quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Que orgulho!


Quando procuro a recordação primeira do PCP, a memória leva-me à Feira da Brandoa, em 1975. Na tribuna de um palco simples, Octávio Pato discursava e apesar do escasso entendimento político que 11 anos de idade permitem, conservo a alegria, inexplicável, que as suas palavras me provocaram. Foi o primeiro dirigente, O primeiro herói comunista que conheci. Depois vieram as palavras agrestes, as acções terroristas contra o Partido, fustigado por assassinos sem escrúpulos como os terroristas da Codeco, o padre de Paimogo, ali nos arredores de Peniche, a execrar  o PCP e a ordenar que o povo votasse nas setinhas do ppd, por “apontarem o céu”.

Em Pina Manique, a secção da Casa Pia onde nessa altura estava, os alunos mais velhos chamavam-me comuna. Recordo-me de procurar argumentos para justificar a superioridade do socialismo. Aos 12 anos entrei no primeiro centro de trabalho do PCP: o glorioso centro de Alcântara, onde aprendi anos mais tarde, já operário, princípios que, espero, me norteiem para o resto da vida.

Desse tempo guardo uma certeza: os melhores professores, os melhores educadores, os melhores funcionários, eram os comunistas. No abandono a que a Casa Pia estava, só eles, poucos é verdade, se importavam connosco. Ainda conservo resquícios da alegria sentida ao fazer, com outros alunos, o jornal de parede. Ou a pintura de armários velhos, para usarmos na sala de aulas, organizada com a notável e progressista professora Adelaide Tereno.

Depois, encontrei, por mero acaso, o jornal “O Diário”, bastião de resistência, onde, se não aprendi a ler descobri a olhar o mundo sob a perspectiva da classe a que pertenço. Obrigado, por todos, ao Miguel Urbano Rodrigues.

Fui operário até aos 30 anos. Durante mais de dez anos, fui sucessivamente eleito pelos trabalhadores meus colegas para os representar. Sabiam que ao votar em mim elegiam um comunista. E eu sabia que ao ser eleito, para ter sucesso me bastava exercer as minhas funções de acordo com os princípios que o Partido nos transmitia: agir sempre em defesa de quem trabalha, dos seus direitos e aspirações. Trabalhar para aumentar a produção e a produtividade e actuar sempre de forma a poder olhar, olhos nos olhos, cada trabalhador com a alegria de quem pode dizer: eu não traio, camarada!

A desastrosa destruição da Revolução de Abril, iniciada e fomentada pela dupla Soares/Carlucci, implicou a necessidade de resistência e combate ideológico. Os comunistas foram sempre perseguidos, atacados, mostrados pelo que deles pensam fascistóides e outros tratantes e não pelo que efectivamente são. E uma das linhas mais desenvolvidas a esse respeito, apontava a nossa alegada falta de conhecimento e impreparação. Como se a inteligência tivesse sido dada a toda a gente menos aos comunistas.

Por isso, para o operário que fui, encontrar um cientista progressista era fabuloso. Verificar que as nossas ideias não só têm aceitação generalizada como são partilhadas por pessoas que estão na vanguarda do conhecimento, é profundamente reconfortante. Ora, já licenciado em Direito desde 1994, senti há dias a mesma alegria ao escutar a Prof. Dra. Catarina Casanova numa entrevista ao Arestas de Vento, cujo endereço aqui deixo à laia de convite (http://arestasdevento.podomatic.com/entry/2010-11-28T10_31_49-08_00) . E ainda há quem julgue que a História acabou.

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