sexta-feira, 29 de junho de 2007
Poesia popular
“Almada cidade ao sul”
Almada cidade ao sul da esperança
Feita de sonho e de magia
De quem sabe esperar sempre alcança
Motivos de orgulho e alegria
Almada cidade ao sul…tão bela
Margem esquerda do Pais e do Tejo amigo
Para o mar a “Caparica” é a janela
No ginjal tem o seu porto de abrigo
Para o sul abriu os seus braços
A sul nasceu e desenvolveu o seu desejo
Estreitando sempre mais os laços
De fraternidade mais a Sul com o Alentejo
Cidade luz cidade cor cidade Abril
Cidade jovem que luta com perseverança
Laboriosa solidária mercantil
Almada cidade ao sul da esperança
josé manangão
segunda-feira, 25 de junho de 2007
Solidariedade com o Prof. António Balbino Caldeira
Nos momentos mais difíceis, o António esteve sempre presente, com a sua coragem e verticalidade exemplares. É para mim, claramente, um exemplo. O Prof. está agora a pagar o preço elevado de ser livre e escrever sem medo. Sócrates, ou alguém por ele, denunciou-o criminalmente. Porquê? Porque Balbino Caldeira persistiu na investigação sobre a alegada licenciatura de José Sócrates. Persistiu e fez perguntas. Incómodas, mas iguais às que faria qualquer português preocupado com a questão de saber se de facto o homem é licenciado ou se o curso lhe saiu na farinha amparo.
Quem se der ao interessante trabalho de ler a investigação desenvolvida pelo Prof. Balbino, constatará que sempre privilegiou a verdade e nunca difamou quem quer que fosse. No entanto, esta maioria absoluta do PS não admite que alguém ouse resistir, que alguém não se conforme com a verdade produzida no Largo do Rato. Ainda não chegámos ao fascismo? Talvez não. Mas de democracia este regime não tem nada. Publico de seguida o elucidativo post que o meu amigo publicou no seu blogue combatente. A luta continua António!
"Desta vez, tive sorte. Telefonaram apenas (com faxes autênticos depois a confirmar).
Desta vez, não recebi o destaque invulgar de vir um procurador-adjunto a minha casa chefiar ele próprio essa busca crítica, por causa da suspeita de uma "bagatela penal", como disse um amigo meu - e mesmo dessa fui ilibado. Contudo, não era suspeito de violar crianças, de matar alguém, de roubar, de traficar droga: era suspeito de ter desobedecido a um despacho judicial de proibição de divulgação do processo de pedofilia da Casa Pia (alegadamente por causa da protecção das vítimas, cujos nomes aliás sempre omiti), cujo julgamento já tinha sido marcado, um despacho que não me havia sido comunicado - mesmo depois do inquérito pedi para ver o tal despacho e foi-me negado porque o próprio despacho... estava em segredo de justiça - e só vi no dia da sentença que me absolveu. Todavia, se o propósito da busca era determinar que era mesmo eu quem escrevia e editava o blogue, era fácil de reparar que sempre assinei, desde o início em Agosto de 2003, todos os posts como "António Balbino Caldeira" e publiquei sempre o meu próprio e-mail.
Desta vez, não lhes pedi para vestir umas calças, já que não os queria atender em pijama. Não me perguntaram, em tom solene, quantas pessoas estavam em minha casa. Não os avisei que minha mulher ainda descansava no quarto, como quem lhes fazia notar que tivessem a decência de a respeitar.
Desta vez, não os levei ao escritório exíguo onde escrevo. Não lhes abri o computador, com a intenção de lhes mostrar a pasta onde guardo os meus escritos, para mo desligaram imediatamente, que "podia ter uma instrução automática para formatar o disco..." Não lhes indiquei as pastas de arquivo com etiqueta "Política" (de 1 a 7), folhas bem arquivadas pois era por causa de política que vinham buscar a casa onde vivo e que foi de meus avós. Não lhes mostrei os papéis, não me questionaram sobre a sua origem, não me confiscaram os apontamentos manuscritos que tinham contactos de jornalistas nem ignoraram ostensivamente uma folha com o contacto de um assessor de tribunal (a quem tinha pedido legitimamente o link de uma página da internet de uma dado acórdão já público).
Desta vez, os meus dois filhos não apareceram assustados na sala da minha pobre casa, sem que eu lhes pudesse explicar quem eram aquelas pessoas. Só consegui fazê-lo passados dois dias - perante o eco duro da pergunta consecutiva do mais novo, que repetia a cada explicação minha: "mas... pai: tu fizeste algum crime?..." Não é fácil sossegar os olhos francos de uma criança que vê nos polícias - as crianças não sabem o que são procuradores - os homens que prendem os "maus", que o pai não fez crime algum e que a família tinha sido atingida devido a motivos justos e ao serviço cívico da comunidade, com a preocupação fundamental de defesa das crianças da Casa Pia vítimas comprovadas de abusos sexuais. Se a polícia te buscou, algum defeito te achou... As crianças não conhecem o que é a violência e a desvergonha do sistema. Não obstante, devem ter sentido que sofreram alguma violência na sua intimidade porque a minha filha sentiu-se mal na escola no dia seguinte e telefonaram imediatamente a minha mulher para a levar para casa.
Desta vez, não lhes pedi para me ir arranjar que daqui a pouco tinha aulas em Santarém, obtendo a resposta, esclarecedora para a desnecessidade de terem acordado a minha família pelas 7:00 quando o alvo (eu) só saía de casa às 9:00: "o sôtor entra às 10 horas, não é?..." - entrava... Um polícia não surgiu com o meu telemóvel na mão que, depois, não confiscaram - perguntei se era escutado, riram-se...
Desta vez, a minha mulher não surgiu na sala, onde, mesmo assim, apresentou um "bom dia" seco, enquanto se dirigia às crianças para que se arranjassem para a escola. Eu não soube depois que lhe tinham revistado o carro dela sem mandado, já com os filhos lá dentro, quando ela se aprestava para seguir para o trabalho.
Desta vez, na minha curta sala, onde o retrato sóbrio dos meus avós reclamava outro respeito - em vez da boca de um agente para outro "em princípio, aqui não chove..." - entretanto mais apinhada com mais dois inspectores que se tinham reunido aos outros e ao procurador, ninguém me ajudou a redigir o requerimento a pedir cópia dos ficheiros académicos que dois dias depois... indeferiu - só me entregaram a tese de doutoramento (de que lhes expliquei não ter outra cópia) em CD sete meses mais tarde. Não me levaram o computador para só mo devolverem largos meses depois - o programa de tradução Babylon é que nunca mais funcionou. Eu não fui comprar um computador nesse dia - por imprudência, ainda nem sequer encomendei o próximo... Não tive de dar entrevistas para tornar mais complicado abaterem-me sem consequência.
Desta vez, não soube que tinham ido outros dois inspectores à mesma hora (7 horas em ponto, ainda de noite, nesse 27 de Outubro de 2004) a casa de minha mãe, a dois quilómetros do sítio onde eu, casado e com dois filhos, vivo - aliás já não vivia em casa de minha mãe desde que me casei em 1993. Que tocaram à campainha de uma mulher, de 78 anos e paciente cardíaca, mas "recta como o sol" - como dela dizia o meu avô Balbino -, e de uma prima ainda mais idosa, para lhe buscar a casa, com mandado autorizado por uma juíza de instrução - a quem, além de outro, prometo escrever, se cá estiver, no dia em que minha mãe nos deixar - por causa do gravíssimo crime de desobediência simples do filho... A minha mãe não perguntou aos agentes o motivo da busca, tendo acrescentado que, porém, não deveria ser por causa de corrupção ou droga, tendo os polícias, envergonhados, explicado que era "por causa de umas coisas que o seu filho escreveu"... Depois de uma busca pela casa, telefonaram para alguém - provavelmente o procurador que estava em minha casa e dirigia a busca - e levaram um computador velho de 11 anos, um IBM 433 DX, que ela tinha comprado para os filhos antes de eu me casar e que mantinha lá com o fito que os netos nele se entretivessem, o que faziam muito raramente. A minha mãe que no tempo da ditadura teve, porém, gentileza menor: a polícia agora, em 2004, tinha ido pessoalmente revistar-lhe a casa "por causa de umas coisas que o seu filho escreveu" em vez da maçada da notificação, em 1973, para comparecer na GNR junto ao Governo Civil de Leiria devido a ter ousado pôr um ministro em tribunal por este ter sancionado um concurso em que havia sido preterida, se julgava com direito e veio a vencer após recurso.
Desta vez, não me comovi com o texto que minha irmã, melhor do que eu, gritou em 16 de Novembro de 2004 sobre a violência que foi provocada à nossa mãe "por causa de umas coisas que o seu filho escreveu". Um homem não chora. Desta vez, não consta que tenha sido instaurado o inquérito para demonstrar neutralidade processual e equidistância face ao Horror, para compensar a sistémica vozearia orquestrada queixosa de alegado desfavor.
Desta vez, minha mãe não apareceu em casa a chorar por causa de um interrogatório manhoso - já não bastava a busca!! - relacionado com a apreensão que lhe fizeram tal computador, por funcionário judicial indigitado para o trabalho - "minha-senhora-o-seu-filho-disse-nos-que-o-computador-era-dele..." - "se-o-meu-filho-disse..." - "assine-aqui-por-favor..." Pensava eu que ela tinha ido ao tribunal por causa de uma tentativa de roubo que lhe foi feita por uma mulher, toxicodependente, com uma faca, em que sugeriram que desistisse (minha mãe queria até perdoar à mulher...) e, afinal, era para se livrarem da embrulhada da apreensão do computador de que é proprietária que lhe devolveram nessa altura - o que é, no fim de contas, uma simples tentativa de roubo com faca a uma senhora com 78 anos se comparada com a gravidade de uma desobediência simples do filho?...
Desta vez, não fui procurar alguém, com um carregador Nokia no bolso, à cautela por causa de alguma eventualidade - e só depois me advertiram que aí não deixam usar telemóvel -, com o propósito de obter uma explicação e a esperança de não o encontrar.
Desta vez, não abriram o meu computador sem a minha presença ou do meu advogado, aliás nem reparei em qualquer selo quando por lá o encontrei depois. Um computador com a minha conta bancária e de minha mulher, cartões de crédito, declarações fiscais, passwords, registo de tráfego - além de artigos, trabalhos, lições, exames e notas meus, fotografias da família, escritos de minha mulher, desenhos e jogos das crianças, etc.. Nem vi escarrapachados nos apensosmails, os tais que não estavam autorizados a apreender, e os meus recados do Outlook do tipo da gravidade de mensagens criptológicas como "comprar pneus para o carro".
Desta vez, não fui, ainda, a julgamento - mas irei, que não me perdoam a verdade (factos, factos, factos)... - e, portanto, não senti em quem julgava a cólera devida ao grande criminoso que eu era, nem me mandaram calar por ter arriscado a citação do subversivo Padre António Vieira ("se servistes a Pátria..."), nem impedem o meu combativo advogado, Dr. José Maria Martins, de me questionar directamente nem de me fazer certas perguntas inconvenientes, embora no interrogatório me possam exigir que descruze as pernas onde tenha assente algum bloco para escrever. Respeitinho!
Há outro caso, porém, só falarei dele só falarei mais tarde.
O sistema persegue politicamente os seus opositores por estes pretenderem exercer os seus direitos de cidadania. Mas só sobrevive com a complacência dos órgãos do Estado formalmente encarregues da vigilância dos abusos e a resignação popular.
Quatro anos de blogue, quatro processos - deixo um possível, por enquanto, de fora. Tentam tranquilizar-me com o argumento de que o sistema funciona. E eu acredito: o sistema funciona.
Garantia dos direitos do cidadão em Portugal? Esta:
"É que, como é bom de ver, o interesse prevalecente da investigação e eventual punição, por parte do Estado, é manifestamente superior ao dos potenciais ofendidos com a compressão de alguns dos seus direitos, ainda que com expressa garantia constitucional, designadamente os atinentes à vida privada, como o são seguramente os constantes de documentos seus (originariamente pessoais ou não)". [realce meu]
Extracto do despacho de arquivamento, datado de 13-6-2005, do procurador do Tribunal da Relação de Coimbra do processo de abuso de poder que intentei contra o Estado por causa do tratamento sofrido"
Publicado por António Balbino Caldeira em 6/20/2007 10:23:00
A lógica da sarjeta
Uma caridadezinha de um poder cobarde para comprar uma classe que por actos, omissões, silêncios, preconceitos e ideologia permitiu que um Governo de esquerda desferisse um dos mais graves golpes na sua autonomia e liberdade.
A procissão, obviamente, ainda não saiu da igreja. Mas os exemplos já estão aí, bem à vista, e não vale a pena esconder nada debaixo da areia. Verdade se diga que este Governo de esquerda não tem sequer a preocupação de esconder o rabo, como na velha história do gato. É tudo transparente, com avisos prévios, muitos, e declarações públicas que já eram sentenças transitadas em julgado para os que ainda pensavam resistir ao medo de ficar sem emprego, às pressões económicas, à autocensura e à propaganda socialista.
O Estatuto do Jornalista, como afirmou a este jornal o senhor ministro da Comunicação Social, é a cereja em cima do bolo da repressão ao jornalismo incómodo para o poder socialista, ao jornalismo de sarjeta, como na altura o classificou Augusto Santos Silva. Não foi por falta de avisos que a classe nada fez, para além de alguns gemidos e gritinhos de indignação. E enquanto não chegam os primeiros castigos aplicados pela inenarrável Comissão da Carteira e pelos coronéis da democracia socialista em curso, o poder, mais concretamente o senhor presidente do Conselho, decidiu pôr um processo ao titular de um blogue que desde 2005 questiona a licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente.
É evidente que o mundo da blogosfera é vasto e ninguém acredita que a senha persecutória chegue a esse espaço de liberdade, cheio de defeitos e virtudes. Mas o aviso está lançado. Para já começa-se por um simples professor, sem peso político, anónimo até há pouco tempo. Mais tarde chegará a vez de outras vozes, mais mediáticas, mais incómodas, mais poderosas. É tudo uma questão de tempo e de oportunidade.
A liberdade começa a ser uma ficção neste sítio cada vez mais mal frequentado e cada vez mais perigoso para os que teimam em resistir.
António Ribeiro Ferreira, Jornalista
quarta-feira, 13 de junho de 2007
É isso mesmo...
(...) Não existe só o poder, a classe dominante, com o seu comportamento historicamente determinável. Existe também o consentimento de indivíduos que têm algumas responsabilidades intelectuais, ou políticas, com a atitude de deixar andar, que no fundo é uma atitude cúmplice. Eu tentei exprimir isso numa cantiga chamada "Os eunucos". Isto é um país de eunucos(...) Vão acabar por se devorar a si mesmos, como diz o Brecht.
José Afonso
Eunucos
Mateus: “ Porque há eunucos que nasceram assim; e há eunucos que pelos homens foram feitos tais; e outros há que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. Quem pode aceitar isso, aceite-o. "
Os Eunucos
Os eunucos devoram-se a si mesmos
Não mudam de uniforme, são venais
E quando os mais são feitos em torresmos
Defendem os tiranos contra os pais
Em tudo são verdugos mais ou menos
No jardim dos haréns os principais
E quando os mais são feitos em torresmos
Não matam os tiranos pedem mais
Suportam toda a dor na calmaria
Da olímpica visão dos samurais
Havia um dono a mais na satrapia
Mas foi lançado à cova dos chacais
Em vénias malabares à luz do dia
Lambuzam da saliva os maiorais
E quando os mais são feitos em fatias
Não matam os tiranos pedem mais
José Afonso
segunda-feira, 11 de junho de 2007
Pelas crianças
Um professor de música de Armamar foi detido há dias por suspeita de ter abusado sexualmente de crianças com idades entre os cinco e os dez anos. Ouvido no Tribunal da Régua ficou, felizmente, em prisão preventiva. Segundo a comunicação social, “A notícia da detenção do professor deixou a população da vila de Armamar em estado de choque. “Era daquelas pessoas por que eu punha a mão no fogo”, desabafou um morador.”
Estas reacções demonstram bem as consequências da inacção governamental na prevenção do abuso sexual. Mesmo tendo acontecido o processo Casa Pia, a generalidade da população desconhece que neste tipo de crimes ninguém pode colocar a “mão no fogo” seja por quem for.
O nosso povo precisa de saber - e sem esse conhecimento as nossas crianças nunca estarão seguras - que é impossível depreender o comportamento em privado a partir da conduta pública dos indivíduos.
sábado, 9 de junho de 2007
sexta-feira, 8 de junho de 2007
Mestre Américo absolvido!
Obrigado, mestre Américo. Sem o seu exemplo de heroísmo e dedicação, sem a sua luta abnegada, centenas de outras crianças teriam sido trituradas pelos bandalhos.
A luta continua!
quinta-feira, 7 de junho de 2007
Leitura da sentença
Por mim e pela minha família, mas também por muitos casapianos, lá estarei, com cravos e giestas, certo de que, independentemente do resultado final, o mestre já venceu. E com ele centenas de crianças que podem hoje viver seguras na instituição que as acolheu graças à luta solitária, determinada e consequente do nosso herói. Obrigado, mestre Américo Henriques!
segunda-feira, 4 de junho de 2007
sábado, 2 de junho de 2007
O TEMPO DAS GIESTAS - 2
Esta mesma determinação animou Simão, que descobrimos ter sido funcionário clandestino do Partido, preso quando se preparava para viver com a sua amada a dura vida da clandestinidade e posteriormente enviado para o sinistro campo de concentração do Tarrafal, onde viria a ser assassinado.
Criado pelo Decreto 26539 de 23 de Abril de 1936, o campo de concentração do Tarrafal começou a funcionar no dia 29 de Outubro do mesmo ano com a entrada da primeira leva de 157 prisioneiros. Na segunda parte do livro e através das cartas que Simão dirige à sua amada, constatamos que efectivamente “Não houve em Portugal prisão onde o fascismo mais se manifestasse”. Os presos eram enviados para o Tarrafal para morrer e sofriam a má alimentação as torturas, os espancamentos, a falta de assistência médica, a “frigideira”, os trabalhos forçados.
Contudo e é outro registo que o livro nos transmite de forma impressiva, nem o desterro, nem as torturas abalaram a confiança dos presos no futuro, bem patente, aliás, numa das cartas: “Teresa, meu amor, o nosso amor vencerá. O futuro será de liberdade e de justiça. O mundo novo pelo qual lutam milhões de seres humanos e pelo qual continuo a lutar aqui, cercado de arame farpado e resistindo à morte, é um mundo de liberdade e de justiça, de amor e de harmonia. E com o mundo novo chegará o tempo de Maio dos trabalhadores, o tempo das searas a crescer na terra, o tempo dos silvos das fábricas anunciando a paz, o tempo de milhões de professores ensinando a milhões de alunos a fraternidade e a solidariedade, a amizade e a camaradagem. O nosso tempo, meu amor, o tempo puro e belo do nosso amor, o tempo das giestas.”
Ao escrever este romance, José Casanova, sem nunca ter estado nesse campo de morte lenta, correspondeu ao apelo formulado por Francisco Miguel há muitos anos, no prefácio ao livro “Tarrafal – testemunhos”: “…é necessário que alguém, que também tenha conhecido e sofrido o Tarrafal, descreva alguma coisa mais que, de algum modo, possa ser a continuação deste livro. Fazê-lo será contribuir para o esclarecimento político do nosso povo”.
O TEMPO DAS GIESTAS - 1
No fundo, o que Teresa pretende não é tanto estar novamente com Simão, que pressagia morto, mas antes descobrir o que lhe sucedeu e partilhar com alguém os momentos de felicidade e dor passados com ele. Afinal, como escreveu Neruda,
“Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.”
Nessa procura, Teresa encontra Marcos e vê Simão. Sabe de Inês e revê-se jovem, com os mesmos sonhos, o mesmo amor. Diferente só a dor e o receio de que também este amor se não concretize, bem patente na recomendação: “Não se atrase Marcos, o encontro que vai ter é mais importante do que tudo.”
Através do desenrolar sucessivo de similitudes, o autor mostra-nos, de forma profundamente dolorosa o que poderia ter sido, meio século antes, a vida de um casal unido por um amor desmedido, se não fosse a barbárie do fascismo: Teresa conta a Marcos que soube amar e ser amada por Simão no primeiro dia em que o conheceu. Marcos confessa a Inês que a ama profundamente, apesar de só a ter conhecido na véspera.
De semelhança em semelhança – afinal, como refere o autor, são iguais os apaixonados de todos os tempos: o mesmo desejo de estarem juntos, de se tocarem, de se amarem - descobrimos que Marcos, apesar das décadas passadas, é igual a Simão e que este, no tempo duro em que viveu foi exactamente igual a Marcos. Escutemos Teresa falando com o jovem: “O Simão hoje és tu, és igual a ele como ele era igual a ti. (…) não sei como, nem de que forma, te passou um testemunho de sonhos e de projectos (…).
Teresa não sabe, mas nós ajudamos, evocando O Caminho das Aves: este Marcos, bonito por fora e bonito por dentro, é filho de Francisco, comunista, preso pelo fascismo aos 19 anos por ter cometido o crime de lutar pela Liberdade. Recebeu pois das mãos do pai, e do pai Vasco, e dos camaradas do pai – que afinal de contas “são o melhor que há no mundo” - o estandarte. E neste sentido, o romance, político claro, porque nos fala de ideais e possui personagens que descobrimos capazes de tudo para os prosseguir e defender, mostra-nos o que Álvaro Cunhal sintetizou da seguinte forma:
“Donde nos vem a nós, comunistas portugueses, esta alegria de viver e de lutar? O que nos leva a considerar a actividade partidária como um aspecto central da nossa vida? O que nos leva a consagrar tempo, energias, faculdades, atenção, à actividade do Partido? O que nos leva a defrontar, por motivo das nossas ideias e da nossa luta, todas as dificuldades e perigos, a arrostar perseguições, e, se as condições o impõem, a suportar torturas e condenações e a dar a vida se necessário? A alegria de viver e de lutar vem-nos da profunda convicção de que é justa, empolgante e invencível a causa por que lutamos.
(Continua no próximo post)