segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Sobre a Luta no Sector da Justiça


Nota do Gabinete de Imprensa do PCP 27 de Outubro de 2005

1. A dimensão da luta nestes dias travada pelos profissionais do sector da Justiça, em defesa dos seus direitos, pela dignificação do seu estatuto, constitui o mais cabal desmentido à campanha demagógica, populista e mistificatória do Governo contra os magistrados e outros profissionais que trabalham nesta área.

2. Tratou-se efectivamente de uma intensa campanha destinada a esconder dos trabalhadores e dos cidadãos em geral uma verdade que o tempo e os factos se encarregarão de confirmar: para lá da defesa de direitos próprios, subjacente à luta dos magistrados e dos profissionais deste sector esteve e está o objectivo e a exigência da concretização, que já tarda, de efectivas melhorias do funcionamento do sistema judicial, de uma melhor justiça para os portugueses.

3. Ao invés de atacar os problemas de fundo que afectam a Justiça, o Governo aposta claramente no debilitamento e na divisão do movimento associativo do sector, para também dessa forma mais facilmente controlar o poder judicial.

4. O profundo descontentamento existente, fruto da constante degradação e precariedade das condições de trabalho e da administração da Justiça aos cidadãos, está bem patente na resposta maciça e na unidade verificada, inédita, por parte de sectores profissionais muito diferenciados e das suas organizações representativas.

5. A unidade e determinação demonstradas nestes dias constituem um sério aviso ao Governo Sócrates e ao seu ministro da Justiça, de que a arrogância e a imposição de soluções, ao contrário da via do diálogo e da negociação, não são o caminho para a resolução dos problemas e muito menos para a estabilidade dos Tribunais e do poder judicial, pilar do regime democrático que deve a todo o custo ser preservado.

6. O PCP reafirma a sua total solidariedade com todos os sectores da Justiça em luta pelos justos e superiores objectivos da defesa da independência do poder judicial contra a continuada estratégia de ingerência e governamentalização de que é alvo.Manifesta igualmente a sua determinação em contribuir, como sempre tem feito, para que a administração da Justiça se realize em condições de maior dignidade e igualdade para quem a serve e para o povo, a quem se destina.

quinta-feira, 27 de outubro de 2005

Obrigado!

"6.3.05
Sempre gostei do vermelho, de aniversários, de homens corajosos e de poesia. Ainda não me defini políticamente, mas tenho na minha família gente que me conta histórias que agora não passam pela cabeça de ninguém. E como os portugueses eram tratados. As lutas dos que trabalhavam de sol a sol e não tinham direitos nem pequeno-almoço. Das prisões e das torturas. Do analfabetismo e das crianças sem futuro. Das desgraças da guerra e da pobreza. Dos assassínios.Tudo isto em que pesquiso e leio, encontro sempre homens e mulheres comunistas na linha da frente. Na luta pela melhoria das coisas. E eles hoje fazem anos! Recorri-me aos conhecimentos do meu pai e do meu avô e surripiei o poema abaixo no blog do Dr. Pacheco Pereira. Só para lhes dar os Parabéns! "
"- Quem é esse homem sombrio
Duro rosto, claro olhar,
Que cerra os dentes e a boca
Como quem não quer falar?
- Esse é o Jaime Rebelo,
Pescador, homem do mar,
Se quisesse abrir a boca,
Tinha muito que contar

Ora ouvireis, camaradas,
Uma história de pasmar.

Passava já de ano e dia
E outro vinha de passar,
E o Rebelo não cansava
De dar guerra ao Salazar.
De dia tinha o mar alto,
De noite, luta bravia,
Pois só ama a Liberdade,
Quem dá guerra à tirania.

Passava já de ano e dia...
Mas um dia, por traição,
Caiu nas mãos dos esbirros
E foi levado à prisão.

Algemas de aço nos pulsos,
Vá de insultos ao entrar,
Palavra puxa palavra,
Começaram de falar

- Quanto sabes, seja a bem,
Seja a mal, hás de contá-lo,
- Não sou traidor, nem perjuro;
Sou homem de fé: não falo!
- Fala: ou terás o degredo,
Ou morte a fio de espada.
- Mais vale morrer com honra,
Do que vida deshonrada!

- A ver se falas ou não,
Quando posto na tortura.
- Que importam duros tormentos,
Quando a vontade é mais dura?!

Geme o peso atado ao potro
Já tinha o corpo a sangrar,
Já tinha os membros torcidos
E os tormentos a apertar,
Então o Jaime Rebelo,
Louco de dor, a arquejar,
Juntou as últimas forças
Para não ter que falar.

- Antes que fale emudeça!
- Pôs-se a gritar com voz rouca,
E, cerce, duma dentada,
Cortou a língua na boca.

A turba vil dos esbirros
Ficou na frente, assombrada,
Já da boca não saia
Mais que espuma ensanguentada!

Salazar, cuidas que o Povo
Te suporta, quando cala?
Ninguém te condena mais
Que aquela boca sem fala!

Fantasma da sua dor,
Ainda hoje custa a vê-lo;
A angústia daquelas horas
Não deixa o Jaime Rebelo.
Pescador que se fez homem
Ao vento livre do Mar,
Traz sempre aquela visão
Na sombra dura do olhar,
Sempre de boca apertada,
Como quem não quer falar."

Jaime Cortesão - Romance do Homem da Boca Fechada

Retirado do blogue http://thita.blogspot.com/ .
Por mim, militante do PCP há 22 anos, muito obrigado.

terça-feira, 25 de outubro de 2005


Quando vieres
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala...
Apenas os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o seu cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.
Quando vieres
Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.

Quando vieres
Nenhum de nós dirá nada
Mas a mãe largará o bordado
O pai largará o jornal
As crianças os brinquedos
E abriremos para ti os nossos corações.

Pois quando vieres,
Não és só tu que vens
É todo um mundo novo que despontará lá fora
Quando vieres.

Maria Eugénia Cunhal, in Silêncio de Vidro, Editorial Escritor
Poema dedicado ao irmão, Álvaro Cunhal, então preso nas masmorras fascistas

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Com comentários


Se o cão se mantiver solidário quando o dono levantar a cabeça, vai ser um caso sério para os que causam tanta miséria. A luta continua!

domingo, 23 de outubro de 2005

Fascismo nunca mais!


Um dos traços mais repulsivos da empreitada que alguns desenvolvem para reescrever a História, consiste na destruição de tudo quanto possa questionar as mentiras que apregoam. Até agora, quem fosse a Peniche desarmado do conhecimento do que foi aquele antro de tortura e sofrimento para quantos ousaram combater o fascismo, podia convencer-se de que nada de grave por lá havia acontecido, tal o desprezo a que tem estado votado o espaço.
A conquista da Câmara Municipal de Peniche pela CDU vai, estou certo, inverter esta situação. Porque um povo sem memória não tem futuro, os comunistas e seus aliados vão seguramente transformar o Forte num monumento digno, onde possamos ir rever o que foi o fascismo, assim revigorando forças para o grito que cada vez mais se justifica: 25 de Abril, sempre! Fascismo nunca mais!

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

A pantomina



Hoje, manhã cedo, Emídio Rangel defendeu, na TSF, o Orçamento de Estado para 2006. Atento o fervor, julguei que tivesse lido o documento. Mas rapidamente descobri que o ímpeto era fruto de algo que Emídio não conhece, como aliás reconheceu.
Isso não o impediu de assestar baterias contra os partidos da oposição: ou aprovam o que Sócrates defende, por ser o único caminho para Portugal, ou estão obrigados a apresentar alternativas. Quer dizer, não apenas elogia algo que nunca viu como insinua que o voto contra é infundamentado. Ao ouvir Rangel, recordei os vendedores de banha-da-cobra que antes compareciam a todas as feiras, apregoando apesar de tudo mezinhas bem menos danosas. Rangel também cumpre o seu mister.
Como assinala Noam Chomsky, "A forma inteligente de manter as pessoas passivas e obedientes é limitar estritamente o espectro da opinião aceitável, mas estimular muito intensamente o debate dentro daquele espectro...Isto dá às pessoas a sensação de que o livre pensamento está pujante, e ao mesmo tempo os pressupostos do sistema são reforçados através desses limites impostos à amplitude do debate".

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

O MUNDO DE HOJE



  1. Na evolução da sociedade, a revolução russa de 1917, sob a direcção de Lénine e do partido dos bolcheviques, fica marcada, em milénios de história, como a primeira e única a estabelecer o poder político das classes anteriormente exploradas e a empreender com êxito a gigantesca tarefa de construir uma sociedade sem exploradores nem explorados.
  2. A construção do socialismo na União Soviética teve profundas repercussões em toda a situação mundial. Vencendo bloqueios, intervenções, agressões militares e a invasão, a guerra e os monstruosos crimes dos exércitos hitlerianos, a revolução russa de 1917 repercutiu-se em todo o planeta. Outras revoluções socialistas vitoriosas tiveram lugar. Numerosos povos secularmente subjugados conquistaram a independência. Ruiu o sistema colonial. Criaram-se influentes partidos comunistas em todo o mundo. E, inspirados pelo exemplo da revolução russa, os trabalhadores em países capitalistas conquistaram importantes direitos.
  3. Com o seu poderio, alcançado pela construção do socialismo, a União Soviética alterou a correlação das forças mundiais, manteve em respeito durante décadas o imperialismo, tornando a competição entre os dois sistemas um elemento dominante na situação mundial.
  4. Uma falsa avaliação da situação criou porém nas forças revolucionárias uma ilusão: que era irreversível o avanço revolucionário e o processo em curso de libertação da humanidade. Para essa ilusão não se tiveram em conta três realidades. A primeira: a capacidade mostrada pelo capitalismo, mais que os países socialistas, de não só desenvolver as forças produtivas, como de descobrir, desenvolver e aplicar novas e revolucionárias tecnologias. A segunda: a utilização pelo imperialismo, designadamente pelos Estados Unidos, de colossais meios materiais e ideológicos, a repressão brutal contra os trabalhadores e os povos em luta, colossais meios financeiros, económicos, políticos e militares contra as revoluções, bloqueios, sabotagens, atentados, conspirações, acções terroristas e guerras declaradas e não declaradas. A terceira: as tendências crescentes nos países socialistas, nomeadamente na União Soviética, para a centralização e burocratização do poder e para a estagnação, pondo em perigo o futuro da sociedade socialista em construção. Todos estes elementos em conjunto conduziram, na segunda metade do século XX, à vitória do capitalismo na competição com o socialismo.
  5. Chegamos assim ao final do século defrontando a ofensiva global do capitalismo para se impor em todo o mundo como sistema único e final. É este o sentido da «globalização». Pelo seu superior poderio económico, tecnológico e militar, os Estados Unidos lideram, comandam e impõem tal processo. As guerras por eles impostas e que proclamam ser seu direito próprio e discricionário, não respeitando quaisquer instâncias internacionais, com o cortejo de destruições, atrocidades e genocídios, tornaram-se a arma mais importante da ofensiva.
  6. À acção terrorista de 11 de Setembro, os Estados Unidos responderam fomentando organizações e acções terroristas, desencadeando agressões e guerras que vitimam igualmente milhares de civis. Proclamando serem os campeões da luta contra o terrorismo, os Estados Unidos tornaram-se a principal força do terrorismo mundial. Na actual situação mundial, o terrorismo, que prolifera pelo mundo, só pode ser combatido com êxito com orientações, políticas e medidas que façam respeitar, pelos agressores imperialistas, a liberdade, os direitos e a independência dos povos e países agredidos.
  7. A questão que se coloca aos trabalhadores, aos povos e às nações é se tal ofensiva é irresistível e os trabalhadores, os povos e as nações estão condenados a submeter-se, ou se há no mundo forças capazes de se lhe oporem. Os trabalhadores, os povos e as nações não podem aceitar que tal ofensiva global seja irreversível. E, se assim é, importa considerar se há e, havendo, quais são as forças capazes de impedir que o imperialismo alcance o seu supremo objectivo. A nosso ver, são fundamentalmente: Primeiro: Os países nos quais os comunistas no poder (China, Cuba, Vietname, Laos, Coreia do Norte) insistem em que o seu objectivo é a construção de uma sociedade socialista. Apesar de ser por caminhos diferenciados, complexos e sujeitos a extremas dificuldades, é essencial para a humanidade que alcancem com êxito tal objectivo. Segundo: os movimentos e organizações sindicais de classe, lutando corajosamente em defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores. Terceiro: partidos comunistas e outros partidos revolucionários, firmes, corajosos e confiantes. Quarto: movimentos patrióticos, com as mais variadas composições políticas, actuando em defesa dos interesses nacionais e da independência nacional. Quinto: movimentos pacifistas, ecologistas e outros movimentos progressistas de massas. É no conjunto destas forças que pode residir e que reside a esperança de impedir a vitória final da ofensiva do capitalismo visando impor em todo o mundo o seu domínio universal e final.
  8. O domínio mundial do capitalismo como sistema único e final teria como resultado e componente, segundo os seus teóricos, o «fim das ideologias» e o «pensamento único». Trata-se de uma utopia da ofensiva global do capitalismo. O ser humano continua pensando. E o pensamento e a ideologia dos trabalhadores e dos povos oprimidos serão sempre inevitavelmente opostos à das potências e classes exploradoras e opressoras. Princípios fundamentais do marxismo (filosofia, economia, socialismo), respondendo criativamente às mudanças no mundo, mantêm inteira validade.
    Apresentamos ao Encontro Internacional esta nossa reflexão sobre «O mundo de hoje» como sendo também uma proposta de reflexão.

Contribuição de Álvaro Cunhal para o Encontro Internacional "América Latina: su potencialidad transformadora en el mundo de hoy" (Novembro de 2003)

Plano Milagre


"Disse-me um amigo enquanto circulávamos de carro pelas ruas de Havana faz uns dias: «Vêm da Venezuela cada semana em avião. São uns cem ou cento e cinquenta, cada um acompanhado por um familiar. Vêm para curar-se, e vão­‑se embora no mesmo avião, já curados, os que chegaram nas semanas anteriores». «Para curar­‑se de quê?», perguntei­‑lhe. «São cegos. Operam­‑nos, e recuperam a vista».
Não podia acreditar. «Mas, como é que nunca ouvi falar disso?». «Bem, já sabes – disse­‑me –, daqui só se comentam as más notícias». O amigo que me falava não tinha nada de oficial mas podia estar equivocado. Decidi indagar por minha conta. Parecia­‑me estranho que uma informação tão espectacular não circulasse mais. Comecei a interrogar as pessoas bem informadas, e também a alguns amigos venezuelanos. Todos o confirmaram.
«Até agora – disse­‑me um profissional que estava a participar no projecto – preferíamos que não se desse demasiada publicidade. Havia um processo eleitoral na Venezuela, o referendo revogatório, e não queríamos que se pudesse pensar que isto se fazia com intenções eleitorais. Teriam acusado Cuba de se intrometer, de maneira indirecta, naquele processo. Por isso, sem que fosse um segredo, também não se anunciou com bombos e pratos. Mas já não, desde o dia 15 de Agosto e depois da vitória indiscutível de Chávez, a informação circula sobre o que chamamos o Plano Milagre. Publicaram-se reportagens e até se realizou um documentário».
Pouco a pouco obtive quase todos os detalhes desta admirável operação. No âmbito dos acordos entre Caracas e Havana, Cuba enviou à Venezuela vários milhares de médicos que se instalaram nas zonas mais humildes, essas favelas em que vivem pessoas até agora marginalizadas e que careciam dos serviços públicos mais elementares. Aí, bairro adentro, onde quase nenhum médico venezuelano queria ir, instalaram pequenos dispensários providos do necessário para dar os primeiros socorros e cuidar das doenças mais correntes. Estes galenos missionários cobram o mesmo salário (modesto) que cobrariam em Cuba, e vivem no mesmo bairro com os seus pacientes. Com frequência detectam doenças graves da pobreza que eles, com os seus poucos recursos, não podem tratar, e enviam o paciente para algum hospital.
Entre estes enfermos, muitos padecem doenças dos olhos e ficaram cegos. Mas são cegos por pobres, porque na maioria dos casos a sua cegueira cura­‑se com facilidade. Por exemplo, quando padecem de cataratas. E como em Cuba há equipas muito especializadas que operam em dez minutos essa afecção, decidiu-se enviar os pacientes, acompanhados de um familiar, a Havana, para ser operados. Tudo gratuito.
Já são mais de cinco mil as pessoas que, deste modo, viveram um milagre e recuperaram enquanto o diabo esfrega um olho a vista depois de decénios de escuridão. A lista dos casos que mais chamam a atenção faz saltar as lágrimas, como a história desse homem que levava mais de trinta anos cego e que, quando lhe retiraram as vendas, viu a sua esposa, com a qual tinha cinco filhos, pela primeira vez. Ou essa senhora, cega durante vinte e oito anos, que por fim pôde ver os seus filhos e os seus netos. Ou esse menino, Samuel, operado de catarata congénita, que pôde por fim ver a sua mãe. Os episódios são milhares, emocionantes e milagrosos como um relato neo­‑realista. Ou como todo o trajecto que vai da cega escuridão à luz."

Ignacio Ramonet
La Voz de Galicia, 13/10/2004

terça-feira, 11 de outubro de 2005

Maria Eugénia Cunhal



Bastou aquele gesto
Da tua mão tocar tão docemente a minha
Pra nascerem raízes
Que me prendem à terra e me alimentam
Nas horas mais vazias

Bastou aquele olhar
- O teu olhar tão brando, prolongando-se um pouco sobre o meu –
Para iluminar as noites em que a lua se esconde
E a escuridão envolve um mundo sem sentido.

Bastou esse teu jeito de sorrir,
Um sorriso em que vejo despontar a confiança
Na vida não vivida, nas emoções ainda não sentidas,
Nos passos que ressoam noutros passos

Bastaste tu.

Maria Eugénia Cunhal, in Silêncio de Vidro, Editorial Escritor

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

A luta continua!

Termina hoje a campanha eleitoral. Quem a seguisse apenas pelos media, julgaria que além dos partidos da política de direita e respectivo berloque, nada mais existe. Jornais ditos de referência, como o Público e o Diário de Notícias, conseguiram a proeza de nunca referirem as iniciativas dos autarcas comunistas e dos seus aliados. Silenciar a CDU foi a ordem dos donos e as respectivas vozes, prestativas, cumpriram.
Por outro lado, a diferença de meios de que dispõem as diversas candidaturas, impede qualquer discussão de ideias e agrava as desigualdades. O Ministério Público deveria investigar a que título, com que intenções e contrapartidas, milionários financiaram campanhas eleitorais, com dinheiro, carros e lojas.
Porque não são instituições de caridade, muitos destes “beneméritos” vão apresentar as facturas já no dia 10 de Outubro e todos seremos chamados a pagá-las, nomeadamente, sofrendo as consequências da especulação imobiliária e do crescimento desordenado do betão.
É pois neste contexto, antidemocrático, que a CDU luta para divulgar a obra que realiza com trabalho, honestidade e competência. Fossem outras as condições e mais gente poderia beneficiar da reconhecida capacidade que os eleitos comunistas colocam ao serviço das populações. Assim, resta a luta e a convicção de que as eleições são importantes, mas não são tudo.

Boa noite!



"A Internacional"

De pé, ó vítimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!

Refrão
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Duma Terra sem amos }bis
A Internacional.

Messias, Deus, chefes supremos,
Nada esperemos de nenhum!
Sejamos nós quem conquistemos
A Terra-Mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair deste antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos,
Tudo o que a nós diz respeito!

Refrão

terça-feira, 4 de outubro de 2005

Aquela Noite de Natal


Hoje sonhei contigo

Querias falar dos livros que saíram e já leste. Quando o sonho começou, tu eras pouco mais do que um sorriso radioso. Mas nos olhos tinhas o brilho dos que respeitam ideais. Soube logo que eras tu que me interpelavas. Depois, estranhamente, do riso nada mais vi. A não ser quando os teus dedos fizeram na porta da rua o sinal habitual e eu corri por te saber ali, fortaleza de ternura e amizade.
Olá camarada, o tempo é nosso. Quero falar-te da Eurídice e do Joel, do Miguel e da Joana, invenção de amor numa noite de Natal. Abril existiu mesmo. Já sabíamos, mas agora é tão diferente. Eles, os que sofreram e resistiram, estão a contar. Não deixam que a mentira domine e possa mais.
Sabes camarada, quando absorvo as histórias que os heróis nos oferecem, fico feliz porque os nossos filhos vão ter memória. Saber onde crescemos e o que fizemos para os criar. Abril foi mesmo, camarada, e não esta pasmaceira de gente castrada. Abril foi mesmo, e não este tempo frio em que nos querem calados, derrotados, sem do sol termos o desejo e o alento.
E porque agora sei do Álvaro; do Dias Lourenço; da Margarida Tengarrinha; do Zé Casanova; do Pires Jorge; do José Magro, do Modesto Navarro; do Sérgio Ribeiro; do Manuel Pedro; do Joaquim Gomes; do Militão Ribeiro e tantos , tantos outros, não há porra nenhuma que me faça calar a alegria.
Porque me corre nas veias esta agitação, este orgulho de partilhar com eles a mesma heróica bandeira. De ter herdado deles, de tantos como eles, o mesmo gosto à luta, o mesmo lema.
Sabes camarada, Abril foi mesmo e o que me falta é saber o nome destes heróis todos, para aprender mais sinónimos de Coragem, Honra, Dignidade, Dedicação, Coerência, Ternura, Dor, Resistência, Confiança, Futuro, Convicção e Amizade,
Obrigado camaradas, por nos terem legado Futuro!

Hasta siempre comandante!!!



“...para que o Mundo não esqueça!!!”

Completam-se no próximo dia 9 de Outubro, 38 anos sobre o assassínio de Che Guevara. Apesar de há muito serem conhecidos os pormenores deste crime, nunca é demais repetir a pergunta: Quem matou o CHE?
Em primeiro lugar, os que o executaram; em última análise o imperialismo, esse sistema que fez o Padre Camilo Torres dizer que,“se Jesus Cristo aqui viesse, diante de tamanhas injustiças, teria pegado numa metralhadora e ter-se-ia juntado aos guerrilheiros”.
Guevara, - cuja ordem primeira era “ assistir aos feridos por ordem de gravidade, sem considerar se eram gurrrilheiros ou soldados do exército” – gravemente ferido no dia 8, é feito prisioneiro e transportado para a escola de La Higuera.
Aqui, sentado no chão, chão tantas vezes pisado por pobres e desprotegidas crianças – razão primeira e última da sua luta – espera a chegada do agente da CIA Félix Rodriguez que o virá interrogar e que... traz consigo, (dos Estados Unidos da América, é bom lembrar!!!) a ordem para o matar!!! A sangue frio é abatido por Mário Teran, não sem antes lhe dizer: “ dispara, que matas um Homem!!!”.
Assim morre uma das maiores personalidades do séculoXX, defensor intransigente do Homem Novo, humano, fraterno e solidário, livre dos estigmas cruéis e desumanos do capitalismo e do imperialismo que marcam a sociedade em que, infelizmente, vivemos.
Diz quem o viu, no seu pobre leito de morte, que parecia Cristo!!! Talvez por isso, ainda hoje, os camponeses bolivianos lhe chamam Santo Ernesto de La Higuera!!!
Talvez por isso, o retrato de Che foi e é, aos olhos de milhões de pessoas, “ o retrato da dignidade suprema do ser humano”!!!
Um dia, em resposta a uma pergunta sobre um possível parentesco, afirmou: “ se és capaz de tremer de indignação cada vez que se comete uma injustiça no Mundo, somos companheiros e isso, é o mais importante”.
Foi há 38 anos!!! Para que o Mundo não esqueça!!!
Até sempre companheiro!!!

João de Almeida