O anunciado roubo de parte do subsídio do Natal aos trabalhadores e aos reformados e pensionistas – na sequência de um sem número de medidas de igual sentido que o Governo PS/Sócrates tem vindo a perpetrar – é bem o exemplo da natureza de classe evidenciada pela política de direita ao longo dos seus longos 34 anos de existência.
Essa natureza de classe - presente em todos os governos dos três partidos pais dessa política – expressa-se ao sabor de um esquema de grande simplicidade: os trabalhadores, o povo e o País são, sempre, o alvo a flagelar; o grande capital é, sempre, o alvo a favorecer.
O anúncio dessas medidas de classe conta, sempre e desde logo, com o aplauso entusiástico dos propagandistas de serviço à política de direita – os quais, como se sabe, ocupam a quase totalidade do espaço de «opinião» dos média dominantes.
Assim aconteceu neste caso do anúncio do roubo do subsídio de Natal: os propagandistas apressaram-se a concluir que sim senhor, essa é a forma mais fácil, expedita e rápida de resolver o problema do défice e de cumprir a ordem da senhora Merkel e dos restantes patrões da União Europeia, ou seja, o roubo é a solução.
Mário Soares, que ocupa lugar destacado nessa acção propagandística, e que alia a essa tarefa a função complementar de defensor maior, em Portugal, do capitalismo (democrático, é claro...), saltou a terreiro em defesa do roubo, como lhe competia, e aproveitou para lembrar (antes que lho lembrassem), que também ele, quando foi primeiro-ministro, roubou parte do subsídio de Natal aos trabalhadores portugueses.
É claro que, assumindo a paternidade do roubo, Soares demonstrou igualmente o conteúdo democrático do acto praticado. Tratou-se, Soares o diz, de um roubo não apenas democrático mas essencialmente salvador da pátria, de acordo, obviamente, com os conceitos de democracia e de pátria do autor do roubo – que é, por isso mesmo e como estamos fartos de ouvir dizer, o «pai da democracia».
E que é, como estamos fartos de saber e de sofrer, o pai da contra-revolução e da política de direita - paternidade esta inequívoca e abundantemente confirmada pelo ADN do progenitor e da cria.
José Casanova, AVANTE! de 13/05/2010
Sem comentários:
Enviar um comentário