segunda-feira, 26 de junho de 2006

Esclarecimento pelo povo timorense


Do blogue ANÓNIMO SÉC: XXI, retirámos o seguinte texto escrito por Sérgio Ribeiro:

"De Timor-Lorosae algo sei...

Quando fui parar a Bruxelas e Estrasburgo em tarefas no Parlamento Europeu, calhou-me, em substituição do Carlos Carvalhas, ser vice-presidente da delegação PE-Nações Unidas. E, nessa (duvidosa) qualidade, logo fui a Nova Iorque, onde tem sede a organização que das nações unidas se chama.Passo, agora, sobre as peripécias peripatéticas para que um deputado eleito pelo povo português, proposto nas listas do PCP, tivesse o visto para os Estado Unidos, onde Nova Iorque fica e onde fica a sede da ONU, pois recusei-me a responder – num mesmo sim ou não! – se era comunista, terrorista, homossexual, portador de doenças transmissíveis, se fora condenado por crimes nazi-fascistas e mais coisas. O resultado é que, após murros na mesa e esperas de castigo, consegui o tal visto e lá fui, visto que obtive o visto. Com uma anotação alfabética que fez com que a minha entrada nos States fosse demorada e penosa. Adiante…
Em cada reunião em que participei, fui colocando questões sobre Timor Leste. Tantas pus que, às tantas, o senhor Perez de Cuellar, então secretário-geral das Nações Unidas, que até fazia gala em lembrar as suas familiares relações com Portugal, me proporcionou uma conversa a sós com o seu (se me lembro da função) secretário-adjunto encarregado de Timor.A conversa foi elucidativa. Naquela horita fiquei a saber mais sobre a armadilha da simultaneidade de eleições em Timor, enquanto região da Indonésia, com um referendo sobre autonomia, e outras “habilidades”, que em dias de leitura e estudo embrulhados em documentos e relatórios.Não que tivesse ficado satisfeito com o que soube. E menos o quis guardar para mim.
No regresso a Bruxelas, dada a informação a quem considerava responsável pela minha tarefa, logo procurei divulgar o que seria de divulgar pela via da comunicação social. Falei para a Lusa e para outros órgãos de comunicação social.Depois, em Lisboa, provoquei uma reunião na comissão da AR para Timor, na presidência de Eduardo Pereira, informei do que soubera, tive um debate frutuoso com intervenção relevante de Sousa Lara, fui ao CIDAC e outros, procurei que o que sabia ajudasse a melhorar a luta contra o que pretendia esmagar o povo de Timor-Leste. Desde 1975, desde que ele começara a ter condições, fora do quadro colonial, de se afirmar como povo que era. Que falava e rezava em português.
Após o massacre de Santa Cruz, em Bruxelas e Estrasburgo fui dos que contribuíram para que lá tivessem ido os jornalistas que tinham presenciado o massacre, no quadro das iniciativas do Intergrupo Timor-Leste, que animei quanto me foi possível, procurando que não estiolasse em guerrilhas de influência partidária e penachos de presidências, tendo para ela convidado Simone Veil, primeira mulher presidente do Parlamento Europeu (1979-82), com um leque de vice-presidentes um por partido português representado em Bruxelas-Estrasburgo.
Os episódios que me saltam à memória, e susceptíveis de terem interesse para além de recordações pessoais, são muitos. Para agora, retenho as visitas de Ramos Horta ao Parlamento, a disponibilidade que tinha no meu gabinete, autenticamente colocado às suas ordens, a decisão de pagar a um timorense como lobbyista a custear pelos deputados, as “animadas” sessões de algumas comissões em que tive papel activo, convidando gente para falar ou interpelando gentinha como o timorense (?!) Martins da Cruz, hoje embaixador da Indonésia em Portugal, convidado por grupo excursionista ao Oriente, chefiado por um enorme e reaccionaríssimo deputado holandês com quem me cheguei a “pegar”, também a outorga do Nobel da Paz ao Ramos Horta, a minha participação, enquanto “deputado europeu” nos “festejos” no PE, a proposta do nome de Xanana para rua em Ourém e a mudança, por proposta minha, para rua Povo de Timor.
E, entretanto, vou acrescentando coisas – tantas! – que me chocam, que me/nos agridem.Como as que já coloquei neste blog. Como as que leio nos sempre esclarecedores artigos do Pedro Namora. Como não ver referido o que ouvi e me parece a mais ridícula das manobras neste atoleiro, que foi a do sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, o inefável Ramos Horta, na esteira do sr. Presidente da República, o não menos inefável Xanana Gusmão, vir anunciar ao corpo diplomático, e às instâncias com que está relacionado pelas funções ministeriais que tem e outras, que o sr. Primeiro Ministro, o alvo a abater Mari Alkatiri, se demitia e que ele próprio Ramos Horta iria voltar à Fretilin para não sei quê da moral e do crédito e do respeito por, e mais isto mais aquilo de que ele seria capaz de ser (e por ser) o agente.
Poucas vezes tenho sentido a ignomínia tão por perto. Pelo que vivi em tarefas parlamentares, talvez por ter tido Ramos Horta como inquilino no 3º andar da rua do Sol ao Rato, decerto porque o povo de Timor-Leste é dos mais massacrados da História. Na escala que é a sua, e na escala do petróleo que existe nas cercanias da terra que sua é e em que resiste heroicamente para que continue a ser. E resiste em português falando e indo à missa nas igrejas onde há traição enroupada de sotainas e sermões hipócritas.
De Timor Lorosae algo sei
Pelo Povo de Timor indigno-me
e sofro a impotência!"

sexta-feira, 23 de junho de 2006

O FIM DA HISTÓRIA


foto de Sebastião Salgado

"Não vive sangue nem esperança no silêncio frio dos deserdados", apregoam os que tudo podem enquanto afugentam as aves desavindas e a vertigem de tempo novo. Cínicos, evocam a humanidade nos livros. Toneladas de letras amontoadas contra a sua proverbial boçalidade.
Recitam pensamentos alheios, que repetem até à exaustão. Querem-se diferentes, novos, mas só transportam corações empedernidos de anjos domesticados em carris de luxo.
De ti esperam que não queiras a diferença, que te mostres cooperante. Que bajules os donos do mundo, devores o fígado e lhes lambas os pés. Que raches e desprezes a coerência. Cordeiro te querem, ao rebanho deves comparecer. Escravo em cifrões engravatado. Potro dócil de órbitas domadas. Ruminante de interesses imutáveis.
Quanto ao protesto? Que espere, resguarde-se no tempo, aguarde a sua vez. Os que podem decretaram a morte do futuro.
Há no entanto um pequeno contratempo: multidões persistem no punho içado contra a iniquidade, a miséria e a opressão. Por todo o lado se erguem as vozes clamando justiça, ávidos gritos inconformados, entoando em uníssono: o futuro é nosso, a luta continua!

O imperialismo joga forte em Timor-Leste

Empunhando a mesma cartilha que possibilitou a Pinochet assassinar Allende para satisfazer os interesses das multinacionais americanas, afectados pela revolução chilena, assistimos à conspiração organizada e desenvolvida por Xanana, – o mesmo Xanana que tudo fez para perdoar aos verdugos indonésios – Ramos Horta e sectores reaccionários da igreja, irmã gémea da que em Portugal abençoou os crimes contra os que pretenderam libertar Portugal do fascismo.
A desvergonha é tanta que adulam o golpista major Reinado, analfabeto cujo pensamento altamente elaborado guinchou há dias, referindo-se à FRETILIN, algo como “Não queremos comunistas em Timor-Leste”. Mesmo que tenham ganho as eleições por maioria absoluta…

Hoje na TSF, julgando-se certamente dona de Timor e do seu martirizado povo, Ana Gomes, deputada portuguesa eleita por um partido mascarado de socialista, decretou majestosa e imperial, ingerindo-se vergonhosamente na vida interna de outro país, que o Primeiro-ministro de Timor-Leste, legitimamente eleito, tem que demitir-se aceitando a provocação chantagista de Gusmão.
Ao que chegámos…Da mesma forma que Pina Moura serve Espanha, após ter sido ministro de Portugal, Ana Gomes oferece à Austrália faminta do petróleo timorense argumentos que justifiquem o perpetuar da invasão em curso.
Cabe ao povo de Timor-Leste solucionar os seus problemas e decidir o seu futuro, sem ingerências externas nem tutelas de cariz colonialista.

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Que tristeza!

O país está revestido de bandeiras, como outrora surgiu pejado de sereias e de inscrições boçais nas traseiras dos automóveis. Esta espécie de tendência para a imitação acrítica já não é sequer o que de forma inovadora marcou o Euro 2004. Desta feita, à esperteza saloia mas bem remunerada dos que só pensam cifrões, bastou associar o patriotismo aos feitos da equipa que na Alemanha nos representa, para multiplicar por muitos os cêntimos que custa cada pedaço do símbolo pátrio.

Que sucederá se, como é previsível e natural, a selecção nacional for derrotada um destes dias? Rasga-se a bandeira? Substitui-se por outra mais ganhadora? Acorda-se para a realidade de um país submetido ao neoliberalismo por um governo cobarde, travestido de socialista?

Que país é este onde se fecham maternidades por razões economicistas e os membros – pseudo-socialistas – de um governo mentiroso se passeiam pela Alemanha, à custa do erário público, comentando de forma alarve as incidências dos jogos?

Que país é este onde morre um intelectual como Mário Ventura Henriques e a alegada TSF abre a emissão do noticiário preocupada por não saber se jogaria o Ronaldo ou o Deco? Que nação é esta adormecida para os dramas de trabalhadores despedidos aos milhares, mas disposta a guerrear por excrescências envolvendo craques de futebol?

Onde colocar as bandeiras quando o país começar a arder? Sim, porque tem ardido todos os anos, a horas certas, perante a passividade negligente e cúmplice de sucessivos governos de direita.

Não nos respondem, porque nos querem anestesiados, domados, sem consciência. Apetece fazer, neste fascismo manso e torpe em que vivemos, o que faziam os antifascistas durante a ditadura: empunhar um pau sem bandeira. Hasteando dessa forma o inconformismo dos que não se vergam. A luta continua!

terça-feira, 13 de junho de 2006

Faleceu Fernanda Barroso


O PCP informou hoje « com profundo pesar o falecimento de Maria Fernanda de Sousa Barroso, funcionária do PCP e membro da Direcção da Organização Regional de Lisboa do PCP. Fernanda Barroso, engenheira técnica química, faleceu hoje, dia 13 de Junho, com 61 anos. Fernanda Barroso aderiu ao PCP em 1974 e era funcionária do Partido desde 1975. Como aluna do Instituto Industrial de Lisboa, participou nas greves estudantis de 1971/72 e foi delegada dos alunos nocturnos na Reunião Geral de Alunos (RGA). Colaborou com a Comissão Democrática Eleitoral (CDE) nas eleições de 1973 e participou no movimento católico antifascista. Depois do 25 de Abril de 1974 foi eleita para a Comissão Directiva Provisória do Instituto Industrial de Lisboa e fez parte da Comissão de Trabalhadores do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).
Integrou o Secretariado de Célula do PCP dos Trabalhadores do LNEC e, entre outras tarefas, foi responsável pelo Sector de Telecomunicações e pela Organização dos Trabalhadores da Função Pública da Organização Regional de Lisboa do PCP. Era membro da Direcção da Organização Regional de Lisboa do PCP desde 1979 e foi membro do Comité Central do PCP de 1979 a 1996. Fernanda Barroso foi companheira de Álvaro Cunhal durante mais de 25 anos.»
Faleceu hoje uma lutadora abnegada, como o Partido fez questão de destacar e esclarecer na nota distribuída à imprensa. Apesar disso, a comunicação social dominante optou por referir o falecimento fazendo alusão apenas ao facto, sem dúvida de assinalar, de Fernanda Barroso ter sido companheira de Álvaro Cunhal. Ora isso é profundamente injusto para a memória, que urge preservar, de uma portuguesa honrada que tanto lutou por um mundo melhor.
Porque trabalhei com ela no sector de empresas da cidade de Lisboa, não posso deixar de recordar aqui a sua imensa dedicação aos trabalhadores, a fraternidade com que se relacionava com todos os camaradas, a ternura, o carinho e a imensa sensibilidade com que tratava os militantes mais novos; a preocupaçaõ em saber a realidade com que cada um de nós se debatia. Em ajudar.
Morreu, pois, uma revolucionária. Maria Fernanda de Sousa Barroso. Militante comunista. Mulher digna, dedicada ao seu povo e à sua pátria. Realçando o seu exemplo, exprimo o meu profundo pesar.

quinta-feira, 8 de junho de 2006

Vamos ajudar!

Olá, nós somos: a Maria (5 anos), o Vasco (5 anos), a Magda (9 anos), o Elson (7 anos), a Elisabete (8 anos), a Catarina (11 anos), o Guilherme (4 anos), a Ana Catarina (7 anos), o Sebastião (4 anos), a Ana Tatiana (3 anos) e o Edmilson (8 anos).

Vivemos todos juntos numa casa muito grande e cheia de magia que se chama “Casa da Criança”. Esta casa situa-se em Tires em frente ao Aeródromo e junto das nossas mães que estão no Estabelecimento Prisional de Tires. A Fundação Champagnat (IPSS com sede em Lisboa) é a nossa grande madrinha, que com o Ministério da Justiça e a Câmara Municipal de Cascais, transformaram este sonho em realidade. Mas como somos muitos, às vezes precisamos de algumas ajudas e é por isso que vos estamos a escrever.
Muitos beijinhos dos meninos da Casa da Criança

Necessidades de Roupa


Magda (9 anos)- fatos de treino, calças, cuecas, meias e camisolas de Verão

Edmilson (8 anos)- fatos de treino, calças, cuecas, meias e camisolas de Verão

Elisabete (8 anos)- fatos de treino, calças, meias, cuecas e camisolas de Verão

Ana Catarina (7 anos)- fatos de treino, calças, cuecas, meias e camisolas de Verão

Elson (7 anos)- fatos de treino, calças, cuecas, meias e camisolas de Verão

Vasco (5 anos)- fatos de treino, cuecas, meias e camisolas de Verão

Maria (5 anos)- fatos de treino, calças, cuecas e meias

Henrique (5 anos)- fatos de treino, calças, cuecas, meias e camisolas de Verão

Guilherme (4 anos)- fatos de treino, calças, cuecas, meias e camisolas de Verão

Sebastião (4 anos)- fatos de treino, calças, cuecas, meias e camisolas de Verão

Ana Tatiana (3 anos)- fatos de treino, calças, vestidos, meias e camisolas de Verão

Todos- pijamas de Verão e Inverno, fatos de banho e chinelos de praia para o Verão

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Obrigado Vitor!

Nós somos
argila barro calcário
argamassa que une
tijolo a tijolo
pedra a pedra
a ponte o muro a casa o celeiro
o ferro a caldeira o aço
a charrua o arado o tractor
a grua o guindaste o elevador
esta oficina esta fábrica
a corda a linha
o tecido
que amassa nosso alimento
que protege o nosso corpo

Nós somos o caminho
a distância e o acontecimento
no instante ultrapassados
Sem nós
outra seria a mudança
outra seria a qualidade
outro seria o mundo
outras seriam as sementes

Desde sempre pela paz e pela liberdade lutamos
Não pela liberdade dos senhores e dos senhoritos
Não pela paz dos cemitérios
deserto da Roma imperial
Mas pela vida
Enquanto houver voz e mãos
Enquanto houver inteligência e vontade
Enquanto houver
um homem uma mulher
duas crianças


VITOR NOGUEIRA (do Barreiro a Setúbal, em 17 Janeiro 1985,
reelaborado em 13 Outubro 1985 e 01 Março 1989)