Cavaco foi um fascista convicto.
Como todos os iguais, adaptou-se com engenho ao novo regime. Frequentou os
lugares e os tratantes que Abril não vedou. Foi a presidente, em lugar de
Soares Carneiro, por ter escondido melhor a sua dependência e amor aos campos
de concentração. É um camisa-negra recauchutado a que se deve, dizem-nos,
respeito institucional.
Caraças, que palavra tão importante.
Mas cada um de nós é, também, instituição ou devedor a essa coisa vaga? Por mim
Cavaco é tão institucional quanto Mussolini, embora sem o tempo ou o cenário
desse criminosos abjecto.
Esperar desse troglodita que se
oponha a qualquer medida contra os trabalhadores é tão pueril que nauseia. Ele
já mostrou ao que vinha e ao que andou desde a juventude. Preencheu a ficha da
Pide para assegurar ser um bom serventuário do fascismo e, do alto da sua
cagança presidencial, baniu o secretário-geral do PCP do Conselho de Estado e
os cravos da sua lapela infecta. Gestos conformes com a sua ideologia
salazarenta.
Como todos os herdeiros do
fascismo, Cavaco teme expor o que na verdade preconiza para Portugal. Mas não
nos é difícil mostrar o que habita a sua cabecinha inculta e ressabiada:
edificar em Portugal o paradigma da revolução industrial do Séc. XIX e afixar
às portas das empresas o conhecido cartaz dirigido aos trabalhadores, “A partir
destes portões cessam todos os vossos direitos. Ámen!”.
E não se estranhe o acrescento
pio. Afinal, não é Cavaco o invocador-mor de santas e santinhas? O beato com
ânsias de Fátima sob a delicodoce manta de republicanismo à Belém?
Habitasse em Cavaco réstia de
dignidade, a mais leve brisa de sentido de justiça, a mais reduzida visão do
interesse colectivo e há muito teria abandonado o Palácio por ilegitimidade e falta
de requisitos para lá obrar.
Quantas divisões têm o edifício,
quantos quartos, cozinhas e latrinas, quantos empregados, quantos cristais,
quantos GNRs e agentes, quantos assessores e mordomias diversas? Se fosse
coerente com a necessidade que nos impõe de sacrifícios, Cavaco imitaria o
gesto de Mujica (a substância está-lhe vedada, absolutamente) e abria as portas
de par-em-par, para que os pobres e sem abrigo lá fossem viver sem o fausto
presidencial.
Se assumisse ser o que é, uma
rainha de Inglaterra em feio e sem trono nem préstimo, partiria para Boliqueime
ou, pensando melhor, para uma dessas feiras itinerantes; imagino-o a cobrar
bilhetes para a excelsa representação: mostrar a hercúlea façanha de sua Maria
Cavaco, a sobreviver com uns meros oitocentos euritos e tadinha, sem poder
tocar em qualquer das variadas e gordas reformas de dom Aníbal.
Estes gajos, cada vez me capacito
mais disso, só aprenderão a lição se conseguirmos enfiar-lhes os princípios
grandiloquentes pelo dito cujo acima, ensaboados no estado de direito que
querem só para si.