quarta-feira, 23 de junho de 2010

A ESSE VELHO BORDEL DA IGREJA - O VATICANO

Profundamente enojado com a reacção do Papa à morte de José Saramago, recorro a Guerra Junqueiro:



Quem é o Papa?
Um Deus inventado à socapa,
Um Deus para fazer o qual bastam apenas
Quatro coisas: cardeais, papel, tinteiro e penas.
 Deita-se numa saca uma lista qualquer,
Qualquer nome, Gregório, ou Bórgia ou Lancenaire,
Ou Papavoine – e pronto! Em dois minutos, fica
Manipulado em Deus autêntico, obra rica,
Tonsurado, sagrado, infalível, divino...
Quer dizer, saiu Deus duma bolsa de quino!


É um Deus por concurso, um Deus feito de tretas,
Em cuja divindade ideal há favas pretas!
Apesar disso é Deus. Vai pousar-lhe no seio
O Espírito santo, esse pombo-correio
Da Providência. É ele o redentor e o oráculo.
A humanidade vai adiante do seu báculo
Soluçando, ululando, exausta, ensanguentada,
Pavoroso tropel de sombras pela estrada
Do destino fatal. O pensamento humano
É simplesmente um cão sabujo e ultramontano,
Um cão vadio, um cão faminto, um cão impuro,
Que o papa recolheu de noite num monturo,
E a quem às vezes dá, com parcimónia bíblica
A pitança de um breve e o osso duma encíclica.


Um papa é isto, um juiz sem lei; omnipotente,
Czar das consciências. Pode irremissivelmente
Chamuscá-la em fogo, ou torrá-las em brasas.
Ou fazer-lhes nascer das costas um par de asas,
O globo é para ele a bola de um bilhar.


Domina os reis. O trono é o lacaio do Altar.
Seus templos são prisões e seus dogmas algemas
Cingem-lhe a fronte augusta e nobre três diademas
E, na potente mão, invencível chapéu.
Tem as chaves do inferno... e a gazua do céu.


Masella, o teatro é velho, a receita é pequena
E há mil anos que está a mesma farsa em cena.
Abaixo a farsa! Abaixo o pardieiro divino,
O céu, que já não tem mais sombras de inquilino,
Serafins, querubins, anjos, legião eterna
Dos eleitos, tudo isso andou, pôs-se na perna,
Deixando lá ficar, ó cáfila de ingratos!
O CADÁVER DE DEUS ROÍDO PELOS RATOS.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Os 25 Anos da assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE

Nota do Secretariado do Comité Central do PCP

Os 25 Anos da assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE

Sábado 12 de Junho de 2010



1 - Os objectivos políticos e ideológicos das comemorações dos 25 anos sobre a assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à CEE/UE não apagam, antes confirmam, os alertas que o PCP fez relativamente às consequências desse acto para o povo português e para o País. A dura realidade vivida pelos portugueses, indissociável das consequências da integração capitalista europeia e das políticas que lhe estão associadas, vem, passados 25 anos, confirmar a justeza das posições do PCP relativamente à adesão de Portugal à CEE e das razões por si então evocadas.

Portugal é hoje um país não só mais injusto e desigual no plano social e no desenvolvimento do seu território, como é também um país mais dependente, mais endividado, mais deficitário e mais vulnerável. 25 anos passados, a grave crise que o país enfrenta, sendo fruto das políticas de direita no plano nacional, não é também separável da crise dos fundamentos da União Europeia. Os níveis recorde de desemprego, a estagnação e dependência económicas de Portugal, a destruição do aparelho produtivo nacional, o aprofundamento da exploração, das desigualdades sociais e das injustiças são a consequência da natureza exploradora associada ao presente processo de “integração europeia”.

2 - A pergunta que se deve colocar quando passam 25 anos sobre a assinatura do Tratado de adesão de Portugal à CEE/UE é para que serviu e a quem serviu a adesão de Portugal à CEE. A pergunta que se impõe é para que servem e a quem servem os Tratados – de Maastricht a Lisboa -, o Pacto de Estabilidade, a União Económica e Monetária, o Euro, o BCE e a chamada política externa e de segurança da União Europeia. A realidade demonstra, cada vez de forma mais evidente, que os interesses que a União Europeia neoliberal, militarista e federalista serve são os do grande capital, nomeadamente do grande capital financeiro, das grandes potências como a Alemanha, dos defensores do militarismo e da política agressiva da NATO e não os interesses dos trabalhadores e povos da Europa, da cooperação e da paz.

As medidas tomadas pela União Europeia e pelos governos de vários países, incluindo Portugal, em nome de um suposto “combate à crise” revelam bem o grau de falsidade dos discursos da “solidariedade”, da “coesão” e da “Europa social”, colocando em evidência para que servem de facto os instrumentos contidos nos tratados, nas políticas comuns e nas Estratégias como a “Europa 2020”. Em nome de um suposto “combate à crise” os povos da Europa estão mais uma vez a ser vítimas de uma política de concentração e centralização do poder económico e político que, alimentando-se da dependência e fragilidade económica de alguns países – como Portugal –, desfere novos e gravíssimos ataques contra os direitos laborais e sociais, a soberania e a própria democracia e põe em causa o futuro de milhões de pessoas e o futuro dos seus países.

3 – Mas, 25 anos depois, o PCP afirma com convicção que é possível uma outra Europa dos trabalhadores e dos povos. Com a sua luta será possível construir a ruptura com o rumo neoliberal, militarista e federalista da UE. Uma ruptura assente no respeito pela democracia e pelos direitos laborais e sociais que abra portas a uma real convergência e cooperação fundadas no progresso social, no apoio à produção nacional, no investimento público, no reforço dos serviços públicos, no emprego com direitos, no fim da “livre” circulação de capitais, no combate à financeirização e dependência económicas.


Afirmando o seu inabalável compromisso em defesa da Constituição da República Portuguesa - que consagrou muitos dos avanços, realizações e conquistas democráticas da Revolução de Abril, nomeadamente no que se refere à independência e soberania nacionais – o PCP reitera a sua rejeição a uma integração europeia caracterizada pela submissão e condicionamento do desenvolvimento de Portugal e renova o seu compromisso de lutar por um Portugal independente e soberano, por um projecto de cooperação entre Estados soberanos e iguais que promova a melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo e o progresso do país, a paz e a solidariedade internacional, consentâneo com o projecto de desenvolvimento democrático, patriótico e internacionalista consagrado na Constituição de Abril.


O actual rumo da integração europeia não é uma inevitabilidade, tal como não é inevitável a brutal regressão civilizacional que as classes dominantes tentam impor aos povos da Europa. A resposta dos trabalhadores e dos povos de vários países europeus à violenta ofensiva anti-social em curso na União Europeia – e de que a manifestação do passado dia 29 de Maio em Lisboa é um importante exemplo – assim como as mudanças operadas no quadro internacional, designadamente na América Latina, demonstram que um outro mundo e uma outra Europa são possíveis, na base da solidariedade, do respeito mútuo e da reciprocidade, respeitando-se o direito soberanos dos povos a escolherem a sua opção em termos de organização económica, social e política, na defesa da paz e da cooperação com os povos de todo o mundo.