sexta-feira, 6 de abril de 2007

Graciliano Ramos


Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

(Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948. Descobri Graciliano através da releitura do fabuloso livro de José Casanova, O Caminho das Aves. Se eu pudesse, oferecia a cada português um exemplar desse tesouro inesgotável.)

5 comentários:

António Conceição disse...

Não conheço a obra de Graciliano Ramos. Culpável ignorância, seguramente.
A verdade é que se o resto da obra estiver ao nível da amostra constante do post o que temos é um escritor muito, muito, muito fraquinho.
Vou ler "O caminho das aves". Só o título já promete muitissimo mais do que as lavadeiras de Graciliano.

NO CARVÃO (ou talvez não...) disse...

O "memorioso" pode bem transportar o peso da ignorante culpa. De preferência, aliás, para o resto dos seus dias, e obrigado ao cumprimento de trabalhos forçados em biblioteca pública!
Mas, ó inclemência, não sabe Vossa Ignorância que Graciliano emparceira (justamente) na galeria de notáveis escritores da lusofonia? E que é nome de referência nas academias, mormente nas vertentes de literatura?
E que o livro em apreço é considerado uma das maiores obras épicas escritas no século passado?
Pois se não sabe, aprenda! Que estará ainda em boa idade para adquirir a riqueza maior do saber.

António Conceição disse...

Mas, ó inclemência, não sabe Vossa Ignorância que Graciliano emparceira (justamente) na galeria de notáveis escritores da lusofonia? E que é nome de referência nas academias, mormente nas vertentes de literatura?
E que o livro em apreço é considerado uma das maiores obras épicas escritas no século passado?

Caro Alte Pinho & Sebastião,

Claro que sei isso tudo. É precisamente isso que me faz desconfiar. E a amostra do post reforça a minha desconfiança. É um texto fraquíssimo.
São raras as Faculdades de Letras onde se estuda literatura. A generalidade dedica-se apenas ao estudo da História da Literatura. E a História da Literatura está cheia de escritores inenarravelmente maus.
Nas nossas Faculdades de Letras, por exemplo, Aquilino Ribeiro e Miguel Torga são apresentados como grandes escritores e, em relação aos estrangeiros, também há quem sustente que o são James Joyce ou Tolstoi.
Por isso já vê o que vale a opinião das academias.
Mas, evidentemente, é injusto, avaliar Graciliano Ramos a partir da opinião das academias ou do pequeno texto aqui apresentado. O melhor será, de facto, lê-lo.
Afinal, Saramago também é endeusado pelas academias e até ganhou o Nobel e não escreve assim tão mal como estes factos deixam indiciar.

João Filipe Rodrigues disse...

A mim não precisas de oferecer o livro, portanto, menos um para a tua contagem.

"A amizade é a entrega em troca de nada. Dispensa condições, não as suporta aliás!"

Maria disse...

Tenho o livro desde que saiu. E também já o ofereci.
Mas digo-te, Pedro, que nem toda a gente que eu conheço merece receber esse belíssimo livro do Zé Casanova.
Muito menos... muito menos.

Um abraço