segunda-feira, 2 de outubro de 2006

A Francisco Louçã e amigos, que tanto maltrataram Souto Moura


Diz o ainda Procurador-Geral da República, em entrevista à "tabu", de 30/09/06:

"Mas devo dizer que quando o caso eclodiu, vi o país levantar-se de norte a sul vociferando que era preciso fazer justiça, doesse a quem doesse, como se se tivesse aberto a porta do inferno. Curiosamente, quando apareceram nomes de pessoas conhecidas no processo, ninguém mais quis saber dos rapazes.As vitimas foram esquecidas e ficou tudo concentrado noutro lado."
e acrescentou:

"Por exemplo as intervenções do então bastonário dos advogados (José Miguel Júdice) surpreenderam-me. Não me lembro de nenhuma a falar das vitimas; era sempre os atropelos, as violações de direitos do arguido e coisas desses género.".
Li a entrevista de Souto Moura com reforçado orgulho. Afinal, eu assinalei o mesmo no meu livro "A Dor das Crianças não Mente":
"Quando deflagrou o pesadelo e Carlos Silvino foi detido, o País reagiu em uníssono, exigindo a punição exemplar, não apenas do arguido, mas de todos os envolvidos, por se tratar de “uma vergonha, um escândalo sem precedentes”. Nos diversos meios de comunicação social, os comentadores denunciavam a cumplicidade com a pedofilia, “através do silêncio” e da “vista grossa dos poderes diversos”, e garantiam que as respectivas consciências não consentiriam, “num caso onde as vítimas são crianças indefesas”, que os culpados deixassem de ser punidos. Nesta fase inicial, mesmo os especialistas garantiam que o processo iria até ao fim, não apenas por ter sido noticiado, mas porque, o tempo entretanto decorrido desde a ocorrência dos factos criminosos, tinha permitido a sedimentação de “determinados pormenores”, que em consequência estariam “perfeitamente seguros”, no sentido de que por certo constituiriam prova irrefutável.
Protestava-se contra a prescrição do procedimento criminal neste tipo de crimes, porque, como escrevia uma das pessoas que mais rápida e convenientemente mudaria de opinião, “Afinal, o sofrimento, ódio, vergonha, todo o tipo de danos nas vítimas não prescreveram nem irão prescrever. São marcas que ficam para a vida por mais que o tempo passe ou os tempos mudem”. A socialista Edite Estrela destacava-se entre os que reclamavam justiça: “(...) é preciso que este caso seja tratado de forma exemplar. Que tudo seja esclarecido. Que os factos sejam investigados. Que os responsáveis pelos actos ignóbeis sejam castigados. Que os cúmplices sejam identificados. Que os encobridores sejam conhecidos. Os portugueses têm direito à verdade. A toda a verdade. As nossas crianças, as de ontem e as de hoje, as casapianas e as outras, exigem que os culpados sejam exemplarmente punidos”.

Depois, com o surgimento dos arguidos mediáticos, foi o nojo que se sabe...

2 comentários:

Sérgio Ribeiro disse...

Se não soubessemos o que sabemos e o que facilmente se adivinha a partir do que sabemos, não se entendia este ódio a Souto Moura.
Não fez o jogo... a ordem é cruxificá-lo e, como tu dizes, não faltam pusilâmines a contribuir com pregos e marteladas.
Mas tal o seu frenesim que ainda martelam os próprios dedos...

Maria disse...

É a desvergonha total no país que infelizmente temos...
32 anos depois, como é ainda possível?
Às vezes já nem tenho vontade de fazer nada. Mas olho à minha volta e penso, se não formos nós a fazer qualquer coisa, quem o faz?
Aí ganho novas forças. Pelas crianças. Pelos que sofreram. Porque podiam ser meus filhos. Porque há outras crianças. Porque me dói...
Um abraço