sábado, 31 de dezembro de 2005

O fogo e a infâmia

A notícia foi dada , esta madrugada, pela TSF: nos países nórdicos adoram o fogo de artifício. Tanto que gastam numa noite o equivalente a toda a ajuda que prestam aos povos do terceiro mundo. É tão benemérito o capitalismo!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

A quem interessa a discussão estéril?

Como o país não tem problemas, o essencial da campanha presidencial, ontem - e seguramente nos próximos dias -, foi o vendaval de críticas que desabou sobre uma sugestão do candidato Cavaco Silva. O absurdo já não incomoda, nem a desfaçatez. Se querem que o homem desça nas sondagens apontem-lhe a governação passada, vergastem-lhe as propostas que defende, arrasem-lhe os objectivos que propõe. Mas isto senhores?
Que mal tem sugerir ao executivo a criação de determinada pasta governamental? Cai São Bento? E algum candidato a Belém pode garantir que, durante a campanha em curso, só defendeu exclusivamente ideias e propostas enquadráveis no conjunto, limitado, dos poderes presidenciais?
Não nos chamem estúpidos. Esta peixeirada estéril e demagógica só serve um objectivo: esconder que se a esquerda não possui hoje um candidato comum, capaz de lutar contra Cavaco, tal se deve à arrogância do PS. A mesma que entregou à direita a Câmara de Lisboa e que dentro de pouco tempo fará o mesmo com o governo do país.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Revolta

No blogue Do Portugal Profundo, li a justa homenagem feita a todas as vítimas directas e indirectas do processo Casa Pia, a todos os seus Heróis que denunciaram e investigaram este caso. Li também nos jornais de hoje, uma "possível" absolvição a quem é acusado e continuam a colocar o seu nome, num julgamento não terminado! Ele já é absolvido? Afinal quem irá ser condenado?

«…A palavra que ordene a confusão Que neste remoinho se teceu?»

Justiça, mentira, Acórdão, embuste, Tribunal,
engano, Criminal, equivoco, Crianças, dor,
Portugal, tranquilo, Vitima, vexação, Notícia,
difamação, Processo, humilhação,Moral,
violada, Criança, dor, Deputado, privilégio,
Advogados, confusão, Prisão, exposição,
Provas, incriminação, Criança, dor,
Famosos, inocência, Vitimas, ignoradas,
Ilustres, inculpáveis, Sistema, podridão,
Avental, poder, Mediáticos, inculpabilidade,
Políticos, corrupção, Vitimas, ignoradas,
Partidos, surdos, PGR, agitação, CPL,
circunstância, Vitima, honra, Televisão,
irritação, Defesa, delação, Alegados,
depravados, Réu, protecção, Arguido,
perdoado, Absolvição, iniquidade,
Comunicação, branqueamento, Jornalistas,
putrefacção, Testemunhas, logro,
Ministro, inimputável, Provas,
adulteradas, Homens, avental,
Vítimas, lágrimas, Jornalistas,
prejudicados, Criança, medo, Justiça,
encobre, Criança, sofrimento, Testemunhas,
verdade, Vitimas, esquecimento, Deputado,
vingança, Vítimas, coragem, Vitimas,
Luta, População, solidariedade, Justiça,
caos, País responsável!
por um Governo, ridículo, ineficaz,
perverso, perigoso e injusto!
Talvez ninguém tenha entendido!Provoca-me desordem, revolta, tristeza e confusão!Mas a Luta Continua e Vale a Pena Lutar! Toda a Solidariedade para com as Vítimas e os Heróis que também sofreram, por esta Luta!
GR

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

O assassino não perdoou!



Stanley Williams, conhecido por Tookie, foi hoje assassinado numa prisão dos EUA. Tookie nasceu a 29 de Dezembro de 1953 em Nova Orleães. Sem pai e afastado da mãe, cresceu no complicado bairro de South Central, em Los Angeles. Em 1979, com 17 anos, criou em conjunto com Raymond Lee Washington, o gang de rua “Crips”. Em Los Angeles proliferavam os gangs que praticavam violência de forma indiscriminada.
Os “Crips” alastraram rapidamente. No ano em que foi criado, o gang já tinha membros por toda a Califórnia e as suas práticas tornaram-se tão violentas como as de qualquer outro gang da altura. Em 1979, Raymond foi assassinado por um membro de outro gang e Tookie foi preso por suspeita de ter assassinado quatro pessoas num assalto. Em 1981, foi declarado culpado e condenado à morte, apesar das suas permanentes alegações de inocência.
Desde então esteve no corredor da morte, na Prisão de San Quentin e colocado na solitária em 1987. Ao fim de dois anos, iniciou um processo de reflexão que o levou a constatar a gravidade do seu acto enquanto criador dos “Crips”. Tookie iniciou então um trabalho que, como o próprio explicava, era dirigido aos mais jovens, por serem os mais necessitados de um "modelo" em que se pudessem inspirar para evitar os caminhos da violência.
Em 1996, lançou a série de livros Tookie Speaks Out Against Gang Violence. Em 1998 publicou o livro Life in Prison. Ambas as obras são dirigidas a jovens, procurando desencorajá-los da vida em gangs e mostrando as consequências da violência. O livro Life in Prison procura, além disso, descrever a angústia de um condenado à morte .
Simultaneamente, lançou o Projecto de Internet para a Paz nas Ruas, através do qual uniu jovens de bairros problemáticos da Califórnia e da Suíça, bem como de outros pontos do globo, incentivando-os à aprendizagem, através do uso de computadores e da troca de experiências, que evite a onda de violência nas ruas.
Pelo trabalho efectuado com estes jovens em situações de risco, Stanley Williams foi nomeado cinco vezes para o Prémio Nobel da Paz e quatro para o Nobel da Literatura.

Stanley demonstrou um profundo arrependimento por se ter envolvido nas actividades de gangs, mas reiterou sempre a sua inocência nas mortes por que foi acusado. No seu julgamento constatou-se que contribuiram para a condenação os testemunhos de indivíduos cadastrados, ou com acusações pendentes, o que motivou o próprio Tribunal de Recursos a declarar, em 2002, que estes poderiam ser facilmente incentivados a mentir, em busca de um qualquer perdão ou atenuante para os seus casos.

No entanto, o Supremo Tribunal recusou o apelo de Tookie para que se investigassem eventuais motivações racistas e discriminação no seu caso. Por exemplo, o Acusador do Ministério Público retirou três jurados Afro-Americanos do júri. Nas alegações finais, comparou Stanley durante o julgamento a um tigre de Bengala e declarou que a comunidade negra de South Central Los Angeles era o equivalente ao habitat natural de um Tigre de Bengala. Este acusador já foi censurado duas vezes pelo Supremo Tribunal da Califórnia por comportamento semelhante.
Foi este homem, recuperado e diferente, que o troglodita Arnold Schwarzenegger - ele próprio um cultor da violência, que fomentou em todo o planeta com os seus filmes imbecis - mandou assassinar hoje pela manhã. E ainda há quem duvide da natureza medieval dos EUA.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Cruzada de Revelações

Em menos de uma semana, dois jornais daqueles que, a si próprios e uns aos outros, se chamam de referência, entregaram-se a sensacionais revelações. No Diário de Notícias (26.11), «Pacheco Pereira revela assassínio no Comité Central», enquanto o Público (1.12) dispara outra «Revelação» : «Catarina Eufémia não estava grávida quando foi morta há 51 anos» - e mais outra: «crónicas da época, bem como os testemunhos de então e dos que resultam da investigação do médico que a autopsiou, indicam que a ceifeira não seria militante do Partido Comunista».
Ora, se, como dizem os dicionários, revelação é a «divulgação de algo ignorado ou que está em segredo», estamos, então, e para já, perante revelações que não o são – isto, ainda que correspondessem a verdades comprovadas, o que não é o caso, como sabe quem quer saber.
Tanto as revelações do Diário de Notícias como as do Público, andam a ser difundidas há várias décadas, o que lhes confere um tempo de revelação singular… Recorde-se, ainda, que estamos perante revelações oriundas da mesma fonte: ambas foram divulgadas, em primeira-mão, pelo regime fascista. E acrescente-se, a talhe de foice, que nenhum dos aludidos reveladores actuais aduz seja o que for ao que, sobre a matéria, foi revelado em meados do século passado: o médico (um dos que fizeram a autópsia de Catarina) não apenas vem repetir o que, há mais de meio século, foi revelado sobre o «relatório da autópsia» - revelação que era de todo o interesse para o regime fascista e para a PIDE – como se limita a repetir a revelação, no mínimo com trinta anos de idade, de que Catarina não era militante comunista (dir-se-ia, até, que a própria autópsia revelou a opção partidária de Catarina…)
Quanto à revelação agora atribuída pelo DN a Pacheco Pereira foi, também ela, divulgada pela PIDE há mais de cinquenta anos… E em matéria de provas, nada de novo é acrescentado ao que a PIDE já havia concluído.
A não ser a prova que, à falta de provas, Pacheco Pereira apresenta: «Esta é, pela sua natureza, uma decisão que não se põe no papel e que, de um modo geral, não se proclama nem se reivindica nos partidos comunistas»...
Da mesma família, para pior, neste caso entrando já pelos enlameados caminhos da abjecção, é a prova de Luís Filipe Rocha, que leva ao pico a cruzada de revelações ao citar uma pessoa que já não o pode desmentir… Que tristeza! Que lástima!
José Casanova, in Avante!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

No silêncio dos olhos



Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?


José Saramago
Os Poemas PossíveisLisboa, Caminho, 1999

A luta continua!



A administração da Autoeuropa, multinacional que tem recebido favores excepcionais de sucessivos governantes subservientes, recorre de novo à chantagem para impedir aumentos salariais dignos.
Mesmo reconhecendo que a produtividade tem sido excepcional, os ditadores, cientes de que se encontram numa república dirigida por bananas, ameaçam com a deslocalização da empresa se os trabalhadores persistirem na luta por melhores salários.
Porquê? Porque para os novos senhores feudais não basta um desempenho laboral excelente. Precisam de fazer sangue, de reduzir a cinzas direitos conquistados ao longo de décadas. Anseiam por domesticar os que trabalham, pagando-lhes cada vez menos. Se existisse um governo honrado e não esta miscelânea de invertebrados, os senhores levariam um pontapé no rabo imundo.
Se existisse uma comunicação social livre, a pedagogia da liberdade, da soberania nacional e da dignidade de quem trabalha, sobrepor-se-ia ao coro panegírico dos empresários que há-de chegar.
Assim, resta a luta. Que seguramente fará reforçar a consciência social de muitos que, trabalhando na Autoeuropa, se deixaram embalar pelo cântico prestidigitador dos que apontavam à dita administração um traço de modernidade.
A luta continua!