segunda-feira, 26 de novembro de 2007

AJUDEMOS ANA VIRGINIA SARDINHA


Vidas Alternativas (VA)
visita Baiana Ana Sardinha na Prisão Hospital em Caxias

(Artigo do meu querido amigo ANTÓNIO SERZEDELO)

Fui à prisão hospital S. João de Deus, em Caxias, nas cercanias de Lisboa, onde estive com a baiana Rosa Sardinha no passado Domingo, dia 25 Novembro, para me inteirar do seu estado de saúde , em nome do VA, dos Direitos Humanos e da cidadania que defendemos, e em meu nome pessoal .


Recorde-se que está presa, na sequência da morte, durante um ataque de epilepsia, do filhote de 6 anos, pois foi acusada de negligência. Estava só em Portugal, sem familiares, nem amigos. Deparei-me assim, com uma jovem mulher com sinais de beleza, actualmente, triste e desgastada, abalada física e psicologicamente, ainda que aparentemente conformada, que sorria para mim, com sorriso doloroso, mas até rindo, uma, ou duas vezes, com coisas que íamos discorrendo.

Tem marcas claras dos maus tratos, nas duas mãos, e na face, e disse-me que tinha também nas pernas, e nas ancas. São queimaduras de cigarro, prolongadas e fundas, feitas propositada e sadicamente, para a marcar.

Também me mostrou até que ponto mexia o braço semi paralisado, levantando-o até certa altura, pois mais alto não o conseguia fazer, e mostrou como ainda tinha alguns dedos da mão paralisados, mas frisando que já podia pegar em coisas com aquela mão, embora não pudesse ainda rasgar nada com ela, pelo que tinha de se servir dos dentes para cortar o pão. Anda a fazer fisioterapia. Quiseram nitidamente maltrata-la para a castigar, ou para fazer confessar da morte da sua criança bem-amada.

Está obviamente desejosa de voltar para o Brasil, mas neste momento faz um esforço por compreender os trâmites lentos da justiça portuguesa. Aguarda ansiosa as demarches da sua advogada . Creio que já se percebeu que foi um erro judiciário. Entretanto, o relatório da autópsia da criança tarda em sair, e já decorreram muitos meses. Porquê?


Disse em voz baixa, quiçá envergonhada, ” Nunca pensei vir a passar por esta tão dura experiência, para a qual não estava preparada!” Referiu depois, a presença simpática na prisão, da vice consulesa brasileira , e de que nesta altura, e a partir desse momento , começou a ser mais correctamente tratada. Até a Directora do estabelecimento desceu cá abaixo para se inteirar do seu estado! Foram-lhe então, entregues de novo, certos medicamentos que lhe tinham sido retirados, arbitrariamente, sem nenhuma razão plausível, dado que estavam prescritos pelo médico. Essa visita consular deve ter mudado o seu estatuto.


Está numa cela com espaço para seis pessoas. Neste momento são só duas. A terceira foi levada há pouco dali. Era toxicodependente , com HIV, estava muito perturbada, falava alto, sozinha, muito conflituosa, chegou a ameaça-la.


Expliquei-lhe então, que havia um movimento de opinião pública a seu favor, sobretudo na sua terra Natal, e sorriu quando ouviu isso. Falei-lhe das diligências que o deputado federal da Bahia, Pelegrino, (PT) estava a fazer junto do Senado brasileiro, e da petição pública que já tinha sido entregue ao seu Governo, com alguns milhares de assinaturas.


Referiu-me então, que sabia que um seu grande amigo tinha feito um blogue sobre ela, e de como isso lhe dava conforto, e das longas conversas que mantêm pelo telefone com sua irmã Ana Rosa, que é também sua madrinha, que lhe dão força para aguentar. Não puxei nenhuma conversa, deixei-a falar do que lhe apetecia.


À entrada da prisão por medida de segurança, tive de deixar tudo num cacifo, pelo que não lhe levei jornais para se entreter a ler, pois não sabia se me autorizavam a entrega-los. Referiu que ia à biblioteca para se distrair, enquanto aguarda com ansiedade, a apresentação do Habeas Corpus que lhe permitisse sair da prisão, com pulseira electrónica e ir para uma casa de abrigo em prisão domiciliária, casa que espera seja encontrada em breve, onde aguardaria decisão sobre o julgamento.


Não pediu nada, quando lhe perguntei se queria algo. Saiu pelo seu pé, tristemente, quando nos vieram dizer que a visita tinha acabado. Ao fechar-se a porta, acenou com o braço livre , um adeus! Voltaremos a encontrarmo-nos, brevemente, e ficou de perder o medo e a vergonha de me/ nos telefonar.

Ps: Lamento que nenhuma organização,ONG se tivesse até à data interessado por este caso flagrante de ruptura dos DH de uma mulher estrangeira, sozinha em Portugal, vitima de preconceito e de erros do sistema judiciário português. Até aqui reina alguma xenofobia...

António Serzedelo

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2 comentários:

GR disse...

Nunca tinha ouvido falar deste assunto.
Apesar (para mim) ser um pouco vago, há atitudes extremamente vergonhosamente reprováveis, dentro de uma prisão portuguesa.
Não entendi (talvez nem tenha que saber) porque razão a criança morreu!
Contudo, entendi e condeno que Ana Virgínia tenha, maus-tratos na prisão.
Feitos pelas outras prisioneiras? pelas mulheres polícias? Queimaduras de cigarros???
Lembrei-me da PIDE, torturava da mesma forma! Uma situação inqualificável.
Negar visitas? Porquê?
Admiro António Serzedelo, sempre solidário em causas difíceis.Sempre com um ar calmo e de esperança!
Ainda não assinei a petição!
Enviei para alguns órgãos da comunicação social a notícia. Claro que já devem saber. Porém, se houver muitos interessados a fazerem o mesmo, penso que deverão colocar nas televisões o problema. Quanto mais se souber, mais cuidado terão com a jovem!
Vou tentar saber mais!

GR

Clara Sousa disse...

Mesmo não conhecendo o resultado da autópsia à criança, penso que se trata de um caso de discriminação em razão do género e da nacionalidade, de violações dos direitos humanos e de tortura.