O Paulo Varela Gomes publicou no Público um texto muito curioso sobre Lisboa que acaba, mas não arranca, de um pressuposto correcto: a urgência de existir uma ideia para Lisboa. Ideia que consubstancie um projecto que a recupere de décadas de gestão desastrada em que convergem duas linhas principais. Uma, a gestão corrente da realidade que mediocremente vai alimentando o crescimento canceroso do tecido urbano. A outra, travestir essa gestão com rasgos voluntaristas sobrepondo camadas de laca do populismo mais desbragado género chinela no pé ou fragrâncias raras como o foram Portugal típico servido nos relvados de Belém por Nuno Abecassis ou encomendas a arquitectos do star-system contratado Piano/ João Soares ou Gehry/Santana Lopes.
A cidade continua ausente nessas intervenções, conceptualmente muito próximas. Vai-se normalizando. Aplainando a sua luz até ficar calibrada pelo crivo de um suposto bom gosto universal. Lisboa, em toda a sua vida, só teve dois autarcas que a souberam pensar enquanto cidade. O Marquês de Pombal, que não o sendo foi um dos mais decisivos interventores, e Duarte Pacheco. Os outros foram-se sucedendo no cadeirão do poder deixando Lisboa afundar-se numa vil tristeza que um certo diletantismo e cosmopolitismo, por vezes frenético, não disfarçam.
Curiosas são as ilações que o Paulo Varela Gomes extrai para concluir pela deslumbrante bondade de uma candidatura independente, desenhando-se uma lá esperamos encontrar o PVG, riscando o projecto de cidade mundial. Ao ler isto assalta-nos a memória os inúmeros escritos sobre arquitectura lisboeta produzidos por PVG, pós-modernos provincianamente deslumbrados com as galerias técnicas do Valssassina, a imagem coloridamente simbólica dos edifícios do Taveira, ainda não existia o estádio do Sporting, etc., etc. Dedicando-se afincadamente ao acessório e com o acessório construindo uma Lisboa que pouco tem com uma ideia consistente de cidade. Não temos, de momento, acesso a esses textos e estamos a arriscar uma injustiça, mas no meio de tanto arrazoado julgamos lembrar que até se descobriam virtualidades no caos suburbano, satélite da capital. Em resumo, o desenho da cidade era-lhe estranho. Não o comovia nem motivava. Encadeava-se era com os brilhos formais as superficialidades tecnológicas. Estamos de acordo com a miséria conceptual produzida pelos aparelhos políticos do PS e do PSD. Até estamos de acordo em condenar as transigências excessivas, em nossa opinião, do PCP tanto com Jorge Sampaio como com João Soares.
Quanto às sinecuras, nessa época, o PVG se escavar seriamente, encontra-as e muitas é no Bloco de Esquerda, que sem estar formalmente no poder, enxameava os corredores, ocupava gabinetes, direcções, mesmo em pelouros atribuídos ao PCP. Anda distraído o PVG, como só por distracção ele pode considerar, sabe-se lá porquê, que o Bloco de Esquerda deveria ser eco da elite lisboeta. Uma ideia que só pode passar pela cabeça de alguém que não ultrapassa o plástico com que desveladamente a comunicação social embrulha o BE colando-lhe uma imagem arejada, jovem, que a de ter ideias novas tem-se embaciado com o tempo apesar dos esforços e do espaço concedido a esses “pensadores” nos mais variados media.
É uma ideia espantosa, artificial que vende, enquanto não se perceber que é de estanho o papel de prata que embrulha esses vigésimos premiados. Não será o PVG o cavaleiro andante do pensamento que irá libertar o BE de um vereador e cabeça de lista com a mentalidade de polícia de trânsito, nem impedir que se subscreva um programa que, segundo essa luminária, poderia ser apoiado por um conservador inglês, um socialista francês, um liberal alemão e.... pelo Bloco Esquerda. O que mostra urbi et orbi como a “elite” é dada ao oportunismo mais rasca. Provavelmente o PVG está convencido que o BE é um albergue de promissora juventude e aí vai ele, em disparada correria, com medo de envelhecer. Daí à asneira, o passo é curto.
Texto de Manuel Augusto Araújo
Quanto às sinecuras, nessa época, o PVG se escavar seriamente, encontra-as e muitas é no Bloco de Esquerda, que sem estar formalmente no poder, enxameava os corredores, ocupava gabinetes, direcções, mesmo em pelouros atribuídos ao PCP. Anda distraído o PVG, como só por distracção ele pode considerar, sabe-se lá porquê, que o Bloco de Esquerda deveria ser eco da elite lisboeta. Uma ideia que só pode passar pela cabeça de alguém que não ultrapassa o plástico com que desveladamente a comunicação social embrulha o BE colando-lhe uma imagem arejada, jovem, que a de ter ideias novas tem-se embaciado com o tempo apesar dos esforços e do espaço concedido a esses “pensadores” nos mais variados media.
É uma ideia espantosa, artificial que vende, enquanto não se perceber que é de estanho o papel de prata que embrulha esses vigésimos premiados. Não será o PVG o cavaleiro andante do pensamento que irá libertar o BE de um vereador e cabeça de lista com a mentalidade de polícia de trânsito, nem impedir que se subscreva um programa que, segundo essa luminária, poderia ser apoiado por um conservador inglês, um socialista francês, um liberal alemão e.... pelo Bloco Esquerda. O que mostra urbi et orbi como a “elite” é dada ao oportunismo mais rasca. Provavelmente o PVG está convencido que o BE é um albergue de promissora juventude e aí vai ele, em disparada correria, com medo de envelhecer. Daí à asneira, o passo é curto.
Texto de Manuel Augusto Araújo
2 comentários:
tabernadaresistencia.blogspot.com
O Bloco de Esquerda em cada dia que passa torna-se num oportunista mais refinado.
Já o sabíamos. Porém, agora e sem disfarces actua com uma incoerência descarada.
Indignam-se, acusando a CML quando falam no caso Bragaparques. Contudo todos votaram a favor (incluindo o BE), com excepção da CDU (votou contra).
Para as eleições.
Começaram por não querer fazer coligações. Quando ouviram o nome da Roseta, tentaram encostar-se, como esta os mandou “dar uma volta” contactaram o António Costa.
Enfim…demagogia da pior, sempre com a ajuda da comunicação social, claro!
GR
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