sábado, 2 de junho de 2007

O TEMPO DAS GIESTAS - 1

O Tempo das Giestas é um romance belíssimo, em que a partir de uma história extraordinária e fascinante – se constrói um monumento à resistência e luta contra o fascismo. Como nos romances antecedentes, O Caminho das Aves e Aquela Noite de Natal, José Casanova constrói a narrativa de uma forma inovadora e surpreendente. Teresa, uma mulher à procura do seu amado cinquenta e dois anos após tê-lo perdido, do qual não conhece rigorosamente nenhum elemento de identificação, além do nome Simão e da suspeita da sua militância comunista, dirige-se à sede central do PCP, onde é atendida por um jovem atencioso mas apressado.

No fundo, o que Teresa pretende não é tanto estar novamente com Simão, que pressagia morto, mas antes descobrir o que lhe sucedeu e partilhar com alguém os momentos de felicidade e dor passados com ele. Afinal, como escreveu Neruda,

“Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.”

Nessa procura, Teresa encontra Marcos e vê Simão. Sabe de Inês e revê-se jovem, com os mesmos sonhos, o mesmo amor. Diferente só a dor e o receio de que também este amor se não concretize, bem patente na recomendação: “Não se atrase Marcos, o encontro que vai ter é mais importante do que tudo.”

Através do desenrolar sucessivo de similitudes, o autor mostra-nos, de forma profundamente dolorosa o que poderia ter sido, meio século antes, a vida de um casal unido por um amor desmedido, se não fosse a barbárie do fascismo: Teresa conta a Marcos que soube amar e ser amada por Simão no primeiro dia em que o conheceu. Marcos confessa a Inês que a ama profundamente, apesar de só a ter conhecido na véspera.

De semelhança em semelhança – afinal, como refere o autor, são iguais os apaixonados de todos os tempos: o mesmo desejo de estarem juntos, de se tocarem, de se amarem - descobrimos que Marcos, apesar das décadas passadas, é igual a Simão e que este, no tempo duro em que viveu foi exactamente igual a Marcos. Escutemos Teresa falando com o jovem: “O Simão hoje és tu, és igual a ele como ele era igual a ti. (…) não sei como, nem de que forma, te passou um testemunho de sonhos e de projectos (…).

Teresa não sabe, mas nós ajudamos, evocando O Caminho das Aves: este Marcos, bonito por fora e bonito por dentro, é filho de Francisco, comunista, preso pelo fascismo aos 19 anos por ter cometido o crime de lutar pela Liberdade. Recebeu pois das mãos do pai, e do pai Vasco, e dos camaradas do pai – que afinal de contas “são o melhor que há no mundo” - o estandarte. E neste sentido, o romance, político claro, porque nos fala de ideais e possui personagens que descobrimos capazes de tudo para os prosseguir e defender, mostra-nos o que Álvaro Cunhal sintetizou da seguinte forma:

“Donde nos vem a nós, comunistas portugueses, esta alegria de viver e de lutar? O que nos leva a considerar a actividade partidária como um aspecto central da nossa vida? O que nos leva a consagrar tempo, energias, faculdades, atenção, à actividade do Partido? O que nos leva a defrontar, por motivo das nossas ideias e da nossa luta, todas as dificuldades e perigos, a arrostar perseguições, e, se as condições o impõem, a suportar torturas e condenações e a dar a vida se necessário? A alegria de viver e de lutar vem-nos da profunda convicção de que é justa, empolgante e invencível a causa por que lutamos.


(Continua no próximo post)


1 comentário:

GR disse...

Releio o poema “Dor” do post ”Ao Simão e à Teresa” de 17 Novembro 2006.
Quando o comentei referia-me ao “Amor de perdição” de 1861, após a leitura do livro “O Tempo das Giestas” de 2007, apercebi-me que era um outro Simão, outra Teresa.
O amor é intemporal!
Contudo, enquanto no romance de CCB, os amores são frustrados, egocêntricos, nada mais existe para além desse amor, tendo a morte como limite. No Tempo das Giestas o limite do amor é, ser-se amado sem esquecer o combate. O limite é, a confiança na luta por um futuro melhor, mais justo, mais livre. Para que do fruto desse amor, nasçam crianças amadas, num ambiente fraterno e solidário.

GR