segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Diz-me com quem andas...

Há imagens de televisão bem reveladoras: Belmiro de Azevedo à mesa com Sócrates, degustando o cozinhado que vem desgraçando a vida a milhares de portugueses. E agora Cavaco jogando golfe com Balsemão. Coabitam maravilhosamente e a CIP agradece penhorada. Afinal, Cavaco e Sócrates não são senão empregados dilectos do grande capital. Cordeirinhos adestrados no cumprimento do que o amo lhes ordena. Podem por isso partilhar a mesa e o relvado onde são congeminadas as estratégias para destruir o que ainda resta de Abril.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Contra o maniqueísmo e a manipulação

Comunicado da Associação Sindical dos Juízes Portugueses

Como é do conhecimento público, no passado dia 16 de Janeiro de 2007 foi condenado no Tribunal Judicial de Torres Novas o Sr. Luís Manuel Matos Gomes, por crime de sequestro de uma menor nascida no dia 12 de Fevereiro de 2002, filha biológica de Aidida Porto Rute e de Baltazar Santos Nunes.

A Direcção Nacional da ASJP, face à repercussão pública do caso e à forma não inteiramente verdadeira como o mesmo tem sido noticiado pela comunicação social, considera ser seu dever prestar os seguintes esclarecimentos públicos:

1. Numa sociedade democrática e plural, tendo em conta que a transparência e a crítica são valores inerentes à legitimação democrática dos tribunais, é admissível que as decisões judiciais sejam sujeitas ao escrutínio dos cidadãos, assumindo aí a comunicação social uma função importante.

2. Essa discussão, contudo, deve assentar em bases factuais absolutamente verdadeiras e completas, de forma que a opinião pública possa formular um juízo esclarecido e livre de manipulações.

3. Procurando contribuir para esse esclarecimento, tendo em conta que os factos até agora transmitidos pela comunicação social estão incompletos e dão uma visão distorcida dos fundamentos da decisão do tribunal, a ASJP considera adequado tornar públicos os seguintes factos:

a) A menor nasceu fruto de um relacionamento ocasional entre Aidida Rute e Baltazar Nunes e foi entregue por terceiros ao arguido e esposa com três meses de idade, em Maio de 2002;

b) Até aos 11 meses de idade da menor, o arguido e esposa não regularizaram aquela situação de facto e só instauram processo de adopção em 20 de Janeiro de 2003, mas à margem do procedimento próprio, que seria junto da Segurança Social;

c) Porém, desde Outubro de 2002, tendo a menor 8 meses de idade, já o arguido sabia que estava a ser averiguada a paternidade biológica, pois nessa data o tribunal de menores ordenou a realização dos exames;

d) O pai da menor sempre afirmou em tribunal que assumiria a paternidade se os exames a confirmassem e disponibilizou-se para os realizar;

e) No mesmo mês em que o arguido e esposa instauraram o processo de adopção foram conhecidos os resultados do exame de paternidade;

f) Assim que teve conhecimento dos resultados do exame de paternidade, o pai perfilhou a menor, tinha ela então 1 ano de idade;

g) E logo nessa altura manifestou junto do Ministério Público o desejo de regular o exercício do poder paternal e de ficar com a filha à sua guarda e cuidado, tendo-a procurado junto da mãe, que lhe ocultou o paradeiro, só então vindo a saber, após sucessivas insistências junto do Ministério Público, que a filha se encontrava a residir com o arguido e esposa;

h) Contactou o arguido e esposa de imediato para conhecer a filha e levá-la consigo, mas estes recusaram e nunca lhe permitiram sequer qualquer contacto com a menor;

i) Desde então tem feito sucessivas e inúmeras diligências para contactar a filha, junto do arguido e esposa e junto do tribunal para aqueles efeitos, mas sem resultados;

j) No âmbito do processo de regulação do poder paternal o arguido e esposa recusaram também a visita da mãe da menor à criança;

k) No processo de regulação do poder paternal a mãe afirmou que a partir do momento em que começou a manifestar a vontade de poder ficar com a filha, o arguido e esposa a ameaçaram que era melhor ficar calada, sob pena de denunciarem ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras a sua situação de imigrante ilegal;

l) Em Setembro de 2003, tendo a situação de guarda irregular já um ano e meio, sabendo que estava averbada a paternidade na certidão de nascimento e que estava a correr processo de regulação do poder paternal, só então o arguido e a esposa se candidataram na Segurança Social como casal para adopção.

m) A Segurança Social, mesmo sabendo que decorria o processo de regulação do poder paternal e sem nunca ter feito qualquer diligência para procurar contactar e ouvir o pai biológico, requereu, em Março de 2004, a confiança da menor ao arguido e esposa, invocando abandono por parte do pai;

n) Entretanto, no processo de regulação do poder paternal, o arguido, assistido por advogado, não só foi ouvido, por ter a guarda de facto da menor, como foi notificado dos despachos aí proferidos, incluindo da sentença de 13 de Julho de 2004, que determinou a atribuição do poder paternal ao pai biológico;

o) Desta decisão interpôs o arguido recurso, que não foi admitido por razões processuais, tendo então sido notificado para entregar a menor, porque mesmo que o recurso fosse admissível essa decisão deveria ser imediatamente executada;

p) O despacho de não admissão do recurso foi confirmado no Tribunal da Relação de Coimbra, tendo o arguido interposto recurso para o Tribunal Constitucional, onde se encontra pendente há quase dois anos sem decisão;

q) Depois da sentença que atribuiu o poder paternal ao pai biológico, foram feitas sucessivas diligências e notificações para o arguido entregar a menor, sob pena de crime de desobediência, sistematicamente frustradas pelas suas mudanças de residência e pelo seu não comparecimento com a menor em tribunal;

r) O arguido, passados dois anos e meio, continua a recusar o cumprimento da sentença e a entregar a menor ao pai biológico;

4. O que esteve em discussão no julgamento de Torres Novas foi apenas o comportamento criminal do arguido e não a regulação do poder paternal da menor.

5. Assinala-se que a decisão do Tribunal de Torres Novas é uma decisão de primeira instância, susceptível de recurso e eventual modificação, pelo que não houve ainda uma pronúncia judicial definitiva sobre a acusação imputada ao arguido.

6. A ASJP espera que a comunicação social e as autoridades públicas saibam distinguir, de uma forma responsável, a discussão dos aspectos jurídicos do caso e as suas envolventes humanas.

7. Finalmente, a ASJP confia que a solução final dos processos terá em conta, sobretudo, o superior interesse da menor e que os tribunais, com transparência mas também com tranquilidade, saberão fazer uma avaliação correcta e ponderada desde importante e sensível caso judicial e humano.

Direcção Nacional, 19.1.07

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Para mim, é isto que Fidel representa

professor de Política Exterior da Universidade Johns Hopkins, Estados Unidos

" Quando tomei conhecimento da triste notícia da enfermidade de Fidel, estava pondo as últimas vírgulas de um ensaio sobre a política exterior de Cuba nas décadas de 1960 e 1970. Este é o meu ofício, sou historiador, e faz 15 anos que venho estudando a política externa da Revolução Cubana. Pus-me a pensar: o que representa Fidel para mim?

Imagens esparsas, fragmentos de frases que conheço de memória. As palavras de um amigo, Nelson Mandela, quando visitou Havana em Julho de 1991: "Viemos aqui com o sentimento da grande dívida que contraímos com o povo de Cuba." Que outro país tem uma história de grande altruísmo como o que Cuba manifestou em suas relações com a África?

E as palavras de um inimigo, Henry Kissinger, no último volume de suas memórias, quando se perguntava por que Cuba enviou seus soldados a Angola, no final de 1975, desafiando Brezhnev, que se posicionava contra; desafiando a África do Sul que tinha invadido Angola e cujas tropas estavam se acercando da capital Luanda e desafiando os Estados Unidos, que permaneciam em impúdico contubérnio com a Pretoria. Kissinger assinalava que Fidel "era talvez o líder revolucionário no poder mais genuíno daqueles momentos históricos". Fidel enviou seus soldados porque sabia que a vitória do Eixo do Mal - Washington e Pretória - teria significado a vitória do apartheid, o reforço do domínio branco sobre os povos da África austral.

A voz de uma mulher em Guiné-Bissau, recordando os médicos cubanos que conheceu há mais de 30 anos: "Eles realmente realizaram um milagre", observava. "Fico-lhes eternamente agradecida. Não só salvaram vidas como arriscaram as suas. Eram verdadeiramente generosos". Compunham as brigadas médicas voluntárias nas zonas guerrilheiras de Guiné-Bissau, de 1966 a 1974 até que Portugal colonial fosse vencido - e se encarregaram da atenção médica na região.

Uma tarde em Conacri, faz muitos anos, conversava diante do Ministério da Agricultura com um amigo cubano que ali vivia. Os agrónomos que dali saíam se aproximavam dele falando um espanhol fluente - tinham estudado, assim como dezenas de milhares de outros estudantes africanos, em Cuba, com bolsas de estudo fornecidas pela Revolução. Que outro país actuou alguma vez com tanta generosidade? Que outro país tem a história da Ilha da Juventude, onde estudaram tantos jovens africanos e latino-americanos?

O presidente Nyerere, da Tanzânia, ao visitar Cuba disse: "Não há lugar mais bonito debaixo do sol". Que outro país tem hoje em dia algo como a Escola Latino-americana de Ciências Médicas, onde milhares de estudantes de países do Terceiro Mundo, e até jovens pobres dos Estados Unidos, estudam gratuitamente? O desafio de Cuba é criar uma cadeia de solidariedade e que a generosidade e os valores que recebem da Revolução Cubana os devolvam e multipliquem, em futuro não muito distante, entre os pobres de seus países. José Martí dizia: "Com os pobres da Terra quero minha sorte lançar". Esta é a bandeira da Revolução Cubana.

Há, nos arquivos norteamericanos, um documento muito interessante: as notas taquigráficas de uma longa conversação de Fidel, em Dezembro de 1978, com dois emissários do presidente Carter. Tinham vindo exigir-lhe, da parte do presidente estadunidense, que Cuba retirasse suas tropas de Angola - ameaçada pelos racistas de Pretória - e deixasse de ajudar os movimentos de libertação de Zimbabué, Namíbia e África do Sul. Se Cuba acatasse, então os Estados Unidos poderiam afrouxar suas políticas contra Cuba. Fidel respondeu:

"Cremos que é profundamente imoral que os senhores utilizem o embargo como uma maneira de pressionar Cuba. Estamos profundamente irritados, ofendidos e indignados pelo fato de, durante 20 anos, os senhores terem usado o bloqueio para nos pressionar e exigir coisas de nós (...). Talvez deva acrescentar algo mais. Quero que os senhores não se equivoquem - não nos podem pressionar, corromper ou comprar (...). Talvez, por serem os Estados Unidos uma grande potência, pensem que podem fazer tudo o que lhes dá na gana, tudo o que pareça ser de seu interesse. Parecem estar dizendo que existem dois tipos de lei, dois tipos de lógica, uma para os Estados Unidos e outra para os demais países. Talvez seja idealismo de minha parte, porém, nunca aceitei as prerrogativas universais dos Estados Unidos, nunca aceitei e jamais aceitarei a existência de leis diferentes e regras distintas". E concluiu: "Espero que a história seja testemunha da vergonha dos Estados Unidos que, durante 20 anos, não permitiram a venda de medicamentos necessários para salvar vidas. (...) A história será testemunha de vossa vergonha".

Uma imagem me assalta, algo que nunca presenciei, mas li tanto na imprensa sul-africana, da Namíbia ou norte-americana daquele tempo, que quase parece havê-la vivido: os tanques cubanos avançando no sul de Angola em direcção à fronteira com a Namíbia, na primavera de 1978, para expulsar os sul-africanos de uma vez para sempre de Angola, com apoio das tropas cubanas, dos combatentes namíbios e unidades angolanas. Os generais do apartheid , a imprensa do apartheid, lançavam ameaças e alaridos de dor. Cruzariam os cubanos a fronteira, entrariam na Namíbia ocupada pelos racistas de Pretória? Foi para saber isto que o Secretário de Estado adjunto de Reagan para assuntos africanos procurou Jorge Risquet, o homem de proa de Fidel para a África. "Uma pergunta que surge é a seguinte ? disse ? Cuba tem a intenção de deter seu avanço na fronteira entre Namíbia e Angola, uma vez que suas tropas não estão muito longe dessa fronteira?"

Risquet, transmitindo com precisão a resposta de Fidel, replicou: "Eu não posso lhe dar essa resposta. Não posso lhe dar um sedativo, nem ao senhor nem aos sula-africanos. (...) Não disse que não vão se deter nem que vão se deter. Disse que não estão limitadas por nada e que somente podem ser limitadas por um acordo. Entenda-me bem, não estou ameaçando. Se lhe dissesse que não vão se deter, eu estaria proferindo uma ameaça. Se lhe dissesse que vão se deter, eu lhe estaria dando um sedativo, um tylenol e eu não quero nem ameaçar, nem lhe dar um calmante. (...) O que eu disse é que apenas os acordos (sobre a independência da Namíbia) podem dar as garantias". A África do Sul cedeu. Sob pressão das tropas cubanas, retirou-se de Angola e aceitou, em Dezembro de 1988, a independência da Namíbia a que tanto tinha aversão.

Há uma canção de Silvio Rodríguez que diz: "A Nicarágua lhes causa dor porque o amor lhes causa dor ..." Aos Estados Unidos, Cuba causa dor e muita. Dói-lhes porque os venceu, os humilhou. Por certo, não foram agressões cubanas. Baía dos Porcos, Angola, foram agressões dos Estados Unidos, contudo o império soberbo nunca a perdoou. E se vinga como pode, é a vergonha do covarde: com o infame bloqueio, para destruir as conquistas da Revolução Cubana - a saúde, a educação ...- e tratando de reescrever a história, mentindo, manipulando, a fim de apagar o papel de Cuba. Eu não conheço nenhum outro país para quem o altruísmo tenha sido um componente tão essencial em sua política exterior. Eu não conheço nenhum outro país, além de Cuba, que, por tantos anos, contra ventos e tempestades, tenha demonstrado tanta generosidade e valentia em sua política exterior.

Para mim, é isto que Fidel representa. "

Tradução de Max Altman

Texto retirado do blogue Kant_O_Ximpi

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

A bicharada

A condenação de um militar a seis anos de prisão por alegado sequestro de uma menor, uma criança de quatro anos que o militar pretende adoptar e se recusa a entregar ao pai biológico, foi o pretexto para que um vastíssimo leque de personalidades viesse a terreiro manifestar a sua preocupação e empenho.

De acordo com o jornal “Público”, as pessoas que fazem parte deste grupo que contesta a sentença do tribunal de Torres Novas têm experiência na área da protecção de menores.

Ao vê-los na televisão, tão empenhados, não pude deixar de pensar numa questão aparentemente simples: por onde andou a maioria desta gente, aliás, onde se escondeu esta multidão com “experiência na área da protecção de menores” quando por proteger estavam centenas de meninos da Casa Pia de Lisboa? Com honrosas excepções, por que não fizeram então as diligências que agora anunciam sem conhecerem uma linha do processo judicial? As crianças abusadas sexualmente são menos dignas de solidariedade? Temeram afrontar arguidos poderosos?

De todas as pessoas que vi agora, uma causou-me especial aversão: Maria Barroso. Quando se iniciou a investigação do designado processo da Casa Pia, na companhia do cônjuge ou a sós, sempre se pronunciou contra as vítimas, igualmente crianças.

De facto, a hipocrisia é medonha. Desejo que a menina fique com quem a ama e sempre cuidou. E que a bicharada que em torno do seu caso se movimenta, com interesses que nada têm a ver com os da menina, seja mantida a conveniente distância.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Pelo SIM!

Maria Tereza Verardo
Maria Jucinete de Souza

“Toda mulher em idade reprodutiva sabe o que significa a angústia do atraso da menstruação quando não se pretende engravidar. Por mais segura que esteja quanto aos métodos anticoncepcionais adotados, é impossível não ficar temerosa, pois nenhum método contraceptivo pode ser considerado 100% seguro. Apesar dessa realidade, é irrefutável que o uso de métodos de planejamento familiar reduz a possibilidade de gravidez indesejada.

No entanto, quando a gravidez acontece só existem dois caminhos: o parto ou o aborto. Dados encontrados na Internet, informam que seis em dez mulheres americanas que fizeram aborto experimentaram uma falha de contraceptivos. Cerca de 58% das que abortaram em 1990 usavam um método de contracepção durante o mês em que engravidaram. Somente 11% nunca tinham usado um método de controle de natalidade. Essa taxa se refere principalmente a mulheres jovens, solteiras, pobres, negras ou hispânicas, o que significa, naquele país, com um nível menor de informação.

(…)

Uma preocupação muito grande para todos aqueles que lidam com a temática do aborto, sejam as feministas ou os profissionais de saúde, é o alto índice de gravidez na adolescência. No Brasil, as pesquisas recentes indicam que este índice tem aumentado nos últimos anos. Dados levantados no SUS (Sistema Único de Saúde) indicam um aumento de 20% do número de partos em 1998 entre jovens de dez a dezenove anos em relação a 1997. Em todo o mundo, 10% dos nascimentos — cerca de quatorze milhões — são atribuídos a adolescentes. Cerca de 50% das nigerianas têm pelo menos um filho antes de completar 20 anos. Somente o Japão consegue ter um índice abaixo de 1% de gravidez na adolescência. Nesta faixa etária a possibilidade de complicações é muito maior do que em mulheres adultas, o que classifica esta gravidez como de risco. Em 1990, o risco de morte de meninas de dez a quatorze anos foi cinco vezes maior do que o de meninas de quinze a dezenove anos que, por sua vez, foi duas vezes maior que de mulheres adultas.

A doença mais comum na gravidez adolescente é a toxemia gravídica. Há um grande aumento da pressão arterial e inchaço nos pés, mãos e rosto, que podem provocar uma eclâmpsia caracterizada por convulsões. Esse quadro pode resultar em coma, morte da gestante e até do bebê, se não houver atendimento rápido e competente. Além deste sintoma realmente grave, outras conseqüências podem advir da gravidez na adolescência, principalmente se a menina tiver menos de dezesseis anos. Seu corpo ainda está em fase de crescimento e as formas físicas ainda em desenvolvimento. O diâmetro da bacia ainda não se formou completamente e esse estreitamento pode impedir o desenvolvimento do bebê ou ocasionar partos prematuros. Por estar em crescimento e portar outro ser em desenvolvimento em seu corpo, a possibilidade de anemia torna-se grande, se sua alimentação não for equilibrada. Tudo isto faz com que o pré-natal bem feito e com acompanhamento médico cuidadoso torne-se ainda mais indispensável.

No entanto, se os problemas físicos podem ser evitados com um bom acompanhamento médico, os problemas sociais são mais difíceis de serem evitados. 70% das adolescentes grávidas abandonam a escola até um ano depois de terem dado à luz. A possibilidade de conseguir um emprego diminui bastante para esta garota. O risco de ser abandonada pelo namorado ou pelos pais é muito grande, ou seja, a exclusão social constitui um dos graves problemas da gravidez precoce. Uma parcela considerável destes casos acaba em abortamento. Muitos deles são efetuados clandestinamente e com problemas ou seqüelas. Pesquisa realizada pela Prof. Lucila Amaral Vianna e publicada pela Folha de São Paulo, mostrava que 20% das mulheres que tiveram complicações com aborto clandestino e foram internadas em hospitais públicos da cidade de São Paulo tinham dezenove anos ou menos. Outras 53% tinham entre vinte e 39 anos. Entre as oito que morreram de aborto em 1994 em São Paulo, três tinham dezessete anos ou menos e estavam na 7ª série. Todas eram católicas, moravam na periferia e suas famílias não sabiam que estavam grávidas."

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

A religião católica e o aborto

Parte de um trabalho realizado por Maria Tereza Verardo e Maria Jucinete de Souza

"Poderíamos ter ampliado este tópico para falar sobre a posição de diversas religiões em relação ao aborto. No entanto, pareceu-nos melhor abordar somente a católica, por ser considerada a religião oficial do Brasil e a mais rígida em seus princípios, ao mesmo tempo em que é a mais controvertida. É importante relembrar que nem sempre as posições da religião católica com relação ao aborto foram as que vigoram hoje. Esta percepção nos permite avaliar o quanto proibir ou liberar o abortamento é fruto de determinada concepção pessoal e não um fato natural, como querem nos fazer pensar. A Igreja Católica tem mudado sua atitude conforme o Papa que se encontra no poder. Vejamos a seguir.

No século IV, São Basílio considerava que a alma era infundida no novo ser no momento da fecundação. Esta teoria, denominada animação imediata, proibia o aborto em qualquer fase, já que a alma passava a pertencer ao novo ser no preciso momento do encontro do óvulo com o espermatozóide. No século VI, com o Código de Justiniano, passou-se a considerar que o momento da infusão da alma só ocorreria quando o feto adquirisse forma humana. O que significaria que, enquanto a alma não estivesse infundida no novo ser, o aborto não poderia ser proibido.

O Concílio de Trento (1545-1563) passou a adotar a teoria de que o movimento era uma expressão da alma. Isto é, o feto passaria a ter alma no instante em que a mulher sentisse os primeiros movimentos em seu ventre. É a doutrina da animação mediata. Com Pio IX, a teoria da animação imediata foi restabelecida e essa é a posição atual da Igreja. As pessoas que fizerem aborto, seja qual for o motivo, serão punidas com a excomunhão. Atualmente alguns grupos de religiosos tem divergido dessa concepção da Igreja. Vejamos o que dizem os representantes dessas novasfacções da Igreja Católica.

Em entrevista dada para a revista Manchete, 12 de outubro de 1996, o Padre Christian De Paul De Barchinfontaine fala sobre sua posição em relação à Igreja: O que ela deveria fazer era promover mais a educação, admitir e transmitir as informações sobre os métodos anticoncepcionais. A ciência existe para melhorar a qualidade de vida das pessoas e a Igreja tem de caminhar com estas evoluções. Quem conhece o sofrimento pelo qual passa uma mulher que aborta? Qual é o ombro ao qual ela pode recorrer? A sociedade culpa e marginaliza a mulher, mas até onde sei, são necessárias duas pessoas para se fazer um filho.

Semelhante é a posição de Ivone Gebara, do grupo Católicas pelo Direito a Decidir: Sou hoje a favor da discriminalização e legalização do aborto como uma forma de diminuição da violência contra a vida. (...) Independente da legalização ou não do aborto, independente dos princípios de defesa da vida, independente dos princípios que regem as religiões, o aborto tem sido praticado. Portanto, é um fato clandestino público e notório. (...) A legalização não significa a afirmação da “Bondade”, da “Inocência” ou ainda da “Defesa Incondicional” e até leviana do aborto como ato, mas apenas a possibilidade de humanizar e dar condições de decência a uma prática que já está sendo feita.

A verdade, como ressaltam estas vozes, é que o aborto acontece, independentemente da legalização. Com ele a discriminação torna-se ainda mais visível, pois só as mulheres ricas, ou pelo menos de boa situação financeira, podem pagar um aborto numa clínica decente com condições de higiene e acompanhamento médico. As mulheres mais pobres sujeitam-se a qualquer condição, porque não têm o direito de escolha. A Igreja, que diz fazer opção pela pobreza, não enxerga isso. No entanto, uma coisa não pode ser negada: talvez as restrições da Igreja Católica sejam válidas para seus fiéis. Todos aqueles que não pertencem a esta Igreja - hoje parece ser a maioria da população - não têm nenhuma obrigação de seguir seus preceitos. Ou seja, mais uma vez perguntamos onde está a liberdade do cidadão e da cidadã de optar pelo que deseja para a própria vida?"








terça-feira, 16 de janeiro de 2007

O fascista Pedro Dias



Segundo o Correio da Manhã de hoje, o Prof. Dr. Pedro Dias, entende que “Álvaro Cunhal não deveria figurar na lista dos dez ‘Grandes Portugueses’, programa da RTP 1 apresentado por Maria Elisa”.

Desse considerando apatetado não haveria nada a dizer. Até porque o sujeito, militante do PSD, é bem conhecido. Quando, em 2004, foi nomeado director da Torre do Tombo – é verdade, no Portugal de Abril os fascistas podem desempenhar funções públicas! – declarou boçal: “os intelectuais quando não são de esquerda ou não têm outras características têm grande dificuldade. Sendo de Direita e heterossexual, tive grande dificuldade».

Sucede, porém, que o jornal adianta que Pedro Dias, “professor da Universidade de Coimbra e ex-director da Torre do Tombo”, decidiu, cobarde, injuriar a memória de Álvaro Cunhal, acusando-o de ter sido “um agente estrangeiro ao serviço de uma potência estrangeira para transformar Portugal numa colónia.”

Este canalha sabe bem que mente com quantos dentes tem. Mas, acoitado no clima de impunidade que grassa no país, vomita a mentira que a PIDE, de que é devoto defensor, lhe inoculou durante décadas.

Quem protege os alunos destes idiotas?

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

O mundo em que vivemos

Numa escola com mais de 400 alunos, imensos problemas a resolver, em que por exemplo faltam professores para acompanhar as crianças com necessidades educativas especiais, a associação de pais convoca uma reunião.
À hora marcada, meia dúzia de pais comparece... Seis ou sete pessoas unidas pelo amor aos filhos, reprimem a custo a desilusão profunda perante tanto desinteresse. Dos outros pais. Alguém sugere metodologias diferentes para as futuras convocatórias, elementos novos para a associação, fala de tantas coisas para justificar as ausências e, sobretudo, para não desanimar os que vieram.
Mas sabe bem que esse cenário se repetirá no futuro. As pessoas - serão? - despejam os filhos nas escolas e esperam que, talvez por magia, o aproveitamento escolar surja. Para onde vamos? Que raio de país é este que exulta boçal com floribelas e ignora tudo quanto respeite ao crescimento dos filhos?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Obrigado Dr. Eduardo Allen

Fui anteontem absolvido, no tribunal Judicial de Vila França de Xira, de uma acusação absurda: ter difamado alguém cuja existência ignorava.O ex-educador da Casa Pia de Lisboa, António Magalhães, sentiu-se atingido por eu ter dito ao Correio da Manhã, em Janeiro de 2003, que as vítimas me tinham garantido que um funcionário da Casa Pia de Lisboa - identificado no diário pela letra M - a exemplo do que fazia o Bibi, também transportava crianças para um local onde eram abusadas sexualmente.

Como esse transporte ocorrera na década de 80 e as vítimas não conseguiram dar mais referências do que o nome Magalhães, achámos importante divulgar esse facto para obstar a que o facínora, que não conseguimos identificar, continuasse a sua actividade delituosa.Ontem, a verdade foi mais forte e a magistrada deliberou absolver-me. Isso não obstou, contudo, a que me tivesse deslocado cinco vezes a Vila Franca de Xira. Durante o julgamento denunciei a hipocrisia e descaramento desta gentalha: se tivessem colocado ao serviço das crianças o furor persecutório que agora me destinam, teriam evitado centenas de violações e outros crimes.

Felizmente, pude contar com o apoio do meu advogado, Dr. Eduardo Allen, a quem agradeço a solidariedade, competência e determinação. Sem a sua ajuda ser-me-ia impossível suportar os custos destas investidas minuciosamente articuladas.

Contra mim correm ainda mais quatro processos, em que são queixosos: Henrique Monteiro, actual director do Expresso, que sempre escreveu contra a investigação; Paulo Pedroso; Luís Rebelo, ex-provedor da Casa Pia de Lisboa de 1986 a 2002 e Mariano Barreto, professor da instituição e conhecido treinador de futebol.

Com a consciência de que sempre falei verdade e assumo tudo quanto disse, reitero: a luta continua!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Descaramento

Num destes dias, o inferno instalou-se nas Urgências do Hospital de Santa Maria: Centenas de pessoas acometidas de doença súbita tiveram que aguardar horas por um atendimento adequado. Este cenário é hoje habitual nos hospitais portugueses em consequência da política neoliberal de um governo que persiste em denominar-se socialista mas está empenhado em destruir as funções sociais do Estado.
Interpelado pela comunicação social, o ministro fez saber o que já suspeitávamos. Quando pensou nas mudanças que ocasionaram esta trapalhada, já sabia que as mesmas só teriam resultados daqui a alguns anos. Talvez quando ele já não for ministro ...
Entretanto vai agindo com um objectivo evidente: mostrar à população que o privado é que é bom.
Este Correia de Campos, dilecto defensor da "Escola de Chicago", poderia ser perfeitamente, fossem outros os tempos, ministro de Pinochet. Ou de qualquer outro esbirro. Nisto reside a característica fundamental destes liberais travestidos de "esquerda moderna".