
Quando vieres
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala...
Apenas os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o seu cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.
Quando vieres
Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.
Quando vieres
Nenhum de nós dirá nada
Mas a mãe largará o bordado
O pai largará o jornal
As crianças os brinquedos
E abriremos para ti os nossos corações.
Pois quando vieres,
Não és só tu que vens
É todo um mundo novo que despontará lá fora
Quando vieres.
Maria Eugénia Cunhal, in Silêncio de Vidro, Editorial Escritor
Poema dedicado ao irmão, Álvaro Cunhal, então preso nas masmorras fascistas
4 comentários:
A comoção da surpresa, emudeceu-me!
Pela tua sensibilidade!
Pela beleza!
Pelo poema!
Pela saudade!
Obrigada,camarada!
GR
Que belo!
Como quem escreveu e como a quem foi dedicado!
Nem sempre se consegue esta triangulação.
Mas quando se chega lá, como a Eugénia o fez... sai disto!
Não me interpretes mal camarada.
Desde já te digo que considero todas as homenagens que se fizerem ao Álvaro Cunhal, justas e merecidas.
Aquilo de que eu quero falar não tem haver com esta homenagem especifica, nem sequer tem haver com as evocações que podemos e devemos fazer para recordar o camarada.
Quero só constatar um facto.
Nestes últimos meses tenho ouvido opiniões de pessoas que até são de direita a fazerem grandes elogios ao Álvaro Cunhal.
Elogiam a coerência, a coragem, a verticalidade, o compromisso histórico, os “cojones”, e a abnegação em prol de uma causa. Claro que eu lhes vou dizendo que sim e mentalmente os mando “bardamerda” (desculpa-me a expressão vernácula)!!!
Se são estes os valores que a direita afirma admirar no Álvaro Cunhal, então os comentadores de direita estão todos enganados em alinharem com o PSD, PS e CDS. Deviam vir todos para o PCP. No PCP mantemos a coerência, a verticalidade o compromisso histórico e temos a capacidade para mudar. Continuamos a ser assim.
O que o Álvaro cunhal fez não foi diferente do que aquilo que fizeram dezenas ou centenas de outros camaradas anónimos. O PCP desde 1921 é foi construído, reestruturado, organizado e mantido por alvaros cunhais. Todas as virtudes que vejo serem atribuídas ao Álvaro Cunhal, são também virtudes dos outro militantes do PCP e do movimento comunista internacional.
Da mesma forma, vejo alguma comunicação social a “elogiar” um certo carisma do Jerónimo, o nosso secretario geral. Ainda bem que o fazem. É bom para nós e pode significar mais força ao partido. De qualquer forma, para mim como comunista, os elogios que por ai se fazem de viés ao PCP não servem. São elogios personalizados. Se o meu camarada secretario geral faz um bom trabalho e agrada aos não comunistas, melhor, mas para mim o importante é nosso trabalho colectivo. O que o secretario geral do meu partido tem de fazer é organizar a luta e gerir os nossos meios de forma a tingirmos o nosso objectivo. A simpatia do Jerónimo tem a mesma importância que a simpatia da camarada que me vende o avante no centro do trabalho do Barreiro ou do que o camarada que tem a tarefa de organizar os autocarros para o comício. O nosso partido vale pelo nosso trabalho colectivo. Independentemente dos Alvaros, dos Jeronimos ou dos Bento Gonçalves, o nosso partido somos nós todos. A grande vantagem do nosso partido em relação aos outros, é que se os bons não puderem não quiserem ou não estiverem disponíveis , temos outros igualmente bons para os substituírem na luta. È precisamente esta vantagem que mete medo à direita e que os faz elogiarem o Álvaro, que é como quem diz , vocês tiveram um tipo bom, mas esse já morreu. É mentira!! lanço-vos um desfio, um destes dias num dos centros de trabalho do PCP espreitem uma das reuniões da JCP. Quantos alvaros cunhais conseguem ver? Vinte, trinta? È essa a nossa força e é essa a herança do velho.
Saudações comunistas
Evidentemente, concordo contigo. Mas, considerar que o Partido que somos e as lutas que travamos são fruto de um colectivo e dos princípios que o norteiam, não colide nada com a profunda admiração que nutrimos pelo Álvaro e pelo seu exemplo imortal. Obrigado pelo teu comentário e já agora, adoro o teu blogue .
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