quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Fernando Tordo

Fernando Tordo é um poeta-cantor fabuloso. Durante os anos da adolescência coleccionei os seus discos, e as letras que escreveu ajudaram-me a crescer. Admirei o seu posicionamento corajoso, coerente, frontal e solidário. Na noite em que morreu Francisco Miguel, o heróico resistente antifascista, a determinado momento ficámos apenas três pessoas a velá-lo no centro do PCP de Alcantâra: eu, o António Alves (já falecido) e o Fernando Tordo.
Um dia soube que o Tordo decidira partir para outras paragens. E a desilusão doeu. Com o tempo, porém, descobri que o intelectual que admirava, por mais viagens que fizesse, permaneceria inalterável nas pérolas que nos legou e de que aqui deixo um exemplo de que gosto muito (com muita pena por não poder oferecer-vos, igualmente, a belíssima música que compôs para este poema) .


Sou de outras coisas

Sou de outras coisas
pertenço ao tempo que há-de vir sem ser futuro
e sou amante da profunda liberdade
sou parte inteira de uma vida vagabunda
sou evadido da tristeza e da ansiedade

Sou doutras coisas
fiz o meu barco com guitarras e com folhas
e com o vento fiz a vela que me leva
sou pescador de coisas belas, de emoções
sou a maré que sempre sobe e não sossega

Sou das pessoas que me querem e que eu amo
vivo com elas por saber quanto lhes quero
a minha casa é uma ilha é uma pedra
que me entregaram num abraço tão sincero

Sou doutras coisas
sou de pensar que a grandeza está no homem
porque é o homem o mais lindo continente
tanto me faz que a terra seja longa ou curta
tranco-me aqui por ser humano e por ser gente

Sou doutras coisas
sou de entender a dor alheia que é a minha
sou de quem parte com a mágoa de quem fica
mas também sou de querer sonhar o novo dia
- Sou dos lugares onde se baila a chamarrita.




Letra e música: Fernando Tordo
In: "Anticiclone", 1984

10 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Agradeço-lhe por me ter facultado a leitura deste belo poema de Fernando Tordo.

GR disse...

Pedro,

O Fernando Tordo é, a minha pedra (pedregulho) no sapato!
Desde muito jovem, habituei-me a ouvir a sua voz melodiosa, com a poesia do nosso Ary, fazia das suas canções hinos de combate e de amor!
Depois…bem depois,
A partida (física) de Ary, que fez muita falta no meio artístico (não direi intelectual) pois nem todos o são, na esquerda portuguesa.
Tordo, foi pelo caminho mais fácil! O cheiro do dinheiro, o protagonismo (até já o tinha)e mais o que fosse (que não interessa referir), fez do cantor revolucionário que cantava Liberdade, Justiça, Solidariedade, Amizade, um homem vulgar, arrastando-se por caminhos lamacentos, com odores muito duvidosos. Cheiros amargos, só encontrados na governação actual.
Não consigo ouvir Fernando Tordo.
“Adeus tristeza”, foi a belíssima canção de despedida do homem íntegro.
Da letra “Adeus tristeza”, a mensagem foi clara!
«…Aconteceu-me estar no palco atrás do pano
Tive a promessa de um contrato por um ano
A entrevista que era boa
E o meu futuro foi aquilo que se viu

Não ando cá para sofrer mas para viver
E o meu futuro há-de ser o que eu quiser»

Nunca mais o ouvi!
Acredita, não é sectarismo é incompreensão e alguma magoa!

O poema é muito bonito, Ary foi um bom professor!

GR

Maria disse...

Mesmo tendo partido para outras paragens quero acreditar que continuamos do mesmo lado da barricada.
O que significa que, se for preciso, se acontecer outra vez, que se prendam todos os cravos (como dizia a Sophia) e o Fernando estará de novo ao nosso lado.
Este poema, como muitos outros dele e do Zé Carlos, fazem bem à alma!
Um abraço

GR disse...

E não nos digam como alguns dizem alguns comentadores políticos...
que, deveríamos deixar de ser comunistas.(...) Deixem de ser afirmativos, deixem de ser revolucionários(aconselham-nos), cortem com o passado, deixem de uma vez para sempre de falar na Revolução de Abril, na Reforma Agrária, na defesa do sector empresarial do estado, nas nacionalizações; acomodem-se.
(...)
Os Comunistas (digo eu GR)
não estão porém disposto a deixar de ser comunista, porque é por ser comunista que o povo e o país precisam dele. A luta leitoral e nas instituições não é a nossa única batalha. Consideramos determinante a intervenção, movimentação e acção das massas populares e seus movimentos de organização unitárias.

Álvaro Cunhal em CINCO CONVERSAS COM ÁLVARO CUNHAL de Catarina Pires, Campo das Letras,1999, página 151

GR

PC disse...

BOm dia camarada.Primeiro que tudo é um poema muito bonito.è verdade que mexe com sentimentos e com a condição humana..mas..eu tenho exactamente a mesma opinião da GR e ouvir Tordo só mesma cantando ary porque esse sim era vermelho e não virou as costas e estas mudanças de ideais são coisas muito dificeis de engolir.

Já Agora alguem sabe algo das posições do Luis Represas? e do Paulo de Carvalho? É que tenho duvidas acerca das posições dele..

Deixo-te um abraço fraterno e de apoio as causas que defendes em tribunais.

GR para quando um blogue? Já é a segunda vez que te digo isto.Estamos todos á espera.Um abraço para ti também camarada

Maçã de Junho disse...

ler as palavras de camaradas traz-me sempre força, levantam-me...
Cresci no meio de discos de vinil, de panfeletos da APU arrumados no meu quarto, de reuniões de sindicalistas envoltos em fumo, cresci no meio de sons que hoje me trazem o cheiro de infância!

Pedro, obrigado por premitires a leitura destas palavras, camaradas, obrigado por escreverem!

A vitória será, indiscutivelmente, nossa!
Maçã de Junho

Anónimo disse...

Será que me pode ajudar, Camarada?
Não sei se é do Tordo uma canção assim:
Que se passa?
Então isto não é uma ameaça?
Aqui andou mãozinha de reaça
Deixaram fugir mais 89...

Acredito que a conheça...
Obrigada

Unknown disse...

De facto, julgo que é do Tordo essa canção que denunciou a fuga concertada e devidamente preparada com a cumplicidade da reacção

Anónimo disse...

Meus queridos amigos bloguistas. Sou a actual mulher do Fernando Tordo (últimos 20 anos), chamo-me Eugénia e ainda não tinha lido este blog, pertenço a uma geração para a qual os blogs são uma novidade. Agradeço em nome do Fernando muitos dos elogios que aqui li, e gostava de esclarecer alguns equívocos: o poema do "Adeus Tristeza" é do Tordo e não do Ary. E o Tordo não se vendeu nem abandonou nenhuma causa, pelo contrário com a coragem que sempre o caracterizou esteve em Timor durante o tempo de guerra etc... Os media fazem omitem o que lhes interessa, e se nos distrairmos matam quem não lhes interessa, por mais coisas que faça. Relativamente à riqueza financeira do Fernando eu adorava saber onde está depositada para podermos usufruir de menos dificuldades. Aliás os artistas em Portugal, para terem uma imagem romântica de esquerda festiva, têem de ser pedintes (e somos) ou morrer então morrerem cedo. Qualquer dúvida podem-me pôr para meu email, porque estou disponível. eugenia.passada@netcabo.pt.
Gostava de saber o que pensam do nosso Prémio Nobel, porque ganhou milhares de contos??? Perdeu o génio?? Um dos CD´s últimos do Fernando tem coisas do Saramago e de outros génios da literatura do Mundo e de esquerda - ex: Neruda, Eugénio Montale, etc. Tb se venderam ??? Até breve amigos e espero ter contribuído para diminuir a mediocridade de alguns fanáticos.
Nota: será que alguns dos preciosistas da esquerda de fome não terá um carro topo de gama. E não será então, já, um escondido burguês?
Espero que este meu comentário não seja “censurado”. Não me escondo atrás de iniciais.
Bjs Eugénia

Anónimo disse...

Meus queridos amigos bloguistas. Sou a actual mulher do Fernando Tordo (últimos 20 anos), chamo-me Eugénia e ainda não tinha lido este blog, pertenço a uma geração para a qual os blogs são uma novidade. Agradeço em nome do Fernando muitos dos elogios que aqui li, e gostava de esclarecer alguns equívocos: o poema do "Adeus Tristeza" é do Tordo e não do Ary. E o Tordo não se vendeu nem abandonou nenhuma causa, pelo contrário com a coragem que sempre o caracterizou esteve em Timor durante o tempo de guerra etc... Os media fazem omitem o que lhes interessa, e se nos distrairmos matam quem não lhes interessa, por mais coisas que faça. Relativamente à riqueza financeira do Fernando eu adorava saber onde está depositada para podermos usufruir de menos dificuldades. Aliás os artistas em Portugal, para terem uma imagem romântica de esquerda festiva, têem de ser pedintes (e somos) ou morrer então morrerem cedo. Qualquer dúvida podem-me pôr para meu email, porque estou disponível. eugenia.passada@netcabo.pt.
Gostava de saber o que pensam do nosso Prémio Nobel, porque ganhou milhares de contos??? Perdeu o génio?? Um dos CD´s últimos do Fernando tem coisas do Saramago e de outros génios da literatura do Mundo e de esquerda - ex: Neruda, Eugénio Montale, etc. Tb se venderam ??? Até breve amigos e espero ter contribuído para diminuir a mediocridade de alguns fanáticos.
Nota: será que alguns dos preciosistas da esquerda de fome não terá um carro topo de gama. E não será então, já, um escondido burguês?
Espero que este meu comentário não seja “censurado”. Não me escondo atrás de iniciais.
Bjs Eugénia