Com raríssimas excepções, os media estão pejados de consciências de aluguer que reproduzem, em coro síncrono, a voz dos donos. Omniscientes, peroram sobre tudo e convergem na defesa do pensamento único. A proliferação de jornais, rádios e televisões, ao contrário do que apregoaram os cultores de princípios grandiloquentes, significou uma redução do pluralismo informativo e por essa via, uma diminuição brutal da democracia.
O papel dessas prostituídas consciências na derrocada que nos atingiu ainda está para ser devidamente estudado. Viu-se agora, a propósito do discurso de Cavaco Silva na tomada de posse, como se esforçaram. Cavaco diagnosticou a situação, mas escondeu as causas e o papel determinante que teve na destruição, nomeadamente, da nossa capacidade produtiva. Apelou aos jovens com frases lindas que esconderam ter sido autor, depois de Mário Soares, dos maiores ataques à estabilidade no emprego e ao papel social do Estado. Basta ver, por exemplo, quem legalizou, em 1989, a moderna escravatura laboral pomposamente designada de subcontratação.
O paradigma de sucesso de Cavaco Silva chama-se Dias Loureiro e afins. Mas os loroteiros de serviço esconderam tudo e apregoam a requentada receita de Cavaco como o melhor dos elixires. Pelo caminho silenciaram o óbvio: Cavaco é cúmplice do actual governo e não tem legitimidade para criticar.
Razão teve ontem Agostinho Lopes ao contrariar o loroteiro de serviço na SIC: Não é verdade que ninguém tenha alertado contra as políticas que nos trouxeram o descalabro. Só que, quando o PCP as denunciou, foi apelidado de catastrofista.
Se existisse jornalismo político sério nos media do sistema, a pergunta formulada ontem por Agostinho Lopes seria inevitável: para onde foi o dinheiro das privatizações? Estou certo de que a resposta implicaria centenas de participações ao Ministério Público para procedimento criminal contra a corja de vigaristas. E, já agora: quem ficou com os milhões de fundos comunitários?
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