domingo, 23 de setembro de 2007

O Caminho das Aves

E de repente, a viagem na net conduz-me ao indispensável O Caminho das Aves, de José Casanova. É muito bom descobrirmos que outros partilham os nossos gostos, as nossas emoções. Tinha estado a ler O Rapaz de Florença , de Vasco Pratolini – mais uma prenda do Zé aos seus leitores – e ao procurar artigos sobre o escritor italiano, surgiu-me esta outra forma de olhar O Caminho das Aves. Aqui fica:

O caminho das aves : romance

by José Casanova category Literature & Fiction

Contracapa:

"Reina a calma em todos os lares e há paz nos espíritos e nas ruas, garante quem, por obrigação e hábito, de tão complexa matéria deverá possuir o elevado saber que ao rasteiro entendimento naturalmente escapa. Felizes os que tal juízo acatam como bom, porque deles é o reino da tranquilidade, sabendo que assim é por assim lhes ser dito desde tempos imemoriais, A minha política é o trabalho, Eu quero é ganhar o meu, Ricos e pobres sempre houve e há-de haver, Pobrezinhos mas honrados, Graças a Deus. Sensatas sentenças, palavras de portugueses de lei, dignos herdeiros dos nossos avós, ou dos nossos maiores, como também há quem diga, autênticos pilares da serena estabilidade nossa, muito bem! Todavia, e por via das dúvidas sopradas pelo desvario que varre o Mundo e ameaça a ordem natural das coisas, aferrolhemos portas e janelas e frestas e postigos, calafetemos todas as frinchas visíveis e invisíveis não vão os ventos da História tecê-las, O seguro morreu de velho, não é verdade?"

Bela apologia da amizade, do amor, dos valores.

"Começa Eugénio a ouvi-los, primeiro incrédulo, incredulidade que dura pouco, o melhor é não duvidar muito tempo da veracidade das boas notícias, não vão elas escapar-se, não ser, transformar-se em sonho, sabe lá."

"São como as aves - pensa Francisco - Partiram juntos, regressam juntos."

"Triste e deprimente, porquê - pergunta-lhe Abílio que não se cansa de elogiar o espectáculo, É um espectáculo maravilhoso, e há nele qualquer coisa de novo, de nunca visto, acho eu - responde Francisco - No entanto, há também muito desalento, muito desencanto, muita desesperança, muita passividade, muito conformismo, muito vazio... Marta concorda: De facto, eles esperam o futuro - Godot - mas esperam apenas, não fazem nada para o encontrar e isso é, de alguma forma, angustiante."

"Brindam: Ao nosso filho, Ao nosso amor, Aos nossos amigos."

"Ouve-o segredar-lhe: Sabes de mim o que mais ninguém sabe... sabes-me."

Trabalhando na Biblioteca Museu República e Resistência foi um livro que se tornou precioso para o trabalho de referência.

Referências bibliográficas:

"Vasco, que não deu mais notícias, deixará sinais de um livro, Cantares, de Rosalía de Castro, e um bilhete que Francisco lê a caminho da reunião para que foi convocado: 'Disse-me quem sabe (conheci pessoa culta, em Vigo. Culta e não só...) que esta Rosalia não sei quê é a maior poetisa galega. Será? Aguardo que me digas'."

"Nessa noite começa a ler Os Thibault. Não dorme."

"Antes do jantar, Vasco abre os presentes: uma camisola de malha, metade verde-claro, a outra metade de um verde mais escuro e uma caneta Parker - ofertas da mãe e do pai; a prenda de Francisco é um livro: A Cidade das Flores - lê em voz alta - Política, aposto, Haverá alguma coisa que o não seja?"

"Francisco pega no livro - Uma Noite e Nunca, Urbano Tavares Rodrigues(...)."

"Estão no Trindade: À Espera de Godot, a peça recém-estreada, é o que os traz ali."

"Enquanto esperam pelo começo do espectáculo, Abílio e Marta discutem, entusiasmados, o último livro de Redol, A Barca de Sete Lemes."

"Sara está à porta de casa como que adivinhando a sua chegada, beijam-se furtivamente, ele entrega-lhe a prenda de aniversário - Seara de Vento, de Manuel da Fonseca."

"O Politzer ajudou-me (está a ajudar-me) muito, tal como Lenine (as tuas notas e os teus sublinhados explicaram-me melhor as preocupações que tens e que, repito-te, são as minhas). Quanto à 'Alma Encantada': como me fez feliz! como me fez sofrer!"

"Augusto dá-lhe a ler A Montanha Mágica. Depois Os Buddenbrook."

"Como foi possível viver estes anos todos sem ler Thomas Mann - pergunta-se. E, porque o tempo não lhe falta, passa a Stendhal, Maupassant, Tchekov."

"Falam e comem, Manuela tenta retomar, sem êxito, o tema Rocco e os Seus Irmãos, Marta elogia a impecável condução de Vasco, Luís aconselha um livro de Ítalo Calvino, acabado de sair, O Atalho dos Ninhos de Aranha, sobre a resistência antifascista na Itália (...)."

"Francisco, sentado sobre o bailique, retoma a leitura de Madame Bovary, que iniciara de manhã."

"Na sala receberá as prendas enviadas: de Abílio, A Guitarra Quebrada, de Pavese, com dedicatória ('O título é outro e a viola passou a guitarra. Mesmo assim estou certo de que gostarás desta versão portuguesa. Um abraço do tamanho da amizade'); de Vasco, A Peregrinação ('Leste-o, menino e moço, talvez te agrade relê-lo, homem. Um abração maior do que o tamanho do mundo. Parabéns do teu amigo'); mais livros de Marta, Maria Eduarda, Albano..."

"No dia seguinte, Jacinta irá à morada indicada onde deixará um saco com os livros pedidos por Francisco: todos excepto Os Capitães da Areia que não conseguiu encontrar."

"Salta-lhe à vista Um Rapaz de Florença."

"Sabe de cor, de tantas vezes o ter lido, um longo poema de João Cabral de Melo Neto - 'Vida e Morte Severina' - inserto nas Poesias Escolhidas, prenda de aniversário de Abílio (...)."

"Tem um livro, fechado, sobre as pernas. Jubiabá."

"Toma, este é meu, este é da Mariana - diz Francisco, estendendo-lhe dois embrulhos, visivelmente um livro e um disco, La Question, Henry Alleg e Nara Leão, 'Pedro Pedreiro... penseiro, esperando o trem... e a mulher de Pedro está esperando um filho para esperar também...': canta Vasco desafinado."

"Pedro levanta-se de um salto, os outros olham-no espantados, ele justifica: Li um artigo sobre a amizade entre Marx e Engels, conheceram-se, ficaram amigos e começaram a trabalhar juntos... a pensar e a sonhar juntos... até à morte de Marx, uma amizade total, Para cada um deles o outro era... único - intromete-se Eugénio, aproximando-se e sorrindo."

"A seguir, distribui as prendas búlgaras: um pequeno urso de peluche que entrega a Manuela (É para o João, quando ele vier, trouxe um igual para o Marcos), uma jarra de cerâmica, um lenço de seda, um livro (este comprado em Paris: Lettres de Fusillés)."

"Agora, indica-lhes o quarto que vai ser o deles, ajuda-os a arrumar as roupas, abre o saco e tira os livros cujos títulos vai lendo, Ah o Romain Rolland! grande humanista!, trazem aqui uma bibliotecazinha bem escolhida, sim senhor, e discos... para que querem vocês os discos se não têm onde os tocar?"

"Não é necessário assinar - diz, escrevendo a dedicatória e entregando o livro a Jacinta: 'El socialismo e el hombre en Cuba', Che Guevara."

1 comentário:

GR disse...

O mundo ganhou um novo romancista.
Estamos perante um grande romancista, com três romances publicados.
Contudo, é interessante verificar que os seus livros, não têm tido a divulgação que seria natural, para tão grande obra.
Mas que melhor divulgação há que a dos leitores? Talvez por isso cada vez mais se vê gente a falar dos seus livros, a comprá-los. Tenho entrado nas livrarias e pergunto quantos livros de J. Casanova se tem vendido, constato que todos os meses se vendem livros dele e são leitores que jamais pensava que o quisessem ler.
Depois percorrendo os infindáveis blog’s na net, há sempre para minha surpresa, uma crítica ou sugestões de leitura, livros de J. Casanova, algumas apreciações bastante interessantes.
São os seus livros que lidos com toda a ponderação nos podem fazer mudar a nossa (minha) atitude perante os amigos, a acção política, uma melhor compreensão e respeito perante o comportamento da juventude e sobretudo o valor da Amizade.

GR