quinta-feira, 5 de maio de 2005

Saudade



O BURGUÊS

A gravata de fibra como corda
amarrada à camisa mal suada
um estômago senil que só engorda
arrotando riqueza acumulada.

Uma espécie de polvo com açorda
de comida cem vezes mastigada
cadeira de braços baixa e gorda
de cómoda com perna torneada.

Um baú de tolice. Uma chatice
com sorriso passado a purpurina
e olhos de pargo olhanando de revés.

Para dizer quem é basta o que disse
é uma besta humana que rumina
é um filho da puta é um burguês.

Ary dos Santos

2 comentários:

António Balbino Caldeira disse...

Desculpa a minha ironia interclassista, mas não sei por que paradoxo, a foto do Ary ilustra bem o poema...

Anónimo disse...

Olha que não, olha que não...Eu acho que o grande Ary retratou à perfeição o Rodrigo Santiago. Ainda sabes quem é?