sexta-feira, 31 de março de 2006

Fernando Lopes-Graça, 1906-2006

Centenário de Fernando Lopes-Graça

Nasce a 17 de Dezembro de 1906, em Tomar, no seio de uma família da pequena burguesia. Cedo o pequeno Fernando, tem contacto com um velho piano com que gostava de brincar, no hotel do pai. É através de um hóspede, o tenente Aboim, que Fernando irá estudar piano. Tendo escrito mais tarde com o seu humor tão peculiar, sobre este episódio: «Eu até entrei na música pelas mãos da tropa, e não pelas da Igreja ou da Nobreza, como nos belos tempos em que o músico era ungido do Senhor ou de Sais!».
Aos 14 anos é pianista no Cine-Teatro de Tomar, toca Debussy. Tendo-o ouvido pela primeira vez “O Mar”, dirigido por Toscanini, através de um rádio-receptor num café de Tomar.

Em 1923 ingressa no Curso Superior do Conservatório de Lisboa. Um ano após, matricula-se na Faculdade de Letras de Lisboa em Ciências Históricas e Filosóficas, tendo abandonado em 1931, como protesto contra as medidas coercivas que, durante uma greve académica, o Conselho Escolar adoptou.

Termina nesse ano o Curso Superior de Composição, obtendo a 1ª classificação para o lugar de professor de piano e solfejo do Conservatório. Não tomando posse, por motivos políticos. Algum tempo depois é preso e desterrado para Alpiarça. Sobre esta situação escreve: «Revolução e Liberdade são sinónimos, são equivalentes. São leis imutáveis gravadas na face do Cosmo, eternas e divinas como ele

Em 1937 ganha uma bolsa para estudar em Paris, sendo-lhe recusada, em virtude da sua acção politica. Pagando do seu próprio bolso vai para Paris, estuda Composição e Orquestração com o famoso compositor Koechlin. Ao fim de três anos regressa a Portugal, iniciando a sua actividade, como compositor, na Academia de Amadores de Música.

Na década de 40, dedica-se a pesquisas folclóricas, começando a trabalhar com o etnólogo Michel Jacometti, de quem se tornou grande amigo. Editando mais tarde vários livros. Forma o Coro da Academia de Amadores de Música, tendo sido o porta-voz de um grande reportório de canções tradicionais portuguesas, harmonizadas para várias vozes por Lopes Graça. Escreve música para piano, guitarra e violino, música sinfónica e de câmara. Escreve para a “Seara Nova” critica musical. Foi ensaísta, jornalista e tradutor.

MILITANTE COMUNISTA. Tendo começado por participar nas lutas da Oposição Democrática –MUD. Cruelmente prejudicado pelas suas actividades políticas; prisão, expulsão do ensino oficial, impossibilitado de saída para o estrangeiro.

Após a Revolução de Abril, assume a presidência da Comissão para a Reforma do Ensino Musical. Fernando Lopes Graça, deixou-nos um enorme legado, 18 volumes “Obras Literárias” entre outros livros, sinfónicas, melodias populares, corais, “Canções Heróicas”, “Requiem à Memória das Vitimas do Fascismo”.
27 de Novembro de 1994, durante a noite, só como sempre vivera, morre na sua casa da AV. da República na Parede, um dos maiores génios da música portuguesa. Lopes Graça, usava uma frase do seu muito amigo e também militante, Zé Gomes Ferreira: «Eu não tenho saudade do passado, tenho saudade do futuro»
(Obrigado Guida Rodrigues, pelo texto que assinala a efeméride)

2 comentários:

Sérgio Ribeiro disse...

O Graça!
Era assim: o Graça.
Nem Fernando, nem Lopes Graça.
Ele era, para nós, o Graça. Ele é, para nós, o Graça.
Assim o lembremos. O Graça.
De quem tanta razão temos para nos orgulhar.
Músico, escritor, português.
Nosso camarada! Sempre.

zemanel disse...

Graça, da música.
Graça, o militante.
GRAÇA SEMPRE.