sexta-feira, 23 de junho de 2006

O FIM DA HISTÓRIA


foto de Sebastião Salgado

"Não vive sangue nem esperança no silêncio frio dos deserdados", apregoam os que tudo podem enquanto afugentam as aves desavindas e a vertigem de tempo novo. Cínicos, evocam a humanidade nos livros. Toneladas de letras amontoadas contra a sua proverbial boçalidade.
Recitam pensamentos alheios, que repetem até à exaustão. Querem-se diferentes, novos, mas só transportam corações empedernidos de anjos domesticados em carris de luxo.
De ti esperam que não queiras a diferença, que te mostres cooperante. Que bajules os donos do mundo, devores o fígado e lhes lambas os pés. Que raches e desprezes a coerência. Cordeiro te querem, ao rebanho deves comparecer. Escravo em cifrões engravatado. Potro dócil de órbitas domadas. Ruminante de interesses imutáveis.
Quanto ao protesto? Que espere, resguarde-se no tempo, aguarde a sua vez. Os que podem decretaram a morte do futuro.
Há no entanto um pequeno contratempo: multidões persistem no punho içado contra a iniquidade, a miséria e a opressão. Por todo o lado se erguem as vozes clamando justiça, ávidos gritos inconformados, entoando em uníssono: o futuro é nosso, a luta continua!

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