domingo, 12 de agosto de 2007

Contra a especulação



A comunicação social dominante vê no caso Maddie apenas o filão, preferencialmente inesgotável, que lhe permite, diariamente, encher espaço, captar audiências, publicidade e muito dinheiro. Jornais e televisões tratam o assunto de forma miserável, sem curarem de saber e transmitir aos portugueses uma visão séria do problema.


Os pais da criança – cuja negligência grosseira contribuiu decisivamente para a tragédia – já foram vítimas e agora, porque uns cães terão descoberto sangue, passaram a algozes. Se na próxima semana o resultado dos exames laboratoriais indicar que afinal o sangue não pertence à criança, os escribas e jornaleiros terão que forjar novos argumentos e contratar prestativos especialistas, sempre disponíveis para debitar o que a voz do dono pretende ouvir.


A verdade é que para a generalidade da comunicação social a sorte da menina é indiferente. Basta pensar no que sucedeu no processo Casa Pia: depois de fingirem solidariedade com as crianças vitimadas, as televisões e jornais dedicam-se agora a lavar a imagem de arguidos acusados e pronunciados por crimes gravíssimos.


A investigação em curso é necessariamente morosa e difícil. Neste momento a menina pode estar, viva ou morta, em qualquer lugar do planeta. A Polícia Judiciária é, comprovadamente, uma das melhores polícias do género a nível mundial. Apesar de todas as limitações orçamentais e de todos os condicionamentos governamentais. Por que razão foi destruída a equipa que investigou de forma exemplar os pedófilos que atacaram, entre outras, as crianças da Casa Pia de Lisboa? Que tem feito o governo português para consciencializar os portugueses para o drama da pedofilia e do abuso sexual de menores?


Onde está a base de dados com os pedófilos condenados? Que acompanhamento têm após cumprirem as respectivas penas de prisão, sabendo-se que na generalidade dos casos são incuráveis? Onde estão as medidas legislativas que visem efectivamente proteger as vítimas e não transformar Portugal num paraíso para criminosos?


10 comentários:

GR disse...

No nosso país todos os casos referentes a crianças são problemáticos!
Não nos podemos esquecer nunca, do Processo Casa Pia. Ficará para a História do processo criminal e jurídico, como a vergonha nacional! Daqui a longas décadas, quando um dia um jovem estudante de jornalismo ou direito, por acaso fizer pesquisa sobre “casos insólitos”, poderá constatar o tipo de pessoas que mandavam na justiça deste país!
Será tarde! muito tarde!

Contudo e não querendo fazer juízo de valores sobre ninguém muito menos à PJ, o caso Maddie, está cheio de contradições!
Lembro-me de ter visto na tv uma idosa senhora inglesa, durante dias com uma banca dizendo: “quem souber de algo e não queira ir directamente à polícia, pode dizer-me”.
Onde já se viu esta situação?
Mais tarde viemos a saber que era Jennifer Murat.
Durante um período de tempo, um anónimo presta voluntariamente serviço à PJ.
Quem era? Porque o fazia? Como apareceu?
Mais tarde a PJ ficou a saber que era Robert Murat, frequentador de sites pedófilos e para já, único suspeito!
Por “coincidência” este Mourat, era conhecido de um jovem russo.
Sergey Malinka, condenado por abuso sexual infantil, a PJ nada encontrou no seu computador por este ter “limpo” o disco duro!
Sobre estes cidadãos, não ouvi dizer que algum vez lhes tivessem feito um processo, sobre as suas tendências pedófilas! Porquê?
Os abutres das cidades enviam as carraças (na maioria pagas à peça), para lhes trazer novidades, especulando a seu bel-prazer. A comunicação social está a borrifar-se para os casos, quer é vender. Poucos são os credíveis (haverá ainda algum?!)

O povo, esse sedento de estórias, para esquecer a carestia da vida, o desemprego, a falta de SAP’s, a morte lenta que os espera, delicia-se a ver e ler, especulações da mesma forma que vê novelas.
Hoje, todos contra! Amanhã, choram lágrimas que não lhes pertence.
A comunicação social sabe jogar com a mente da maioria dos portugueses.
Pobre Maddie!
Pobre (todos os) desaparecidos!

Sabendo que a PJ tem feito um bom trabalho, sobretudo no que respeita ao narcotráfico, acredito que tudo esteja a fazer para por fim a este caso tão mediático. Porém, as condições de trabalho são muito duras. É a pressão da comunicação social (nacional e inglesa), a falta de meios de pesquisa (devido ao governo não lhes proporcionar), são as palavras infrutíferas do cidadão comum.

O governo nada tem feito para minimizar a pedofilia no país. Claro que não! porque não quer ser contra os seus governantes, muito menos contra alguns dos seus militantes!

Bem-vindo Pedro!

GR

Victor Nogueira disse...

Olá, Pedro.
Bem vindo de novo a esta tua «casa».
Um abraço
VM

Victor Nogueira disse...

Quem é e onde pára o criminoso?
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Pessoalmente não simpatizo com o dr. José Martins nem subscrevo muitas das opiniões políticas nem como por vezes se expressa no seu blog. Nem sei o que o faz correr, se o amor às crianças se à notoriedade. Mas ele há cada estranheza ! Ele é o defensor do sr. Carlos Silvino, embora não das crianças (masculinas) abusadas na única rede pedófila descoberta em Portugal, no Continente e Regiões Autónomas. E por coincidência, está ameaçado de ser expulso da Ordem, com a consequência de não poder exercer advocacia. E pedofilia, só na Casa Pia (masculina) de Lisboa e em nenhuma outra instituição do género, qualquer que sejam os seus responsáveis. Será mesmo assim?.
E vai-se a ver a rede parece ser afinal e apenas um «naperon», com um arguido transformado em bode espiatório - o sr. Carlos Silvino - e outros, enquanto arguidos, pretendendo demonstrar a sua inocência. Esses outros não são propriamente arraia miúda, que com essa os processos não envolvem redes e despacham-se rapidamente os julgamentos, merecendo quando merecem uma notinha de roda-pé na imrensa. Mas dá que pensar na «santidade» e «respeitabilidade» acima de qualquer dúvida envolvendo gente graúda - não aparecem políticos notáveis nem empresários de maior ou menor sucesso, nem certos grupos ou camadas sociais. Mas não só na «santidade» mas também no respeito pelas «miúdas». Quanto a estas, não se descobrem ballets-roses ou similares. Ninguém do jet set que não aparece nas revistas cor-de- rosa ou situado no topo de gama. Nem mulheres arguidas, salvo a D. Gertrudes, uma «Maria Ninguém». Serão estes grupos sociais abençoados e, em consequência, protegidos do MAL e de Belzebu pela Santíssima Trindade?
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Claro que os arguidos «importantes» têm bons advogados que os defendem e daqui surge uma nova interrogação - fazem-no por desinteresse ou amizade, gratuitamente ou a preços simbólicos? Mas se os «notáveis» advogados destes arguidos, por mera hipótese, se fizerem pagar bem ao longo destes anos, deixando talvez para trás outros processos judiciais da carteira, quando e como vão os arguidos pagar-lhes os honorários?
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Há quem queira desacreditar as crianças alegando que actualmente são prostitutos e portanto não merecem credibilidade, não têm direitos nem dignidade humana. O mesmo estilo de pensamento que considera as putas e os homossexuais e travestis como «coisas» que «virilmente» se podem usar, humilhar, agredir, ofe3nder e violentar à vontade porque não são «pessoas». Este é um pensamento claramente classista e/ou fascista. O mesmo que faz a classe dominante desprezar a ralé, mandando dar aos esfomeados e desempregados brioches, como Maria Antonieta rainha de França, ou como em Portugal os agrários mandando os trabalhadores agrícolas desempregados comerem palha. Só que Maria Antonieta e Companhia foram guilhotinados pelo «Terror» da sangrenta Revolução Francesa em 1789, enquanto a classe dominante sobreviveu à «pacífica» e chamada Revolução dos Cravos. A única semelhança é que os "san-cullote» ou o «pé descalço» ou «da ferrugem» acabaram por perder, em França e em Portugal.
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Uma outra reflexão sobre esta montanha que pariu ou pretende partir um ratinho:
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Porque carga de água os arguidos, alguns deles figuras públicas, iam a uma pequena cidade/aldeia como Elvas para abusar das crianças? Naquela «aldeia» ninguém estranhava a movimentação em torno da casa da D. Gertrudes: figuras públicas ou desconhecidos, uns, crianças, outros? Não era mais seguro ficarem-se por Lisboa, «anónima» terra das muitas e desvairadas gentes, como escreveu um notável poeta?
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Uma última questão: interessará ou lucrará alguém com a expulsão do advogado do sr. Carlos Silvino e o seu afastamento «directo» do processo? Se a alguém porventura interesse, a quem?.
VN

Maria disse...

As minhas palavras ficaram todas nas tuas perguntas finais....
É tudo tão triste, Pedro...

Um abraço

Fernando Samuel disse...

Das respostas às perguntas que fazes, decorre a necessidade de intensificarmos e ampliarmos a luta contra a política de direita, de que este governo Sócrates é o mais brutal executante dos últimos 31 anos.
E VALE A PENA LUTAR!

Luís Maia disse...

De acordo

Gosto do seu blogue e ds suas opiniões

Mar Arável disse...

Vale a pena lutar

tu és um exemplo

abraço

Anónimo disse...

Caro Pedro Namora

Excelente análise. Os media tem estado muito mal no caso da Maddie.

Só sensacionaismo.

O Correio da Manhã agora tem a Tânia Laranjo, cujas crónicas não têm qualquer crdibilidade.A ponto de jás terem de ser co-assinadas pelos directores.

Mas isto mostra a pobreza que é Potugal.

Juntando o caso Apito Dourado temos a grande prova de que Portugal está na mesma. O que mudou foi o dinehiro que vem da Unia Europeia A mentalidade mesquinha continua.

Um abraço

José Maria Martins

a.castro disse...

De facto, Pedro, a nossa comunicação social é uma vergonha. Qualquer coisa que sirva para desviar as atenções para os problemas importantas da (des)governação são descaradamente negligenciadas ou mesmo omitidos.
Abraço, Pedro. A Luta Continua!

tms disse...

Olá Pedro,
Tens razão no que dizes. Há quanto tempo começou o caso Casa Pia e para quando a 1ª conclusão?
Simplesmente deixou de se falar.
Mais um silêncio ensurdecedor para os arquivos da nossa pobre democracia...