sexta-feira, 28 de julho de 2006

Isto anda tudo ligado!



Segundo o Correio da Manhã de hoje, “Alípio Ribeiro, director nacional da Polícia Judiciária (PJ), mandou instaurar um processo disciplinar aos inspectores que investigaram o processo de pedofilia da Casa Pia, Rosa Mota e Dias André, que, em Tribunal, acusaram o director Artur Pereira de interferir na investigação para proteger Carlos Cruz.
Ainda segundo o jornal, “O Tribunal da Relação de Lisboa considerou ilegais as buscas e apreensões à Redacção do ‘24Horas’ no âmbito do caso ‘Envelope 9’. Rodrigues Simão e Telo Lucas (relator), dois dos três juízes que assinam o acórdão da 3.ª secção, tiveram também intervenção na libertação e na não pronúncia de Paulo Pedroso no âmbito do megaprocesso de pedofilia da Casa Pia.
Simão presidiu ainda ao colectivo que confirmou a decisão da juíza de instrução de não levar o ex-deputado a julgamento e, a par de Telo Lucas, decidiu soltar Jorge Ritto em Abril de 2004.·
Ontem, os mesmos desembargadores deram parcial provimento ao recurso dos jornalistas do ‘24horas’ e declararam a nulidade das buscas e das apreensões efectuadas no âmbito do inquérito ‘Envelope 9’ instaurado pela Procuradoria.”

No passado dia 19, também fui constituído arguido na sequência de queixa apresentada pelo fidalgo Paulo Pedroso. Motivo: declarações alegadamente prestadas por mim em tribunal.
Pedro Strecht, Catalina Pestana; Felícia Cabrita; António Balbino Caldeira; e todos quantos ousaram posicionar-se do lado das vítimas estão a ter tratamento semelhante. A coisa promete: por mim estou já a reler "A defesa acusa!", obra que narra a coragem dos que, nos tribunais plenários, denunciaram a perversidade do fascismo e da pide.
Faltando ainda tanta gente testemunhar, estes anúncios de procedimento criminal não podem ter senão um efeito intimidatório. A que é preciso responder com determinação, porque sempre falámos verdade. A luta continua!

terça-feira, 25 de julho de 2006

Assassinos!

Soldados israelitas, comandados por uma corja de assassinos, semeiam a morte e a destruição, no Líbano e na Palestina. Escribas portugueses, ávidos de sangue, tecem longos panegíricos aos assassinos e pedem mais. Mais sangue, mais morte, mais dor. Assim mostrando que a propaganda pode ser parte integrante do arsenal terrorista. Sempre pronto a disparar contra a Paz, contra o desenvolvimento social, contra os que persistem em fazer da dignidade uma forma de vida.
Estes bandalhos, iguais aos que por esse mundo sempre se dedicaram a lamber o rabo aos donos poderosos, usam e abusam de adornos e argumentos formais para embrulhar a ignomínia. Mas na verdade são cúmplices dos assassinos israelitas. Cada gota de sangue derramada é também responsabilidade sua.
Olho as fotografias do horror: prédios esventrados, milhares de feridos e mortos, tantas crianças assassinadas – e as que sobrevivem, meu deus, como padecem – e não me sai da cabeça a voz de infames cultores do ódio pedindo a Israel que prossiga a ofensiva nazi. Na sombra, coniventes patrocinadores da barbárie babam-se de gula pelo o momento em que as respectivas empresas serão chamadas à tarefa de reconstruir as infraestruturas agora destruídas.
A verdadeira natureza da besta, criada com desvelo pelos nazis norte-americanos, surge representada na foto em que crianças e adolescentes israelitas autografam bombas que no Líbano vão aniquilar outras crianças como elas.

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Por que mente Teresa Costa Macedo?

A jornalista Felícia Cabrita referiu em tribunal, no passado dia 10 de Julho, que a ex-secretária de Estado da Família Teresa Costa Macedo lhe forneceu, baseada em relatórios dos anos 80, uma lista de figuras públicas implicadas no abuso sexual de menores.
Logo a senhora, sentindo-se acossada pela verdade, veio desmentir a jornalista. Sucede, porém, que estive presente no estúdio da SIC, quando Teresa Costa Macedo entregou à jornalista o papel com o nome de tais personalidades. Por isso, não tenho dúvidas em afirmar: Teresa Costa Macedo mente!

Mas, e esta é a verdadeira questão, por que mente a senhora? A quem serve a mentira? Revisitemos o início do designado processo da Casa Pia e as declarações que a ex-secretária de Estado produziu quando pretendeu surgir como a paladina da luta contra a pedofilia. Dessas declarações resulta claramente que a senhora sempre afirmou conhecer os nomes de alguns criminosos que exibem virtudes publicamente, mas em privado abusam sexualmente de crianças:

1. Ao Expresso de 23 de Novembro de 2002, afirmou que as investigações à Casa Pia poderiam revelar a existência de uma vasta rede de pedofilia. Aparentemente contristada, lamentou na ocasião não ter conseguido, quando exerceu funções governativas, inculpar Carlos Silvino, apesar de este, como admitiu, já estar referenciado como pedófilo. Considerou igualmente que os esforços feitos pela PJ teriam esbarrado então com um muro de indiferença pelo facto de, “haver nomes muito importantes envolvidos” e afirmou, resoluta, que “Carlos (Silvino) era o principal agenciador de crianças para as pessoas ilustres deste país”.
2. Ao Diário de Notícias de 26 de Novembro de 2002, garantiu que o director da PJ, “ é que tem a obrigação de analisar tudo o que aconteceu nestes vinte anos”, porque, segundo asseverou, dispunha de todo o material para investigar e acusar. Referiu saber os nomes dos pedófilos: “Os nomes que sei são os nomes que os meninos deram” e a jornalista acrescenta, “Teresa Costa Macedo também terá visto fotografias e guardado dois relatórios”.
3. Ao Correio da Manhã de 26 de Novembro de 2002, Costa Macedo afirma-se a única pessoa com memória e garante ter em sua posse relatórios que alega ter entregue à PJ e que envolvem “dezenas de homens”. E acrescenta mesmo que, “com excepção do Bibi, de todos aqueles de quem recordo o nome, nenhum deles até hoje respondeu na Justiça”. Segundo o jornal, a ex-governante, disse estar indignada pelo facto de ser a única a recordar-se, entre os antigos titulares de cargos ministeriais, do desaparecimento de várias crianças da Casa Pia por um período de 15 dias. Crianças que posteriormente foram encontradas na casa de um diplomata, no Estoril. Macedo explica que foi a partir deste caso que chegou ao que descreve como “uma grande rede de pedofilia que envolve gente importante do nosso país” e em que Bibi era apenas o angariador de meninos. Afirmou igualmente ter recolhido fotografias em casa do diplomata onde foram encontradas as crianças, nas quais reconhecera um homem, apesar de só ter visto duas fotos, por serem “horríveis”. Por esta altura eu já tinha estado com Teresa Costa Macedo em pelo menos dois canais de televisão e ouvi-a dizer, reiteradamente, que possuía fotos que guardara num cofre cujas chaves não encontrava... E três relatórios, dos quais só entregaria dois por enquanto. De facto, quando foi ouvida na Polícia Judiciária, Teresa Costa Macedo só entregou dois relatórios. Esquecendo igualmente as fotos, nas quais, como afirmou, se reconheciam personalidades diversas.
4. Na edição de 29 de Novembro de 2002, o Jornal de Notícias informa que Costa Macedo recusa revelar os nomes das personalidades envolvidas no escândalo de pedofilia, mas garante que tem um trunfo escondido. Guarda um terceiro relatório, que diz respeito à gestão da Casa Pia e que terá, também, revelações surpreendentes. “Irei torná-lo público quando julgar conveniente”, afirmou então.
5. Em entrevista ao “Euronotícias”, publicada a 29 de Novembro de 2002, declarou surpreendentemente, estar convencida que a rede de pedofilia associada à Casa Pia, “esteve activa até há três dias”. E reafirma ter visto “duas ou três” fotografias de pessoas conhecidas, esclarecendo mesmo que “A primeira tinha um estrangeiro, a segunda duas crianças nuas, com eles completamente nus e uma terceira só com os meninos nus”.
6. No dia 3 de Janeiro de 2003, em declarações ao DN e referindo-se ao que foi encontrado em casa de Jorge Ritto, afirmou: “Na altura, apreenderam-se fotografias, dinheiros, material fotográfico. Deixaram lá a máquina fotográfica”. Desejando saber a jornalista como se referiam os miúdos aos pedófilos, respondeu que “alguns com apelido, que eram os conhecidos, principalmente da comunicação social, e os embaixadores e isso tudo, o senhor francês, o senhor do consulado... O melhor é investigarem quem é que em 1983 estava nos postos e foi imediatamente mandado retornar ao país. Encontram aí muitos diplomatas.”
Afinal, o que pretende TeresaCosta Macedo? Não lhe bastou ter gerido com inaptidão e insensibilidade a Casa Pia de Lisboa, o que significou para centenas de crianças órfãs, a fome, o abandono, os maus tratos e posteriormente a expulsão da instituição que os havia acolhido e até mesmo a morte. Não lhe bastou ter perseguido o mestre Américo? Como evidenciou José António Cerejo, num excelente artigo escrito no Público de 7 de Fevereiro de 2003, Teresa Costa Macedo foi até ao Supremo Tribunal Administrativo para castigar o mestre Américo e só comunicou à Polícia judiciária o que sabia, catorze meses depois do mestre o ter feito e – note-se bem! - cinco meses depois de as crianças terem sido encontradas em casa de Jorge Ritto." A quem protege Teresa Costa Macedo?

quinta-feira, 6 de julho de 2006

OS EQUÍVOCOS DE PACHECO PEREIRA

"A contestação da classe operária como a única classe verdadeiramente revolucionária, a contestação da sua missão histórica como coveira do capitalismo e criadora da sociedade socialista, a contestação do partido do proletariado de tipo leninista, tornam-se pontos centrais da ideologia e da actividade do radicalismo pequeno burguês de "opção socialista"".

(...) "No plano político, em vez do estudo objectivo e científico dos fenómenos sociais (possível somente na base do marxismo-leninismo), manifesta-se o subjectivismo, a tomada da parte como todo, a tomada de aspectos superficiais, derivados, acidentais e episódicos do desenvolvimento social como se fosse a raiz dos acontecimentos ou a força motora dos processos".

Estas palavras foram escritas por Álvaro Cunhal em Novembro de 1970. E publicadas clandestinamente em 1971 no livro Radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista. Dirigiam-se, entre outros, ao então "revolucionário" marxista-leninista-estalinista-maoísta José Pacheco Pereira. Assentam que nem uma luva ao actual "historiador", militante do PPD/PSD e defensor do capitalismo, JPP. Não cabe no âmbito deste artigo a resposta, ponto por ponto, ao que PP tem vindo a publicar sobre Álvaro Cunhal e o PCP. Por um lado, porque partilho a tese do Álvaro que "Deturpações e falsificações não merecem em geral desmentido." (in ob. cit.). Por outro, porque entendo que os escritos de PP não são o fim da história. Outros virão...
Os três volumes até agora publicados de Álvaro Cunhal: Uma Biografia Política, têm dado origem a numerosos elogios, nalguns casos desmedidos. São José Almeida e Miguel Portas, para não citar outros, conhecem da história do PCP e da dialéctica da história o suficiente para não serem tão categóricos quanto aos méritos em causa.

Não está em causa a qualidade literária. É sabido que algumas das maiores falsificações da história foram servidas em belas prosas. Veja-se, p. ex., Plutarco sobre Cleópatra. Não está em causa a capacidade de trabalho. Não me consta que os ideólogos mais retrógrados e reaccionários fossem preguiçosos ou pouco diligentes. Não está em causa o acesso a arquivos. Que aliás o episódio Suslov bem demonstra. Nos arquivos soviéticos não figuram as suas deslocações ao estrangeiro. E no entanto elas tiveram lugar!
Não estão em causa as fontes. Privilegia-se Vasco Carvalho e a PIDE? É uma opção que nem sequer é virgem.

O que está então em causa? Não é certamente a forma, que é de elevada qualidade.
A questão é de conteúdo. PP não utiliza o método dialéctico, mas sim o silogístico. Não parte da análise concreta da realidade concreta para as conclusões. Não distingue o essencial do secundário. O seu percurso é precisamente o inverso.
Para PP há uma série de teses por ele criadas de antemão que há que demonstrar obrigatoriamente:
- A História do PCP está por fazer. Por parte do PCP, o que existe é sobretudo hagiografia, pontuada por algumas histórias de santos, mártires e vitórias, e por isso mesmo cheia de ensurdecedoras lacunas (Luís Filipe Rocha dixit, mas podia ser PP).
- No PCP houve sempre luta pelo poder. Ela teria sido mesmo o fio condutor da sua actividade política.
- Dirigentes com capacidade só os de origem intelectual (Cunhal e Fogaça). Os outros eram meros tarefeiros.
- O papel da PIDE e da repressão durante o fascismo, nomeadamente no dia a dia dos comunistas, são questões secundárias. Ou quase.
- A verdade é só uma: o PCP não fala verdade. PP sim!

Os factos não correspondem, no essencial, a este esquema? Citemos de novo Álvaro Cunhal:
"Os teorizadores pequeno-burgueses fazem afinal como o maledicente da fábula, que, criticando o projecto de uma casa e pretendendo "provar" que a casa era par toupeiras e não para homens, escondeu que no projecto estavam indicadas largas janelas; e logo afirmou que os arquitectos eram uns utopistas ao indicarem janelas no projecto, pois as toupeiras jamais construiriam casa semelhante. Contra tais argumentos batatas!".

Como o biografado é Álvaro Cunhal deixemo-lo desmontar algumas das teses queridas a PP e que perpassam linearmente pelos 3 volumes:
Em Junho de 1971 a Revista Internacional publicou um artigo de AC "Algumas experiências de 50 anos de luta do PCP". PP certamente que o leu.
Nele se apontam as razões do êxito do PCP: partido operário; marxista-leninista; capacidade para se colocar à frente das lutas dos trabalhadores e das massas populares; criação e consolidação da organização clandestina; recurso a formas legais e semi-legais de organização e acção; ter forjado sucessivas gerações de militantes revolucionários; defensor do socialismo e da causa internacional da classe operária.
Mas em relação a todos estes pontos e a cada um deles Álvaro Cunhal aponta os erros cometidos. "Ilude-se e ilude os trabalhadores, qualquer partido que pretenda que nunca erra ou pretenda esconder os próprios erros.". E mais adiante "Na vida do nosso Partido pagámos caro alguns erros".
Segue-se uma extensa lista de erros de análise política, de trabalho conspirativo, de métodos de acção e de organização. Ao longo de 50 anos.
O texto escolhido foi este. Mas podia ter sido o Rumo à Vitória, A tendência anarco-liberal no trabalho de organização, os relatórios da actividade do CC ao III, ao IV ou ao VI Congresso. Neles se encontra sempre a mesma análise dialéctica: sucessos e erros, vitórias e derrotas, avanços e recuos, heróis e traidores. Hagiografia? Só para rir!
Das duas uma. Ou o retrato resumido de 50 anos de PCP elaborado por Álvaro Cunhal é uma falácia completa e uma mentira pegada, ou as coisas não se poderiam ter passado como PP nos que fazer crer. Ou ainda, dirão alguns, algures no meio é que está a verdade.
Luta pelo poder para quê?
O PCP era um partido clandestino. Perseguido pelo regime fascista e pela PIDE. Os seus dirigentes e militantes eram assassinados. Ou presos, torturados e condenados a longos anos de prisão. Quanto maior a responsabilidade maior a pena de prisão.
A alternativa era desistir da luta, denunciar camaradas, passar-se para o inimigo. Houve, obviamente, quem o fizesse.
Lê-se PP e fica sem se perceber onde ficava espaço, mesmo temporal, para organizar o PCP, a luta dos trabalhadores, as greves, as manifestações, a distribuição da imprensa clandestina, o derrube do fascismo. Seria apesar de? "
António Vilarigues -No Público de 2/1/2006