sábado, 7 de agosto de 2010

Até sempre, camarada!

Dias Lourenço, o herói simples do meu povo, morreu hoje. A história da sua vida honrada e resistente, dedicada na íntegra à democracia e à luta pelo Socialismo, é uma epopeia grandiosa, feita de coragem e amor pela entrega aos ideais mais nobres do ser humano.
Sofreu horrores inimagináveis, desde as torturas da sinistra pide à morte do seu querido filho, o Tóino, como carinhosamente o tratava.
Em 2000, fui falar com ele à Soeiro e pedi-lhe que nos acompanhasse, a mim e aos meus alunas, à tenebrosa prisão que o fascismo construiu na Fortaleza de Peniche. Chegado o dia, já na camioneta que nos levaria ao passeio de estudo e reflexão, um ensinamento que jamais esquecerei: o motorista não conseguia partir porque um carro lhe bloqueava a saída. Decidiu então chamar a polícia, o que verbalizou em voz alta e mereceu logo a minha concordância. Lourenço, chamou-me e ao ouvido, discretamente, deu-me uma lição para a vida: “Pedro, a polícia não. Deve ser um operário, um trabalhador com dificuldades e a polícia vai rebocar-lhe o carro e aplicar-lhe uma multa que ainda lhe vai dificultar mais a vida. Vai lá fora e resolve isso.

Saí com energias reforçadas e um misto de vergonha por não ter visto o óbvio. Juntei quatro homens, e afastado o carro, seguimos viagem com evidente alegria no rosto luminoso de Dias Lourenço.
Já em Peniche, um menino de rua, aproximou-se do nosso grupo. Dias Lourenço pediu-nos que lhe déssemos comer. E enquanto o petiz matava a fome, o meu querido camarada desenhou-lhe, na toalha de papel que forrava a mesa, um rosto humano, com duas expressões, em que baseou uma história lindíssima.
Morreu Dias Lourenço. Morreu uma parte imensa de Portugal, da nossa história, do nosso heroísmo. Bem sei que o exemplo persistirá. Mas, dói, caraças. Dói muito.



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