domingo, 25 de abril de 2010

VIVA A LIBERDADE: OBRIGADO, PCP!


À Rita, que me perguntou há dias o que é a Liberdade.

Sabes filha, quando tinha a tua idade, caminhava de mão dada com a minha mãe, por uma rua de Lisboa, quando um polícia mau - nesse tempo eram quase todos - nos deu ordem de prisão.

O menino que fui não entendeu o absurdo: fomos arrastados violentamente para uma casa chamada Quartel do Carmo e pouco tempo depois vi a avó, que infelizmente não pudeste conhecer,  ser agredida violentamente por um bando de cobardes fardados.

O pai levava na mão uma guitarra de plástico, recheada de bombons, que a avó sabia ser um dos meus presentes favoritos.  Mas do que me recordo mesmo é de ver aqueles monstros baterem na minha mãe por ter colocado em caixas de correio uns papeis com palavras contra o governo fascista. 
Se fosse hoje, filha, se numa  dessas viagens que fazemos por Lisboa, o pai decidisse repetir o gesto simples da avó, nada me sucederia. Porque existe liberdade, porque podemos falar, escrever, gritar, sem que os polícias nos possam fazer mal.

Digo-te isto, filha, mesmo sabendo que as fardas hoje são outras, outros os cobardes de outrora e diferente a forma de limitar a liberdade, que passa também por nos fazerem acreditar que de facto podemos o que já nos roubaram.  Mas disso falaremos quando fores um pouco mais crescida, porque hoje me apetece ser feliz e não quero toldar-te já a descoberta recente que fizeste.

Prefiro dizer-te, do fundo do meu coração, que se hoje podemos falar de Liberdade, se vos pude mostrar o Forte de Peniche,  falar de prisões, de verdugos, se vos pude cantar a música "Uma gaivota voava, voava", se pude contar ao Ricardo "o Caminho das Aves", se  pudemos ir à Aula Magna em Março festejar o aniversário do Partido, foi porque muitos homens e mulheres, unidos, decidiram sacrificar-se durante muitos anos. 

Esses combatentes, os melhores de todos e muitas vezes e durante muito tempo, os únicos a resistir, estavam no Partido que já conheces, o nosso PCP.

E lutaram filha. Lutaram tanto e com tanta coragem, com tanta confiança no futuro, que puderam vencer o medo e fazer-nos livres. Antes de existir Liberdade, meninos e meninas como tu viviam tristes, cresciam sem brinquedos, com fome e sem escola, sem casa e sem roupa. A maioria não sabia ler nem escrever, não tinha médico, nem férias e muitos nunca chegaram sequer a ver a praia que tanto adoras.

Tu já sabes que existia a pide. Muitas pessoas não concordavam com a falta de liberdade, mas fosse por medo ou por não se querem incomodar, nunca fizeram nada. Só os homens e mulheres do Partido , alguns com filhos bem pequenos, nunca desistiram da luta.

E foram tão fortes, tão corajosos, falaram tanto com outras pessoas, lutaram tanto, que podemos dizer, falando verdade, que sem eles ainda hoje a Liberdade seria para ti uma palavra desconhecida. 

Quando eras mais pequenina e gritavas "Jerómino, avança, com toda a confidança" fazias-me tão feliz que só desejava que o avô Cácá, da estrela onde agora vive, te pudesse ver, orgulhoso e confiante na tua futura condição de comunista.

Um destes dias, vou falar-te do Álvaro. Aliás, talves amanhã mesmo te ofereça o conto lindo que escreveu para meninos e meninas como tu. Na opinião do pai, o Álvaro foi o melhor português de todos os tempos. Mas por hoje, ofereço-te este vídeo lindo, que ajuda a perceber, melhor do que as minhas palavras piegas, de que forma nasceu a Liberdade.


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