terça-feira, 13 de dezembro de 2005

O assassino não perdoou!



Stanley Williams, conhecido por Tookie, foi hoje assassinado numa prisão dos EUA. Tookie nasceu a 29 de Dezembro de 1953 em Nova Orleães. Sem pai e afastado da mãe, cresceu no complicado bairro de South Central, em Los Angeles. Em 1979, com 17 anos, criou em conjunto com Raymond Lee Washington, o gang de rua “Crips”. Em Los Angeles proliferavam os gangs que praticavam violência de forma indiscriminada.
Os “Crips” alastraram rapidamente. No ano em que foi criado, o gang já tinha membros por toda a Califórnia e as suas práticas tornaram-se tão violentas como as de qualquer outro gang da altura. Em 1979, Raymond foi assassinado por um membro de outro gang e Tookie foi preso por suspeita de ter assassinado quatro pessoas num assalto. Em 1981, foi declarado culpado e condenado à morte, apesar das suas permanentes alegações de inocência.
Desde então esteve no corredor da morte, na Prisão de San Quentin e colocado na solitária em 1987. Ao fim de dois anos, iniciou um processo de reflexão que o levou a constatar a gravidade do seu acto enquanto criador dos “Crips”. Tookie iniciou então um trabalho que, como o próprio explicava, era dirigido aos mais jovens, por serem os mais necessitados de um "modelo" em que se pudessem inspirar para evitar os caminhos da violência.
Em 1996, lançou a série de livros Tookie Speaks Out Against Gang Violence. Em 1998 publicou o livro Life in Prison. Ambas as obras são dirigidas a jovens, procurando desencorajá-los da vida em gangs e mostrando as consequências da violência. O livro Life in Prison procura, além disso, descrever a angústia de um condenado à morte .
Simultaneamente, lançou o Projecto de Internet para a Paz nas Ruas, através do qual uniu jovens de bairros problemáticos da Califórnia e da Suíça, bem como de outros pontos do globo, incentivando-os à aprendizagem, através do uso de computadores e da troca de experiências, que evite a onda de violência nas ruas.
Pelo trabalho efectuado com estes jovens em situações de risco, Stanley Williams foi nomeado cinco vezes para o Prémio Nobel da Paz e quatro para o Nobel da Literatura.

Stanley demonstrou um profundo arrependimento por se ter envolvido nas actividades de gangs, mas reiterou sempre a sua inocência nas mortes por que foi acusado. No seu julgamento constatou-se que contribuiram para a condenação os testemunhos de indivíduos cadastrados, ou com acusações pendentes, o que motivou o próprio Tribunal de Recursos a declarar, em 2002, que estes poderiam ser facilmente incentivados a mentir, em busca de um qualquer perdão ou atenuante para os seus casos.

No entanto, o Supremo Tribunal recusou o apelo de Tookie para que se investigassem eventuais motivações racistas e discriminação no seu caso. Por exemplo, o Acusador do Ministério Público retirou três jurados Afro-Americanos do júri. Nas alegações finais, comparou Stanley durante o julgamento a um tigre de Bengala e declarou que a comunidade negra de South Central Los Angeles era o equivalente ao habitat natural de um Tigre de Bengala. Este acusador já foi censurado duas vezes pelo Supremo Tribunal da Califórnia por comportamento semelhante.
Foi este homem, recuperado e diferente, que o troglodita Arnold Schwarzenegger - ele próprio um cultor da violência, que fomentou em todo o planeta com os seus filmes imbecis - mandou assassinar hoje pela manhã. E ainda há quem duvide da natureza medieval dos EUA.

3 comentários:

a.castro disse...

Caro Pedro,
Já li, pelo menos em dois sítios, a notícia sobre a execução de "Tookie", mas não tão clara e esclarecedora como esta. Mesmo assim, inseri comentários do género shame on "Schwarzeneger" and shame on United States. Um deles foi inserido num site norte-americano, daí o "inglês". Nome do site:
Voteswagon
Perante o que acabei de ler, vou copiar o seu post para publicar mais logo.
Abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Impressionado e indignado.
Que vergonha para nós todos.

Unknown disse...

Estou certo de que se o rui f santos se apressar, o nazi que governa a Califórnia lhe permitirá repetir a injecção letal. Apresse-se homem. Aliás, olhando para o simulacro de blogue que aqui divulga, se nunca aplicou injecções letais, vontade não lhe falta...
Ao menos, quando escrever sobre homens dignos, faça-o com decência e verdade.