Diz a notícia: «furtos para comer disparam nos supermercados» - e explica que «o número de pessoas que roubam comida nos supermercados aumenta todos os dias».
Pão, leite, bacalhau, carne, peixe, queijo, salsichas, atum, chouriço e fiambre estão entre os produtos mais visados pelos que deles necessitam como de pão para a boca.
Diz, ainda, a notícia que as pessoas que «roubam para matar a fome» eram, até há um ano atrás, em regra, «idosos com baixas reformas» - e eram esses os «suspeitos» sobre os quais recaía a cerrada vigilância nos supermercados. Todavia, um ano após a ocupação do País pela troika FMI/UE/BCE, «já não há clientes insuspeitos» - isto porque, entre os que, actualmente, «roubam para comer», há cada vez mais «pessoas bem vestidas, da classe média, que até trabalham, mas o que ganham não chega para alimentar a família».
Os que têm a infelicidade de ser apanhados, são regra geral submetidos a julgamento imediato e, desde logo, condenados a pagar multas (quem é que diz que a Justiça não é célere?...)
A notícia não diz como é que esses condenados, que não têm dinheiro para comer, o arranjam para pagar as multas. Mas também para isso a Justiça há-de ter soluções céleres...
«Roubar para matar a fome»: eis uma das imagens de marca de Portugal após trinta e seis anos de política de direita praticada pela troika PS/PSD/CDS – com a preciosa ajuda, de há um ano para cá, da troika ocupante.
Mas não nos preocupemos: as troikas zelam por nós. E para resolver este e todos os outros problemas existentes, elas têm uma solução de eficácia garantida: assegurar a «estabilidade» - que é uma das filhas da ordem natural das coisas, a tal que nos ensina que ricos e pobres sempre houve e há-de haver... – de forma a garantir o prosseguimento da mesma política de direita que conduziu à situação actual e a assegurar a continuação da concentração da riqueza nas mãos de uns poucos e o alastrar da pobreza, da miséria e da fome por milhões de portugueses – para os quais restará sempre o caminho de «roubar para comer» e (ou) de estender a mão à outra filha da ordem natural das coisas: a caridade...
Tudo isto a confirmar que, como os troikistas não se cansam de repetir, Portugal «vai no bom caminho».
José Casanova, Avante de 5/07/2012
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