quinta-feira, 27 de outubro de 2005

Obrigado!

"6.3.05
Sempre gostei do vermelho, de aniversários, de homens corajosos e de poesia. Ainda não me defini políticamente, mas tenho na minha família gente que me conta histórias que agora não passam pela cabeça de ninguém. E como os portugueses eram tratados. As lutas dos que trabalhavam de sol a sol e não tinham direitos nem pequeno-almoço. Das prisões e das torturas. Do analfabetismo e das crianças sem futuro. Das desgraças da guerra e da pobreza. Dos assassínios.Tudo isto em que pesquiso e leio, encontro sempre homens e mulheres comunistas na linha da frente. Na luta pela melhoria das coisas. E eles hoje fazem anos! Recorri-me aos conhecimentos do meu pai e do meu avô e surripiei o poema abaixo no blog do Dr. Pacheco Pereira. Só para lhes dar os Parabéns! "
"- Quem é esse homem sombrio
Duro rosto, claro olhar,
Que cerra os dentes e a boca
Como quem não quer falar?
- Esse é o Jaime Rebelo,
Pescador, homem do mar,
Se quisesse abrir a boca,
Tinha muito que contar

Ora ouvireis, camaradas,
Uma história de pasmar.

Passava já de ano e dia
E outro vinha de passar,
E o Rebelo não cansava
De dar guerra ao Salazar.
De dia tinha o mar alto,
De noite, luta bravia,
Pois só ama a Liberdade,
Quem dá guerra à tirania.

Passava já de ano e dia...
Mas um dia, por traição,
Caiu nas mãos dos esbirros
E foi levado à prisão.

Algemas de aço nos pulsos,
Vá de insultos ao entrar,
Palavra puxa palavra,
Começaram de falar

- Quanto sabes, seja a bem,
Seja a mal, hás de contá-lo,
- Não sou traidor, nem perjuro;
Sou homem de fé: não falo!
- Fala: ou terás o degredo,
Ou morte a fio de espada.
- Mais vale morrer com honra,
Do que vida deshonrada!

- A ver se falas ou não,
Quando posto na tortura.
- Que importam duros tormentos,
Quando a vontade é mais dura?!

Geme o peso atado ao potro
Já tinha o corpo a sangrar,
Já tinha os membros torcidos
E os tormentos a apertar,
Então o Jaime Rebelo,
Louco de dor, a arquejar,
Juntou as últimas forças
Para não ter que falar.

- Antes que fale emudeça!
- Pôs-se a gritar com voz rouca,
E, cerce, duma dentada,
Cortou a língua na boca.

A turba vil dos esbirros
Ficou na frente, assombrada,
Já da boca não saia
Mais que espuma ensanguentada!

Salazar, cuidas que o Povo
Te suporta, quando cala?
Ninguém te condena mais
Que aquela boca sem fala!

Fantasma da sua dor,
Ainda hoje custa a vê-lo;
A angústia daquelas horas
Não deixa o Jaime Rebelo.
Pescador que se fez homem
Ao vento livre do Mar,
Traz sempre aquela visão
Na sombra dura do olhar,
Sempre de boca apertada,
Como quem não quer falar."

Jaime Cortesão - Romance do Homem da Boca Fechada

Retirado do blogue http://thita.blogspot.com/ .
Por mim, militante do PCP há 22 anos, muito obrigado.

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