terça-feira, 15 de novembro de 2005

A FÁBRICA

Da minha janela, via homens e mulheres de batas azuis, correndo para mais um dia de trabalho! O Sol espreguiçava-se e os trabalhadores, entravam na grande porta verde. Só voltariam a sair, depois do céu escurecer!
Ao meio-dia, homens e mulheres de bata azul, sentavam-se nas pedras gastas, levantando testos de minúsculos tachos reluzentes! Falavam baixo, desconfiados ou talvez tristes! Nos pés, socos de madeira, tornando visíveis as gretas de uma pele dura!
Fabricavam brinquedos. Brinquedos que os filhos dos trabalhadores, nunca puderam ter! Cresci a ver os trabalhadores envelhecer!
Numa véspera de Natal, gritos e gemidos, perturbaram azafama das compras para o sapatinho. Na grande porta verde, um papel vaticinando um triste Natal: “FECHADO”! Duzentos trabalhadores parados! Não receberam ordenado!
Horas depois, o som estridente de uma ambulância, levaria um trabalhador já sem vida! O coração parou, quando as máquinas da fábrica desligaram!
Da minha janela, via homens e mulheres de batas azuis, correndo para mais um dia de trabalho! Hoje, metade da Fábrica é um esqueleto de tijolos e pedras gastas, caindo diariamente. A outra metade, um condomínio de luxo! Passaram-se décadas. Soube que os trabalhadores nunca receberam dinheiro, nem subsídios, nem trabalho! Da maior Fábrica de brinquedos do país!
O Patrão, tem cavalos, carros e vivendas! Colecciona arte sacra e relógios do sec. XVIII !
Ao domingo, vai à missa do meio-dia, pedir para que Deus o continue ajudar!

GUIDA RODRIGUES

3 comentários:

Sérgio Ribeiro disse...

Que belísimos textos. Também na forma, na embalagem viva e vivida em que embalas a mensagem viva e vivida!
Obrigado, GR.

Zé Geremias Povinho Leitão disse...

Excelente texto! Reflete bem a forma como, ainda hoje, os trabalhadores são tratados... Antes por "Deus", hoje pela "crise"...

s. disse...

Excelente texto. Espero pela continuação e que não se importe que o coloque no meu blog.