Em menos de uma semana, dois jornais daqueles que, a si próprios e uns aos outros, se chamam de referência, entregaram-se a sensacionais revelações. No Diário de Notícias (26.11), «Pacheco Pereira revela assassínio no Comité Central», enquanto o Público (1.12) dispara outra «Revelação» : «Catarina Eufémia não estava grávida quando foi morta há 51 anos» - e mais outra: «crónicas da época, bem como os testemunhos de então e dos que resultam da investigação do médico que a autopsiou, indicam que a ceifeira não seria militante do Partido Comunista».
Ora, se, como dizem os dicionários, revelação é a «divulgação de algo ignorado ou que está em segredo», estamos, então, e para já, perante revelações que não o são – isto, ainda que correspondessem a verdades comprovadas, o que não é o caso, como sabe quem quer saber.
Tanto as revelações do Diário de Notícias como as do Público, andam a ser difundidas há várias décadas, o que lhes confere um tempo de revelação singular… Recorde-se, ainda, que estamos perante revelações oriundas da mesma fonte: ambas foram divulgadas, em primeira-mão, pelo regime fascista. E acrescente-se, a talhe de foice, que nenhum dos aludidos reveladores actuais aduz seja o que for ao que, sobre a matéria, foi revelado em meados do século passado: o médico (um dos que fizeram a autópsia de Catarina) não apenas vem repetir o que, há mais de meio século, foi revelado sobre o «relatório da autópsia» - revelação que era de todo o interesse para o regime fascista e para a PIDE – como se limita a repetir a revelação, no mínimo com trinta anos de idade, de que Catarina não era militante comunista (dir-se-ia, até, que a própria autópsia revelou a opção partidária de Catarina…)
Quanto à revelação agora atribuída pelo DN a Pacheco Pereira foi, também ela, divulgada pela PIDE há mais de cinquenta anos… E em matéria de provas, nada de novo é acrescentado ao que a PIDE já havia concluído.
A não ser a prova que, à falta de provas, Pacheco Pereira apresenta: «Esta é, pela sua natureza, uma decisão que não se põe no papel e que, de um modo geral, não se proclama nem se reivindica nos partidos comunistas»...
Da mesma família, para pior, neste caso entrando já pelos enlameados caminhos da abjecção, é a prova de Luís Filipe Rocha, que leva ao pico a cruzada de revelações ao citar uma pessoa que já não o pode desmentir… Que tristeza! Que lástima!
José Casanova, in Avante!
1 comentário:
E de todas estas "revelações" em cadeia que fica que valha a pena? Uma prova do que move certas "investigações", por mais sérias que sejam ou pareçam ser; o ataque permanente e de tudo se servindo, mesmo que requentado e/ou já azedo, ao inimigo de classe, cujo é o "famigerado" PCP, que até engravida quem grávida não estaria, que se vangloriaria de uma militância que autópsias negam, que assassina no Comité Central imitando ou antecipando a ficção do Montalban; tudo tornando acessório, quiçá despiciendo, o facto - ainda não desmentido - de que uma jovem camponesa alentejana foi assassinada no decorrer de uma manifestação em que participava por reivindicação relacionada com horário de trabalho, e talvez não tarde a "revelar-se" que ela só estava a passar por ali ou que ali estava porque obrigada fora pela máquina partidária do partido de que não era militante.
Ah! e fica também o texto excelentemente escrito do Zé Casanova, como todos são os do Zé Casanova.
A isto se chama... luta de classes!
E aproveito, como sempre vem a propósito, para te mandar um grande abraço, Pedro.
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