quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Contra o fascismo, O Tempo das Giestas


No passado dia 29, assinalou-se o septuagésimo aniversário da abertura do designado Campo da Morte Lenta, vulgarmente conhecido por Tarrafal. Tudo quanto se possa dizer sobre esse antro de tortura e assassinato político é pouco e não ilustra suficientemente a imensidão da dor por que passaram, é preciso dizê-lo, sobretudo, sucessivas gerações de jovens e respectivas famílias.
Para estudar o que foi o sinistro campo de concentração, marca indelével do regime fascista que durante 48 longos anos aprisionou este país, pode ler-se muita coisa, nomeadamente, os testemunhos dos que lá sofreram o horror inenarrável. A mim, que já li muito sobre o assunto, nada me impressionou mais do que o último romance de José Casanova, “O Tempo das Giestas”, precisamente sobre esta temática.
Espero, por isso, ansioso, que o livro chegue às livrarias. Além de estar magistralmente escrito, o que é habitual nos romances de Casanova, o livro é um MANIFESTO BELÍSSIMO contra o fascismo. E um hino comovente ao Amor e à Amizade.

3 comentários:

João António disse...

Tudo o que está neste post é bem certo. No entanto falta algo de muita importância.

Não há hoje mais liberdade do que havia antes. Com efeito há uma liberdade diferente, mas se virmos bem ela até é menor.

A verdade é que durante o regime ditatorial quem não "se metesse" em política tinha muito mais liberdade que hoje. Qualquer um que não tivesse "complicações políticas" o pode testemunhar. A menos que não tendo vivido nesse tempo não se possa conhecer do que falo.

As liberdades pessoais eram muito mais garantidas por vários processos e diferentes causas. As pessoas não vivem hoje em democracia, não só e apenas porque o regime actual não é democrático, é oligárquico, mas também porque não têm civismo nem cultura democrática, a qual nunca lhes foi dada precisamente porque os políticos querem manter a população ignorante em tudo o que respeita ao funcionamento duma verdadeira democracia. Para sua conveniência pessoal.

Assim, as pessoas não respeitam o seu semelhante e arrogam-se o direito de fazer tudo o que lhes apetecer, mesmo que isso prejudique os seus semelhantes. Esta não é a única razão da inexistência de democracia, mas é por si só suficiente para impedir que ela exista. Mesmo que o sistema eleitoral fosse democrático, que os políticos não fossem corruptos ou que as instituições funcionassem de maneira democrática.

Não devia ser assim, mas a realidade é que no fim, os únicos que acabaram por usufruir de liberdade foram os políticos (que a têm usado no seu interesse próprio e para nos tramarem) e os jornalistas (que em lugar de cumprirem o seu dever nos desinformam, não nos contam como são as verdadeiras democracias europeias e que encobrem as sacanices dos políticos corruptos num descarado conluio).

Por isso que ao post falta o reconhecimento de que hoje, neste sentido, é pior do que antes o foi. Tal como se encobre o que lá está, também se encobre a realidade de hoje: vivemos num paraíso! Infelizmente, a dura realidade é que o "hino comovente ao Amor e à Amizade", é apenas um nobre hino e disso não passa.
http://leaopelado.bravehost.com/

Mentiroso disse...

Cara GR,

Andei à procura para onde lhe devia responder e não encontrei. O link que deixou no seu comentário vai dar a um beco sem saída, espécie de anónimo, o que faz desconfiar de falta de seriedade, mas se quero responder é por crer que não é o caso presente. Como este blog não é meu e o seu autor merece consideração, é óbvio que não posso alongar-me demasiado, pelo que o que vou dizer pode parecer incompleto. No entanto, existem outras explicações melhores no meu site que tem comunicação, assim como num novo blog que tem e-mail. Não é como o “Abrupto”, que não passa duma abusiva tentativa de imposição de ideias, totalmente de harmonia com a maneira como o seu autor nos habituou a reconhecê-lo.

As suas alegações vêm confirmar o que escrevi sobre a desinformação “jornaleira”, assim como a consequente incapacidade da quase totalidade da população para estimar qualquer situação. A desinformação não abrange unicamente o campo político, é geral. A falta de conhecimentos que possam ajudar a fazer comparações válidas não permite fazê-las.

Por isso, creio não ser culpa sua se as alegações avançadas divergem da realidade conjuntural europeia contemporânea dos factos em questão. Vejo que talvez por não ter vivido nesses tempos, tenha “emprenhado pelos ouvidos”. A situação não era boa, nem nada que de semelhante. As verdadeiras democracias modernas começaram a despontar no pós-guerra, portanto muito depois de 1926. Durante muitos anos – talvez desconheça – o regime foi apoiado e desejado pela população em geral. Depois mudou. Os tempos mudaram e o regime não acompanhou.

Nessa altura, na maioria dos outros países vivia-se dum modo não muito diferente daquele que cá reinava. Sem transpor essa situação para os tampos actuais, as críticas nesse sentido e que se limitem estritamente a Portugal, são no mínimo despropositadas e dominadas por uma ampla falta de objectividade. Além disso, não se pode passar em vão que as democracias, então nascentes, passaram por uma formação das mentalidades nas creches e nas escola, dado se saber que os pais eram incompetentes para o fazerem. Isto ainda não chegou a Portugal e é, por si só, o maior obstáculo à democracia, visto ela jamais poder existir num país em que o civismo não existe (ou deixou de existir) e se tem transformado num estado cada vez mais selvagem.

De certo que não está ao corrente do que se passava a respeito do “beijo na boca” noutros países europeus, senão não o apontaria como indício de repressão específica a Portugal naquela altura. Sem ir tão longe, ainda no princípio da década de 1960 se passava exactamente o mesmo em países hoje considerados exemplos de democracia e que o são. Se os tempos mudaram em todo o mundo, o que a levará a querer fazer de Portugal uma excepção? Só se for por desconhecimento, pelo menos parcialmente devido a desinformação jornaleira. Não se podem fazer comparações honestas de modos de viver nem de preconceitos entre épocas diferentes. Não se podem transplantar. Sobre isto e para não me alargar mais, pode ver o que escrevi num comentário em http://www.moteparamotim.blogspot.com/ num post de 18-10. (O post não tem link directo e os comentários no Haloscan não facilitam o acesso ao próprio post.)

O meu pai nasceu dois meses após o assassínio de D. Carlos. Sempre foi comerciante e já bem antes de 1940 tinha uma loja. Uma loja é um lugar mais ou menos público onde vai passando imensa gente. Nas suas conversas com os clientes eu ouvi-o incontáveis vezes afirmar o que mencionou sobre a vida cara e com palavras idênticas. (“Quem dissesse que a vida estava pelas ruas da amargura, tudo estava cada vez mais caro, ia preso!”) a quem quer que fosse. Eu próprio ouvi a mesma frase ou semelhante de tantas e tantas outras pessoas No entanto, nunca nos constou que alguém tivesse tido qualquer problema político ou molestado por causa da afirmação. Nem nunca tal ouvi, mas hoje, devido ao desconhecimento geral pode-se afirmar qualquer coisa incrédula sem receio de se ser desdito. Inconcebível, mas verdadeiro. Um paraíso para oportunistas.

A minha mãe, talvez por nunca ter tido nenhuma filha, sempre gostou de me vestir de rapariga. (Faço aqui um pequeno à parte para dizer que como nunca tive a mínima atracção sexual por qualquer pessoa do meu sexo e me custa até a compreender que isso possa existir – mas que existe –, estou absolutamente convencido de que a homossexualidade, não podendo ser considerada um crime, mais não é do que uma aberração da natureza, uma anormalidade, completamente diferente de como é tratada.) Tenho uma fotografia vestido de minhota num Carnaval em que era quase adolescente. Tenho várias outras em que, durante todo o tempo em que fui criança, a minha mãe me fazia usar o cabelo comprido e com caracóis. Não andava escondido e a minha mãe não me deixava em casa, não trabalhava (poucas mulheres trabalhavam na altura) e levava-me sempre com ela para todo o lado. Nunca na minha vida ouvi semelhante invenção de que “Quem no Carnaval se vestisse de mulher (sendo do sexo masculino) ia preso!” Eu próprio sou a prova viva de que é mentira.

Não devo alongar-me mais, tendo que deixar o resto por responder. No entanto, por experiência própria e sem a mínima sombra de dúvida, afirmo com convicção que nesses tempos me sentia muito mais livre do que me sinto hoje. Sem comparação. Sobretudo quando a população foi literalmente empurrada para a rasquice, o egoísmo, a selvajaria, enganada e desinformada, a ponto de estar tão estupidamente convencida que está muito melhor do que antes e até de que vive em democracia. Só a profunda ignorância da realidade pôde abrir caminha a tamanhas barbaridades.

Não sou o único que o diz sem interesse políticos ou quaisquer outros, só que a voz da mentira berra mais forte, mas tempo terá que vir em que será reconhecido, pois que sem isso não poderá haver progresso nem democracia. Ainda estamos longe, o que se com,provou recentemente pela eleição de quem estafou os fundos europeus de coesão e lançou a país e a população na miséria actual. O povo reconhecido agradeceu assim ao seu Carrasco.

Note-se que antes não era bom e que a mudança era imprescindível, só que o caminho escolhido foi o pior. A história mundial está cheia de exemplos semelhantes, melhores e piores. Espanha não é um exemplo para nada mais, mas todos puderam verificar como se passou com uma mudança racional, assim como as consequências. Afirmar que a Abrilada de 1974 instituiu um regime democrático (podia ter sido, mas não foi – mudou de rumo), como afirmou, é não saber o que é uma democracia nem nunca ter vivido numa. Quem quer que seja que tenha vivido numa democracia europeia tem obrigatoriamente de pensar que só um doido ou alguém com mentalidade da Idade da Pedra pode fazer tal afirmação!

Se ler em http://leaopelado.bravehost.com/estado.htm, talvez fique a conhecer outras razões e como funciona uma democracia.

João Filipe Rodrigues disse...

Só para informar, mas de certo já é do conhecimento:

Apresentção do livro "O Tempo das Giestas", de José Casanova.

Dia 19 de Abril:
— 18h30 - Casa do Alentejo (Rua das Portas de Santo Antão - Lisboa), com apresentação de Domingos Lobo.