quarta-feira, 7 de novembro de 2007

CONCORDO!

Sempre a Casa Pia

A ida de Pinto Monteiro ao Parlamento é mais um episódio sinistro do escândalo nacional chamado Casa Pia


O senhor procurador-geral da República vai amanhã ao Parlamento explicar aos senhores deputados se anda ou não a ser escutado e se os ruídos estranhos que ouve no seu telemóvel são provocados por deficiências de rede ou mãozinhas marotas que querem acompanhar de perto as suas actividades. Vai ser, com certeza, mais um dos muitos momentos hilariantes que a Casa da Democracia proporciona aos cidadãos deste sítio cada vez mais perigoso e cada vez mais mal frequentado.

O tema das escutas é recorrente. De quando em vez, sempre que é necessário desviar as atenções de outros temas mais escaldantes e delicados para os senhores que, no poder ou na oposição, dominam este sítio, lá aparece uma virgem bem colocada a queixar-se de escutas. De imediato salta para a praça pública um enorme coro de donzelas indignadas e aflitas a pedir inquéritos, a fazer declarações solenes sobre a gravidade da situação e propostas interessantes para evitar que, no futuro, alguém possa ser escutado de forma ilegítima, sem o devido controlo do poder judicial.


Passado um tempo, quando a poeira assenta, isto é, quando o assunto que os preocupa realmente deixa de estar na agenda da comunicação social, as tais vozes calam-se muito caladinhas e as escutas voltam a ser cuidadosamente guardadas no armário das armas de arremesso dos senhores que dominam há anos este sítio. As palavras do senhor procurador-geral da República, Pinto Monteiro, vêm a público no momento em que voltam a surgir à luz do dia novas acusações sobre os abusos sexuais a alunos da Casa Pia. As queixinhas do responsável do Ministério Público acontecem quando a ex-provedora Catalina Pestana veio denunciar a continuação da actividade de uma rede de pedófilos no interior da instituição. Os gritinhos indignados sobre as escutas são a poeira necessária, veremos se é suficiente, para desvalorizar e colocar em segundo plano o facto de senhores muito importantes do regime continuarem a ir buscar crianças à Casa Pia para satisfazer os seus criminosos desejos pedófilos.

Desde que o escândalo rebentou em finais de 2002, uma grande parte da classe política, com o PS à cabeça, e altas figuras do Estado fizeram tudo o que era possível e impossível para abafar o caso e evitar que os pedófilos fossem condenados. Substituíram o procurador Souto Moura por Pinto Monteiro, destruíram a brigada que investigou os crimes sexuais, afastaram Catalina Pestana e alteraram o Código Penal e o Código de Processo Penal. A ida de Pinto Monteiro ao Parlamento é mais um episódio sinistro do escândalo nacional chamado Casa Pia.

António Ribeiro Ferreira, no Correio da Manhã de 29/10/2007

4 comentários:

Anónimo disse...

Sem querer descontextualizar os trechos que se seguem fica aqui a minha indignação:

Discurso do Presidente da República na 33ª Sessão Comemorativa
do 25 de Abril
Assembleia da República, 25 de Abril de 2007

“Senhor Presidente da Assembleia da República
Senhor Primeiro-Ministro
Senhoras e Senhores Deputados
Minhas Senhoras e meus Senhores,

Ao longo dos anos, esta Câmara tem-se reunido em sessão solene para assinalar a passagem do dia 25 de Abril. Esta cerimónia tem vindo a repetir-se durante as últimas décadas, ano pós ano, sem grandes alterações de fundo.(…)

Preocupo-me sobretudo com o sentido que este Dia da Liberdade possui para os mais jovens, para aqueles que nasceram depois de 1974. É deles o futuro de Portugal. O que dirá este cerimonial às gerações mais novas? É uma pergunta que não posso deixar de colocar à reflexão dos Senhores Deputados à Assembleia da República.

O 25 de Abril não é o dia de festa de uma geração, mas um momento que deve interpelar todos os Portugueses (…)

O que esta data e o que o regime democrático têm de singular é precisamente o facto de não serem exclusivo de ninguém, mas património comum de Portugal inteiro. (…)

Interrogo-me, Senhores Deputados, se não devemos actualizar a evocação do 25 de Abril de 1974, pensando sobretudo naqueles que não sentiram a emoção desse dia.

Para os mais jovens, a liberdade tem um significado distinto daquele que possui para muitos dos presentes nesta cerimónia. Pode mesmo afirmar-se que na sociedade portuguesa coexistem duas maneiras de sentir a liberdade. (…)

Não nos podemos esquecer de que houve um tempo em que Portugal não respirava esse ar de liberdade. (…)

Nos dias de hoje, a melhor homenagem que podemos fazer ao 25 de Abril é comemorar nele uma visão inspiradora de liberdade activa (…)


Senhor Presidente
Senhoras e Senhores Deputados,

O 25 de Abril de 1974 representou, antes de mais, um gesto de inconformismo e de não resignação. A pior maneira de o celebrar será aceitarmos, acomodados, que a erosão do tempo transforme o 25 de Abril numa simples efeméride, num dia feriado que, ano após ano, os Portugueses gozam com a indiferença dos velhos hábitos.(…)

O que vejo e encontro por todo o País tem-me levado a pensar sobre nós próprios, a geração que viveu o 25 de Abril. Temos realmente estado à altura da ambição dos nossos jovens? Temos sabido alimentar a esperança nascida há trinta e três anos? (…)

Mas que valores lhes estamos a transmitir? O que temos feito para que as novas gerações continuem a acreditar no seu País? (…)

Decorridos mais de trinta anos sobre a queda de um regime autoritário, Portugal deve pensar-se como democracia amadurecida. Uma democracia em que o escrutínio dos poderes esteja assegurado por meios de comunicação social isentos e responsáveis.(…)

Acima de tudo, temos de deixar aos jovens a ideia de democracia como um código moral e um sentido de identidade colectiva.(…)

Senhor Presidente
Senhoras e Senhores Deputados,

Quero terminar renovando o meu apelo aos jovens portugueses: não se conformem! (…)

É tempo de actuar. Vivemos um ano decisivo para realizar reformas de fundo em domínios essenciais da nossa vida colectiva. O futuro não pode ser adiado.

Apelo, por isso, aos jovens, neste aniversário do 25 de Abril. Com a liberdade de que dispõem, irão até onde a vossa ambição vos quiser levar. Daqueles que nasceram e cresceram em democracia, só podemos esperar o melhor. Agora, tudo depende de vós e do vosso inconformismo. Em nome de Portugal, não se resignem!”

In “http://www.presidencia.pt/index.php?idc=22&idi=5476”

Anónimo disse...

Gosto particularmente deste género de discurso,lúcido e corajoso.
Mas corrijam-me se estiver enganado.Não era aos jornalistas que cabia investigar e denunciar?
Não era também o papel do Ministério Público garantir a segurança das crianças e a punição dos culpados???Não são pagos para isso?
Compraremos nós os jornais para ler banalidades e opiniões de facínoras que nos têm enganado nestes 33 anos?
Onde está a apregoada liberdade jornalística?
Que diabo de sociedade é esta,que viola crianças e perante os olhos de todos absolve os criminosos?
Que povo é este que assiste impávido?
Com uma escandaleira destas,o assunto na ordem do dia são as escutas que todos pressentimos que são a ponta de outro iceberg. Neste caso servem como encenação programada.Como manobra de diversão.Porque o queixoso pertence à camarilha.
Se há países que divulgam listas de pedófilos para que as famílias possam proteger as suas crianças,porque é tão grande segredo no nosso país?
Aceitam os eleitores portugueses que os cidadãos mais poderosos e influentes não se sujeitem á lei,que para cúmulo foi feita por eles próprios?

GR disse...

Tudo serve para desviar o verdadeiro assunto.
O PGR é mais serviçal de toda a escumalha.
Hoje li no Avante “Maria José Morgado promete atacar o flagelo da pedofilia após ouvir as denúncias do ex-casapiano Pedro Namora”.
Querer é poder! Ela pode, será que quer???
Neste momento nem escutas, nem outros assuntos desviarão este assunto que a custo tentam esconder.
O caso do “Rui Pedro” é a demonstração da negligência e prepotência das autoridades deste país. Será que este caso irá activar o processo C.P..Pelo menos, vai demonstrar que há, sempre houve, falta de interesse perante as autoridades.
Casa Pia, o Rui Pedro (devido aos novos desenvolvimentos), não deveriam ser tratados em Portugal, mas no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
A Luta Continua!

GR

GR

Anónimo disse...

o senhor Procurador faz o que lhe mandam. Não é ele um comissário político?!... sejamos corajosos no meio de tanta podridão. a luta tem que continuar. não pode ser utilizada cicuta. Esta é para os ilustres perseguidos pelos poderosos. Para nós a justiça é o importante. Um dia chegaremos a ela.