sexta-feira, 19 de maio de 2006

Obrigado Felícia Cabrita!

Felícia Cabrita vai ser ouvida em tribunal, se entretanto as sucessivas manobras de diversão não o impedirem, na próxima segunda-feira. Se puder falar, aquela que considero ser, pelo heroísmo, a Catarina Eufémia do jornalismo, vai levar à barra contributos fundamentais para o esclarecimento da autoria da barbárie.

Felícia, mulher profundamente corajosa e íntegra, conseguiu desvendar, tomando claramente partido pelas vítimas, a imensa teia que os criminosos urdiram para se acobertarem. A tudo resistiu, corajosa e honradamente, enquanto outros, que na fase inicial e durante meses parasitaram o trabalho que produziu, se venderam aos que na rede comandam as operações.

A Felícia é uma heroína. Recordo que no início do processo, quando me telefonou a dizer que tinha descoberto o Bibi - o que toda a Polícia Judiciária não tinha conseguido -, e que o ia entrevistar sozinha, desvalorizou os avisos que lhe fiz para que tivesse cuidado e interpelou-o, acossando-o com os indícios que tinha.
Depois disso, de muito trabalho solitário, sério, minucioso, ética e deontologicamente irrepreensível, recusou as diversas propostas que lhe fizeram e que tantos invertebrados aceitaram, para dar outro rumo à investigação que laboriosa e honestamente desenvolveu.

Sem ela, sem a sua imensa coragem e honradez, nada teria saído do marasmo criminoso que persistiu durante décadas. E muitos mais meninos e meninas, pobres, teriam sucumbido.

Entretanto viu a sua filha pequenina ameaçada. Foi perseguida e finalmente despedida pelos canalhas que em Portugal exercem poder efectivo. A tudo resistiu heroicamente. Com a mesma determinação com que no início de tudo a vi chorar comovida pelo drama dos seres de que Soeiro Pereira Gomes falou.

Na segunda-feira sei que a verdade vai inundar, dolorosa, a sala onde decorre o julgamento.
Obrigado Felícia. Pelos meus filhos, pelos meus irmãos casapianos. Pelas crianças deste País.

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