sábado, 31 de dezembro de 2005

O fogo e a infâmia

A notícia foi dada , esta madrugada, pela TSF: nos países nórdicos adoram o fogo de artifício. Tanto que gastam numa noite o equivalente a toda a ajuda que prestam aos povos do terceiro mundo. É tão benemérito o capitalismo!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

A quem interessa a discussão estéril?

Como o país não tem problemas, o essencial da campanha presidencial, ontem - e seguramente nos próximos dias -, foi o vendaval de críticas que desabou sobre uma sugestão do candidato Cavaco Silva. O absurdo já não incomoda, nem a desfaçatez. Se querem que o homem desça nas sondagens apontem-lhe a governação passada, vergastem-lhe as propostas que defende, arrasem-lhe os objectivos que propõe. Mas isto senhores?
Que mal tem sugerir ao executivo a criação de determinada pasta governamental? Cai São Bento? E algum candidato a Belém pode garantir que, durante a campanha em curso, só defendeu exclusivamente ideias e propostas enquadráveis no conjunto, limitado, dos poderes presidenciais?
Não nos chamem estúpidos. Esta peixeirada estéril e demagógica só serve um objectivo: esconder que se a esquerda não possui hoje um candidato comum, capaz de lutar contra Cavaco, tal se deve à arrogância do PS. A mesma que entregou à direita a Câmara de Lisboa e que dentro de pouco tempo fará o mesmo com o governo do país.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Revolta

No blogue Do Portugal Profundo, li a justa homenagem feita a todas as vítimas directas e indirectas do processo Casa Pia, a todos os seus Heróis que denunciaram e investigaram este caso. Li também nos jornais de hoje, uma "possível" absolvição a quem é acusado e continuam a colocar o seu nome, num julgamento não terminado! Ele já é absolvido? Afinal quem irá ser condenado?

«…A palavra que ordene a confusão Que neste remoinho se teceu?»

Justiça, mentira, Acórdão, embuste, Tribunal,
engano, Criminal, equivoco, Crianças, dor,
Portugal, tranquilo, Vitima, vexação, Notícia,
difamação, Processo, humilhação,Moral,
violada, Criança, dor, Deputado, privilégio,
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irritação, Defesa, delação, Alegados,
depravados, Réu, protecção, Arguido,
perdoado, Absolvição, iniquidade,
Comunicação, branqueamento, Jornalistas,
putrefacção, Testemunhas, logro,
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Vítimas, lágrimas, Jornalistas,
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encobre, Criança, sofrimento, Testemunhas,
verdade, Vitimas, esquecimento, Deputado,
vingança, Vítimas, coragem, Vitimas,
Luta, População, solidariedade, Justiça,
caos, País responsável!
por um Governo, ridículo, ineficaz,
perverso, perigoso e injusto!
Talvez ninguém tenha entendido!Provoca-me desordem, revolta, tristeza e confusão!Mas a Luta Continua e Vale a Pena Lutar! Toda a Solidariedade para com as Vítimas e os Heróis que também sofreram, por esta Luta!
GR

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

O assassino não perdoou!



Stanley Williams, conhecido por Tookie, foi hoje assassinado numa prisão dos EUA. Tookie nasceu a 29 de Dezembro de 1953 em Nova Orleães. Sem pai e afastado da mãe, cresceu no complicado bairro de South Central, em Los Angeles. Em 1979, com 17 anos, criou em conjunto com Raymond Lee Washington, o gang de rua “Crips”. Em Los Angeles proliferavam os gangs que praticavam violência de forma indiscriminada.
Os “Crips” alastraram rapidamente. No ano em que foi criado, o gang já tinha membros por toda a Califórnia e as suas práticas tornaram-se tão violentas como as de qualquer outro gang da altura. Em 1979, Raymond foi assassinado por um membro de outro gang e Tookie foi preso por suspeita de ter assassinado quatro pessoas num assalto. Em 1981, foi declarado culpado e condenado à morte, apesar das suas permanentes alegações de inocência.
Desde então esteve no corredor da morte, na Prisão de San Quentin e colocado na solitária em 1987. Ao fim de dois anos, iniciou um processo de reflexão que o levou a constatar a gravidade do seu acto enquanto criador dos “Crips”. Tookie iniciou então um trabalho que, como o próprio explicava, era dirigido aos mais jovens, por serem os mais necessitados de um "modelo" em que se pudessem inspirar para evitar os caminhos da violência.
Em 1996, lançou a série de livros Tookie Speaks Out Against Gang Violence. Em 1998 publicou o livro Life in Prison. Ambas as obras são dirigidas a jovens, procurando desencorajá-los da vida em gangs e mostrando as consequências da violência. O livro Life in Prison procura, além disso, descrever a angústia de um condenado à morte .
Simultaneamente, lançou o Projecto de Internet para a Paz nas Ruas, através do qual uniu jovens de bairros problemáticos da Califórnia e da Suíça, bem como de outros pontos do globo, incentivando-os à aprendizagem, através do uso de computadores e da troca de experiências, que evite a onda de violência nas ruas.
Pelo trabalho efectuado com estes jovens em situações de risco, Stanley Williams foi nomeado cinco vezes para o Prémio Nobel da Paz e quatro para o Nobel da Literatura.

Stanley demonstrou um profundo arrependimento por se ter envolvido nas actividades de gangs, mas reiterou sempre a sua inocência nas mortes por que foi acusado. No seu julgamento constatou-se que contribuiram para a condenação os testemunhos de indivíduos cadastrados, ou com acusações pendentes, o que motivou o próprio Tribunal de Recursos a declarar, em 2002, que estes poderiam ser facilmente incentivados a mentir, em busca de um qualquer perdão ou atenuante para os seus casos.

No entanto, o Supremo Tribunal recusou o apelo de Tookie para que se investigassem eventuais motivações racistas e discriminação no seu caso. Por exemplo, o Acusador do Ministério Público retirou três jurados Afro-Americanos do júri. Nas alegações finais, comparou Stanley durante o julgamento a um tigre de Bengala e declarou que a comunidade negra de South Central Los Angeles era o equivalente ao habitat natural de um Tigre de Bengala. Este acusador já foi censurado duas vezes pelo Supremo Tribunal da Califórnia por comportamento semelhante.
Foi este homem, recuperado e diferente, que o troglodita Arnold Schwarzenegger - ele próprio um cultor da violência, que fomentou em todo o planeta com os seus filmes imbecis - mandou assassinar hoje pela manhã. E ainda há quem duvide da natureza medieval dos EUA.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Cruzada de Revelações

Em menos de uma semana, dois jornais daqueles que, a si próprios e uns aos outros, se chamam de referência, entregaram-se a sensacionais revelações. No Diário de Notícias (26.11), «Pacheco Pereira revela assassínio no Comité Central», enquanto o Público (1.12) dispara outra «Revelação» : «Catarina Eufémia não estava grávida quando foi morta há 51 anos» - e mais outra: «crónicas da época, bem como os testemunhos de então e dos que resultam da investigação do médico que a autopsiou, indicam que a ceifeira não seria militante do Partido Comunista».
Ora, se, como dizem os dicionários, revelação é a «divulgação de algo ignorado ou que está em segredo», estamos, então, e para já, perante revelações que não o são – isto, ainda que correspondessem a verdades comprovadas, o que não é o caso, como sabe quem quer saber.
Tanto as revelações do Diário de Notícias como as do Público, andam a ser difundidas há várias décadas, o que lhes confere um tempo de revelação singular… Recorde-se, ainda, que estamos perante revelações oriundas da mesma fonte: ambas foram divulgadas, em primeira-mão, pelo regime fascista. E acrescente-se, a talhe de foice, que nenhum dos aludidos reveladores actuais aduz seja o que for ao que, sobre a matéria, foi revelado em meados do século passado: o médico (um dos que fizeram a autópsia de Catarina) não apenas vem repetir o que, há mais de meio século, foi revelado sobre o «relatório da autópsia» - revelação que era de todo o interesse para o regime fascista e para a PIDE – como se limita a repetir a revelação, no mínimo com trinta anos de idade, de que Catarina não era militante comunista (dir-se-ia, até, que a própria autópsia revelou a opção partidária de Catarina…)
Quanto à revelação agora atribuída pelo DN a Pacheco Pereira foi, também ela, divulgada pela PIDE há mais de cinquenta anos… E em matéria de provas, nada de novo é acrescentado ao que a PIDE já havia concluído.
A não ser a prova que, à falta de provas, Pacheco Pereira apresenta: «Esta é, pela sua natureza, uma decisão que não se põe no papel e que, de um modo geral, não se proclama nem se reivindica nos partidos comunistas»...
Da mesma família, para pior, neste caso entrando já pelos enlameados caminhos da abjecção, é a prova de Luís Filipe Rocha, que leva ao pico a cruzada de revelações ao citar uma pessoa que já não o pode desmentir… Que tristeza! Que lástima!
José Casanova, in Avante!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

No silêncio dos olhos



Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?


José Saramago
Os Poemas PossíveisLisboa, Caminho, 1999

A luta continua!



A administração da Autoeuropa, multinacional que tem recebido favores excepcionais de sucessivos governantes subservientes, recorre de novo à chantagem para impedir aumentos salariais dignos.
Mesmo reconhecendo que a produtividade tem sido excepcional, os ditadores, cientes de que se encontram numa república dirigida por bananas, ameaçam com a deslocalização da empresa se os trabalhadores persistirem na luta por melhores salários.
Porquê? Porque para os novos senhores feudais não basta um desempenho laboral excelente. Precisam de fazer sangue, de reduzir a cinzas direitos conquistados ao longo de décadas. Anseiam por domesticar os que trabalham, pagando-lhes cada vez menos. Se existisse um governo honrado e não esta miscelânea de invertebrados, os senhores levariam um pontapé no rabo imundo.
Se existisse uma comunicação social livre, a pedagogia da liberdade, da soberania nacional e da dignidade de quem trabalha, sobrepor-se-ia ao coro panegírico dos empresários que há-de chegar.
Assim, resta a luta. Que seguramente fará reforçar a consciência social de muitos que, trabalhando na Autoeuropa, se deixaram embalar pelo cântico prestidigitador dos que apontavam à dita administração um traço de modernidade.
A luta continua!

quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Ao Sérgio e às suas utopias



NO CAMINHO DA UTOPIA

A utopia está lá no horizonte.
Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

Eduardo Galeano

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

OBRIGADO DR. PEDRO!


Atordoado, ainda, pela indignação com que li o recente acórdão da 3.ª Secção da Relação de Lisboa, descobri ontem que o pedopsiquiatra Pedro Strecht, - o dr. Pedro, como carinhosamente o tratam as vítimas da barbárie - vai ser julgado em tribunal.
Segundo li, o HOMEM digno, corajoso, competente, honesto, cometeu um crime gravíssimo: disse saber que as vítimas tinham sido ameaçadas. Ora, eu próprio o disse, por ser verdade, inúmeras vezes.
Num dia à tarde, em Belém, com o meu filho Francisco ao colo, fui abordado por uma das vítimas, aterrorizada com a perseguição que lhe estava a ser movida. Outra vítima, ex-aluno, narrou-me como foi procurado no local onde trabalha só para lhe mostrarem que sabiam por onde andava.
Pedro Strecht é um porto de abrigo para crianças que não têm nada, nem ninguém. Poderia ter ficado calado, mas percebendo o perigo que corriam aqueles que nele confiam, lutou para lhes salvaguardar a integridade física e a vida.
O dr. Pedro tem que saber que não está sozinho. Pessoalmente vou empenhar-me na criação de um amplo movimento de solidariedade para com este arguido político, porque na realidade é disso que se trata. E quando estiver com ele, vou oferecer-lhe um livro heróico e comovente: "A defesa acusa", que seguramente o ajudará a reforçar a determinação com que vai enfrentar o tribunal.
Dr. Pedro, as crianças deste país, especialmente as mais desfavorecidas, precisam de si. E não há pronúncia judicial que belisque esta realidade.

terça-feira, 15 de novembro de 2005

A FÁBRICA

Da minha janela, via homens e mulheres de batas azuis, correndo para mais um dia de trabalho! O Sol espreguiçava-se e os trabalhadores, entravam na grande porta verde. Só voltariam a sair, depois do céu escurecer!
Ao meio-dia, homens e mulheres de bata azul, sentavam-se nas pedras gastas, levantando testos de minúsculos tachos reluzentes! Falavam baixo, desconfiados ou talvez tristes! Nos pés, socos de madeira, tornando visíveis as gretas de uma pele dura!
Fabricavam brinquedos. Brinquedos que os filhos dos trabalhadores, nunca puderam ter! Cresci a ver os trabalhadores envelhecer!
Numa véspera de Natal, gritos e gemidos, perturbaram azafama das compras para o sapatinho. Na grande porta verde, um papel vaticinando um triste Natal: “FECHADO”! Duzentos trabalhadores parados! Não receberam ordenado!
Horas depois, o som estridente de uma ambulância, levaria um trabalhador já sem vida! O coração parou, quando as máquinas da fábrica desligaram!
Da minha janela, via homens e mulheres de batas azuis, correndo para mais um dia de trabalho! Hoje, metade da Fábrica é um esqueleto de tijolos e pedras gastas, caindo diariamente. A outra metade, um condomínio de luxo! Passaram-se décadas. Soube que os trabalhadores nunca receberam dinheiro, nem subsídios, nem trabalho! Da maior Fábrica de brinquedos do país!
O Patrão, tem cavalos, carros e vivendas! Colecciona arte sacra e relógios do sec. XVIII !
Ao domingo, vai à missa do meio-dia, pedir para que Deus o continue ajudar!

GUIDA RODRIGUES

A consulta


Manhã, sol radioso. Uma brisa quente envolve-nos o corpo!
Entrou na sala de espera onde, dezenas de pessoas com caras aborrecidas e sonolentas, esperavam a consulta. Sentou-se! Um estranho sentimento de raiva, invadiu-a! Calmamente tirou o livro do saco. Abriu o livro, pouco importava em que página o fazia! Com um olhar distante, avistou longos corredores, enfermeiras sorridentes, médicos cumprimentando colegas, um rouco altifalante, trouxe-a novamente à leitura.
Atrás de si, uma mulher contava o seu infortúnio; “…sim, foi logo após ter tirado o peito… pobre, do meu marido! Não aguentou o desgosto e separou-se…” Pouco ou nada ouvira da história, mas irritara-a! Complacência em demasia, fere! Mulheres contrapunham a tese da senhora. Pouco importava! Abriu novamente o livro. Na única cadeira vaga, uma jovem grávida senta-se. Alta, tez morena, despreocupada e alegre. Uma futura mãe, muito jovem! “É só uma consulta de rotina. Consideram-me de risco, por causa da mama. Qual mama (rindo) essa há muito que me arrancaram! Mas agora estou grávida e tudo está bem. Eu estou feliz”!
Levantou-se. Estes apartes começavam a enervá-la! Tardava a nefasta consulta!
O altifalante quase imperceptível, balbuciou o seu nome. Entrou na sala da consulta de grupo.
Numa mesa redonda, muitos papéis. Cartas, radiografias. Reconhece-os, eram seus!
Cinco, talvez seis médicos calmos e sorridentes solicitam que se sente. Falam, gesticulam! Deixa de os ouvir! Sente que está a ser puxada para dentro da pequena cadeira! Não consegue ver a sala! O seu olhar percorre rapidamente o nada! O chão mexe! Não consegue destrinçar as vozes! O seu corpo está preso! Uma surdez impede-a de reflectir! Está confusa! A pressão sentida no interior da sua cabeça, é insuportável!
Levanta-se! Corre até ao táxi mais próximo! “Por favor vá, não pare, vá em frente” O taxista, segue a sua marcha, espreitando com um triste olhar, pelo retrovisor! Um choro compulsivo e silencioso, quase a sufoca! Chorou! Chorou de raiva, medo, desgosto, chorou por não ter ouvido o diagnóstico! Sem que nada tenha dito, o taxista ao fim de uma hora, deixa-a novamente à porta do Instituto! Esboça-lhe um sorriso, quase solidário!
Entra, lava a cara, decidida, bate levemente na porta da consulta de grupo!
Senta-se calmamente com um sorriso nos lábios, ouve o diagnóstico dos médicos!

O cancro mata, anualmente 1 500 mulheres em Portugal. Todos os anos surgem mais de 5000 novos casos de cancro da mama no nosso país. Mais de 90% são tratáveis quando o diagnóstico é feito atempadamente.


Guida Rodrigues

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Vale a pena lutar!

Veste preto! É uma menina linda!
Uma beleza natural! Tem alguma agressividade,
muita desconfiança, evita ter amigos!
Vive num quarto alugado, trabalha muito!
Veste negro, sempre preto, igual à sua tristeza!
Dos quatro até aos doze anos, foi violada pelo pai!
Aos dezassete anos, no decorrer do processo Casa Pia,
e ouvindo as vitimas, tão iguais a ela,
foi aos Instituto de Medicina Legal, arranjou um advogado.
Hoje, o pai encontra-se na prisão! A mãe nunca lhe perdoou!
Conheci-a há dias! Tem 20 anos, um filho de dois anos!
Trabalha muito! Valeu a pena a sua luta!
Valeu a pena ter acreditado, nas vítimas da Casa Pia.
Que tanta força, lhe deram!
VALE A PENA LUTAR!

GR 10/11/05 23:59

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Recordando Anna C. Salter

Do livro “PEDOFILIA E OUTRAS AGRESSÕES SEXUAIS

"Nunca encontraremos um abusador de menores que não seja um mentiroso experiente, mesmo que a sua arte não seja nata.

“(...) o silêncio é a alma das agressões sexuais. (...) os criminosos sexuais conseguem agir impunemente durante décadas, talvez mesmo durante toda a vida; (...) conseguem enganar todo o tipo de pessoas, em todo o tipo de lugares; "

"As investigações têm relatado prontamente a frequência com que os crimes de natureza sexual ocorrem nos Estados Unidos. Nós é que não lhe temos prestado a atenção devida. Investigações realizadas desde 1929 documentam taxas de abuso sexual de crianças do sexo feminino situadas entre os 24 e 37 por cento. Os estudos relativos ao sexo masculino são mais raros, mas os poucos que existem apresentam taxas alarmantes, alguns entre os 27 e 30 por cento."

"Aquilo que parece mais espantoso é que estes estudos apresentavam provas daquilo que à época era considerado abuso sexual e ninguém lhes prestou atenção."

"O Dr. Gene Abel, juntamente com um grupo de colegas, conduziram uma série de estudos sobre delitos sexuais em finais da década de 80
, em que era pedido aos criminosos que, de forma voluntária, dissessem quantos crimes sexuais tinham praticado no total. Os resultados deixaram os profissionais da comunidade estupefactos. Duzentos e trinta e dois molestadores de menores admitiram terem tentado praticar mais de 55 mil actos de abuso sexual; alegaram terem sido bem sucedidos em 38 mil destes incidentes que abrangiam um total de 17 mil vítimas. Tudo isto vindo de apenas 232 indivíduos. Os molestadores de crianças de sexo feminino que não viviam com eles contavam uma média de vinte vítimas cada. Embora fossem em número mais reduzido, aqueles que abusavam de crianças do sexo masculino que não habitavam na mesma casa eram ainda mais activos, com cerca de 150 vítimas cada."

"Não obstante estes números impressionantes, a maioria destes criminosos nunca foi denunciada. Na verdade, Abel calculou que as possibilidades de um criminoso sexual ser apanhado era de três por cento. Ao que parece, o crime compensa, e o crime sexual parece compensar particularmente bem. O que me parece verdadeiramente assustador é que os criminosos já tinham sido anteriormente denunciados por crianças, e as denúncias haviam sido ignoradas."

"Ignorar uma revelação válida pode ter consequências desastrosas. No mínimo, aumenta a confiança do criminoso na sua capacidade de passar impune. Frequentemente, constitui uma permissão para voltar a atacar a mesma criança."

"Estou nesta área há demasiado tempo para acreditar que, só porque o indivíduo é culpado e só porque alguém descobriu a verdade, isto automaticamente significa que ele vai ser responsabilizado."

"Quer se trate de mulheres ou de homens, os criminosos sexuais são difíceis de detectar. O seu interesse pelas crianças pode ser obsessivo, todavia está quase sempre bem oculto."

"Apenas cerca de 5 por cento dos violadores chegam a ser detidos e ainda menos cumprem uma pena significativa. Em 1991, ocorreram aproximadamente cerca de 700 000 violações de mulheres adultas nos USA, segundo um inquérito dirigido à população em geral acerca da sua experiência em ataques de cariz sexual. As violações de adultos constituem somente cerca de um terço das violações perpetradas todos os anos nos EUA. Ainda que o violador seja apanhado, leva tempo até que estes casos sejam julgados – tempo para que os crimes sejam investigados e para que o processo seja enviado a tribunal. Consequentemente, podemos verificar o seguimento destes casos olhando para o ano de 1992 e não para o de 1991, quando os crimes foram perpetrados. Em 1992, um total de 120 000 crimes de natureza sexual foram comunicados à policia. Dentre estes, o número de criminosos que foram efectivamente acusados, julgados e condenados e que depois passaram pelo menos um ano detidos foi de 7 500, ou seja, menos de 0,5 por cento do número real de casos de mulheres violadas comunicados aos investigadores."
" Não há dúvida que o crime sexual compensa mesmo."

quarta-feira, 9 de novembro de 2005

A alegada TSF

Um deste dias, uma das vítimas dos pedófilos, que a TSF trata, acintosa e repugnantemente, por alegadas vítimas, referiu ao tribunal não ter dito tudo quando foi ouvida pela juíza de instrução. Tinha optado por não referir mais nomes de agressores porque, revelou, se queria ver livre do sofrimento que o processo - que se eterniza para gáudio de alguns - lhe tem provocado.
Tanto bastou para que a alegada TSF escarrasse o insulto brutal, em sucessivos espaços informativos: "Alegada vítima reconheceu em tribunal ter mentido".
Será que naquela casa, antes prestigiada, já não mora ninguém com coração? Ou apenas alguém que conheça a distinção entre mentir e omitir? Alguém que possa discernir que afirmar que a criança mentiu, sem mais, é contribuir para o miserável peditório dos pedófilos, que em todo o mundo usam sempre esse argumento para descredibilizar as vítimas?
Quando será que os alegados jornalistas da alegada TSF entendem, se é que tal alguma vez será possível, que as vítimas foram analisadas no Instituto de Medicina Legal, por profissionais competentes, que não tiveram qualquer dúvida em reconhecer o óbvio: as crianças foram reiteradamente abusadas, algumas com tal brutalidade que, para retomarem a sua vida "normal", necessitam de ser sujeitas a intervenção cirúrgica?
São por isso, tão "alegadas" quanto as vítimas do fascismo, do nazismo e de outras barbáries. Por mais que alegados e prestativos jornalistas afirmem o contrário.

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Bem prega Frei Sócrates...


Da caixa de correio:

“No momento em que eliminam vários direitos adquiridos, em nome da sustentabilidade das contas do país e da equidade de direitos na função pública, José Sócrates e o PS alargam até 2009 o generoso regime de privilégios de autarcas e deputados. Pior, fazem-no à socapa, com enganosos artifícios por baixo da mesa, e tentando passar a ideia de que estão a fazer o contrário, a moralizar o alargado esquema de regalias da classe política. Atente-se nos passos desta artimanha processual e política.

Antes de impor os generalizados sacrifícios e cortes à função pública, José Sócrates anunciou e garantiu que, como exemplo, os políticos seriam os primeiros a prescindir dos seus regimes de privilégios injustificados. Para isso, e porque «os sacrifícios teriam de ser distribuídos por todos» como assegurou, iria ser revista a lei das subvenções dos políticos. Uma lei que, há mais de duas décadas, permite que seja contado a dobrar o tempo em funções dos políticos para efeitos de reforma, que lhes seja atribuído um invejável subsídio de reintegração ou que se reformem antecipadamente muito antes dos 65, dos 60 ou até dos 50 anos. O fim destes privilégios iria abranger, de imediato, mais de um milhar de autarcas (presidentes de câmara e vereadores executivos) e algumas dezenas de deputados, entre outros políticos.
A nova lei entrou mesmo no Parlamento a 16 de Junho e foi votada e aprovada a 28 de Julho. Faltava apenas a votação final global que, face ao crescente clamor de protesto dos aparelhos partidários, o Parlamento meteu na gaveta e deixou para depois das férias. Começava a perceber-se que a nova lei só iria entrar em vigor depois das eleições de 9 de Outubro, por pressões de autarcas e estruturas partidárias. Na verdade, para um autarca que tivesse terminado o seu primeiro mandato e agora se recandidatava, a entrada em vigor da nova lei implicaria que no final de 2009 apenas contasse 8 anos, de dois mandatos, para a sua reforma. Se a lei não entrasse em vigor (e como a anterior estipula que, a partir dos 6 anos em funções, a contagem é feita a dobrar), esse mesmo autarca chegaria a 2009 contabilizando 16 anos para a sua reforma. E muitos deles, deputados e autarcas, poderiam mesmo continuar a usufruir até 2009 do privilegiado sistema de reformas antecipadas. Percebia-se a inquietação.

Quando o Parlamento reabriu, a 15 de Setembro, Sócrates fez questão que a aprovação final da nova lei fosse votada de imediato, para afastar dúvidas e suspeições. E foi. Só que, em vez de seguir para promulgação em Belém, ficou a aboborar nos gabinetes do Parlamento e na secretária do socialista Osvaldo Castro. Só foi enviada a Jorge Sampaio a 4 de Outubro e contendo uma disposição que estipula que «a presente lei entra em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao da sua publicação». Ou seja, estava garantido que os autarcas reeleitos a 9 de Outubro podiam dormir descansados. A nova lei só teria efeitos a partir de 1 de Novembro. Os vinte dias que o Parlamento e o PS retiveram a lei, antes de a enviar para a Presidência, tinham sido cirurgicamente providenciais.

Sampaio promulgou a lei com rapidez, em dois dias, e enviou-a para publicação em «Diário da República», onde viu a luz do dia na manhã seguinte às eleições autárquicas. Mas já era tarde para ter efeitos imediatos. Ainda assim e porque as leis entram em vigor cinco dias após a sua publicação (não fosse a disposição que, neste caso, remete para 1 de Novembro), muitos autarcas recearam que ela passasse a vigorar logo no dia 15 de Outubro. E, à cautela, num movimento inédito logo na primeira semana pós-eleições, muitos foram os concelhos e os autarcas que se apressaram a antecipar as tomadas de posse. Não fosse o diabo tecê-las.

Em conclusão:
No momento em que restringem direitos a vários sectores da Função Pública, em que extinguem subsistemas de saúde mais favoráveis, em que aumentam a idade para efeito de reforma, em que congelam salários e progressões nas carreiras - nesse mesmo momento, José Sócrates e o PS permitem que as regalias e regimes especiais da classe política se prolonguem até 2009 e abranjam mais umas larguíssimas centenas de políticos no activo.

Com que cara e com que moralidade pode o primeiro-ministro, o PS e os deputados ( que foram cúmplices nesta artimanha processual em proveito próprio) encarar os funcionários públicos em greve? Ou exigir que a generalidade dos funcionários públicos compreenda as dificuldades e aceite os sacrifícios? Não sobrará, no meio de tudo isto, um mínimo de vergonha?”

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

OLIVÉRIO UM HOMEM SOLIDÁRIO!



Francisco António Cadena Colazzos, mais conhecido como Padre Olivério Medina, desenvolveu um trabalho durante oito anos (1975-1983), em prol dos mais carenciados. Ainda jovem, o padre colombiano, respeitado no meio da comunidade camponesa em Neiva – Colômbia, lutava para que todos tivessem direito à saúde, educação e alimentação! Os paramilitares de extrema-direita perseguem-no e ameaçam-no de morte. É obrigado a refugiar-se nas montanhas. Em 1983, troca o sacerdócio pela guerrilha da FARC – Exército do Povo. Juntamente com os guerrilheiros, tentam uma solução pacífica para os problemas do povo colombiano.

Em 1997, Olivério vai viver para o Brasil, dedicando-se a divulgar a situação do seu país e a luta das FARC –EP. Em 2001, organiza o “I Encontro Internacional para a Paz na Colômbia” realizado em El Salvador.

No dia 24 de Agosto 2005, foi preso pela Polícia Federal brasileira, apoiados por agentes colombianos e a Interpol. A prisão foi decretada pelo Supremo Tribunal Federal em resposta a um pedido de extradição do governo colombiano para adoptar medidas de investigação, a um suposto crime cometido em 1991. Trata-se de tribunais especiais, baseados num decreto que define como terrorismo, entre outras coisas, a greve em sectores estratégicos, sujeita a vários anos de prisão.

A justiça colombiana faz parte da estrutura do terrorismo de Estado. São inúmeros os massacres de camponeses pelo exército ou pelos paramilitares. Mais de 3 milhões de camponeses foram despojados violentamente de suas terras. Quatro mil líderes sindicais foram assassinados entre 1982 e 2004. Repetem, agora, outras acções anteriores, com o mesmo objectivo: capturar num país estrangeiro um quadro destacado das FARC-EP, levá-lo para a Colômbia e entrega-lo depois aos EUA.

Nunca o padre Olivério violou as leis brasileiras; tem visto de residência permanente no Brasil e é pai de uma criança brasileira. A entrega de Olivério ao governo colombiano será um risco para sua integridade física e para sua própria vida, e colocaria o Brasil numa posição contra os direitos humanos.
URBANO TAVARES RODRIGUES, escreveu uma carta ao seu amigo e camarada Olivério Medina! Uma belíssima prova de solidariedade, amizade e confiança!
http://www.resistir.info/mur/oliverio_medina.html

Que mais se pode dizer? Lula da Silva, tenha vergonha!

Guida Rodrigues
3/11/05 00:19

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

TODO APOIO A OLIVERIO MEDINA

Retirado do site RESISTIR, fica aqui o seguinte apelo
O governo lulista ameaça entregar o Padre Oliverio Medina aos seus carrascos na Colômbia, entregá-lo ao regime do narcotraficante Uribe. É preciso dar todo o apoio àquele representante diplomático das FARC-EP, que vive há longos anos no Brasil. É preciso impedir que o governo Lula, cúmplice do imperialismo, venha a consumar este novo crime. Assine a petição on line para conceder o estatuto de refugiado ao Pe. Oliverio Medina e evitar, assim, a sua extradição para a Colômbia.
http://www.PetitionOnline.com/cura2005/petition.html

segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Sobre a Luta no Sector da Justiça


Nota do Gabinete de Imprensa do PCP 27 de Outubro de 2005

1. A dimensão da luta nestes dias travada pelos profissionais do sector da Justiça, em defesa dos seus direitos, pela dignificação do seu estatuto, constitui o mais cabal desmentido à campanha demagógica, populista e mistificatória do Governo contra os magistrados e outros profissionais que trabalham nesta área.

2. Tratou-se efectivamente de uma intensa campanha destinada a esconder dos trabalhadores e dos cidadãos em geral uma verdade que o tempo e os factos se encarregarão de confirmar: para lá da defesa de direitos próprios, subjacente à luta dos magistrados e dos profissionais deste sector esteve e está o objectivo e a exigência da concretização, que já tarda, de efectivas melhorias do funcionamento do sistema judicial, de uma melhor justiça para os portugueses.

3. Ao invés de atacar os problemas de fundo que afectam a Justiça, o Governo aposta claramente no debilitamento e na divisão do movimento associativo do sector, para também dessa forma mais facilmente controlar o poder judicial.

4. O profundo descontentamento existente, fruto da constante degradação e precariedade das condições de trabalho e da administração da Justiça aos cidadãos, está bem patente na resposta maciça e na unidade verificada, inédita, por parte de sectores profissionais muito diferenciados e das suas organizações representativas.

5. A unidade e determinação demonstradas nestes dias constituem um sério aviso ao Governo Sócrates e ao seu ministro da Justiça, de que a arrogância e a imposição de soluções, ao contrário da via do diálogo e da negociação, não são o caminho para a resolução dos problemas e muito menos para a estabilidade dos Tribunais e do poder judicial, pilar do regime democrático que deve a todo o custo ser preservado.

6. O PCP reafirma a sua total solidariedade com todos os sectores da Justiça em luta pelos justos e superiores objectivos da defesa da independência do poder judicial contra a continuada estratégia de ingerência e governamentalização de que é alvo.Manifesta igualmente a sua determinação em contribuir, como sempre tem feito, para que a administração da Justiça se realize em condições de maior dignidade e igualdade para quem a serve e para o povo, a quem se destina.

quinta-feira, 27 de outubro de 2005

Obrigado!

"6.3.05
Sempre gostei do vermelho, de aniversários, de homens corajosos e de poesia. Ainda não me defini políticamente, mas tenho na minha família gente que me conta histórias que agora não passam pela cabeça de ninguém. E como os portugueses eram tratados. As lutas dos que trabalhavam de sol a sol e não tinham direitos nem pequeno-almoço. Das prisões e das torturas. Do analfabetismo e das crianças sem futuro. Das desgraças da guerra e da pobreza. Dos assassínios.Tudo isto em que pesquiso e leio, encontro sempre homens e mulheres comunistas na linha da frente. Na luta pela melhoria das coisas. E eles hoje fazem anos! Recorri-me aos conhecimentos do meu pai e do meu avô e surripiei o poema abaixo no blog do Dr. Pacheco Pereira. Só para lhes dar os Parabéns! "
"- Quem é esse homem sombrio
Duro rosto, claro olhar,
Que cerra os dentes e a boca
Como quem não quer falar?
- Esse é o Jaime Rebelo,
Pescador, homem do mar,
Se quisesse abrir a boca,
Tinha muito que contar

Ora ouvireis, camaradas,
Uma história de pasmar.

Passava já de ano e dia
E outro vinha de passar,
E o Rebelo não cansava
De dar guerra ao Salazar.
De dia tinha o mar alto,
De noite, luta bravia,
Pois só ama a Liberdade,
Quem dá guerra à tirania.

Passava já de ano e dia...
Mas um dia, por traição,
Caiu nas mãos dos esbirros
E foi levado à prisão.

Algemas de aço nos pulsos,
Vá de insultos ao entrar,
Palavra puxa palavra,
Começaram de falar

- Quanto sabes, seja a bem,
Seja a mal, hás de contá-lo,
- Não sou traidor, nem perjuro;
Sou homem de fé: não falo!
- Fala: ou terás o degredo,
Ou morte a fio de espada.
- Mais vale morrer com honra,
Do que vida deshonrada!

- A ver se falas ou não,
Quando posto na tortura.
- Que importam duros tormentos,
Quando a vontade é mais dura?!

Geme o peso atado ao potro
Já tinha o corpo a sangrar,
Já tinha os membros torcidos
E os tormentos a apertar,
Então o Jaime Rebelo,
Louco de dor, a arquejar,
Juntou as últimas forças
Para não ter que falar.

- Antes que fale emudeça!
- Pôs-se a gritar com voz rouca,
E, cerce, duma dentada,
Cortou a língua na boca.

A turba vil dos esbirros
Ficou na frente, assombrada,
Já da boca não saia
Mais que espuma ensanguentada!

Salazar, cuidas que o Povo
Te suporta, quando cala?
Ninguém te condena mais
Que aquela boca sem fala!

Fantasma da sua dor,
Ainda hoje custa a vê-lo;
A angústia daquelas horas
Não deixa o Jaime Rebelo.
Pescador que se fez homem
Ao vento livre do Mar,
Traz sempre aquela visão
Na sombra dura do olhar,
Sempre de boca apertada,
Como quem não quer falar."

Jaime Cortesão - Romance do Homem da Boca Fechada

Retirado do blogue http://thita.blogspot.com/ .
Por mim, militante do PCP há 22 anos, muito obrigado.

terça-feira, 25 de outubro de 2005


Quando vieres
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala...
Apenas os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o seu cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.
Quando vieres
Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.

Quando vieres
Nenhum de nós dirá nada
Mas a mãe largará o bordado
O pai largará o jornal
As crianças os brinquedos
E abriremos para ti os nossos corações.

Pois quando vieres,
Não és só tu que vens
É todo um mundo novo que despontará lá fora
Quando vieres.

Maria Eugénia Cunhal, in Silêncio de Vidro, Editorial Escritor
Poema dedicado ao irmão, Álvaro Cunhal, então preso nas masmorras fascistas

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Com comentários


Se o cão se mantiver solidário quando o dono levantar a cabeça, vai ser um caso sério para os que causam tanta miséria. A luta continua!

domingo, 23 de outubro de 2005

Fascismo nunca mais!


Um dos traços mais repulsivos da empreitada que alguns desenvolvem para reescrever a História, consiste na destruição de tudo quanto possa questionar as mentiras que apregoam. Até agora, quem fosse a Peniche desarmado do conhecimento do que foi aquele antro de tortura e sofrimento para quantos ousaram combater o fascismo, podia convencer-se de que nada de grave por lá havia acontecido, tal o desprezo a que tem estado votado o espaço.
A conquista da Câmara Municipal de Peniche pela CDU vai, estou certo, inverter esta situação. Porque um povo sem memória não tem futuro, os comunistas e seus aliados vão seguramente transformar o Forte num monumento digno, onde possamos ir rever o que foi o fascismo, assim revigorando forças para o grito que cada vez mais se justifica: 25 de Abril, sempre! Fascismo nunca mais!

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

A pantomina



Hoje, manhã cedo, Emídio Rangel defendeu, na TSF, o Orçamento de Estado para 2006. Atento o fervor, julguei que tivesse lido o documento. Mas rapidamente descobri que o ímpeto era fruto de algo que Emídio não conhece, como aliás reconheceu.
Isso não o impediu de assestar baterias contra os partidos da oposição: ou aprovam o que Sócrates defende, por ser o único caminho para Portugal, ou estão obrigados a apresentar alternativas. Quer dizer, não apenas elogia algo que nunca viu como insinua que o voto contra é infundamentado. Ao ouvir Rangel, recordei os vendedores de banha-da-cobra que antes compareciam a todas as feiras, apregoando apesar de tudo mezinhas bem menos danosas. Rangel também cumpre o seu mister.
Como assinala Noam Chomsky, "A forma inteligente de manter as pessoas passivas e obedientes é limitar estritamente o espectro da opinião aceitável, mas estimular muito intensamente o debate dentro daquele espectro...Isto dá às pessoas a sensação de que o livre pensamento está pujante, e ao mesmo tempo os pressupostos do sistema são reforçados através desses limites impostos à amplitude do debate".

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

O MUNDO DE HOJE



  1. Na evolução da sociedade, a revolução russa de 1917, sob a direcção de Lénine e do partido dos bolcheviques, fica marcada, em milénios de história, como a primeira e única a estabelecer o poder político das classes anteriormente exploradas e a empreender com êxito a gigantesca tarefa de construir uma sociedade sem exploradores nem explorados.
  2. A construção do socialismo na União Soviética teve profundas repercussões em toda a situação mundial. Vencendo bloqueios, intervenções, agressões militares e a invasão, a guerra e os monstruosos crimes dos exércitos hitlerianos, a revolução russa de 1917 repercutiu-se em todo o planeta. Outras revoluções socialistas vitoriosas tiveram lugar. Numerosos povos secularmente subjugados conquistaram a independência. Ruiu o sistema colonial. Criaram-se influentes partidos comunistas em todo o mundo. E, inspirados pelo exemplo da revolução russa, os trabalhadores em países capitalistas conquistaram importantes direitos.
  3. Com o seu poderio, alcançado pela construção do socialismo, a União Soviética alterou a correlação das forças mundiais, manteve em respeito durante décadas o imperialismo, tornando a competição entre os dois sistemas um elemento dominante na situação mundial.
  4. Uma falsa avaliação da situação criou porém nas forças revolucionárias uma ilusão: que era irreversível o avanço revolucionário e o processo em curso de libertação da humanidade. Para essa ilusão não se tiveram em conta três realidades. A primeira: a capacidade mostrada pelo capitalismo, mais que os países socialistas, de não só desenvolver as forças produtivas, como de descobrir, desenvolver e aplicar novas e revolucionárias tecnologias. A segunda: a utilização pelo imperialismo, designadamente pelos Estados Unidos, de colossais meios materiais e ideológicos, a repressão brutal contra os trabalhadores e os povos em luta, colossais meios financeiros, económicos, políticos e militares contra as revoluções, bloqueios, sabotagens, atentados, conspirações, acções terroristas e guerras declaradas e não declaradas. A terceira: as tendências crescentes nos países socialistas, nomeadamente na União Soviética, para a centralização e burocratização do poder e para a estagnação, pondo em perigo o futuro da sociedade socialista em construção. Todos estes elementos em conjunto conduziram, na segunda metade do século XX, à vitória do capitalismo na competição com o socialismo.
  5. Chegamos assim ao final do século defrontando a ofensiva global do capitalismo para se impor em todo o mundo como sistema único e final. É este o sentido da «globalização». Pelo seu superior poderio económico, tecnológico e militar, os Estados Unidos lideram, comandam e impõem tal processo. As guerras por eles impostas e que proclamam ser seu direito próprio e discricionário, não respeitando quaisquer instâncias internacionais, com o cortejo de destruições, atrocidades e genocídios, tornaram-se a arma mais importante da ofensiva.
  6. À acção terrorista de 11 de Setembro, os Estados Unidos responderam fomentando organizações e acções terroristas, desencadeando agressões e guerras que vitimam igualmente milhares de civis. Proclamando serem os campeões da luta contra o terrorismo, os Estados Unidos tornaram-se a principal força do terrorismo mundial. Na actual situação mundial, o terrorismo, que prolifera pelo mundo, só pode ser combatido com êxito com orientações, políticas e medidas que façam respeitar, pelos agressores imperialistas, a liberdade, os direitos e a independência dos povos e países agredidos.
  7. A questão que se coloca aos trabalhadores, aos povos e às nações é se tal ofensiva é irresistível e os trabalhadores, os povos e as nações estão condenados a submeter-se, ou se há no mundo forças capazes de se lhe oporem. Os trabalhadores, os povos e as nações não podem aceitar que tal ofensiva global seja irreversível. E, se assim é, importa considerar se há e, havendo, quais são as forças capazes de impedir que o imperialismo alcance o seu supremo objectivo. A nosso ver, são fundamentalmente: Primeiro: Os países nos quais os comunistas no poder (China, Cuba, Vietname, Laos, Coreia do Norte) insistem em que o seu objectivo é a construção de uma sociedade socialista. Apesar de ser por caminhos diferenciados, complexos e sujeitos a extremas dificuldades, é essencial para a humanidade que alcancem com êxito tal objectivo. Segundo: os movimentos e organizações sindicais de classe, lutando corajosamente em defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores. Terceiro: partidos comunistas e outros partidos revolucionários, firmes, corajosos e confiantes. Quarto: movimentos patrióticos, com as mais variadas composições políticas, actuando em defesa dos interesses nacionais e da independência nacional. Quinto: movimentos pacifistas, ecologistas e outros movimentos progressistas de massas. É no conjunto destas forças que pode residir e que reside a esperança de impedir a vitória final da ofensiva do capitalismo visando impor em todo o mundo o seu domínio universal e final.
  8. O domínio mundial do capitalismo como sistema único e final teria como resultado e componente, segundo os seus teóricos, o «fim das ideologias» e o «pensamento único». Trata-se de uma utopia da ofensiva global do capitalismo. O ser humano continua pensando. E o pensamento e a ideologia dos trabalhadores e dos povos oprimidos serão sempre inevitavelmente opostos à das potências e classes exploradoras e opressoras. Princípios fundamentais do marxismo (filosofia, economia, socialismo), respondendo criativamente às mudanças no mundo, mantêm inteira validade.
    Apresentamos ao Encontro Internacional esta nossa reflexão sobre «O mundo de hoje» como sendo também uma proposta de reflexão.

Contribuição de Álvaro Cunhal para o Encontro Internacional "América Latina: su potencialidad transformadora en el mundo de hoy" (Novembro de 2003)

Plano Milagre


"Disse-me um amigo enquanto circulávamos de carro pelas ruas de Havana faz uns dias: «Vêm da Venezuela cada semana em avião. São uns cem ou cento e cinquenta, cada um acompanhado por um familiar. Vêm para curar-se, e vão­‑se embora no mesmo avião, já curados, os que chegaram nas semanas anteriores». «Para curar­‑se de quê?», perguntei­‑lhe. «São cegos. Operam­‑nos, e recuperam a vista».
Não podia acreditar. «Mas, como é que nunca ouvi falar disso?». «Bem, já sabes – disse­‑me –, daqui só se comentam as más notícias». O amigo que me falava não tinha nada de oficial mas podia estar equivocado. Decidi indagar por minha conta. Parecia­‑me estranho que uma informação tão espectacular não circulasse mais. Comecei a interrogar as pessoas bem informadas, e também a alguns amigos venezuelanos. Todos o confirmaram.
«Até agora – disse­‑me um profissional que estava a participar no projecto – preferíamos que não se desse demasiada publicidade. Havia um processo eleitoral na Venezuela, o referendo revogatório, e não queríamos que se pudesse pensar que isto se fazia com intenções eleitorais. Teriam acusado Cuba de se intrometer, de maneira indirecta, naquele processo. Por isso, sem que fosse um segredo, também não se anunciou com bombos e pratos. Mas já não, desde o dia 15 de Agosto e depois da vitória indiscutível de Chávez, a informação circula sobre o que chamamos o Plano Milagre. Publicaram-se reportagens e até se realizou um documentário».
Pouco a pouco obtive quase todos os detalhes desta admirável operação. No âmbito dos acordos entre Caracas e Havana, Cuba enviou à Venezuela vários milhares de médicos que se instalaram nas zonas mais humildes, essas favelas em que vivem pessoas até agora marginalizadas e que careciam dos serviços públicos mais elementares. Aí, bairro adentro, onde quase nenhum médico venezuelano queria ir, instalaram pequenos dispensários providos do necessário para dar os primeiros socorros e cuidar das doenças mais correntes. Estes galenos missionários cobram o mesmo salário (modesto) que cobrariam em Cuba, e vivem no mesmo bairro com os seus pacientes. Com frequência detectam doenças graves da pobreza que eles, com os seus poucos recursos, não podem tratar, e enviam o paciente para algum hospital.
Entre estes enfermos, muitos padecem doenças dos olhos e ficaram cegos. Mas são cegos por pobres, porque na maioria dos casos a sua cegueira cura­‑se com facilidade. Por exemplo, quando padecem de cataratas. E como em Cuba há equipas muito especializadas que operam em dez minutos essa afecção, decidiu-se enviar os pacientes, acompanhados de um familiar, a Havana, para ser operados. Tudo gratuito.
Já são mais de cinco mil as pessoas que, deste modo, viveram um milagre e recuperaram enquanto o diabo esfrega um olho a vista depois de decénios de escuridão. A lista dos casos que mais chamam a atenção faz saltar as lágrimas, como a história desse homem que levava mais de trinta anos cego e que, quando lhe retiraram as vendas, viu a sua esposa, com a qual tinha cinco filhos, pela primeira vez. Ou essa senhora, cega durante vinte e oito anos, que por fim pôde ver os seus filhos e os seus netos. Ou esse menino, Samuel, operado de catarata congénita, que pôde por fim ver a sua mãe. Os episódios são milhares, emocionantes e milagrosos como um relato neo­‑realista. Ou como todo o trajecto que vai da cega escuridão à luz."

Ignacio Ramonet
La Voz de Galicia, 13/10/2004

terça-feira, 11 de outubro de 2005

Maria Eugénia Cunhal



Bastou aquele gesto
Da tua mão tocar tão docemente a minha
Pra nascerem raízes
Que me prendem à terra e me alimentam
Nas horas mais vazias

Bastou aquele olhar
- O teu olhar tão brando, prolongando-se um pouco sobre o meu –
Para iluminar as noites em que a lua se esconde
E a escuridão envolve um mundo sem sentido.

Bastou esse teu jeito de sorrir,
Um sorriso em que vejo despontar a confiança
Na vida não vivida, nas emoções ainda não sentidas,
Nos passos que ressoam noutros passos

Bastaste tu.

Maria Eugénia Cunhal, in Silêncio de Vidro, Editorial Escritor

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

A luta continua!

Termina hoje a campanha eleitoral. Quem a seguisse apenas pelos media, julgaria que além dos partidos da política de direita e respectivo berloque, nada mais existe. Jornais ditos de referência, como o Público e o Diário de Notícias, conseguiram a proeza de nunca referirem as iniciativas dos autarcas comunistas e dos seus aliados. Silenciar a CDU foi a ordem dos donos e as respectivas vozes, prestativas, cumpriram.
Por outro lado, a diferença de meios de que dispõem as diversas candidaturas, impede qualquer discussão de ideias e agrava as desigualdades. O Ministério Público deveria investigar a que título, com que intenções e contrapartidas, milionários financiaram campanhas eleitorais, com dinheiro, carros e lojas.
Porque não são instituições de caridade, muitos destes “beneméritos” vão apresentar as facturas já no dia 10 de Outubro e todos seremos chamados a pagá-las, nomeadamente, sofrendo as consequências da especulação imobiliária e do crescimento desordenado do betão.
É pois neste contexto, antidemocrático, que a CDU luta para divulgar a obra que realiza com trabalho, honestidade e competência. Fossem outras as condições e mais gente poderia beneficiar da reconhecida capacidade que os eleitos comunistas colocam ao serviço das populações. Assim, resta a luta e a convicção de que as eleições são importantes, mas não são tudo.

Boa noite!



"A Internacional"

De pé, ó vítimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!

Refrão
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Duma Terra sem amos }bis
A Internacional.

Messias, Deus, chefes supremos,
Nada esperemos de nenhum!
Sejamos nós quem conquistemos
A Terra-Mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair deste antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos,
Tudo o que a nós diz respeito!

Refrão

terça-feira, 4 de outubro de 2005

Aquela Noite de Natal


Hoje sonhei contigo

Querias falar dos livros que saíram e já leste. Quando o sonho começou, tu eras pouco mais do que um sorriso radioso. Mas nos olhos tinhas o brilho dos que respeitam ideais. Soube logo que eras tu que me interpelavas. Depois, estranhamente, do riso nada mais vi. A não ser quando os teus dedos fizeram na porta da rua o sinal habitual e eu corri por te saber ali, fortaleza de ternura e amizade.
Olá camarada, o tempo é nosso. Quero falar-te da Eurídice e do Joel, do Miguel e da Joana, invenção de amor numa noite de Natal. Abril existiu mesmo. Já sabíamos, mas agora é tão diferente. Eles, os que sofreram e resistiram, estão a contar. Não deixam que a mentira domine e possa mais.
Sabes camarada, quando absorvo as histórias que os heróis nos oferecem, fico feliz porque os nossos filhos vão ter memória. Saber onde crescemos e o que fizemos para os criar. Abril foi mesmo, camarada, e não esta pasmaceira de gente castrada. Abril foi mesmo, e não este tempo frio em que nos querem calados, derrotados, sem do sol termos o desejo e o alento.
E porque agora sei do Álvaro; do Dias Lourenço; da Margarida Tengarrinha; do Zé Casanova; do Pires Jorge; do José Magro, do Modesto Navarro; do Sérgio Ribeiro; do Manuel Pedro; do Joaquim Gomes; do Militão Ribeiro e tantos , tantos outros, não há porra nenhuma que me faça calar a alegria.
Porque me corre nas veias esta agitação, este orgulho de partilhar com eles a mesma heróica bandeira. De ter herdado deles, de tantos como eles, o mesmo gosto à luta, o mesmo lema.
Sabes camarada, Abril foi mesmo e o que me falta é saber o nome destes heróis todos, para aprender mais sinónimos de Coragem, Honra, Dignidade, Dedicação, Coerência, Ternura, Dor, Resistência, Confiança, Futuro, Convicção e Amizade,
Obrigado camaradas, por nos terem legado Futuro!

Hasta siempre comandante!!!



“...para que o Mundo não esqueça!!!”

Completam-se no próximo dia 9 de Outubro, 38 anos sobre o assassínio de Che Guevara. Apesar de há muito serem conhecidos os pormenores deste crime, nunca é demais repetir a pergunta: Quem matou o CHE?
Em primeiro lugar, os que o executaram; em última análise o imperialismo, esse sistema que fez o Padre Camilo Torres dizer que,“se Jesus Cristo aqui viesse, diante de tamanhas injustiças, teria pegado numa metralhadora e ter-se-ia juntado aos guerrilheiros”.
Guevara, - cuja ordem primeira era “ assistir aos feridos por ordem de gravidade, sem considerar se eram gurrrilheiros ou soldados do exército” – gravemente ferido no dia 8, é feito prisioneiro e transportado para a escola de La Higuera.
Aqui, sentado no chão, chão tantas vezes pisado por pobres e desprotegidas crianças – razão primeira e última da sua luta – espera a chegada do agente da CIA Félix Rodriguez que o virá interrogar e que... traz consigo, (dos Estados Unidos da América, é bom lembrar!!!) a ordem para o matar!!! A sangue frio é abatido por Mário Teran, não sem antes lhe dizer: “ dispara, que matas um Homem!!!”.
Assim morre uma das maiores personalidades do séculoXX, defensor intransigente do Homem Novo, humano, fraterno e solidário, livre dos estigmas cruéis e desumanos do capitalismo e do imperialismo que marcam a sociedade em que, infelizmente, vivemos.
Diz quem o viu, no seu pobre leito de morte, que parecia Cristo!!! Talvez por isso, ainda hoje, os camponeses bolivianos lhe chamam Santo Ernesto de La Higuera!!!
Talvez por isso, o retrato de Che foi e é, aos olhos de milhões de pessoas, “ o retrato da dignidade suprema do ser humano”!!!
Um dia, em resposta a uma pergunta sobre um possível parentesco, afirmou: “ se és capaz de tremer de indignação cada vez que se comete uma injustiça no Mundo, somos companheiros e isso, é o mais importante”.
Foi há 38 anos!!! Para que o Mundo não esqueça!!!
Até sempre companheiro!!!

João de Almeida

sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Carlos Paredes


«Geniais são as pessoas que respeitamos muito, Génio era Mozart.»
Carlos Paredes
CARLOS PAREDES

"Tive o privilégio de ter privado por poucas horas que fosse, com o grande Génio! Estávamos no começo da Revolução de Abril! Oferecia-se ao Povo, tudo aquilo que ele nunca sonhara usufruir, sobretudo Cultura!
Carlos Paredes, tinha sido convidado para dar um concerto (gratuitamente), na zona mais pobre da cidade. Zona piscatória. Onde os homens têm a frieza do mar e as mulheres a dureza da fome! A Lota, foi o local escolhido! Grande, muito grande! Impossível falar-se de acústica! Os pescadores gostam de música! Então encheram por completo o grande armazém!

Mais de quinhentas pessoas. Falavam alto, os gritos das crianças correndo, era ensurdecedor! As vareiras (mulher do pescador), não habituadas a saírem à noite, riam de alegria! A algazarra era tanta que nós, os da organização, pensámos duas vezes! Fazemos o concerto e ninguém ouve, ou desculpamo-nos e o Carlos Paredes vai embora! Depois de discutido, falámos com ele. Ficou indignado perante a segunda proposta: “Se não conseguirem ouvir, a culpa é minha!”.

Foi para o palco e começou a tocar, a aparelhagem de som de 3ª categoria, não se portou mal! O público, não habituado a concertos, gritava, ria, aplaudia, tudo o que fizesse barulho, era audível naquele grande armazém! Carlos Paredes, parou! Observou o público com o seu ar sereno, humilde, sorriu timidamente!

Fez-se silêncio na Lota! Ouviu-se os primeiros acordes dos Verdes Anos! O emudecimento inesperado, arrepiou-nos! O irreverente público, tinha-se rendido ao som harmonioso da guitarra! Tocou, tocou muito! Quando terminou, as palmas, os gritos de alegria, entoaram na grande Lota! Deram-lhe cravos! Cravos vermelhos!

Enquanto guardava a guitarra, com o seu ar humilde e tímido, disse:”Espero que tenham gostado, alguém se queixou da acústica?” Ele era um Génio!

GUIDA RODRIGUES

Obrigado Guida Rodrigues por este texto belíssimo, escrito na azáfama da luta eleitoral. E se puderes, transmite aos camaradas e amigos afectados pela prepotência do fascistóide Ludgero, a minha solidariedade. A luta continua!

quarta-feira, 28 de setembro de 2005

3000 crianças morrem por dia


3 mil crianças africanas morrem por dia de Malária, afirma a OMS

Segundo o último relatório em conjunto, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Unicef (Fundo da ONU para as Crianças), divulgado nesta sexta-feira no Dia Mundial da Malária, mais de 3 mil crianças africanas morrem por dia em decorrência da doença. O estudo afirma que 90% das mortes são registradas na África subsaariana e que a maioria delas é de crianças com menos de cinco anos. A droga atualmente utilizada no combate à malária, a cloroquina, não é eficaz, mas é usada por ser a mais barata.
O tratamento actual foi criticado pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), que citaram o exemplo da Tanzânia, onde o número de mortalidade das crianças caiu em 20% quando elas passaram a dormir sob redes tratadas com inseticidas. As acções governamentais denotam claramente uma preocupação maior das autoridades com economia de recursos do que com o compromisso de salvar vidas. Quase 2 milhões de pessoas morrem em função da malária por ano no continente africano, gerando um prejuízo de US$ 12 bilhões.
A melhor solução seria o tratamento à base de artesimina, recomendado pela OMS e muito mais potente e eficiente, ela é derivada da planta chinesa Artemisia annua e vem sendo usada contra a malária há mais de dez anos. A combinação da droga com a amodiaquina pode eliminar os sintomas da malária em três dias. Em KwaZulu Natal, na África do Sul, as mortes por malária em hospitais caíram 80% em função deste tratamento. No entanto, o tratamento à base de artesimina custa US$ 1,50 por dose, em comparação com os US$ 0,50 de custo da cloroquina. O custo da mudança em toda África, ainda assim, giraria em torno de US$ 100 a 200 milhões.

Este texto de Cassiano Sampaio foi colocado como comentário a um post de Sérgio Ribeiro, por Pedro Gonçalves, no blogue anónimo séc xxi. Referindo-se à foto, escreveu Pedro Gonçalves:
" Sou fotógrafo. Pelo menos faço por isso. A fotografia que mais me marcou até hoje é a de uma criança. Retrata uma menina que se arrasta para um campo de nutrição e em segundo plano vemos um abutre no chão que aguarda pelo inevitável. Kevin Carter é o nome do fotógrafo. Sul Africano. Fotojornalista habituado a cenários de guerra e a cenas de horror. No entanto esta fotografia toca-me de uma maneira muito especial. Não a consigo (nem quero) esquecer. Apetece-me dizer muita coisa mas fico por aqui. "

terça-feira, 27 de setembro de 2005

A não perder!


Aquela Noite de Natal é o mais recente livro de José Casanova. Depois de ter sido publicamente apresentado na recente edição da Festa do Avante, coube a Urbano Tavares Rodrigues falar hoje do livro na Casa do Alentejo, em Lisboa. A sala foi pequena para acolher tantos leitores, amigos e admiradores do Zé. Que escutaram, orgulhosos, Urbano Tavares rodrigues afirmar que o autor de O Caminho das Aves é já um grande escritor.
Pessoalmente, adorei o livro. E só lamento que a mesquinhez e o carácter persecutório dos que fazem crítica literária em Portugal, melhor dizendo, dos que dominam e mandam na crítica literária cá no burgo, tenham já decretado que do livro não se pode falar. Porque o que está a dar, dizem eles, é a escrita não ideológica, assim propagando o "quando oiço falar de cultura, saco logo da pistola", que caracteriza os regimes fascitas.
Cabe-nos lutar contra a censura: porque se trata de um livro belíssimo, que fala de Amor e de luta, de resistência e paixão; de confiança no futuro e camaradagem. Mas sobretudo, porque o livro e o autor merecem que se fale deles.
No próximo dia 1 de Outubro, a partir das 17H00, os que puderem e quiserem conhecer o livro e o autor, podem fazê-lo deslocando-se à livraria Som da Tinta, em Ourém.

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

A vossa vontade será feita



A vossa vontade será feita

Eu vou tentar, prometo, que destes versos
Não saia uma canção mal comportada
Eu vou tentar não falar do que acontece
Eu vou tentar falar sem dizer nada.

Não vou, por isso, falar da exploração
Nem sequer do amor à Liberdade;
Da luta pela terra e pelo pão
E do apego à Paz da humanidade.

Vou tentar não falar do que acontece
Vou tentar falar sem dizer nada

Vocês preferem que eu vos fale
De grilos a cantar e gambuzinos?
A vossa vontade será feita
Eu calarei a fome dos meninos.

Vocês preferem que eu vos cante
Sem vos lembrar os tiros e as facas?
A vossa vontade será feita
Eu calarei o frio das barracas.

Vou tentar não falar do que acontece
Vou tentar falar sem dizer nada

Vocês preferem que eu vos fale
Com um sorriso a iluminar-me as trombas?
A vossa vontade será feita
Eu calarei o estilhaçar das bombas.

Vocês vão gostar que eu não cante
A luta de nós todos todo o ano
A vossa vontade será feita
Não falarei do povo alentejano

Vou tentar não falar do que acontece
Vou tentar falar sem dizer nada

Não falarei do luxo e da miséria
Não falarei do luxo e da canseira
Não falarei das damas, das mulheres
De tudo o que se passa à nossa beira

Não falarei do Amor, nem da Verdade
Nem do suor deixado no trigal;
Eu não ofenderei vossas excelências
Nem a civilização ocidental!

(Alfredo Vieira de Sousa, 1976)

sábado, 24 de setembro de 2005

URGENTE!

"A Constança Castelo Branco Mota da Silva Marques, de 7 anos, é neta de uns amigos da minha família, tem uma doença do foro oncológico e está em estado muito grave. Está internada no IPO, precisando de fazer um transplante de medula.Como não se tem encontrado, até agora, medula compatível (não existe também nos bancos de medula nacionais nem estrangeiros), venho por este meio pedir que: Quem tiver idade entre os 18 - 45 anos; Mais de 50 Kg; Não tiver recebido nenhuma transfusão de sangue; Faça o teste de compatibilidade, de 2.ª a 6.ª feira, das 8h - 16h, no: Centro de Histocompatibilidade do SulHospital Pulido ValenteAlameda das Linhas de TorresTelefone: 217 504 100
Obrigada Luísa Biscaya
POR FAVOR, ENVIEM ESTE PEDIDO A OUTRAS PESSOAS PARA QUE SE SALVE ESTA CRIANÇA.
23/9/05 19:46 "

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

Antes que seja tarde!


Manuel da Fonseca

Antes que seja tarde

Amigo
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.

Manuel Fonseca, "Poemas completos", Cancioneiro da Esperança

Almeida Garrett

“E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?”
Almeida Garrett, in 'Viagens na minha Terra'

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Comportamento abjecto!


Fazer o quê? Um santuário de foragidos à justiça? Um monumento de exaltação aos padrinhos que em Portugal conseguiram que permaneça livre, mesmo sem estar já no Leblon? Um imenso saco azul para distribuir pelos sicários? Um novo Código que premeie a esperteza saloia e o populismo manhoso? Um cofre forte para guardar o ruidoso silêncio de Jorge Sampaio? A legenda de um País destroçado? A marca de um povo desrespeitado por estes políticos de caca?
Que nojo!

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

A luta continua!


Queridos irmãos,
Se, como espero, persistirem na infâmia de não escutarem a dor que vos inferniza a existência, todos os segundos de todos os dias;
Se recusarem o que aceitaram para outros, só porque estes podem mais e têm dos cordéis que tudo determinam melhor conhecimento;
Se como espero, vierem apressados clamar que agora tudo acabou e no andor colocarem os bandalhos;
Se as trombetas ecoarem triunfantes calcinando-vos com a desonra da mentira;
Se os que tudo vendem ou alugam, fingirem agora ter consciência;
Quero dizer-vos, queridos irmãos de condição, que nem por um segundo duvidei dos vossos testemunhos. Sei dos que cometeram o massacre. E acima de tudo vi os vossos olhos pejados de sofrimento, de revolta, de abandono.
Nós sabemos que a verdade é outra: eles são compadres de outros como eles. E de outros ainda piores. Têm muito poder, tesouros e mundos para ofertar.
Nós somos apenas os filhos da desdita mil vezes humilhados.
Mas, se como espero, decidirem fingir que afinal não foi como sabem ter sido, nem por isso vamos desistir. A desonra é deles! Será deles a vergonha!
Nós continuaremos convictos de que valeu e vale a pena lutar!
Podem encomendar decisões, mas a vossa dignidade não compraram.
Eles são os carrascos. Vocês os heróis que o povo admira e respeita profundamente.

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Queixa e imprecações dum condenado à morte



Por existir me cegam,
Me estrangulam,
Me julgam,
Me condenam,
Me esfacelam.
Por me sonhar em vez de ser me insultam,
Por não dormir me culpam
E me dão o silêncio por carrasco
E a solidão por cela.
Por lhes falar, proíbem-me as palavras,
Por lhes doer, censuram-me o desejo
E marcam-me o destino a vergastadas
Pois não ousam morder o meu corpo de beijos.
Passo a passo os encontro no caminho
Que os deuses e o sangue me traçaram.
E negando-me, bebem do meu vinho
E roubam um lugar na minha cama
E comem deste pão que as minhas mãos infames amassaram.
Com angústia e com lama.
Passo a passo os encontro no caminho.
Mas eu sigo sozinho!

Dono dos ventos que me arremessaram,
Senhor dos tempos que me destruíram,
Herói dos homens que me derrubaram,
Macho das coisas que me possuíram.

Andando entre eles invento as passadas
Que hão-de em triunfo conduzir-me à morte
E as horas que sei que me estão contadas,
Deslumbram-me e correm, sem que isso me importe.

Sou eu que me chamo nas vozes que oiço,
Sou eu quem se ri nos dentes que ranjo,
Sou eu quem me corto a mim mesmo o pescoço,
Sou eu que sou doido, sou eu que sou anjo.

Sou eu que passeio as correntes e as asas
Por sobre as cidades que vou destruindo,
Sou eu o incêndio que lhes devora as casas,
O ladrão que entra quando estão dormindo.

Sou eu quem de noite lhes perturba o sono,
Lhes frustra o amor, lhes aperta a garganta.
Sou eu que os enforco numa corda de sonho
Que apodrece e cai mal o sol se levanta.

Sou eu quem de dia lhes cicia o tédio,
O tédio que pensam, que bebem e comem,
O tédio de serem sem nenhum remédio
A perfeita imagem do que for um homem.

Sou eu que partindo aos poucos lhes deixo
Uma herança de pragas e animais nocivos.
Sou eu que morrendo lhes segredo o horror
de serem inúteis e ficarem vivos.

Ary dos Santos

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Fascismo nunca mais!




















GRITO de Raiva, de Revolta e Dor!

Em nome dos que morreram, em nome de todos que desapareceram, em nome dos que sofreram,em nome de todos os que ainda hoje sofrem, GRITO!
GRITO de Raiva, de Revolta e Dor! Hoje, 15 de Set. o Supremo Tribunal de Santiago do Chile, ILIBOU definitivamente o general Augusto Pinochet, pelos crimes da “Operação Condor”. O recurso interposto pelos familiares das vítimas, foi considerado “improcedente”! Ou seja, infundado! O Tribunal de Recurso, considerou Pinochet, velho e doente!
Como podem respeitar um assassino!
Guida Rodrigues
16/9/05 02:55

quinta-feira, 15 de setembro de 2005

“SAUDADES... NÃO TÊM CONTO!”

Dias Lourenço

«Relembrar o passado, em toda a sua amplitude
de ignominiosa sujeição, para acautelar o presente
e ajudar a construir um futuro»
( Orlando Gonçalves)
São testemunhos vivos, que não nos deixam esquecer uma das mais duras ditaduras de um passado ainda recente. Portugal viveu durante quase meio século a Ditadura Fascista. Respirava-se medo, censura, privações e humilhações constantes. O tormento das prisões e da tortura!
Dezenas de milhares de homens e mulheres, muitos deles jovens, perfilaram heroicamente, a luta contra a ditadura. Muitos foram presos, violentamente torturados, alguns barbaramente assassinados.
Em 1962, no Forte de Peniche (uma das prisões de alta segurança da PIDE), encontrava-se detido para além de centenas de outros lutadores pela Liberdade, um homem que tinha três filhos, António o mais novo.
Porque os pais estavam presos, o menino vivia com os padrinhos. Um casal de camaradas, que amavam o António, como se de um filho se tratasse! António, era carinhosamente tratado pelo pai verdadeiro, por Tonoc ou Tóinito. As visitas ao Forte Prisão de Peniche, não eram permitidas às crianças. A saudade era imensa, então o pai começou a escrever cartas ao filho. Como a censura, não permitia muitas palavras e o menino tinha apenas 5 anos, o pai enviava-lhe histórias desenhadas, em postais, (antigos Bilhetes Postais).

«Meu querido Toinito,
Desejo que estejas bonzinho de saúde. Tenho cá estado a pensar que já muito tempo não recebo uma carta escrita por ti......... Afectuosos abraços para os Padrinhos e mil e três beijinhos para ti do, Pai.».

Durante longos anos, este pai brutalmente torturado pela PIDE, escrevia histórias, ilustrando-as com um desenho. A ternura, o amor, a saudade, ajudavam a colorir a ilustração dos postais. António, fica doente, muito doente! Apesar de ter assistência médica e o auxílio solidário de todos os camaradas, a doença dita-lhe os dias. Tudo fazem para que o menino vá fazer uma visita ao pai e conseguem. É-lhe concedido uma visita de cinco minutos, dentro da cela! Cinco minutos, cinco curtos minutos, para abraçar, beijar, falar, recordar uma vida, tão breve e sofrida, pela doença e pelas garras do fascismo!
É chegado o dia! O pai com o coração destroçado, recebe-o alegremente! O menino timidamente, conta-lhe o que tem feito. O pai beija-o, abraça-o! Não tinha terminado o tempo, um pide avisa com toda a agressividade que a visita expirou! “Ainda não passou o tempo”, diz o pai amargurado! E logo o pide o cala com um desumano estalo! O menino aflige-se, está débil, assustado! O pai acalma-o, dizendo que ele (pide), é um brincalhão! A serenidade volta, o pai olha para o filho Toinito, beija-o, abraça-o, despede-se.... António/Toinito o Tonoc, viria a falecer poucas semanas depois, vitima de leucemia!
Esse pai chama-se, António Dias Lourenço. Tem hoje 91 anos de idade, continua a lutar com toda a sua força. Esteve preso por duas vezes, num total de 17 anos. Em memória do seu filho tão amado, presta-lhe uma homenagem, partilhando-a com todos nós! Junta todos os postais (graças à dedicação do casal, que tomou conta do Toinito), e faz um livro!
“SAUDADES... NÃO TÊM CONTO!”
É um belo livro! É um livro de afectos, de amor e muita cor! Mas é também um livro de dor!
Guida Rodrigues

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Poema de Che



Vieja Maria

Vieja Maria, vas a morir,
Quiero hablarte en serio.
Tu vida fue un rosario completo de agonías,
No hubo hombre amado, ni salud, ni dinero,
apenas el hambre para ser compartida;
quiero hablar de tu esperanza,
de las tres distintas esperanzas
que tu hija fabricó sin saber cómo.
Toma esta mano de hombre que parece de niño
en las tuyas pulidas por el jabón amarillo.
Restriega tus callos duros y los nudillos puros
en la suave verguenza de mis manos de médico.
Escucha, abuela proletaria;
cree en el hombre que llega,
cree en el futuro que nunca verás...

Poema de Che Guevara, escrito em 1955, no México, depois de observar, no hospital, uma idosa. O João Almeida, médico, enviou-mo, com um abraço solidário que agradeço.

Outro Sérgio, o mesmo grito!


Evandro Monteiro
Menino de rua desafia polícia em São Paulo. A luta continua!

Independente?



O dr. Guilherme Waldemar Pereira d'Oliveira Martins, foi escolhido pelo Partido Socialista para presidir ao Tribunal de Contas. O lema socialista é claro: maioria, governo, presidente e já agora, tribunais. A começar pelo de Contas. Os outros virão a seguir. Nas autarquias pretendem implantar os executivos de um só partido. Tutelam a televisão pública e controlam, nos media privados, as consciências de aluguer sempre dispostas a reproduzir diligentemente a voz dos donos.
Para isto servem as maiorias absolutas.
Esta manhã, o dr. Guilherme garantia que passou a ser independente. Acreditamos. Nele e no Capuchinho Vermelho. E registamos, para que conste, parte do seu trajecto dependente: deputado à Assembleia da República. Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS. Membro do Conselho de Administração da Fundação Mário Soares. Membro da Convenção para o futuro da Europa. Foi Ministro da Presidência em 2000-2002, Ministro das Finanças em 2001-2002, Ministro da Educação em1999-2000, Secretário de Estado da Administração Educativa em 1995-1999, Deputado à Assembleia da República (II, III, VI, VII, IX e X legislaturas), Vice-Presidente da Comissão Nacional da UNESCO (1988-1994), Chefe de Gabinete do Ministro das Finanças em1979, Assistente da Faculdade de Direito de Lisboa em1977-1985, Consultor do Ministério das Finanças, Presidente da SEDES entre 1985-1995 e Secretário Geral da Comissão Portuguesa da Fundação Europeia da Cultura.É Grande Oficial Ordem do Infante D. Henrique, Comendador da Ordem de Isabel a Católica e Grã Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul.
Esta gente perdeu definitivamente a vergonha.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

11 de Setembro



"...para que o mundo não esqueça"

Cumpriram-se, no passado dia 11, 30 anos. Chove em Santiago. Com o apoio declarado dos Estados Unidos da América, Pinochet e seus sequazes, transformam estádios de football em campos de concentração. A caravana da morte está em marcha, levando centenas de homens, mulheres e crianças, para longe, para sítio de onde não há regresso. No escuro da noite, corpos de inocentes são atirados ao mar, aos rios, aos lagos, desaparecendo, para sempre,vítimas do terror sanguinário desse facínora e... seus amigos americanos.
Cumpriram-se,no passado dia 11, 30 anos. Victor Jara, em pleno Estádio de Santiago, agoniza vítima das torturas que lhe são infligidas. Já lhe amputaram as mãos. Será abandonado numa morgue, esquartejado. Cumpriram-se, no passado dia 11, 30 anos. Pablo Neruda sente, em si, todo o sofrimento de um Povo, cujo único desejo é construir uma Pátria mais humana e mais digna. Em breve, morrerá. Cumpriram-se, no passado dia 11, 30 anos.

Há silêncios ensurdecedores nestes dias de Setembro. Onde estais vós, oh ditas democracias ocidentais?; provavelmente bebendo Coca-Cola; prostituindo os valores, que em tempos dissestes defender, de certeza. E tu, Igreja Católica, por onde andas? Porque te calas enquanto o martirizado Povo chileno sobe o seu calvário? Que ajudaste a erguer, não esqueças. Guardarás o protesto...para 28 anos mais tarde? Sim...talvez...como sempre. Dois mil anos depois, o galo continua a cantar três vezes.

Cumpriram-se, no passado dia 11, 30 anos.Por muitos 11 de Setembro que haja, nunca esqueceremos o dia em que "chovia em Santiago". Neste dia, todos nós, Homens solidários, democratas, amantes da liberdade, morremos um pouco. E...só porque queríamos ter, como Jara, "O Direito de viver em paz".
Foi há 30 anos!!! Para que o Mundo não esqueça!!!

Ílhavo - Setembro de 2003
João de Almeida
Obrigado, João Almeida