigado na Assembleia da República relativamente a um determinado processo judicial por deputados-advogados envolvidos na orquestração da indignação de que se queixam..."Palavras para quê?..." - perguntava o narrador do anúncio da Pasta Medicinal Couto que ainda ocupa a gaveta das memórias televisivas da minha infância. São artistas portugueses!...No circo do sistema político-mediático corrupto, o povo enjoado assiste, da bancada carunchosa de ruína iminente, ao malabarismo vertiginoso das cadeiras dos personagens negros que se divertem no palco da vida aflita da comunidade nacional. Até quando? Até logo...
Post-Scriptum: Este post foi corrigido na informação relativa à hidra Lusomundo Serviços/Controlinveste/Olivesdesportos, associada da PT na SportTV e noutros negócios.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Contra a máfia!

"The Mafia is oppression, arrogance, greed, self-enrichment, power and hegemony above and against all others. It is not an abstract concept, or a state of mind, or a literary term... It is a criminal organization regulated by unwritten but iron and inexorable rules... The myth of a courageous and generous 'man of honor' must be destroyed, because a mafioso is just the opposite."
(Cesare Terranova, magistrado italiano assassinado em 1979)

Escrever sobre o designado “Processo Casa Pia” é mergulhar na sordidez e na abjecção: tudo está a ser feito, de forma conjugada, para destruir a investigação, afastar Souto Mouro e convencer Portugal de que afinal foram as crianças que abusaram dos pedófilos.
Os canalhas organizados controlam as principais instâncias do país, possuem avultados recursos que incluem, além de milhões de euros, os principais meios de comunicação social. Por isso, quando acharam chegado o momento, calaram as vozes incómodas, perseguiram com processos ou colocaram no desemprego os que lhes denunciaram o jogo sujo. E ordenaram às consciências de aluguer que grasnassem a uma só voz, entoando a ladainha dos direitos que nunca respeitaram e vociferando contra o malvado procurador que se recusou a pactuar com a família.
Quem de forma séria ler a nota da Procuradoria-geral da República, percebe que o objectivo é dar aos socialistas, aos mesmos que tiveram um comportamento indecoroso aquando da prisão de Paulo Pedroso, um pretexto para afastar Souto Moura.
Algumas pessoas escorregaram na armadilha que a máfia montou. Se, como se apregoa, – pensaram – a investigação não respeita a Constituição e a Lei, então protestemos. Mas a generalidade dos que atacam a investigação sabem bem ao que andam. Especialmente vergonhosa é a posição dos que, mal o escândalo rebentou, correram pressurosos a jurar solidariedade às vítimas e a exigir punição exemplar para os criminosos. Mal vislumbraram, entre os bandidos, gentalha da sua espécie, juntaram-se ao coro dos que veneram os criminosos sexuais.
Os bandalhos que têm perseguido as vítimas, que desvalorizam o seu imenso sofrimento e glorificam os pedófilos, estão dispostos e são capazes de tudo. Para os enfrentarmos, temos que lutar unidos. Responder, sem medo, a cada golpe sujo que desfiram. Esse é o desafio que se nos coloca.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Às Mulheres


"Hoje, como ontem, como sempre, levantou-se ainda o Sol não tinha nascido. Adiantou o jantar, tirou roupa da máquina de lavar, sempre a correr sem parar. Arrumou as roupas, preparou o pequeno-almoço para o marido e os filhos, um beijo rápido de despedida aos meninos. Mete na sacola um pão duro p’ra almoçar e em jejum corre porta fora, até à paragem mais próxima! Num gesto diário e automático pica o cartão, veste a bata, colocando-se frente à pesada e barulhenta máquina. O pó dos fios das lãs, enchem-na de cabelos brancos! Os pulmões ficam obstruídos! Corre sem parar, o encarregado está sempre a olhar! Almoça rapidamente, comendo a sandes do resto do jantar de ontem, faz tricote para vender, sempre é mais algum que entra no parco ordenado que recebe, trezentos e vinte euros é muito pouco, para as oito horas de tanto trabalho.
Transporta pesados tabuleiros. De passo acelerado, percorre longos corredores até à tinturaria. Como a fábrica é fria! Pica o cartão, correndo até ao transporte que está de partida! Chega a casa, beija os filhos. O marido sentado, há tanto desempregado, pede-lhe o jantar! Vai passando a ferro, vê os cadernos escolares, ajuda as crianças no banho, deitando-as na cama sem histórias p’ra contar! Coloca a roupa na máquina de lavar, arruma outras prontas para utilizar, o marido aborrecido manda-a para a cama, só para a usar! Grita-lhe mais alto, ela vai, não pode evitar!
Devagar levanta-se, vai até à sala, desvia a cortina encosta a cara no vidro frio da janela. Afasta as lágrimas, olha para o céu, pede a uma estrela que a venha buscar!Hoje, lembrei-me dela, não tem nome, nem rosto, nem querer, nem sonhos, nem amor!
Ela!
Sei que trabalha, corre, trabalha, tem filhos, trabalha, tem homem que a usa sem desejo, é o hábito de querer! Hoje, lembrei-me dela! Operária, mãe, sacrificada, amargurada, pobre, violentada, doente, explorada, esquecida, maltratada! Hoje saúdo a Operária, a MULHER!
No Mundo:
•Uma em cada três mulheres foram espancadas, forçadas a ter relações sexuais ou abusadas, nas suas vidas;
•51% da população mundial infectada com HIV/SIDA são mulheres;
•70% das mulheres vítimas de assassínio foram mortas pelo seu parceiro.
Em Portugal, Os dados conhecidos em relação à violência doméstica, referem: •85% das vítimas são mulheres;
•85% dos crimes são contra a integridade física;
•89% dos crimes são cometidos pelo cônjuge ou pelo companheiro.
(DIF/CGTP-IN)"
(O texto é da Guida Rodrigues, o quadro, "Cansada", é de Hebert Román. Obrigado a ambos.)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

ATOARDAS

"Um disparate nunca vem só. E o dirigente do CDS-PP, Ribeiro e Castro, voltou à carga. Primeiro, afirmou que «o Século XX foi dominado pelo socialismo e muitos dos males actuais do mundo e da nossa sociedade são a pesada factura desses tempos; o último dos filhos desse tempo é o terrorismo(» (Lusa, 18.12.05). Depois acrescentou que «o terrorismo contemporâneo tem origem numa deriva totalitária do pensamento marxista-leninista» e que Che Guevara foi «um dos grandes assassinos do final do Século XX» (Diário de Notícias, 22.12.05).
O delírio é grande, e o espaço desta coluna curto. A oposição frontal ao terrorismo pelo PCP é, desde a sua fundação, indiscutível. O mesmo não se pode dizer do Partido de Ribeiro e Castro, como se viu nomeadamente no verão quente de 75. Deixemos a «fontes insuspeitas» os esclarecimentos sobre «a origem do terrorismo contemporâneo»:
«O conceito de jihad, ou guerra santa, quase que tinha deixado de existir no mundo muçulmano após o Século X, até que foi reavivado, com o apoio da América, para alimentar um movimento pan-islâmico internacional contra a invasão soviética do Afeganistão, em 1979. Nos dez anos seguintes, a CIA e os serviços secretos sauditas canalizaram milhares de milhões de dólares em armas e munições [...] aos muitos grupos mujahedines que combatiam no Afeganistão» (The Economist, 15.9.01). Uma das «tácticas favoritas» desses grupos mujahedines consistia em «torturar as vítimas [...] começando por lhes cortar o nariz, as orelhas e os genitais e depois removendo, uma após outra, sucessivas camadas de pele» (Washington Post, 11.5.79, citado no livro Killing Hope the William Blum).

Como todos os «democratas ocidentais», o CDS estava do lado do terrorismo contemporâneo dos grandes criminosos do final do Século XX.

O Afeganistão não foi caso isolado. Em Itália nos anos 60 e 70, em África e na América Central nos anos 80, na Jugoslávia nos anos 90 (entre outros) o terrorismo financiado e armado pelo imperialismo foi uma das principais armas de subversão e de combate contra o socialismo e os povos. É eloquente o apoio do CDS ao terrorista Jonas Savimbi: ainda o mês passado manifestou «o seu protesto e indignação» pelas declarações de Cravinho [...] ao Jornal Expresso, em que descreve Jonas Savimbi, líder histórico da [...] UNITA como «um monstro» e um «Hitler africano» (notícia Lusa, no site do CDS-PP na Internet, 10.11.05). O que acharão deste protesto os familiares das milhares de vítimas de Savimbi – incluíndo as dos massacres terroristas no Norte de Angola, em Março de 1961, cometidos pela UPA/FNLA na qual Savimbi era então militante responsável?

Ribeiro e Castro não é ignorante, nem tolo. É apenas reaccionário. Segue o exemplo das classes dominantes de todos os tempos e todas as latitudes. Que sempre absolvem os seus próprios crimes, por maiores que sejam, e vêem «terrorismo» na resistência dos povos, dos explorados e oprimidos. Se a palavra já existia no tempo do Império Romano, terá seguramente sido usada para descrever a revolta dos escravos de Espártaco ou os primeiros cristãos.
A Ribeiro e Castro o que é de César. Mas a atoarda do dirigente CDS-PP é sinal dos tempos. O verniz imposto às classes dominantes pela luta dos povos durante o Século XX está cada vez mais estalado. E por debaixo do verniz estalado é visível a verdadeira essência do capitalismo do nosso tempo: a guerra e o desmantelamento das conquistas sociais; a tortura e o aumento desenfreado da exploração e da miséria; os raptos e prisões arbitrárias e as multas de um milhão de dólares por dia aos trabalhadores em greve no Metro de Nova Iorque; o napalm e o fósforo branco e a tentativa de criminalizar quem defende os interesses dos povos. No Século passado, o capitalismo em profunda crise gerou o monstro fascista para afirmar o seu poder de classe. Foi a maior tragédia da Humanidade no Século XX, e ceifou milhões de vidas. O capitalismo agressivo e parasitário do Século XXI vai por rumos análogos. É deste pântano pútrido que brotam os Ribeiro e Castro deste mundo."

Jorge Cadima, in Avante