quinta-feira, 29 de abril de 2010

Sonho

Acordou de madrugada com uma ideia fixa. Afinal, começamos a morrer quando esquecemos  que fomos  crianças. Esquecemos o medo de perdermos a mão que nos guiava pelas ruas da cidade, o escuro medonho que escondia fantasmas esperando algures o momento de estarmos sós, o temor de tudo, os monstros que pejavam cada parede escura e que nos sitiava por baixo de leçóis e cobertores.

De repente, ou será paulatinamente?, desconhecemos o medo de que descobrissem as traquinices que fazíamos, o medo de termos medo. O medo de sermos grandes.

Perdemos o futuro quando esquecemos os pedidos ingentes que fazíamos, as birras habituais, os sonhos que nos moviam frágeis mas determinados. Esquecemos o medo de que não gostassem de nós, de que não nos dessem presentes ou nos envergonhassem perante os outros.

Começamos a definhar quando troçamos do que pensávamos em pequenos: o barquinho ao longe fugido de uma banheira citadina, o Superman sempre protector ou a moedinha da sorte. O medo do rídiculo macera-nos a carne condoída de uma noite em branco e os compromissos, transformam-nos em autómatos.
Sermos uma espécie em decomposição não nos deixa fruir o tempo em que nada tínhamos para fazer. A não ser brincar.

Acordou triste, magoado, exausto. A luz do candeeiro realçou-lhe as olheiras carregadas, os lábios irresolutos, os cabelos ralos. A lembrança dos baloiços no Alvito, o avião revestido a ferrugem em que sobrevoou oceanos imaginados, o cavalinho de papel, o pião carcomido no alcatrão da escola, os guelas de todas as cores e tamanhos, tudo lhe acentuava o mal estar.

De forma que se vestiu à pressa, bebeu uma caneca de leite com chocolate, calçou os ténis quase novos e acelerou o carro com direcção certa. No parque dos índios, o preferido dos filhos, a escuridão guardava tudo, mas não hesitou e tateando a rede, galgou-a sem esforço, com os sentidos despertos e um frio intenso na barriga obesa. Sentiu medo de ser apanhado, mas sorriu. O guarda jamais o surpreenderia... O piar de uma ave noctívaga, porém, estremeceu-o de pavor e correu a refugiar-se nas tendas cilíndricas.
 
Apache ou Sioux? Decidiu-se Baden Powel e urdiu planos para mil caminhadas. Salvaria os animais todos do planeta, e com um fósforo queimado desenhou o símbolo da paz no pulso enérgico. Nao sabe sequer como adormeceu, mas ao acordar no exterior da tenda, seres disformes gritavam sons inintelegíveis.

Persistiu num mutismo deliberado. Não lhe arrancariam palavra. Correu a manga da blusa para esconder a tatuagem e nem o silvar estridente da ambulância lhe indicou o local onde se encontrava. Deitado no chão pejado  de papoilas e azedas, foi enterrando lentamente as mãos na terra molhada. E não demorou a sentir os músculos revigorados e um calor a incendiar-lhe de força o peito forte.

Quando a personagem de estetoscópio ao pescoço lhe perguntou o nome, depois de comentar ,com um ser igual, que "só lhe apareciam malucos", encheu os pulmões e suavemente trauteou a canção que muitos anos antes ensinara aos filhos: "Uma gaivota voava, voava, asas de vento, coração de mar..." e irradiando felicidade, deixou-se conduzir na padiola das urgências à casa onde os adultos encerram as crianças que renascem tarde.




segunda-feira, 26 de abril de 2010

Democracia socialista


Às cinco da tarde de 25 de Abril, domingo, já tinham votado 8 094 489 eleitores,  de acordo com Ana Maria Mari Machado, presidente da Comissão Eleitoral cubana. Estavam inscritos 8 468 144 eleitores, ou seja, uma hora antes das assembleias eleitorais encerrarem, 95,6 por cento dos eleitores já tinham afluído às eleições.
Como é evidente, não sendo obrigatório o voto em Cuba, tal manifestação cívica só pode ser entendida num quadro de claro apoio à Revolução cubana.

domingo, 25 de abril de 2010

VIVA A LIBERDADE: OBRIGADO, PCP!


À Rita, que me perguntou há dias o que é a Liberdade.

Sabes filha, quando tinha a tua idade, caminhava de mão dada com a minha mãe, por uma rua de Lisboa, quando um polícia mau - nesse tempo eram quase todos - nos deu ordem de prisão.

O menino que fui não entendeu o absurdo: fomos arrastados violentamente para uma casa chamada Quartel do Carmo e pouco tempo depois vi a avó, que infelizmente não pudeste conhecer,  ser agredida violentamente por um bando de cobardes fardados.

O pai levava na mão uma guitarra de plástico, recheada de bombons, que a avó sabia ser um dos meus presentes favoritos.  Mas do que me recordo mesmo é de ver aqueles monstros baterem na minha mãe por ter colocado em caixas de correio uns papeis com palavras contra o governo fascista. 
Se fosse hoje, filha, se numa  dessas viagens que fazemos por Lisboa, o pai decidisse repetir o gesto simples da avó, nada me sucederia. Porque existe liberdade, porque podemos falar, escrever, gritar, sem que os polícias nos possam fazer mal.

Digo-te isto, filha, mesmo sabendo que as fardas hoje são outras, outros os cobardes de outrora e diferente a forma de limitar a liberdade, que passa também por nos fazerem acreditar que de facto podemos o que já nos roubaram.  Mas disso falaremos quando fores um pouco mais crescida, porque hoje me apetece ser feliz e não quero toldar-te já a descoberta recente que fizeste.

Prefiro dizer-te, do fundo do meu coração, que se hoje podemos falar de Liberdade, se vos pude mostrar o Forte de Peniche,  falar de prisões, de verdugos, se vos pude cantar a música "Uma gaivota voava, voava", se pude contar ao Ricardo "o Caminho das Aves", se  pudemos ir à Aula Magna em Março festejar o aniversário do Partido, foi porque muitos homens e mulheres, unidos, decidiram sacrificar-se durante muitos anos. 

Esses combatentes, os melhores de todos e muitas vezes e durante muito tempo, os únicos a resistir, estavam no Partido que já conheces, o nosso PCP.

E lutaram filha. Lutaram tanto e com tanta coragem, com tanta confiança no futuro, que puderam vencer o medo e fazer-nos livres. Antes de existir Liberdade, meninos e meninas como tu viviam tristes, cresciam sem brinquedos, com fome e sem escola, sem casa e sem roupa. A maioria não sabia ler nem escrever, não tinha médico, nem férias e muitos nunca chegaram sequer a ver a praia que tanto adoras.

Tu já sabes que existia a pide. Muitas pessoas não concordavam com a falta de liberdade, mas fosse por medo ou por não se querem incomodar, nunca fizeram nada. Só os homens e mulheres do Partido , alguns com filhos bem pequenos, nunca desistiram da luta.

E foram tão fortes, tão corajosos, falaram tanto com outras pessoas, lutaram tanto, que podemos dizer, falando verdade, que sem eles ainda hoje a Liberdade seria para ti uma palavra desconhecida. 

Quando eras mais pequenina e gritavas "Jerómino, avança, com toda a confidança" fazias-me tão feliz que só desejava que o avô Cácá, da estrela onde agora vive, te pudesse ver, orgulhoso e confiante na tua futura condição de comunista.

Um destes dias, vou falar-te do Álvaro. Aliás, talves amanhã mesmo te ofereça o conto lindo que escreveu para meninos e meninas como tu. Na opinião do pai, o Álvaro foi o melhor português de todos os tempos. Mas por hoje, ofereço-te este vídeo lindo, que ajuda a perceber, melhor do que as minhas palavras piegas, de que forma nasceu a Liberdade.


quinta-feira, 22 de abril de 2010

CUBA revolucionária, CUBA solidária!

  O Representante Especial do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, Edmond Mulet, felicitou o governo e os médicos cubanos pelo trabalho que estão desenvolvendo nesse país do Caribe. 

 "Felicito o governo cubano, mas especialmente os médicos,  as médicas e todos os cubanos que estão no país", disse Mulet, que é também chefe da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (MINUSTAH .) 

 Mulet, 59 anos, cidadão guatemalteco, reconheceu a paixão do pessoal de saúde de Cuba e fez referências a trabalhos similares realizados em seu próprio país.  "Eu vi que muitas vezes trabalham em condições muito difíceis, sem qualquer tipo de instalação, com uma forte dedicação e com amor por este país e este povo que sofreu", disse ele.

 O representante das Nações Unidas, reconheceu também "os planos, a médio e longo prazo, para que no Haiti  exista finalmente um sistema nacional de saúde e o exemplo que Cuba tem dado ao mundo nesta área", acrescentando que "é algo que pode ser aplicado aqui, e espero que possa ser feito. "

 Por outro lado, elogiou a maneira como Cuba tem trabalhado em benefício do povo haitiano, em colaboração aberta com o seu governo, com suas autoridades.

 (Com informações da Prensa Latina)

Sem comentários!

Hoje lembrei-me da Cidinha, que falta faz por cá, ao ver um tal Ricardo Rodrigues na Assembleia da República, integrado numa Comissão que, alegadamente investiga corrupção.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Pedro Passos Coelho é o conto do vigário.

Agora é a vez de Pedro Passos Coelho. Antes foi a de Manuela Ferreira Leite, Luís Filipe Menezes, Marques Mendes, Santana Lopes, Durão Barroso, Marcelo Rebelo de Sousa, Fernando Nogueira, Cavaco, e outros tantos. Sempre o mesmo blá, blá, para enganar incautos.

E as pessoas continuam com as mesmas incapacidades fundamentais, sem sequer conhecerem a diferença entre forma e substância. O vendedor de banha de cobra Passos Coelho é, na verdade, um trauliteiro. Um reaça com frustrados a apoiá-lo, como essa figura pidesca, com tanto para contar,  designada Ângelo Correia, o ministro da administração interna com "insurreição dos pregos", que pode e há-de exibir para sempre o assassínio brutal de dois trabalhadores às mãos da polícia de choque que comandou.

Ora estes trapaceiros, mais velhos ou mais novos, mais sérios ou mais corruptos, exibindo mais ou menos as setas do partido a que pertencem, mas que poderiam perfeitamente chefiar o gabinete de um qualquer pinochet, desde que a retribuição lhes agradasse, não têm qualquer solução para salvar o país.

Mas como experimentados vigaristas políticos acham que o verbo é tudo. E, de eleição para eleição, recauchutam o discurso, mudam os fatos e as gravatas, os penteados e os olhares, o tom de voz e os trejeitos, as designações e os ademanes, sem abandonarem, contudo, a política velha que tanto desastre causou já.

Sofistas, invertebrados, acham que as respectivas barrigas determinam Portugal e confundem os umbigos sujos com o interesse nacional. Por isso, enebriados, investem contra o monumento que ainda representa a revolução de Abril, a Constituição da República.

Passos Coelho pode ganhar todas as eleições. O que não conseguirá é disfarçar, para quem da História souber alguma coisa, a sua essência de plástico recauchutado. Vejo-o como um organismo composto de restos putrefactos: as pernas de Durão, o cérebro de Menezes, as mãos de Mendes, a incoerência de Nogueira e a impotência, a desadequação, da política que todos desenvolveram.

Votar nele é pois, a curto ou médio prazo, convocar um novo congresso do ppd, psd, da mesma coisa infecta que se vê. E adiar a real alternativa à criminosa política de direita.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cinco anos de vida: a luta continua!

Este modesto blogue faz hoje cinco anos. Criado por influência do meu amigo António Balbino Caldeira, tem servido, sobretudo, como meio de expressão do que penso e sinto e como ponto de encontro com imensos leitores. Lendo o que escrevi sinto a alegria quem se revê em tudo quanto fez, com maior ou menor qualidade, e o orgulho de persistir no caminho que há muitos anos iniciei.

Este é um blogue escrito por um comunista. Assumi-o desde o início, o que, como é evidente, não significa que tenha estado à altura da qualidade que reivindico. Porém, cada vez tenho mais orgulho em ser português. E parte considerável desse sentimento devo-o à existência do Partido Comunista Português, que com a sua heróica história de 89 anos é hoje um caso único em todo o mundo.

É evidente que poderia ter feito muito mais e melhor. Mas um blogue também deve ser isto: espaço em branco que só devemos preencher quando sentimos necessidade. E sem mais preocupações do que deixar impresso, com fidedignidade, o que somos ou almejamos ser. Agradeço a todos os visitantes deste blogue o apoio e incentivo que espero continuar a merecer. 

Publico de seguida um pequeno texto -só a esta hora por dificuldades que o template quis encontrar - de um grande e corajoso jornalista, curiosamente arredado dos principais meios de comunicação, que há mais de sete anos me apoia e sem cuja solidariedade - e a da Sofia Ganhão, sua companheira querida e uma mulher do tamanho do mundo - me teria sido bem mais difícil resistir. Obrigado, camarada António!




Obrigado, Pedro!

Conheci o Pedro vai para 7 anos quando, incrédulo, o País acordou para o escândalo da pedofilia. Primeiro com a distância que um jornalista deve ter do “objecto da notícia”, depois despertando o cidadão que há em nós, fui construindo a minha convicção de que “a dor das crianças não mente”! 

O processo Casa Pia foi aquilo que mais abalou a minha vida. De tal forma que, durante três anos, fui incapaz de exercer a profissão. Ultrapassada a fase da relação jornalista-fonte, tornei-me amigo do Pedro. E, hoje, para além da amizade que nos une há essa velha cumplicidade de irmãos.

Discordamos muito, discutimos muito, houve uma altura que nos afastamos, por mútuo consentimento e sem constrangimentos. Mas essa irmandade dos que – contra a corrente – lutam e afirmam cidadania foi mais forte.

A minha vida sem José Pedro Namora teria sido mais pobre. Ele (re) ensinou-me que VALE A PENA LUTAR – sob novas formas e novos meios! No 5º aniversário deste blogue quero dizer: PRESENTE!

António Manuel de Alte Pinho
http://www.jornalprivado.blogspot.com/
www.jornalprivado.blogspot.com

quarta-feira, 7 de abril de 2010

CUBA VENCERÁ!

Em prol da verdade, a luta continua!

Lamentando não possuir a versão legendada, deixo aqui este documento importantíssimo por traduzir a determinação da juventude cubana em defender a sua revolução.

                                             CUBA VENCERÁ!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Mário Soares, um charlatão político!

Soares, que amiúde se arma em pai da Pátria, mente hoje, com o descaramento com que construiu a carreira política, nas páginas do diário do sistema, DN de seu nome. Afirma o sujeito que o PCP é apenas um partido radical de protesto.
Coitado, mente com todos os dentes que já teve na boca suja de tanta mentira proferir. Ele sabe bem, mas dá-lhe jeito fazer que não, que o PCP não apenas critica o sistema miserável que nos destrói a vida, como apresenta soluções que, se realizadas, permitiriam tornar muito melhor a vida dos portugueses.
Enojado li a entrevista, por esperar que o fulano, cuja ascensão política foi propulsionada por Carlucci e CIA, nos explicasse por que razão ele e a família estão em todas. De tal forma que foi a senhora sua esposa a madrinha dos submarinos que tanta investigação policial provocaram.
Claro que o biltre nem aflora a questão. Do que trata é de fazer a apologia de Sócrates, o putativo engenheiro que, justiça seja feita, pelo menos conseguiu igualar o mestre na arte da sujeira mais abjeta.
Que dois execráveis patifes!