sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Mártires caídos na luta

Como se assinala no magnífico livro das edições Avante! que comemora o 60º aniversário do PCP:

"Dezenas de militantes comunistas, homens e mulheres filhos do povo trabalhador, intelectuais e artistas, caíram na luta assassinados pela ditadura fascista. Lutaram pela defesa dos interesses da classe operária e de todo o povo. Lutaram contra a opressão e o terror e pela liberdade de todos os portugueses. Mártires antifascistas. Legaram-nos sementes de liberdade. O seu exemplo e o seu sacríficio jamais serão esquecidos."

Destaco hoje Militão Ribeiro, através de um texto de José Dias Coelho, também assassinado pela pide:

"Militão Bessa Ribeiro, preso juntamente com Álvaro Cunhal em 25 de Março de 1949 (a sua quarta prisão) já se encontrava então com a saúde muito abalada por longos anos de prisão e duas deportações no Campo de Concentração do Tarrafal. O rigoroso regime prisional, a alimentação imprópria e a falta de tratamento começaram por agravar-lhe os padecimentos. Esteve semanas inteiras sem evacuar, sendo-lhe inclusivamente recusado um clister. Cada vez mais abatido, acabou por adoecer gravemente e resolveu fazer a greve da fome como protesto contra a falta de assistência médica e de uma dieta adequada.
Foi mudado para uma cela da enfermaria da penitenciária, mas a situação manteve-se praticamente a mesma, no mais rigoroso isolamento, sem visitas da família nem mesmo correspondência. Um doloroso calvário de padecimentos físicos e grandes perturbações nervosas fazia-lhe por vezes soçobrar a razão, mas não lhe roubou nunca o entranhado amor ao Partido e ao Povo, nem a confiança num futuro melhor, que já não partilharia.

Durante a greve de fome passava as noites a cantar uma canção revolucionária que então inventou: "Avante! Avante!/Não podemos parar/Nem recuar na luta..."
A voz quebrada e rouca ressoava estranhamente lúgubre no silêncio sepulcral das alas da Penitenciária. Na escuridão apenas os postigos iluminados das quatro celas afastadas ao longo do interminável corredor, quatro vigílias e aquela voz esgotada, numa mensagem de angústia.
Até às vésperas da morte, Militão manteve a preocupação de comunicar ao Partido a sua fidelidade e confiança. Escreveu várias cartas à Direcção do Partido, que foram interceptadas pelos carcereiros, só tendo chegado duas ao seu destino, uma das quais escrita com o seu próprio sangue.
A PIDE assassinou-o cruelmente, um crime lento, dos que não deixam vestígios. Militão morreu de inanição em 2 de Fevereiro de 1950."
                                            José Dias Coelho, A Resistência em Portugal.