terça-feira, 25 de outubro de 2005


Quando vieres
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala...
Apenas os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o seu cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.
Quando vieres
Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.

Quando vieres
Nenhum de nós dirá nada
Mas a mãe largará o bordado
O pai largará o jornal
As crianças os brinquedos
E abriremos para ti os nossos corações.

Pois quando vieres,
Não és só tu que vens
É todo um mundo novo que despontará lá fora
Quando vieres.

Maria Eugénia Cunhal, in Silêncio de Vidro, Editorial Escritor
Poema dedicado ao irmão, Álvaro Cunhal, então preso nas masmorras fascistas

2 comentários:

Sérgio Ribeiro disse...

Que belo!
Como quem escreveu e como a quem foi dedicado!
Nem sempre se consegue esta triangulação.
Mas quando se chega lá, como a Eugénia o fez... sai disto!

Unknown disse...

Evidentemente, concordo contigo. Mas, considerar que o Partido que somos e as lutas que travamos são fruto de um colectivo e dos princípios que o norteiam, não colide nada com a profunda admiração que nutrimos pelo Álvaro e pelo seu exemplo imortal. Obrigado pelo teu comentário e já agora, adoro o teu blogue .