O Diário de Notícias de hoje anuncia o simulacro de debate entre Isaltino, Teresa e Emanuel, assegurando aos leitores que a conversa é entre os candidatos à Câmara de Oeiras. É mentira: despudoradamente, a SIC Notícias recusou convidar o candidato da CDU. Logo à noite, muitos serão os que em protesto se vão juntar à porta da estação de Carnaxide. Entretanto, por considerar que nos ajuda a entender a censura que nos aprisiona, aqui deixo um texto do Dr. José António Barreiros. DN de 29/10/04
E depois do adeus
"Circunstâncias de alinhamento gráfico fazem com que eu compartilhe esta página com dois membros da Administração deste jornal. Ambos convergiram numa decisão: afastar o director. Um deles anunciou-o ao País através de uma televisão, da qual é comentador. Entretanto, uma senhora que, afinal, eles já haviam convidado para ser a próxima directora, veio publicamente dizer que não existiam condições para fazer deste jornal um diário «de referência, isenção e aceitação pública». Chegadas as coisas a este ponto, compreendam os leitores que eu saia deste lugar. É patente o que está actualmente em causa na comunicação social portuguesa: o domínio dos media pelo grande capital, a entente cordiale entre esse grande capital e o actual Governo. Poucas serão as excepções.
A imprensa deixou de ser um problema de direito constitucional à liberdade de expressão, passou a ser um problema de direito comercial à distribuição de dividendos. Num quadro destes, eu corro o risco de me transformar na demonstração de que as coisas não são tanto assim quanto parecem. Enquanto aqui estive nunca sofri a mais pequena sugestão ou limitação de quem quer que fosse; não quero é continuar neste ambiente de degradação. Ao público em geral há duas coisas que já não escapam. Primeiro, em Portugal está a instalar-se um clima de medo; não o medo antigo de se ser preso por um delito de opinião, mas um medo moderno, nascido na zona dos interesses, do que se ganha e do que se perde. A hipocrisia, em Portugal, passou a ser a forma de os fracos sobreviverem, a velhacaria um modo de os fortes dominarem.
Segundo, em Portugal a vida política vive na mentira e na desconfiança: ninguém diz totalmente a verdade, ninguém acredita minimamente no que se diz.
É evidente que é um problema de liberdade o que está em causa, um duplo problema de liberdade: é que sem liberdade de empresa, não há liberdade de imprensa. Ora a concentração capitalista na comunicação social e a sua aliança com o poder político, num só golpe, geraram a miséria a que assistimos. Cada um que vai à quase moribunda Alta Autoridade para a Comunicação Social é mais um rol de ignomínias que vem ao de cima. Começa a perceber-se o bastidor do espectáculo. Um destes dias os leitores, para estarem capazmente informados, talvez tenham, não de comprar um jornal, mas sim de comprarem o próprio jornal que o publica. Ser jornalista é hoje recolher notícias que outros embrulham no meio da publicidade e da propaganda. Honrados profissionais vivem hoje essa agonia.
Sem ser jornalista, a minha vida está intimamente ligada a escrever nos jornais. O cheiro da tinta de imprensa ainda é para mim um excelente afrodisíaco. Antes do 25 de Abril, com 19 anos, já estava no Comércio do Funchal, no República e no Notícias da Amadora. Talvez, por isso, seja insuspeito para dizer com muita mágoa: pobres coronéis do «lápis azul» que, no antigo regime, a troco de uma magra avença, canhestros e ridículos, tentavam servir um regime, «cortando a raiz ao pensamento».
Comparado com o que se passa hoje, era um mundo artesanal. É que, então, ainda tínhamos do lado das redacções alguém que, por meio de uns bons berros, em português vernáculo, fazia a notícia passar. Mutilada, esfrangalhada, às vezes quase ilegível, enfim, a notícia passava, e os leitores, habituados a ler nas entrelinhas, percebiam-na. Hoje já quase não há quem dê berros. Numa só coisa estamos iguais: os leitores começam a saber ler nas entrelinhas.
Obrigado a quem me leu, obrigado a quem permitiu que aqui escrevesse. Durante semanas escrevi gratuitamente, espero não ter escrito em vão."
DN de 29/10/2004
9 comentários:
O próximo debate sobre autarquicas em Oeiras, com todos os candidatos, será patricinado por esse arauto da isenção jornalistica chamado AVANTE.
Este Carlos Alberto deixou de ser tão cobarde (lá conseguimos que assumisse parcialmente o nome que tem e não prestígia), mas continua alarvemente anticomunista. Perante uma denúncia concreta de censura - exclusão do candidato comunista de um debate apresentado publicamente como decorrendo entre todos os candidatos a uma autarquia - prefere esconder a cabecinha na areia, insultando um jornal que nunca se disse isento, que é de um partido e sempre tomou partido. Mesmo quando os amigos do carlinhos andavam de rabinho escondido entre as pernas, porque existia a pide. E gente como ele só estrebucha quando sabe que não há a menor possibilidade de correr qualquer risco.
cobarde
alarve
São cumprimentos que retribuo.
Modere a linguagem, a este nivel não descerei, nunca.
Está a ver como é fácil fazer de vitima...
Sobre Autárquicas, sabiam quem é o "parceiro de coligação" da Camara do Porto?
A CDU de Rui Sá, governa com PSD+PP+CDU. Pois para os puristas e arautos do espirito da dita esquerda comunista, o PC apoia uma camara de coligação de direita (PSD+PP). Olha se fossem outros a apoiar o Rui Rio, o que estes puristas da luta revolucionária (reacionária)não diriam???
O Comunismo na China
Um chinês trabalha 12 a 14 horas por dia, sete dias por semana, sem Segurança Social e ganha um salário médio de 45 euros, dos quais são descontados 23 para alojamento e alimentação.
China, economia capitalista, política comunista.
Caro Pedro,
Ainda bem que vim aqui! Eu não tenho, nem terei, caixa de comentários...
Na minha boa fé, preparava-me, a partir daqui, para ir ao lado do meu blog fazer uma coisa que, não tivesse eu continuado a ler, corresponderia a um duplo erro!
Resta-me:
a) uma dúvida;
b) os vários comentários do "gr" levam à página do profile e nem aí abrem qualquer blog! Deve ser um lapso que só o "gr" poderá explicar.
Convido o Pedro a ler o meu post "Os quatro amigos", de 15.08.2005. Tenho razão!
Seria estultícia da minha parte dizer que só quero ler blogs do meu inteiro gosto. Não. Também gosto de ler blogs que tenham outras ideias, mas nunca os que são "anti-eu", porque eu não sou "anti-eles"; tem que se gerir esta problemática de maneira a não fazer "disto" uma guerra e viver stressado.
Caro Dr. Pedro Namora
A censura que a SIC fez , não permitindo a participação ,ou não convidando o candidato da CDU a Oeiras, é inadmissível.
Excluir do debate sectores da sociedade portuguesa,excluir o PCP/CDU impedindo que os portugueses oiçam as sua propostas, é anti-democrático.
E é ilegal. A AACS deve tomar posição.
As eleições em Oeiras não são disputadas apenas pelo PSD/Isaltino/PS.
Um abraço e parabéns pelo post.
Cara gr,
1. Agradeço a explicação relativa ao facto do GUETIM não abrir qualquer blog;
2. Concordo, na geralidade, com o comentário da minha cara amiga;
3. "...Logo que não prejudiquemos nem choquemos ninguém..." - isto é o que a minha amiga diz no contexto dos "quatro amigos". Permita-me fazer uma precisão, ilustrada com um exemplo: eu sempre tive uma lista única de blogs; a única regra de inserção é a ordem alfabética. Durante uns 3 meses tinha na minha lista um blog que gostava de ler, embora percebendo que não era da minha tendência política. A determinada altura verifiquei que esse blog surgiu com o link do meu. Os links, nesse blog, estavam dispostos por categorias (taxa de luxo, 21%, 15%, com fiscalização tributária e, a mais baixa, 5%). O meu link estava na última categoria! Não lhe parece que este exemplo cabe na sua frase "logo que... não choquemos ninguém"? Eu acho que sim. Das duas uma: ou esse blog não inseria o meu link (porque achava que não havia empatia política suficiente) ou, a fazê-lo, deveria ter sido num plano de equidade e justiça, não humilhante ou chocante. Se esse blog não tivesse inserido o meu, nas condições descritas, eu teria continuado a lê-lo. Como cada um faz o que lhe apetece, a única resposta que pude dar foi eliminar esse blog (não podia continuar o velho princípio de "levar uma bofetada numa das faces da cara e oferecer a outra...").
4. "Não pode haver provocações primárias e muito menos insultos" - diz também a minha cara amiga. Interpreto a mensagem no sentido lato, não me respeita, estou absolutamente de acordo. Eu próprio terminei assim o meu anterior comentário:
"tem que se gerir esta problemática de maneira a não fazer disto uma guerra e viver stressado".
Comunistas 'reabilitam' o mandato de Estaline
O Avante!, órgão central do PCP, "reabilitou" nas duas últimas semanas o dirigente comunista mais polémico de sempre. Após um longo período de silêncio, Estaline voltou a estar em foco no semanário comunista a propósito do 60.º aniversário do fim da II Guerra Mundial na Europa. O jornal dedicou mesmo uma notícia, na sua última edição, ao antigo ditador soviético sob o título "Estaline homenageado".
Nesta mesma edição, em artigo assinado pelo chefe de redacção do Avante!, destaca-se a "figura de Estaline", que "não pode ser isolada dos outros dirigentes" da União Soviética, "tal como o PCUS [Partido Comunista da União Soviética] não podia encontrar-se isolado da vontade dos milhões de soviéticos, comunistas ou não".
Leandro Martins, que é membro do Comité Central do PCP, vai mais longe "Estaline teve o seu papel na vitória ao lado do povo." O chefe de Redacção do Avante! não estranha, por isso, que na Rússia actual "voltem a aparecer cidades em que se dá o nome de Estaline a ruas".
O antigo ditador, responsável por milhões de mortos na extinta URSS, é qualificado de "revolucionário soviético" pelo chefe de Redacção do Avante!. Leandro Martins elogia o regime que vigorou em Moscovo entre 1917 e 1991. Na sua opinião, foi "a mais brilhante conquista da história da humanidade".
"Se Estaline teve o seu papel na vitória ao lado do povo, Gorbatchov teve o papel principal na derrota do socialismo, acompanhanado apenas por arrivistas e traidores de que se rodeou", escreve o chefe de Redacção do Avante!.
A "reabilitação" de Estaline teve início na edição de 5 de Maio do Avante!, que elogiava em manchete "a inteligência, coragem e determinação do Exército Vermelho, dirigido pelo PCUS" [de Estaline] na II Guerra Mundial. Nessa edição, num texto assinado por Luís Carapinha, dizia-se que o regime estalinista "salvou a Europa e o mundo do fascismo e abriu novos horizontes à luta de libertação dos povos".
Também nesse número do jornal comunista, Manuela Bernardino, membro da Comissão Política do PCP, destacava por sua vez o "contributo decisivo da URSS, do seu povo e do Exército Vermelho", em contraponto aos "compromissos, a conciliação e a traição da burguesia e dos seus governos que facilitaram o avanço do fascismo e o desencadeamento" da II Grande Guerra.
Estaline é ainda elogiado, no Avante! de 5 de Maio, por ter promovido a liberdade religiosa na URSS "A igreja ortodoxa mantinha abertos ao culto, nessa altura de grandes riscos e sacrifícios, 20 mil templos, 67 mosteiros, oito seminários, três academias teológicas e dispunha de 31 mil sacerdotes ordenados. Quanto à questão polémica de se saber se existia ou não, na URSS, liberdade religiosa, estes números podem falar por si", escreve Jorge Messias, habitual colaborador do jornal.
O Carlos Alberto há-de ter tido, antes de Abril, a profissão de colaborador da Pide: não diz uma só coisa que seja verdade. Adultera, mistura, deturpa, engana, mistifica. Que asco. Incapaz de uma só ideia para debate, vem aos blogues dos outros escarrar falsidades, porque o dele está abandonado, ignorado, sem ninguém.
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