sexta-feira, 14 de outubro de 2005

O MUNDO DE HOJE



  1. Na evolução da sociedade, a revolução russa de 1917, sob a direcção de Lénine e do partido dos bolcheviques, fica marcada, em milénios de história, como a primeira e única a estabelecer o poder político das classes anteriormente exploradas e a empreender com êxito a gigantesca tarefa de construir uma sociedade sem exploradores nem explorados.
  2. A construção do socialismo na União Soviética teve profundas repercussões em toda a situação mundial. Vencendo bloqueios, intervenções, agressões militares e a invasão, a guerra e os monstruosos crimes dos exércitos hitlerianos, a revolução russa de 1917 repercutiu-se em todo o planeta. Outras revoluções socialistas vitoriosas tiveram lugar. Numerosos povos secularmente subjugados conquistaram a independência. Ruiu o sistema colonial. Criaram-se influentes partidos comunistas em todo o mundo. E, inspirados pelo exemplo da revolução russa, os trabalhadores em países capitalistas conquistaram importantes direitos.
  3. Com o seu poderio, alcançado pela construção do socialismo, a União Soviética alterou a correlação das forças mundiais, manteve em respeito durante décadas o imperialismo, tornando a competição entre os dois sistemas um elemento dominante na situação mundial.
  4. Uma falsa avaliação da situação criou porém nas forças revolucionárias uma ilusão: que era irreversível o avanço revolucionário e o processo em curso de libertação da humanidade. Para essa ilusão não se tiveram em conta três realidades. A primeira: a capacidade mostrada pelo capitalismo, mais que os países socialistas, de não só desenvolver as forças produtivas, como de descobrir, desenvolver e aplicar novas e revolucionárias tecnologias. A segunda: a utilização pelo imperialismo, designadamente pelos Estados Unidos, de colossais meios materiais e ideológicos, a repressão brutal contra os trabalhadores e os povos em luta, colossais meios financeiros, económicos, políticos e militares contra as revoluções, bloqueios, sabotagens, atentados, conspirações, acções terroristas e guerras declaradas e não declaradas. A terceira: as tendências crescentes nos países socialistas, nomeadamente na União Soviética, para a centralização e burocratização do poder e para a estagnação, pondo em perigo o futuro da sociedade socialista em construção. Todos estes elementos em conjunto conduziram, na segunda metade do século XX, à vitória do capitalismo na competição com o socialismo.
  5. Chegamos assim ao final do século defrontando a ofensiva global do capitalismo para se impor em todo o mundo como sistema único e final. É este o sentido da «globalização». Pelo seu superior poderio económico, tecnológico e militar, os Estados Unidos lideram, comandam e impõem tal processo. As guerras por eles impostas e que proclamam ser seu direito próprio e discricionário, não respeitando quaisquer instâncias internacionais, com o cortejo de destruições, atrocidades e genocídios, tornaram-se a arma mais importante da ofensiva.
  6. À acção terrorista de 11 de Setembro, os Estados Unidos responderam fomentando organizações e acções terroristas, desencadeando agressões e guerras que vitimam igualmente milhares de civis. Proclamando serem os campeões da luta contra o terrorismo, os Estados Unidos tornaram-se a principal força do terrorismo mundial. Na actual situação mundial, o terrorismo, que prolifera pelo mundo, só pode ser combatido com êxito com orientações, políticas e medidas que façam respeitar, pelos agressores imperialistas, a liberdade, os direitos e a independência dos povos e países agredidos.
  7. A questão que se coloca aos trabalhadores, aos povos e às nações é se tal ofensiva é irresistível e os trabalhadores, os povos e as nações estão condenados a submeter-se, ou se há no mundo forças capazes de se lhe oporem. Os trabalhadores, os povos e as nações não podem aceitar que tal ofensiva global seja irreversível. E, se assim é, importa considerar se há e, havendo, quais são as forças capazes de impedir que o imperialismo alcance o seu supremo objectivo. A nosso ver, são fundamentalmente: Primeiro: Os países nos quais os comunistas no poder (China, Cuba, Vietname, Laos, Coreia do Norte) insistem em que o seu objectivo é a construção de uma sociedade socialista. Apesar de ser por caminhos diferenciados, complexos e sujeitos a extremas dificuldades, é essencial para a humanidade que alcancem com êxito tal objectivo. Segundo: os movimentos e organizações sindicais de classe, lutando corajosamente em defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores. Terceiro: partidos comunistas e outros partidos revolucionários, firmes, corajosos e confiantes. Quarto: movimentos patrióticos, com as mais variadas composições políticas, actuando em defesa dos interesses nacionais e da independência nacional. Quinto: movimentos pacifistas, ecologistas e outros movimentos progressistas de massas. É no conjunto destas forças que pode residir e que reside a esperança de impedir a vitória final da ofensiva do capitalismo visando impor em todo o mundo o seu domínio universal e final.
  8. O domínio mundial do capitalismo como sistema único e final teria como resultado e componente, segundo os seus teóricos, o «fim das ideologias» e o «pensamento único». Trata-se de uma utopia da ofensiva global do capitalismo. O ser humano continua pensando. E o pensamento e a ideologia dos trabalhadores e dos povos oprimidos serão sempre inevitavelmente opostos à das potências e classes exploradoras e opressoras. Princípios fundamentais do marxismo (filosofia, economia, socialismo), respondendo criativamente às mudanças no mundo, mantêm inteira validade.
    Apresentamos ao Encontro Internacional esta nossa reflexão sobre «O mundo de hoje» como sendo também uma proposta de reflexão.

Contribuição de Álvaro Cunhal para o Encontro Internacional "América Latina: su potencialidad transformadora en el mundo de hoy" (Novembro de 2003)

1 comentário:

MFerrer disse...

Escusamos de andar, como as mariposas , à , há muito, o controlo da ideologia. Melhor, da ideologia dominante.
A queda do chamado socialismo de leste, ainda por analisar historicamente, só pode explicar-se pelo afastamento dos valores do socialismo. Dizia o Aquino de Bragança, muito antes da queda do muro, que"nada como os regimes de leste, os socialistas, para produzirem reaccionários". E viu-se a quantidade deles. Enquanto se continuar nesta deriva esquizofrénica de culpar os outros pelos nossos erros, vamos enchar as estatísticas de reaccionários e de desvios ideológicos.
É necessário regressar a Rosa Luxemburgo e entender a mensagem sobre a ideologia dominante. É indidspensável reler Marx e Engels e entender os principios do materialismo dialético. É preciso por tudo em questão e não fazer, de novo, uma religião da teoria do socialismo.
Os erros, como no tabuleiro de xadrez estão todos lá para serem feitos. A dificuldade está em separar o que está certo e deve ser prosseguido, e o que está errado e vai ser combatido.
O imperialismo tem a força que tem. Foi, no entanto derrotado já em muitas frentes, sempre e só quando a arma da idelogia verdadeiramnte popular e revolucionária se impôs, quando, à ideia correcta se aliou a prática exemplar. Estou a falar do Vietneme, do Laos, do Camboja,da Coreia do Norte, de Cuba. Houve recuos e falhanços, derrotas e erros cometidos. Mas o imperialismo tem perdido a face, tem perdido a batalha dos direitos humanos, mantem-se na defensiva em muitos territórios e hoje já luta no seu próprio teritório!
Vai ser derrotado vergonosamente nas aventuras cleptomaníacas do petróleo e do controlo territorial no sul da Ásia. Foram meter-se num vespeiro de onde nunca nenhum tirano foi capaz de regressar vitorioso. Felizmente a própria economia do império está fragilizada e o papel de Países como a Venezuela, Nigéria e Espanha voltam a ser muito importantes na batalha da esperança!
Hoje há uma nova consciência internacional e o amanhã sem petróleo, retirará ao imperialismo uma base de controlo internacional, por enquanto decisiva.
Convido-vos a visitar-me em
http://homem-ao-mar.blogspot.com
Obrigado por me terem lido!