sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Mais PCP!




Em 2010, sei-o bem, de todos os becos, das ruelas de cidades sitiadas, foi teu o eco rubro das bandeiras e as mãos nodosas que persistiram no caminho. Por saberes que a raiva isolada não mata a fome das crianças, nem salva os postos de trabalho, nem evita que desviem o dinheiro para a Suíça, nem incomoda os bandidos que nos querem exangues, preferiste organizar os deserdados, insistir no clamor dos passos firmes, resistir, recusando o ancestral conformismo, a penitência.
Por isso, o meu desejo: em 2011, mais Partido, mais gente descobrindo o inigualável prazer de lutar, menos preconceitos contra a única organização política que sempre cumpriu o que se comprometeu a fazer. Mais honra e dignidade, mais PCP.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Poema Pedagógico: eis como salvar as crianças!

Por Eduardo E. S. Prado, em 12 de Maio de 2008


Recentemente eu li "Poema Pedagógico" de Anton Makarenko (S. Paulo, 2005 _ Editora 34). O livro é resultado do diário pessoal que o autor manteve quando foi diretor de um reformatório ucraniano, a Colônia Gorki, entre 1920 e 1928. Makarenko era um adimirador do celebre escritor russo Máxim Gorki, por isso batizou a colônia com seu nome. Gorki se correspondeu com Makarenko e seus internos por vários anos e chegou a visitar a colônia em 1928.
A história se passa logo após a Revolução Russa e no final da Guerra Civil. Esses dois eventos, somados à Primeira Guerra Mundial , entre 1914 e 1917 e à Guerra contra o Japão, em 1905, deixaram a economia do país praticamente arruinada. Assim que o Governo Revolucionário conseguiu certa estabilidade política tratou de reconstruir o país. Mas não se tratava apenas de reconstruir a economia, a nova ordem econômica e social, baseada no Socialismo, não tinha precedentes na História.


Era preciso construir, também, uma nova sociedade, em que o coletivo prevalecesse sobre o individual; em que a ética burguesa da busca do lucro e da ostentação apoiada nas diferenças de classes, desse lugar a uma nova: Operária, camponesa e igualitária. Em que não houvesse exploração de uns sobre os outros e em que todos tivessem acesso as mesmas oportunidades em igualdade de condições. Enfim, era preciso construir um “novo Homem” e essa construção deveria começar pela educação das crianças e dos adolescentes, pelos filhos dos camponeses _ praticamente todos analfabetos como seus pais; pelos filhos dos operários _ com pouca ou nenhuma instrução e pelos menores abandonados; meninos e meninas de rua, boa parte já comprometida com o mundo do crime. Era por estes últimos que o pedagogo Anton Semionóvitch Makarenko, então com 32 anos, deveria começar a por em prática a educação socialista.

Cartaz soviético -Victor Koretsky
Makarenko não tinha nenhuma experiência na educação de menores infratores, nem mesmo os professores, contratados pelo governo revolucionário, tinham qualquer idéia de como educar esses garotos e garotas. A idéia do Departamento de Educação do novo governo era que o sistema capitalista, que imperou na Rússia até a Revolução, era o responsável pelo estado de miséria humana que arrastou essas crianças e adolescentes à criminalidade, ou seja, os menores infratores não deveriam ser considerados criminosos, mas sim, vítimas do sistema às quais era devida uma reparação.
Makarenko
Não demorou muito para Makarenko perceber que os manuais pedagógicos
simplesmente não funcionavam para a sua realidade, e isto porque não previam cobrança, recompensa, estímulo ou punição. Ele chamava os pedagogos de seres do Olimpo, por viverem nas núvens, distantes da realidade, e considerava as teorias pedagógicas vazias, sem possibilidades de aplicação prática. Sem temerem conseqüências ou esperarem qualquer recompensa os internos não tinham nenhum interesse em respeitar as regras da Colônia, muito menos em aprender alguma coisa. Até mesmo a segurança dos educadores ficava comprometida na maioria dessas colônias onde professores e funcionários tinham medo dos colonistas e estes dominavam as instituições, fazendo nelas o que queriam.


Depois de passar uma noite trancado em seu dormitório por medo dos próprios alunos, Makarenko decide trabalhar de modo intuitivo, disciplinar nos moldes dos destacamentos militares, mas flexivel, e sem ficar preso as convenções dos manuais pedagógicos. Não foi nada fácil. No começo os internos reagiram, mas vendo que o diretor estava irredutível alguns aderiram, outros preferiram fugir e passaram a praticar crimes na região. O Departamento de Educação via com preocupação e ressalvas _ e até mesmo com alguma inveja _ o modo como Makarenko dirigia o reformatório e chegou a lhe impor algumas dificuldades, embora ele contasse com a simpatia de algumas pessoas influentes. Makarenko também se questionava muito sobre os resultados da sua metodologia e por várias vezes pensou em desistir, mas decidiu continuar e aprender com os erros. Acabou chegando a conclusão de que não conseguiria educar delinqüentes juvenis se não houvesse cobrança por desempenho nem punição por indisciplina, mas também não adiantaria cobrar disciplina e estudo se não oferecesse nada em troca.


Disciplina, para ele, não era entendida como coerção ou imposição de normas rígidas de conduta, mas como a priorização do coletivo em detrimento do indivídual. Não de qualquer coletivo, mas de um coletivo harmonioso, pois só dentro de um coletivo harmonioso e feliz seria possível frutificar uma ética socialmente saudável. Ao longo de oito anos Anton Makarenko procurou "construir" um ambiente onde os educandos se sentissem parte dele. Era no coletivo que as demandas eram discutidas e providenciadas e era dentro dele que os problemas deveriam ser enfrentados e resolvidos. Os responsáveis por faltas mais graves, como furtos ou vandalismo, eram julgados pelos próprios companheiros numa espécie de assembléia, chamada por ele de Conselho de Comandantes, que decidia se o infrator era culpado, se deveria ser punido e qual a pena. Decisão que era sempre respeitada por ele. Gradativamente, os internos foram se convencendo de que a disciplina e o respeito mútuo revertiam para o bem estar deles próprios.


Câmera fabricada em pelos internos da colônia Dzerzhinsky,
para menores infratores, também dirigida por Makarenko
.
Em poucos anos a colônia se tornou auto-suficiente. Fabricava-se de tudo, o excedente era vendido e o lucro era reinvestido na colônia. Os jovens trabalhavam metade do período e estudavam na outra metade, sendo que o empenho deveria ser satisfatórios nos dois turnos. Não se tratava apenas de trabalhar por trabalhar, havia toda uma filosofia de progresso e crescimento que não se separava da educação. Makarenko não formou fabricantes de cabos de vassouras, mas médicos e aviadores, ainda que também saíssem de sua colônia exímios marceneiros, eletricistas e torneiros. A primeira câmera fotográfica da União Soviética foi fabricada dentro de uma colônia dirigida por ele.


A dificuldade em trabalhar com aqueles jovens levou o autor a tratar educação e instrução como coisas diferentes. “Instruir é educar, mas educar não é, necessariamente, instruir”. Há uma diferença entre educar um ser humano para tornar viável sua vida em sociedade e instruí-lo para a ciência e o trabalho. Era preciso oferecer muito mais que quartos aquecidos, roupas limpas e boa alimentação, os internos precisavam de garantias de que teriam uma vida rica em possibilidades. Depois de muitas reuniões, discussões e quase dois anos de frustrações, Makarenko conseguiu vagas nos cursos superiores para os internos da Colônia Gorki que se destacassem nos estudos. Aos outros, que não ingressassem no ensino superior, ficava garantido um ensino profissionalizante.


Apesar de suas conquistas Makarenko recebia pesadas críticas de pedagogos e do Departamento de Educação que consideravam suas normas de disciplina rígidas demais e também por ele não seguir as orientações pedagógicas. Percebendo que essa indisposição contra ele já estava prejudicando seus colonistas ele pediu demissão do cargo de diretor da Colônia Gorki, passando a se dedicar a colônia Dzerzhinsky onde teve seu trabalho reconhecido .
"Poema Pedagógico" é uma leitura indispensável para quem trabalha na área de educação. Embora o livro trate do universo dos reformatórios soviéticos do início do século XX, e dentro de um contexto bem particular que foi a implantaçao do Socialismo na União Soviética, a experiência transmitida pelo autor pode ser muito útil para professores e educadores de hoje. As personagens juvenis que povoam o livro são tão humanas e complexas quanto qualquer adolescente do século XXI e o mesmo vale para os educadores, na maioria muito bem intencionados, mas sem preparo para lidar com meninos e meninas com tantos problemas e com interesses tão divergentes e contraditórios.


Como pensava Anton Makarenko, em se tratando de educação, principalmente de adolescentes, não existe fórmula pronta, por isso devemos levar em conta que na época em que o livro foi escrito a sociedade soviética, como um todo, estava empenhada na reconstrução do país, o que só seria possível através da educação, e esta era a prioridade número um do governo, que entendia ser a única maneira de consolidar a Revolução e concretizar seus ideais.
Os educadores de hoje enfrentam desafios semelhantes, mas ao contrário de Makarenko não podem contar com o empenho do Estado. O tema Educação esta presente todos os dias na mídia, que se mostra mais preocupada com a falta de mão de obra qualificada do que interessada numa educação de qualidade voltada para a cidadania. E, apesar dos discursos, a educação pública não é prioridade. Jornalistas, Políticos, empresários e economistas são chamados a apontar soluções enquanto os professores, que realmente vivenciam a realidade do sistema, não são ouvidos e assim como Makarenko são o alvo das críticas.


INFO. para quem sabe russo, o livro está disponível em http://sovietpsyhology.narod.ru/makarenko_ped_poema.htm

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

As crianças de Leningradsky


Esta madrugada, o canal Odisseia passou o documentário que dá título a este artigo. Tarde, como convém ao sossego das nossas consciências e aos propósitos de vigaristas, como José Milhazes, que da Rússia pós-soviética só dizem maravilhas. Dirigido e produzido por Hanna Polak e Andrzej Celinski, o documentário aborda o terrível quotidiano das crianças russas, evidenciando as mais de trinta mil que vivem em estações de metro e ruas de Moscovo.
Crianças, algumas ainda bebés, diariamente agredidas, abusadas sexualmente, sem comida, sem roupa, sem escola, sem família. Crianças órfãs de pais vivos, vítimas do monstruoso sistema capitalista, perseguidas brutalmente pelo regime, obrigadas a viver nas tubagens subterrâneas de água quente para poderem sobreviver ao frio de mais de 30 graus negativos.
 
Crianças viciadas em vodka, em cigarros e em cheirar cola. De contacto. A mesma cola que um polícia cobarde, um nazi de medvedev e putin despeja, a determinado momento do documentário - todo ele com imagens reais - sobre a cabeça e rosto de um menino.
Vivi na URSS. Em nenhum país do mundo as crianças eram tão respeitadas. Não havia uma só criança a viver na rua ou com fome. A rede de creches e jardins-de-infância abrangia todas as famílias, as escolas garantiam a igualdade de oportunidades e o acesso às universidades ou institutos, de acordo com as preferências e motivações de cada estudante.
Mas veio o bando do Gorbatchov, do Yeltsin e dos Roman Abramovitch e do grande país resta este retrato doloroso, este retorno ao tempo dos czares.
 
Dizem que o Natal está aí. Mas para os meninos da imensa Rússia acabou em 1991. 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Que orgulho!


Quando procuro a recordação primeira do PCP, a memória leva-me à Feira da Brandoa, em 1975. Na tribuna de um palco simples, Octávio Pato discursava e apesar do escasso entendimento político que 11 anos de idade permitem, conservo a alegria, inexplicável, que as suas palavras me provocaram. Foi o primeiro dirigente, O primeiro herói comunista que conheci. Depois vieram as palavras agrestes, as acções terroristas contra o Partido, fustigado por assassinos sem escrúpulos como os terroristas da Codeco, o padre de Paimogo, ali nos arredores de Peniche, a execrar  o PCP e a ordenar que o povo votasse nas setinhas do ppd, por “apontarem o céu”.

Em Pina Manique, a secção da Casa Pia onde nessa altura estava, os alunos mais velhos chamavam-me comuna. Recordo-me de procurar argumentos para justificar a superioridade do socialismo. Aos 12 anos entrei no primeiro centro de trabalho do PCP: o glorioso centro de Alcântara, onde aprendi anos mais tarde, já operário, princípios que, espero, me norteiem para o resto da vida.

Desse tempo guardo uma certeza: os melhores professores, os melhores educadores, os melhores funcionários, eram os comunistas. No abandono a que a Casa Pia estava, só eles, poucos é verdade, se importavam connosco. Ainda conservo resquícios da alegria sentida ao fazer, com outros alunos, o jornal de parede. Ou a pintura de armários velhos, para usarmos na sala de aulas, organizada com a notável e progressista professora Adelaide Tereno.

Depois, encontrei, por mero acaso, o jornal “O Diário”, bastião de resistência, onde, se não aprendi a ler descobri a olhar o mundo sob a perspectiva da classe a que pertenço. Obrigado, por todos, ao Miguel Urbano Rodrigues.

Fui operário até aos 30 anos. Durante mais de dez anos, fui sucessivamente eleito pelos trabalhadores meus colegas para os representar. Sabiam que ao votar em mim elegiam um comunista. E eu sabia que ao ser eleito, para ter sucesso me bastava exercer as minhas funções de acordo com os princípios que o Partido nos transmitia: agir sempre em defesa de quem trabalha, dos seus direitos e aspirações. Trabalhar para aumentar a produção e a produtividade e actuar sempre de forma a poder olhar, olhos nos olhos, cada trabalhador com a alegria de quem pode dizer: eu não traio, camarada!

A desastrosa destruição da Revolução de Abril, iniciada e fomentada pela dupla Soares/Carlucci, implicou a necessidade de resistência e combate ideológico. Os comunistas foram sempre perseguidos, atacados, mostrados pelo que deles pensam fascistóides e outros tratantes e não pelo que efectivamente são. E uma das linhas mais desenvolvidas a esse respeito, apontava a nossa alegada falta de conhecimento e impreparação. Como se a inteligência tivesse sido dada a toda a gente menos aos comunistas.

Por isso, para o operário que fui, encontrar um cientista progressista era fabuloso. Verificar que as nossas ideias não só têm aceitação generalizada como são partilhadas por pessoas que estão na vanguarda do conhecimento, é profundamente reconfortante. Ora, já licenciado em Direito desde 1994, senti há dias a mesma alegria ao escutar a Prof. Dra. Catarina Casanova numa entrevista ao Arestas de Vento, cujo endereço aqui deixo à laia de convite (http://arestasdevento.podomatic.com/entry/2010-11-28T10_31_49-08_00) . E ainda há quem julgue que a História acabou.