quinta-feira, 14 de abril de 2005

Frei Betto


Barco à deriva, ameaçado pelas ondas tsunamis da inflação, o Brasil atracou, em 1999, no porto seguro do FMI, confiando-lhe o comando de nossa política econômica. Faz seis anos. Desde então, somos parecidos às antigas colônias do Império Romano, governadas por cônsules que as visitam de quando em vez. Volta e meia a mídia noticia que nova missão do FMI desembarcou neste país colonial abençoado por Deus. Desde 1999, após a intervenção cirúrgica efeemista, quando o remédio quase matou o paciente, elevando a taxa de juros para o índice estratosférico de 45% ao ano, o Brasil entregou parte de sua soberania aos cardeais protetores do mercado (entenda-se: mais remessas de lucros às nações metropolitanas) que lhe impuseram o cinto de gastidade: o controle rígido das metas de inflação. Fizeram até aprovar a lei de responsabilidade fiscal (ignorando a de responsabilidade social). O médico passou a exibir os ótimos resultados dos exames, embora o paciente agonizasse… Imaginem a alegria de um investidor estrangeiro diante de um país-cassino que lhe assegura 45% de rendimento anual! A posologia exagerada punha em risco a vida do doente, mas restava o consolo de lhe salvar a alma – as contas públicas. Assim é a lógica da economia neoliberal. As finanças do país figuram impecáveis no belo caderno de dever de casa, embora o aluno tenha fome, malgrado seu aspecto rechonchudo… de vermes! Obeso como pastel de feira. Os rigores nas áreas fiscal e monetária, e o câmbio mais liberado que baile funk, fazem o Brasil ficar muito bem na foto emoldurada pelo mercado, apesar de a nação padecer brutal desigualdade e a miséria irromper, precoce e circense, em cada esquina de nossas médias e grandes cidades. (...)

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