sexta-feira, 28 de maio de 2010

Concordo!


" A massa trabalhadora intui com extraordinária sensibilidade a diferença entre os comunistas honrados e leais e os que inspiram repugnância ao homem que ganha o pão com o suor do seu rosto, que não goza de nenhum privilégio, que não tem "acesso aos chefes".


V.I. LÉNINE

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Deambulações


Escreveu-lhe uma carta à medida. Mas antes de chegar ao destinatário, objecto do seu amor e dedicação, publicitou-a na net. Afinal, o que seria do sentimento sem publicidade. Da vaidade sem o elogio. Da comiseração sem a palavra amiga.
Escreveu na carta o que lhe ordenava a consciência desavinda e a necessidade de ordenar a confusão. O pior não foi ele ter permanecido igual. Foi a descoberta da coerência que a feriu de morte. Podes agredir, violentar, ofender, mas fornecer o mais pequeno indício de alegada indiferença, nunca!
De forma que na carta armadilhou o caminho a percorrer: a vitimização perante amigos comuns, a enunciação dos atributos de madre Teresa de Calcutá em versão apaixonada e até condescendência no pagamento futuro das 150 moedas.
Há pessoas assim: se são más, não o assumem, se rancorosas não o aceitam, se vingativas negam de pronto. E continuam a existência cordata pejada de referências boas. Pois, pá, o gajo é uma malandro. Quero lá saber se ébrio se equivocou. A verdade é que sóbria interpretei.

Quando descobriu que onde julgara dois, só ele contava, que na ausência de partilha restava a exigência e a cobrança, sentiu-se vazio. Vagueou sem nexo pela cidade, contando os candeeiros na avenida paralela ao mar, o chilrear das gaivotas marcando a cadência dos passos inseguros, o cheiro a maresia como analgésico e a vontade de desaparecer, de desnascer, causticando-lhe o peito sem cessar.

E depois, o quê? Nem manual de bom comportamento, nem aceitação de condutas impostas. Na verdade, só se sentia livre entre iguais.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Paternidades

O anunciado roubo de parte do subsídio do Natal aos trabalhadores e aos reformados e pensionistas – na sequência de um sem número de medidas de igual sentido que o Governo PS/Sócrates tem vindo a perpetrar – é bem o exemplo da natureza de classe evidenciada pela política de direita ao longo dos seus longos 34 anos de existência.

Essa natureza de classe - presente em todos os governos dos três partidos pais dessa política – expressa-se ao sabor de um esquema de grande simplicidade: os trabalhadores, o povo e o País são, sempre, o alvo a flagelar; o grande capital é, sempre, o alvo a favorecer.
O anúncio dessas medidas de classe conta, sempre e desde logo, com o aplauso entusiástico dos propagandistas de serviço à política de direita – os quais, como se sabe, ocupam a quase totalidade do espaço de «opinião» dos média dominantes.

Assim aconteceu neste caso do anúncio do roubo do subsídio de Natal: os propagandistas apressaram-se a concluir que sim senhor, essa é a forma mais fácil, expedita e rápida de resolver o problema do défice e de cumprir a ordem da senhora Merkel e dos restantes patrões da União Europeia, ou seja, o roubo é a solução.
Mário Soares, que ocupa lugar destacado nessa acção propagandística, e que alia a essa tarefa a função complementar de defensor maior, em Portugal, do capitalismo (democrático, é claro...), saltou a terreiro em defesa do roubo, como lhe competia, e aproveitou para lembrar (antes que lho lembrassem), que também ele, quando foi primeiro-ministro, roubou parte do subsídio de Natal aos trabalhadores portugueses.
É claro que, assumindo a paternidade do roubo, Soares demonstrou igualmente o conteúdo democrático do acto praticado. Tratou-se, Soares o diz, de um roubo não apenas democrático mas essencialmente salvador da pátria, de acordo, obviamente, com os conceitos de democracia e de pátria do autor do roubo – que é, por isso mesmo e como estamos fartos de ouvir dizer, o «pai da democracia».
E que é, como estamos fartos de saber e de sofrer, o pai da contra-revolução e da política de direita - paternidade esta inequívoca e abundantemente confirmada pelo ADN do progenitor e da cria.

José Casanova, AVANTE! de 13/05/2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O esmerado carácter de um ex-comunista

O fulano da foto foi, durante a maior parte da sua vida, comunista. Foi perseguido pelo fascismo, esteve preso, foi torturado. Depois de Abril, durante muitos anos, continuou a dizer-se comunista e chegou mesmo à direcção do PCP. Já com idade avançada e os cabelos brancos, mudou de ideias, algo a que todos temos direito.

Pretende agora convencer-nos que o que antes garantiu, asseverou, gritou, tudo aquilo por lutou durante dezenas de anos, afinal está errado. Evidentemente, só lhe dá credibilidade quem quer, até porque nada nos garante que daqui a seis meses não venha dizer a mesmíssima coisa que dizia antes e o seu contrário.

O fulano da foto, já entradote na idade, tornou-se catavento e, portanto, desdizer-se é o seu míster, a que nos ultimos tempos tem, aliás, dedicado intenso labor.

Anunciou agora que vai publicar um livro sobre Álvaro Cunhal. Sem cuidar do assunto relevante de saber se a um catavento é admissível ou lícito escrever sobre um homem digno, honrado, corajoso e coerente, o que mais me enoja é a facilidade com que, cobardemente, alguém decide pronunciar-se sobre quem, não estando vivo, não pode contestar a prevísivel montanha de alarvidades que agora se apregoa.